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A origem europeia americana

No documento Odemio Antonio Ferrari.pdf (páginas 116-122)

CAPÍTULO II O PENTECOSTALISMO

1. A origem europeia americana

O movimento pentecostal teve sua formação na mudança cúltica e doutrinária no ambiente protestante dos EUA no início do século XX, após dois séculos de avivamento espiritual e movimentos de santidade, tendo como raiz básica, as igrejas reformadas (Metodista, Presbiteriana e Batista). Através dessas denominações, migradas da Europa, chegaram influências provocadoras de novas formas de espiritualidade na América do Norte. Os pentecostais iniciaram-se como seitas155 e institucionalizaram-se

154 Francisco Cartaxo,ROLIM, PENTECOSTALISMO: Brasil e América Latina, pp.26-27.

155 GOZZI Paulo Homero, Igrejas, Comunidades, Confissões, Seitas, p. 6-7. Este artigo está editado na Vida Pastoral, uma revista católica de ampla circulação. Esta edição de 1986 dedica vários artigos à análise da proliferação dos novos grupos religiosos, usando o termo seita. No entanto, o seu editorial reconhece a „conotação pejorativa e estigmatizante‟ da palavra. Sugere a substituição por “„movimentos

religiosos livres‟(cf. Puebla, nº 1102), ou por „movimentos e grupos religiosos dissidentes e independentes‟”. Ver Alberto ANTONIAZZI, Mudanças na Religião, p. 8, o qual sugere a terminologia,

em igrejas,156 prometendo volta às origens cristãs, desejando uma nova fisionomia doutrinal e institucional, no que acabaram gerando um Protestantismo de Conversão ou uma Religião do Espírito. Devido ao fato de terem suas raízes na Reforma Protestante, as denominações que pertencem a este perfil, levam consigo a designação de

evangélicas.157

As bases mais remotas do pentecostalismo evangélico estão na crise social das migrações campo-cidade e na formação da classe operária inglesa no final do séc. XVIII e a revolução industrial. Estas massas desenraizadas cultural e socialmente, envoltas num contexto de crise econômica e de identidade coletiva, irão desencadear no aspecto religioso, um movimento de esperança, unidade e sentido de vida. Formam-se as seitas

operárias, refletindo no religioso uma contestação à situação antagônica dos pobres,

mas sem criticidade, quanto ao conjunto de mecanismos excludentes de que eram vítimas, produzidos pelo capitalismo nascente. Num sentimento intimista dos problemas, refugiavam-se no sectarismo e noção individual do pecado, nutrindo uma espiritualidade emotiva de conforto dos eleitos. A religiosidade torna-se a tábua de salvação ao intenso desajustamento dessas massas e alternativa de compreensões de mundo do presente ao futuro. Cultivando um verticalismo salvífico (arrebatamento dos puros), surgiram novas expressões religiosas, os chamados movimentos de reavivamento com enfoque

milenarista.158

„movimentos religiosos autônomos‟, como o mais aceito pelos sociólogos, já na época. „Seita‟ – sectare

(latim), sectário, cortar, separação.

MENDONÇA, Antonio Gouvêa. Baseado em pesquisas de Ernest Troeltsch, apresenta como elementos básicos das seitas: “separação com relação à sociedade geral e afastamento ou desconfiança em relação ao mundo, suas instituições e valores; „separatismo‟ em atitude e estrutura social; acentuação da experiência de conversão, anterior à participação; adesão voluntária; espírito de regeneração; atitude de austeridade ética, freqüentemente de ascetismo”. (Antônio Gouvêa MENDONÇA, Seitas e Igrejas, p.79). 156 “Toda seita que alcança êxito tende a tornar-se Igreja, depositária e guardiã de uma ortodoxia, identificada com as suas hierarquias e seus dogmas, e, por esta razão, fadada a suscitar uma nova reforma” (BOURDIEU, Pierre. A Economia das Trocas Simbólicas, p. 60).

