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Partimos da premissa de que talvez um processo de formação superior de qualidade, no qual se discutam questões atuais que permeiam a sociedade, seja importante para que o professor em formação tenha um preparo que possibilite o enfrentamento de inúmeras adversidades com as quais se deparará, dentre elas a desvalorização profissional, os baixos salários, a formação superficial. (PAULA, 2010). Para tanto, é essencial que o professor em formação seja preparado para tal intento. Mais do que isso: é indispensável que os cursos de formação se preocupem com a (des/re)construção dessas identidades do futuro professor, não só a profissional, afinal este indivíduo ao mesmo tempo em que se constrói como professor continua desempenhando uma série de outros papéis sociais.

Pensar sobre a formação das identidades implica olhar também para as crenças que esses professores em formação trazem consigo. Conhecer tais crenças tem um papel fundamental no processo de (des/re)construção das identidades desse indivíduo, visto que elas determinam muitas das práticas que desenvolvemos.

Propomos, assim, um olhar para o professor em incessante formação identitária por meio de sua crenças, no constante processo de (des/re)construção profissional que acontece tanto dentro da IES, quanto fora, quando esse professor em potencial entra em contato com a realidade educacional que o cercará futuramente por meio das disciplinas de Estágio e Práticas de Ensino.

É necessário, então, que o professor em formação se prepare para lidar com a pluralidade presente em sala de aula, não mais apenas como o mestre detentor do saber, mas como alguém que se coloque como mediador da construção do conhecimento, um profissional que esteja disposto a aprender a cada dia com seus alunos em sala de aula.

Muitos desses futuros professores, como se poderá observar mais adiante, na análise dos dados, podem trazer consigo concepções de ensino estreitas, que consideram o aluno um mero receptor de conhecimento, enquanto o professor é um reprodutor de conceitos. Tais concepções ainda pressupõem uma noção de aluno passivo e silencioso, que se pode “encher” de conteúdo, pois assim estaremos sendo ótimos educadores. (FREIRE, 1987, p. 37). Desse modo, não serão os professores que teremos em sala de aula reflexo do sistema de ensino regular que emudece o aluno, do qual eles também são fruto? Para que não haja uma reprodução automática de papéis é necessário que o curso de formação trabalhe essas crenças, de modo que as identidades realmente se (des/re)construam na relação com o meio, a partir de uma perspectiva diferente de educação e ensino- aprendizagem que passe a ver o indivíduo como alguém que interage com a sociedade. Como bem salienta Isabel Borges (2010, p.14) “[...] a exclusão do graduando nas questões sobre a língua(gem), sobretudo nos processos de construção dos conhecimentos acerca da linguagem e da língua (portuguesa) no curso de Letras-português, silencia sua voz.”

Para que alcancemos essa quebra de paradigmas é necessário que se atue na universidade e nos cursos de formação continuada com o objetivo de refletir sobre como tem se dado o processo de formação de professores, pois este meio “é

o local privilegiado para a pesquisa, reflexão e, pensamento crítico.” (ALVAREZ, 2010, p. 250). É necessário que se dê voz às crenças desses futuros professores, de forma que se possa oportunizar uma construção bilateral, já que os professores formadores também são pessoas incompletas, talvez desse modo, possa-se formar “[...] profissionais interculturalmente competentes, capazes de lidar, de forma crítica, com as linguagens, especialmente a verbal, nos contextos oral e escrito, e conscientes de sua inserção na sociedade [...].” (BRASIL, 2001, p. 30).

É notório que as crenças influenciam a prática do professor de língua(gem) (BARCELOS, 2010), e que elas também são importantes artifícios para a construção da identidade deste professor. Elas, de acordo com Aparecido Silva (2005, p. 78, grifos nossos), são “na maioria das vezes implícitas, (re)construídas ativamente nas

experiências [...] guiam a ação do indivíduo e podem influenciar a crença de outros

que estejam ou não inseridos na sala de aula.”

Optar por um estudo que leve em consideração a relação entre crenças e formação de professores, envolvendo, mais especificamente, o papel das disciplinas de IEL e LT, se deu por entendermos que estas duas disciplinas possibilitam discussões sobre as crenças que os professores em formação trazem consigo, as quais podem ser colocadas em xeque, e consequentemente desencadear um processo de (des/re)construção das identidades.

Para Isabel Borges (2010), a disciplina de linguística (no âmbito geral) é um importante espaço de (des/re)construção dos conhecimentos acerca de língua portuguesa e linguagem. (ISABEL BORGES, 2010, p. 23). Assim, julgamos que as disciplinas que compõem os cursos de formação de professores, em especial

Sujeito: Identidades múltiplas Crenças C re n ç a s Crenças C re n ç a s

aquelas que especifiquem conteúdos diretamente relacionados a discussões sobre esses dois tópicos, sejam relevantes para a verificação do que a pesquisadora denomina de (des/re)construção do conhecimentos, (re)configurando os indivíduos que estão em constante (des/re)construção e fragmentação. (HALL, 2006).

Os conhecimentos, portanto, são construídos dialogicamente e em meio às interações sociais. Não se trata de conhecimentos que transitam de um lugar para outro, de um conhecedor para um desconhecedor. Eles se constituem no ir e vir, na movência da linguagem (ISABEL BORGES, 2010, p. 146).

Deste modo, pensamos que não só esses conhecimentos, mas as suas crenças em si, são (des/re)construídos também no/pelo curso de formação de professores, e estes, por sua vez, serão responsáveis pela (des/re)construção identitária e do conhecimento dos alunos, os quais não são garantidos para toda a vida, por serem bastante negociáveis e revogáveis, (re)configurados a todo momento em nossas relações sociais. (BAUMAN, 2005).

Portanto, as crenças podem exercer um papel importante na formação e principalmente na (des/re)construção das identidades visto que elas aparecem com frequência neste ambiente. Talvez nem todas elas sejam necessariamente expostas nas discussões nas aulas, mas voltar os olhares para esse tema quer dizer voltar os olhares para esses futuros professores de forma a proporcionar reflexões que o levem a conseguir lidar melhor com as adversidades presentes e futuras.

Após esta explanação acerca de crenças, propondo um entrecruzamento entre o papel delas e a (des/re)construção das identidades, partiremos então para a metodologia deste trabalho, que tornou possível sua construção.

CAPÍTULO IV

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Neste capítulo teceremos algumas considerações sobre como se deu o processo de desenvolvimento deste trabalho em termos metodológicos. Em princípio, abordaremos como, do ponto de vista teórico, realizam-se pesquisas nesta área e posteriormente apresentaremos a forma como este trabalho se desenvolveu na prática.