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5 O DIREITO POSITIVADO QUE NÃO SE CUMPRE: UMA QUESTÃO

5.3 A OPERACIONALIZAÇÃO DA TEORIA DOS VALORES DE

Em 1992, Schwartz desenvolveu um questionário para medir os valores que ficou conhecido como Schwartz Value Survey (SVS). Este instrumento apresenta duas listas de itens de valor. A primeira lista contém trinta itens que descrevem estados finais potencialmente desejáveis em forma de substantivo; a segunda lista contem 26 ou 27 itens que descrevem formas de ação potencialmente desejáveis em forma de adjetivo. Cada item expressa um aspecto dos valores específicos de um valor. Uma frase explicativa entre parênteses aparece em seguida especificando seu significado (SCHWARTZ, 2009, p. 8).

Os respondentes devem classificar a importância de cada item de valor “como um princípio orientador em MINHA vida” em uma escala de 9, sendo 7 suprema importância, 6 muita importância, 3 importante, 0 não importante e -1 oposto aos meus valores (5, 4, 2 e 1 – não designados). As pessoas veem a maioria dos valores como variações do levemente importante ao muito importante. Esta escala não simétrica é expandida na extremidade superior e condensada na parte inferior com o objetivo de mapear a forma como as pessoas pensam sobre os valores. A escala também permite aos respondentes registrar objeções aos valores apresentados e que eles procuram evitar expressar ou promover. (SCHWARTZ, 2009, p. 8)

Schwartz propôs uma versão simplificada do SVS, o Portrait Values Questionaire

(PVQ) com o objetivo de medir os 10 valores básicos em amostras de crianças a partir dos 11 anos, idosos e pessoas com educação formal que não privilegiou a abstração e o livre pensamento. Apesar de ser dirigido a este público, tem-se usado amplamente o PVQ em pesquisas em instituições públicas e privadas, independentemente da idade ou da escolaridade do grupo pesquisado. O PVQ105 inclui descrições verbais curtas de 40/21 pessoas diferentes, pareadas pelo gênero com o respondente. Cada descrição expõe as metas, aspirações ou desejos de uma pessoa que indicam implicitamente a importância de um valor. Para cada descrição os respondentes apontam o quanto se parecem com aquela pessoa com respostas

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como “se parece muito comigo”, “se parece comigo”, “se parece mais ou menos comigo”, “se parece pouco comigo”, “não se parece comigo” e “não se parece nada comigo”. Os valores dos respondentes são inferidos a partir do reconhecimento de similaridades com as pessoas descritas implicitamente em termos de valores pessoais. Os respondentes são solicitados a comparar as descrições consigo próprios e não a se comparar com elas. A comparação de outros auto direciona a atenção somente para os aspectos dos outros que são retratados. As descrições expõem cada pessoa em termos do que é importante para ele ou ela. O PVQ não trabalha com posicionamento pessoal em relação aos valores, e sim prioriza o conhecimento da estrutura axiológica motivacional de cada indivíduo (ALMEIDA, 2007, p. 123). O PVQ questiona sobre similaridades com alguém com aspirações e objetivos específicos (valores) ao invés de perguntar sobre similaridades com alguém com características (exemplo: ambição, sabedoria, obediência). Entretanto, nem sempre uma pessoa que valoriza uma meta vai necessariamente exibir a característica correspondente, nem aqueles que exibem uma característica vão necessariamente valorizar aquele meta. (SCHWARTZ, 2009, p. 10)

Schwartz (2005b, p. 43) reconhece que, ao responderem ao instrumento de valores, as pessoas podem relatar tanto as suas prioridades pessoais verdadeiras, quanto ideias que consideram aprovadas e validadas como corretas por seu grupo ou cultura. Neste ultimo caso, teríamos, então, a mensuração de valores que refletem as convenções culturais e socialmente aceitas e não expressões individuais de características psicológicas. E se os ideais culturais prevalecem sobre as expressões individuais, teríamos um consenso alto, no grupo estudado, sobre a importância de cada tipo motivacional. Schwartz afirma que isso não ocorre e que as respostas, para cada grupo estudado, variam significativamente. Outra possibilidade, e a que nos preocupa particularmente, é que as pessoas relatem valores pessoais que não estão de acordo com os objetivos que realmente as norteiam. Isso implicaria correspondência reduzida entre os valores auto relatados e medidas de comportamento. Pela experiência de Schwartz, isso também não ocorre. De forma que podemos considerar que as respostas dadas refletem principalmente as prioridades axiológicas pessoais verdadeiras.