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Evangélicas - Devido à ênfase dada à busca e fidelidade às raízes bíblicas e ao Evangelho. Também, porque na origem o movimento revival, surgiu em igrejas com matriz na Reforma Protestante (Lutero 1517) e suas derivações, vindas de (Calvino, Zwilglio, Wesley, Smyth). No Brasil, chegaram os grupos de migração (Luteranos alemães no sul) e os de missão (evangélicos reformados americanos). Após, foram surgindo os missionários pentecostais, de onde surgiu a Congregação Cristã (1910), São Paulo e a Igreja Evangélica Assembleia de Deus (1911), Belém do Pará. As igrejas descendentes do pentecostalismo americano recebem nos estudos sociológicos, a classificação de religiões do espírito.

158 Milenarista, pré-milenarista ou novo milênio - termos sinônimos, referidos aos movimentos protestantes conservadores que deram origem aos pentecostais e adventistas no final do séc. XIX nos EUA. Partindo da compreensão literal da Bíblia, afirmavam que Jesus voltará na segunda vez à terra para restabelecer um novo mundo, o milênio. Haverá a regeneração do mundo, mediante o julgamento final („livramento‟), retribuindo os crentes com a salvação paradisíaca na nova Jerusalém celeste. Os maus (incrédulos,

Neste período, derivado do protestantismo inglês,159 também surge uma seita geradora de efusão espiritual, cujo movimento religioso vai originar a Igreja Metodista. Nesta ebulição religiosa, as seitas operárias vão sendo combatidas pelos clérigos das religiões tradicionais e também não resistem à iniciante organização trabalhadora de perfil socialista e crítica. Assim, estes grupos sectários, agora sofrendo dispersão religiosa, encontram acolhida comunitária e reforço doutrinal na estrutura metodista iniciante, um espaço de apoio e congregação, um renovado avivamento espiritual.

As seitas operárias e seus contingentes em crise social e religiosa encontraram acolhida entre os evangélicos metodistas na Inglaterra. As compreensões teológicas do seu fundador passaram a influenciar e serem matriz de um novo movimento de fé. John

Wesley160, prega a conversão individual. Afirma que a pessoa deve reconhecer-se pecadora, admitindo sua pertença ao humano decaído, desde as origens do mundo, trazendo a culpa de Adão e Eva. A esta natureza do indivíduo herdeiro do mal, Deus oferece a salvação e perdoa (justifica), mediante um processo contínuo de busca de santificação de vida. A fé deve manifestar-se mediante a vivência pessoal de

159 Podemos aqui recordar um fenômeno de dissidência anterior, os Quacres, chefiados por Jorge Fox no início do séc. XVII, perseguidos, presos e mortes, migraram aos EUA, onde encontraram liberdade à crença divergente. Fox afirma que a revelação divina ilumina os verdadeiros discípulos, ultrapassando a escrita bíblica. O Espírito divino ilumina indo além da Palavra da Bíblia, revelando mensagens e orientação ao serviço. A seita dos Quacres, também, rejeitava as mediações de fé: liturgias, sacramentos, instituição religiosa.

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WESLEY, J, (1703-1791) – Foi pastor do protestantismo Inglês (Ig. Anglicana). Visitou e evangelizou os colonos imigrantes na Geórgia (EUA-1735). De volta a Londres, realizou pregações ao ar livre e fundou o metodismo (1739). Rejeitou a oficialidade anglicana (religião do estado), estabeleceu um caminho metódico no desejo de alcançar a experiência concreta da fé, como sinal de revitalização da proposta cristã de salvação para além-fronteiras, impulsionada pelos leigos em missão. Mostrou-se talentoso e metódico na organização doutrinária e evangelística, enfrentando as divisões iniciais. Levou sua obra eclesiástica à Irlanda e Escócia. Enviou pregadores às colônias da América do Norte (1769). Defendia as bases do episcopado, ordenou presbíteros e rejeitava a sucessão apostólica. Escreveu temas diversos, a publicação mensal do Magazine e hinos religiosos. Foi teólogo, filho e irmão de pastor. A partir de concepções da predestinação teológica calvinista, desenvolveu a mensagem da conversão individual, em que a fé seria demonstrada pela experiência pessoal e emocional. A salvação é dom divino, oferecido a quem se reconhece descendente da natureza pecadora e como culpado, decide-se pela oferta redentora, sendo justificado (perdoado) e torna-se seguidor do dever da santificação vigilante na caminhada de convertido. Esta concepção teológica enfatiza a doutrina devocional da perfeição cristã, a Jesus que redimiu a humanidade decaída e pede submissão do crente ao seu ensinamento. A religião deve ser experiência concreta do encontro do indivíduo e seus sentidos sensoriais, em expressão compenetrada no exercício da fé, compartilhando de uma santa e livre emoção na assembléia cúltica. Esta experiência de êxtase espiritual deve ser levada ao mundo como missão proselitista dos leigos em busca de novos conversos, às maravilhas espirituais na igreja. A santificação sinalizará a salvação como experiência vivida, uma realidade sensível. Cf. SCHLESINGER Hugo e PORTO Humberto, Líderes Religiosos da

