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A organização do trabalho docente na Escola Plural

3. Ser Professor Coordenador Pedagógico – o prescrito

3.2. O Programa Escola Plural – Proposta Político-pedagógica da RME-BH

3.2.4. A organização do trabalho docente na Escola Plural

A proposta da Escola Plural, ao expor uma nova visão de formação de alunos e novas exigências de práticas educativas, apresenta também um novo projeto de profissional.

Em relação à reorganização dos tempos e trabalho dos docentes, o caderno referente à Organização do Trabalho Escolar na Escola Plural (BELO HORIZONTE, 1994b) procurou

reconfigurar as relações de trabalho existentes entre os profissionais da educação, ao estabelecer novas formas de funcionamento (funções e papéis) e afirmação do trabalho coletivo dos docentes em cada escola. Segundo esse documento, recomenda-se aos professores: evitar a organização por funções ou conteúdos; fazer rodízios de funções; abolir a organização dos professores na relação de um professor por turma e instituir a forma coletiva de trabalho; abolir a estrutura de equipe de professores para disciplinas especializadas; constituir espaços de planejamento agrupados em pequenos grupos dentro dos ciclos; realizar planejamento conjunto das atividades das turmas, buscando articulá-las com as demais do mesmo ciclo; assumir o compromisso de aprofundar seus conhecimentos e habilidades em relação à faixa etária em que se está trabalhando.

O documento Ciclo de Formação e Trabalho Coletivo dos Professores (SMED-BH, 1996) considera que a organização em ciclos propicia condições para que os profissionais repensem suas práticas, superando o isolamento e construindo coletivos, o que representaria um avanço profissional e político para a categoria. É sugerido que as escolas privilegiem mais os coletivos de trabalho e que o tempo do professor na escola – 22h30min semanal – seja compreendido como tempo da escola, tempo disponível para as atividades da escola, a ser discutido e decidido coletivamente.

Os profissionais são orientados a elaborar planejamentos específicos por turma e por Ciclos, sendo que estes devem ser resultado de uma ação constante de pesquisa, de estudo, de pensar e repensar a prática, entendendo-se que somente o coletivo de profissionais do Ciclo dará conta dessa organização.

Para subsidiar tais princípios, a partir de 1995, com a implantação da Escola Plural, a definição do número de professores nas escolas foi estabelecida dentro do 1.5 (lê-se, “um ponto cinco”), isto é, 50% a mais que o número de turmas da escola, na proporção de três para cada duas turmas, com o objetivo de garantir melhores condições para o trabalho em equipe, o

trabalho com grupos maiores de alunos em atividades gerais e o melhor atendimento nos momentos adversos de faltas eventuais, extinguindo em algumas escolas as funções especializadas como educação física, artes, biblioteca e eventual, existentes nas escolas de Pré a 4ª série.

O Plano de Carreira para os servidores da educação da PBH, lei 7235/1996, estabelece o Curso de Magistério de 1º grau ou Curso Superior de Licenciatura ou Pedagogia como habilitação para o cargo de Professor Municipal. Também estabelece como atribuições específicas do cargo:

Planejar aulas e desenvolver coletivamente atividades e projetos pedagógicos; Ministrar aulas, promovendo o processo de ensino/aprendizagem;

Exercer atividades de coordenação pedagógica (grifo nosso); Participar da avaliação do rendimento escolar;

Atender às dificuldades de aprendizagem do aluno, inclusive dos portadores de deficiência;

Elaborar e executar projetos em consonância com o programa político pedagógico da Rede Municipal de Educação;

Participar de reuniões pedagógicas e demais reuniões programadas pelo Colegiado ou pela direção da escola;

Participar de cursos de atualização e/ou aperfeiçoamento programados pela Secretaria Municipal de Educação, pela Administração Regional e pela escola;

Participar de atividades escolares que envolvam a comunidade; Elaborar relatórios;

Promover a participação dos pais ou responsáveis pelos alunos no processo de avaliação do ensino/aprendizagem;

Esclarecer sistematicamente aos pais e responsáveis sobre o processo de aprendizagem;

Elaborar e executar projetos de pesquisa sobre o ensino da Rede Municipal de Educação;

Participar de programas de avaliação escolar ou institucional da Rede Municipal de Educação;

Desincumbir-se de outras tarefas específicas que lhe forem atribuídas.

Como se pode observar nesta lista de incumbências específicas ao professor municipal, a reestruturação do trabalho docente faz-se presente com o alargamento da compreensão do que seja o exercício das atividades docentes, em consonância com o artigo 13

da LDBEN. Desse modo, os docentes devem desenvolver as atividades em sala de aula, além de atividades que envolvem a organização e gestão da escola em consonância com projeto político-pedagógico da RME-BH. “Planejar”, “desenvolver”, “ministrar”, “exercer”, “atender dificuldades”, “elaborar”, “executar”, “participar”, “formar-se”, “envolver”, “promover”, “esclarecer”, além de “desincumbir-se de outras tarefas específicas que lhe forem atribuídas”, passam a fazer parte do cotidiano docente que também deve se envolver de maneira “coletiva” e “participativa” nas atividades da escola.