O objetivo do uso do PQV-21 é medir como cada item se posiciona na escala de valores de cada indivíduo, como a importância relativa dos diferentes valores para cada sujeito, ou seja, a prioridade axiológica do grupo. Por exemplo, se dois indivíduos marcam o valor Tradição como “se parece pouco comigo” (posição 3 na nossa escala de medição) e um deles marca posições mais altas na escala (6, 5, 4) para os demais valores e o outro indivíduo marca posições mais baixas (2, 1). Apesar de terem dado a mesma resposta para o valor

Tradição, comparativamente ao restante das respostas, este valor é mais importante para um indivíduo que para o outro.

A média dos valores do grupo deve ser comparada com outras variáveis como gênero, idade e educação, além das características do ambiente de trabalho e ambiente social para entendermos e interpretarmos como os valores individuais estão relacionados às motivações para ação e ao comportamento dos agentes/atores como veremos no próximo capítulo.

O modelo dos Tipos Motivacionais de Schwartz foi validado em pesquisas em 67 países (KOZAN; ERGIN, 1999; KNAFO; SCHWARTZ, 2001; TAMAYO et el., 2001; ESPARZA; FERNÁNDEZ, 2002; SOUSA; BRADLEY, 2002; SPINI, 2003; TAMAYO; PORTO, 2009), em estudos interculturais e intraculturais, em pesquisas de natureza sociológica e sobre o comportamento de administradores no âmbito das empresas em que trabalham (apud ALMEIDA, 2007, p. 124). O modelo também foi escolhido pela Pesquisa Social Europeia (European Social Survey – ESS), que tem como objetivo compreender as transformações de valores, atitudes, atributos e perfis de comportamento da população europeia, por ser considerado um dos modelos mais completos e extensamente validado interculturalmente (KNOPPEN; SARIS apud ALMEIDA, 2013, p. 88).

A validação do modelo teórico de Schwartz foi realizada utilizando-se o SVS (Schwartz Value Survey) e o PVQ (Portrait Value Questionaire). Já estes instrumentos, por sua vez, foram validados por uma série de pesquisas com diferentes objetivos e amostras variadas, tanto no Brasil, como em outros países. O PVQ em língua portuguesa foi validado no Brasil, por exemplo, por Pasquali e Alves (2004) e Tamayo e Porto (2009) e, em Portugal, por Schwartz (2009). (ALMEIDA, 2013, p. 179).

O Portrait Value Questionaire tem sido usado no Brasil como instrumento de pesquisa em teses e dissertações da área de Administração como: Almeida (2007), que abordou a Responsabilidade Social das Empresas a partir dos fundamentos éticos dos gestores, ou seja, como o sistema pessoal de valores humanos e orientação ética dos gestores influenciam em sua atitude diante da Responsabilidade Social das Empresas; Batista (2012), qure realizou investigação sobre o perfil motivacional de empregados de uma instituição financeira brasileira, com o objetivo de traçar um perfil motivacional para cada grupo demográfico baseado na faixa etária; Souza (2012), que estudou a relação entre o consumo sustentável e os valores pessoais em uma amostra da população da cidade de Porto Alegre; Beuron (2012), que investigou a relação entre valores organizacionais, valores pessoais e comportamento ecológicos individuais em uma empresa inserida no contexto de

sustentabilidade; e Almeida (2013), que abordou as relações entre valores, atitude em relação ao empreendedorismo e a intenção empreendedora em um estudo comparativo entre alunos de graduação de Administração, no Brasil e em Cabo Verde.