experiências emotivas, sendo devota a Cristo e sua vontade, em busca da perfeição

cristã. O humano deve experienciar seu encontro com o divino, mediante os sentidos do

corpo, em que a expressão sentimental, o fervor emotivo demonstre purificação, experiência de fé e aproximação com Deus.

Este envolvimento pessoal de expiação do mal deve ser uma experiência contínua de fé, expressada na convicção e envolvimento corporal do individuo em si e no fervor grupal dos que buscam a santidade de vida, purificando-se do mundo dos humanos como fonte geradora de pecado. Por isso, torna-se um movimento sectário, formador de seitas e proselitista, tendo como objetivo resgatar almas para Jesus, emancipando-as no grupo dos que encontraram e caminham na purificação, santificação, respondendo à oferta de justificação e salvação que Deus oferece aos seus

escolhidos. Assim, estes movimentos de reavivamento religioso, trazem consigo,

também uma matriz puritana, em que uma moral rígida os anima, desafia e diferencia como povo salvo. Podemos perceber que Wesley moldou o processo do seu movimento/seita de reavivamento evangélico e instituiu a Igreja Metodista, embasado nas definições teológicas de João Calvino.161

Na forte crise da revolução industrial no final do séc. XVIII migraram aos EUA, contingentes de operários pertencentes ao movimento revival religioso que teve forte

161 CALVINO, J. (1509-1564) – Reformador protestante franco-suíço. Estudou direito (incompleto) e teologia. Em Paris estudou idiomas e autores clássicos, acolheu as idéias dos movimentos do Renascimento e Iluminismo. Entrou no movimento da reforma e tendo contato direto com a Bíblia, sentiu a experiência da conversão imediata (1533), renunciou ao cargo de responsável pela cúria católica de Martinville, escapou da perseguição francesa e viajou pela Europa. Na Suíça, o reformador Guilherme Farel, o convidou para ajudar na implantação da nova fé. Expulso pelas autoridades civis foi para Estrasburgo, onde lecionou e foi pastor da pequena igreja de refugiados franceses e escreveu obras doutrinais e teológicas. Voltou para Genebra (Suíça - 1541), assumiu a chefia administrativa da cidade, incorporando poderes civis e eclesiásticos. Estabeleceu um governo oligárquico, intransigente, gerando diversas revoltas, entre os seus seguidores (Patriotas) e a oposição (Libertinos). Defendia um sistema de regras doutrinárias, condutas diárias e disciplinas severas. Assumiu a doutrina reformada, influenciou na difusão do protestantismo na Europa e publicou diversas obras, como: comentários bíblicos, tratados diversos, textos litúrgicos e confessionais... Sua primeira e mais importante obra foi a Instituição da

Religião Cristã (Institutas-1536), um tipo de manual de estudos bíblicos, o qual foi ampliado nas diversas

edições. Foi rigoroso na interpretação das Escrituras, criticando os estilos existentes de alegorização ou espiritualismo do texto sagrado. Formulou o método histórico-gramatical, estabelecendo normas de interpretação à Bíblia. Em sua visão teológica, afirmava que a fé é dom a quem Deus predestinou à salvação. A estes eleitos, Cristo morreu e garantiu a eternidade. Para isto garantir, deverão conduzir a vida numa moralidade puritana, conservando o caminho de santidade, como eleitos. Os outros, já estão predestinados à perdição. Formou a matriz teológica e pastoral das Igrejas Presbiterianas. Seus seguidores eram chamados de Seita dos Huguenotes. Enviou treze ao Brasil, os quais realizaram o primeiro culto protestante das Américas (RJ/RJ-1557) e dedicaram-se na evangelização dos índios.