Merece destaque a terceira incumbência do professor municipal, que trata do exercício de atividades de coordenação pedagógica. Na RME-BH a atividade docente pressupõe a participação na coordenação pedagógica, a qual será tratada detalhadamente em breve neste capítulo.

No que se refere ao dimensionamento do quadro de professores, este deve ser definido pelo coletivo de cada unidade escolar considerando o número de turmas, os critérios de enturmação e as regulamentações vigentes. Assim, de acordo com a Portaria SMED/SMAD 008/97, a carga horária total da escola deve ser discutida considerando a proposta pedagógica da escola e a necessidade de constituição das equipes de profissionais para cada ciclo de formação, assegurando a carga horária diária do aluno de 4 horas de efetivo trabalho e 20 minutos de intervalo de recreio.

São considerados como integrantes desse quadro os professores em regência, professores em atividades de coordenação, professores em atividades pedagógicas definidas pelo projeto da escola e professores em readaptação funcional que não estejam exercendo atribuições de auxiliar de secretaria ou biblioteca.

A jornada de trabalho de 22 horas e 30 minutos semanais de trabalho escolar para o professor municipal (Lei 7577/1998) são distribuídas da seguinte forma, conforme a Portaria SMED/SMAD n. 008/1997:

I – 20:00hs (vinte horas) para atividades de regência, projeto e coordenações; II – 50 (cinqüenta minutos) destinados a reuniões;

III – 1:40h (uma hora e quarenta minutos) relativos aos intervalos de recreio.

Para distribuição das horas para as atividades de regência, coordenação e projetos, cada escola deve considerar: as horas correspondentes ao plano curricular e à proposta pedagógica; as horas para o exercício das atividades coletivas de planejamento e avaliação do trabalho escolar – ACPATE28; e as horas restantes, destinadas às atividades de coordenação pedagógica e às atividades e/ou projetos de atendimento diferenciado aos alunos.

Como se percebe, a organização dos tempos pedagógicos é de extrema importância na Escola Plural e visa a garantir condições e possibilidades aos professores para a realização de estudos e discussões sobre sua prática pedagógica para melhor enfrentarem os desafios existentes no processo educativo.

Portanto, a organização dos professores deixa de ser individualizada para ser pensada de forma coletiva. E, para que isso aconteça, faz-se necessário que dentro de cada ciclo de formação haja momentos em que os professores possam se encontrar, formando equipes menores, para que seja possível o planejamento coletivo do trabalho a ser realizado nas turmas e a articulação desse trabalho com o das outras turmas do mesmo ciclo.

Ao se pensar na organização das equipes para o trabalho coletivo com os ciclos, considera-se necessário organizar o tempo pedagógico garantindo um tempo de trabalho com os alunos, tempo de encontro para estudo e planejamento das equipes de professores que

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As Atividades Coletivas de Planejamento e Avaliação do Trabalho Escolar (ACPATE) compreendem as tarefas definidas pelo projeto pedagógico da unidade escolar, conforme o art. 4º da Lei 7577/98, a saber:

“§ 3º - Será destinado aos ocupantes do cargo de Professor Municipal o equivalente a 20% (vinte por cento) de sua jornada semanal, desta excluído o tempo diário reservado para o recreio na escola, para a realização de atividades coletivas de planejamento e avaliação escolar, de acordo com as regras estabelecidas pela Secretaria Municipal de Educação”.

§ 4º - As atividades coletivas de planejamento e avaliação escolar previstas no parágrafo anterior compreendem as tarefas definidas pelo projeto pedagógico da escola e administradas por seu Colegiado, a serem desempenhadas pelo servidor na unidade escolar a que se vincular, salvo se exigida a sua prestação em outro local.”

coordenam as turmas, tempo de encontro para estudo e planejamento do coletivo do ciclo e tempo de estudo e preparo individual do turno dentro do 1.5.

A idéia é que esses professores se tornem uma equipe, com uma intervenção pensada e discutida coletivamente, mesmo que, em um determinado momento a intervenção seja feita por apenas um dos professores. BELO HORIZONTE (1994b, p.10).

Os tempos de projetos e os tempos coletivos são considerados um momento importante no estabelecimento de um trabalho coletivo para que o ambiente escolar possa ser afirmado como um espaço de troca de experiências, relato de andamento de trabalho, aprofundamento teórico sobre temas e esclarecimento de dúvidas surgidas no desenvolvimento do trabalho.

Articular tais tempos pedagógicos que envolvam a escola, os docentes e os alunos na construção de processos coletivos de trabalho constitui-se, portanto, no desafio da Coordenação Pedagógica.