Cf. SCHLESINGER, Hugo e PORTO, Humberto, Líderes Religiosos da Humanidade, Tomo 1 (A-J), p.253-254. E, Revista Ultimato, nº 319, pp.46-48.

ebulição na Inglaterra. Estabelecendo-se na periferia, encontraram contingentes de negros(ex-escravos), também de origem rural-operária e desempregados, os quais pertenciam à Igreja Batista, fundada por John Smith 162. Essa massa migratória une-se

na interpretação literal e fundamentalista da Bíblia, como fonte de esperança e uma nova visão de mundo, formando os grupos holiness (santidade). Surge uma variedade de grupos de inspiração espiritual e linhas doutrinárias, entre os quais, aparece o movimento adventista, pregando o resgate às origens da fé (sábado, sétimo dia:

descanso), um novo advento, a expectativa e preparação do „milênio‟, à nova volta de Jesus na terra.

Nesta ebulição religiosa, dentro da crise econômica e social das minorias étnicas, nasce a definição de crença, em torno do Espírito Santo e seu derramamento de dons aos escolhidos, o poder de falarem em línguas estranhas (glossolalia), o batismo de regeneração, o êxtase de santidade espiritual, expressões sensoriais e manifestações corporais da fé: o poder de cura, o carisma, o milagre. Formou-se um contexto social e religioso, catalisador, embasado na leitura bíblica sem mediação letrada, gestando um movimento protestante de base na periferia dos EUA, o que proporcionou as origens do Pentecostalismo, a caminhada terrena ao novo pentecostes 163.

Vive-se o contexto de liberdade religiosa e o desejo de novas experiências espirituais, envolviam grupos e igrejas evangélicas da periferia. Momentos efusivos de orações e vigílias, movidos pela busca de experiências diretas e sensíveis do sagrado, rompendo com as tradições eclesiais, permearam a virada ao séc.XX nos EUA. No

162 SMITH, A – fundou a Igreja Evangélica Batista em Amsterdã, em 1609 na Holanda. Sua expansão na Inglaterra (1612), logo passou por divisões e, alguns grupos, adotaram da confissão de doutrina calvinista. O enfoque teológico e evangélico batista aparecerá como um dos elementos doutrinais básicos no surgimento da Igreja Assembléia de Deus, em 1911 no Belém do Pará - Brasil, através dos dois missionários Batistas Suecos (Berg e Vingren), convertidos ao movimento pentecostal em Chicago, cidade industrial dos EUA.

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Pentecostes – Tem origem nas celebrações festivas da cultura religiosa do povo de Israel: Dt.16,9-12; Ex.23,14-15; Lv.23,4-8). Nesta concepção da antiguidade, aparece como festa da alegria (primícias da produção dos agricultores e dos pastores). Os Judeus dirigiam-se a Jerusalém para celebrar, tendo a data de cinquenta dias (pentekosté = 50, em Grego), após a Páscoa. Comemorava a Lei Mosáica, os dez mandamentos recebidos no Monte Sinai. Estavam entre as três festas anual, básica da tradição judaica: Páscoa, Pentecostes, Tabernáculos. Esta festividade litúrgica foi incorporada às celebrações cristãs (Atos dos Apóstolos, 2,1-13; 1 Coríntios 12-14). Cf. BÍBLIA (teb): Tradução Ecumênica, pp.1341.1547.

Pentecostalismo -. “É um termo religioso que expressa um evento fundante na história do cristianismo, isto é, a fundação da Igreja, fase final de um processo histórico-teológico que passa pela organização de um povo sob a lei, a graça e a liberdade do Espírito. Esta teoria da história, muito atraente na história do cristianismo como fonte de dissidências, esta por baixo de todo o movimento pentecostal.”

MENDONÇA Antonio Gouvêa, Pentecostalismo e as Concepções Históricas de sua Classificação... In: Sociologia da Religião no Brasil, p.74.

desejo de externalizar sinais de presença do Espírito Santo, a força de um novo batismo, os clamores e avivamentos envolviam coletividades em encontros cultuais diferenciados.

A Rua Azzuza Street, em Los Angeles foi o ponto culminante deste despertar fervoroso, em 1906, dando início ao moderno movimento pentecostal. Um pastor batista animou um fervoroso momento de oração, dentro de um velho e abandonado templo metodista, quando um menino negro de oito anos manifestou-se em línguas estranhas. Começando com maioria de negros, os cultos despertaram no espontaneísmo espiritual, tendo dinâmica nos cantos, orações individualizadas, liberdade de exaltação, sentimentos, emoções, dos que lá acorriam. Este movimento religioso renovador com base na efusão do Espírito Santo, espalhou-se pelos EUA e na cidade industrial de Chicago, ali solidificou-se em meio à crise do proletariado, migrantes, discriminação racial, violência e pobreza. Esta crise social recebeu o encontro do movimento de reavivamento do metodismo inglês com os grupos holiness dos batistas americanos, envolvendo contingentes das igrejas presbiterianas.

Neste ambiente formador do pentecostalismo norte-americano no início do século XX, há uma maioria negra celebrando com os brancos, dando sinais de comunhão inter- racial, um fato curioso perante os conflitos étnicos. Havia a demonstração de que unidos pela religião seria possível, mostrar à sociedade a possível superação das lutas raciais, marcantes na colonização dos EUA. Mas, a força do Espírito Santo não foi suficiente para que a aproximação étnica perdurasse. Logo, dois anos, após o momento religioso marcante, em 1908, os brancos romperam e este afastamento, definirá dois caminhos na expansão do movimento pentecostal, como é o caso de sua inserção no Brasil (1910-11), como também na América Latina.

O grupo negro, envolvido pela opressão social, construiu uma experiência religiosa horizontalizada, inserida na problemática social e étnica.

Na alma do pentecostal negro alojaram-se e permaneceram duas experiências estreitamente abraçadas: uma que então nascia do Espírito Santo; outra, mais antiga, a luta político-racional. Para ele, cristo tomou uma nova face. Ficou sendo o Cristo negro, libertador da raça negra, oprimida na América e em outros países. O batismo no Espírito Santo fez-se matriz que gerou muitos líderes religiosos e políticos, processo que não se extinguiu.164

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Os brancos, afastados da experiência inicial, traçaram uma caminhada de cunho espiritualista, verticalizada e tornou-se um movimento que adquiriu enorme expansão, entre as massas em crise. Penetrou em igrejas evangélicas tradicionais e provocou cismas e seitas, aglutinou contingentes exteriores e institucionalizou-se em variados perfis de igrejas pentecostais. A aparência de crença entre o grupo negro e os brancos é semelhante...

Mas, no coração piedoso dos pentecostais brancos ficou apenas a experiência da oração e dos cultos. A de feitio sócio-político não se pode dizer que tenha desabrochado. A sede do batismo no Espírito, a busca a bem dizem exclusiva dos dons de falar línguas estranhas, a ânsia de santificação e a procura de curas divinas, as intermináveis vigílias de oração, tudo isso se apossou de tal maneira dos sentimentos desses pentecostais que lhes criou um projeto exclusivamente religioso. Este é um aspecto que não pode passar em silêncio. Esquecê-lo seria deixar de lado uma dimensão essencial do pentecostalismo no Brasil e nos países latino-americanos. De fato, a religião pentecostal que se implantou no Brasil é um rebento daquela experiência pentecostal dos americanos de cor branca, o que vale dizer, explicitamente, que foi um pentecostalismo todo voltado para o sacral, a semente lançada em solo brasileiro.165

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