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Os pentecostalismos extra-pentecostais evangélicos

No documento Odemio Antonio Ferrari.pdf (páginas 156-160)

CAPÍTULO II O PENTECOSTALISMO

7. Os pentecostalismos extra-pentecostais evangélicos

A manifestação pentecostal aparece como fenômeno caracterizado pelas emoções e fervor religioso, liberdade de expressões individuais de crença, em súplicas e louvores, o que propicia o combate simbólico dos males do mundo, atacando o sagrado

negativo(satanás) e realizando o extravasar pessoal das angústias. Na imaginação e

expressão de contato imediato com a divindade, a formulação e manifestações pessoais de crença, anima no purgar as insatisfações e gera sensação de bem estar e pertença à coletividade em crise, mas solidária no mesmo sentimento de satisfações pela fé no grupo diferenciado que formam. Nutrem a crença de serem os escolhidos, vivendo o encontro com Jesus, sendo portadores dos dons e o batismo no Espírito Santo. Nesta manifestação religiosa pentecostal, o humano e o mundo são enfocados como campos de batalha, entre a divindade benéfica e a maléfica (diabo) na conquista de almas.

Estamos tratando do pentecostalismo evangélico, movimento religioso de massas, oriundo do protestantismo norte-americano, cujas várias denominações protestantes, haviam emigrado da Europa, principalmente as igrejas de tradição calvinistas, metodistas e batistas. Nos EUA, lideranças carismáticas gestaram movimentos dissidentes na passagem dos séculos XIX-XX, formando seitas que se organizaram em igrejas, e, outros líderes que se lançaram em missão, gestaram movimentos pentecostais dissidentes e novas igrejas na América Latina. Como também, grupos de perfil carismático com doutrinas cristãs parciais, permanecem como seitas ou pararreligiões, classificadas de pseudoprotestantismo: Mórmons, Adventistas, Ciência Cristã, Testemunhas de Jeová. Existem, ainda movimentos evangelicais semi- institucionalizados: Atletas de Cristo, Gedeões...

outras que privilegiam o dom da cura divina. A IURD pertence ao pentecostalismo sincrético ou autônomo - por isso, neo, estando num terceiro estágio ou onda, divergindo dos primeiros pentecostais no Brasil e da matriz protestante. A Igreja Universal, junto com a Internacional da Graça de Deus, a Cristo Vive..., dá início ao grupo de igrejas cariocas, fundadas por lideranças de natureza urbana e de nível cultural mais erudito. Enfatiza a Teologia da Prosperidade, a libertação dos demônios (guerra espiritual) e são menos legalistas quanto aos comportamentos, usos e costumes. A IURD tem como base de pregação e ritos, o trinômio: cura-exorcismo-prosperidade. Apropria-se e desenvolve muitas características latentes no pentecostalismo abrasileirado que a precede. Sua mensagem está inserida nas crises vividas pelos contingentes populacionais, envolvidos pela mutação social e transição à pós-modernidade. Imprime uma dinâmica cúltica, capaz de catalisar esperanças e de produzir sentido às massas. Estruturou-se num perfil empresarial, envolvendo-se na mídia comercial e política partidária. Por outro lado, R. Cavalcanti, estabelece um panorama global da história do cristianismo e suas igrejas do ramo protestante, colocando o movimento pentecostal do início do séc.XX, como a quarta etapa do movimento da reforma. E, o (neo) pós-pentecostalismo no final do século, como a quinta reforma.

Por outro lado, os movimentos espirituais/místicos ou pentecostalismos com maior ou menor efervescência sempre fizeram parte do cristianismo. Pois, segundo MENDONÇA, como religião revelada e embasada no livro sagrado(Bíblia), tende a fé cristã a gestar caminhos de crenças e utopias sujeitas à divergência, como: -a eclesialidade com seus „letrados‟, detentores do poder doutrinal e jurídico entre o crente e sagrado, sendo mediadores com legitimação institucionais(hierarquia, exegese, doutrina, dogmas); e, -a liberdade espiritual e a relação direta com o sagrado, via progressivos exercícios de santificação, em que indivíduos e grupos à margem, estabelecem relações independentes de poder, em relação ao sagrado.194

A Reforma Protestante, em sua oposição aos misticismos e centralidade de poder católico, defendeu a liberdade bíblica, o que acabou gerando no decorrer do tempo, movimentos pietistas, contestadores da erudição e estrutura eclesial. Enfim, as manifestações místicas católicas ou pietistas protestantes são contestações aos controles das hierarquias, dogmas, racionalidade doutrinal, secularização religiosa. O movimento pentecostal é derivado do sacerdócio comum do protestantismo, liberdade e subjetividade de interpretação das escrituras e manifestações de crença, relativismo e fragmentação institucional. Processo este, que chegou ao fundamentalismo religioso e defesa da iluminação espiritual, independente ou paralela ao texto sagrado, a busca das

verdades de fé provocadoras da divisão e proliferação protestante e pentecostal. Em

contraponto, a única fonte de autoridade de crença no protestantismo, a Bíblia, também tornou-se relativizada pelas interpretações subjetivas de líderes iluminados e suas novas

verdades.

Na Igreja Católica, muitos líderes e seus movimentos místicos tiveram destaque, o que muitas vezes foram ajustados às regras de obediência institucional ou combatidos como heréticos. Na história do catolicismo, o zelo pela interpretação bíblica letrada, a conservação da tradição e autoridade do magistério eclesiástico, tendem a cooptação e controle ou eliminação de líderes formadores de movimentos alternativos e contestadores de dogmas. O sacerdócio sacramental e distinto dos leigos, atua como

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Antônio Gouvea MENDONÇA, Pentecostalismo e as Concepções Históricas de sua Classificação. In: Sociologia da Religião no Brasil, p.76.

mediador e dispensador da espiritualidade legitimada, conduzindo um controle místico, dentro dos parâmetros instituídos. Como também, ocorre uma velada tolerância, quando as divergências permanecem à margem, subalternas e não ameaçando a oficialidade da organização, como é o caso da religiosidade popular e os movimentos de espiritualidade de perfil carismático.

A Renovação Carismática Católica(RCC) é o caso atual, em maior destaque. Da mesma forma que o pentecostalismo evangélico, esse movimento espiritual católico teve origem norte-americana, em 1967 e chegou ao Brasil no ano de 1972, através de missionários jesuítas dos EUA. Tanto que nas suas origens pelos professores e alunos católicos da Universidade de Duquesne, havia a preferência de ser chamado de

pentecostalismo católico, o que não foi aceito e a Igreja, oficializou como RCC. Mas,

diversos estudos acadêmicos no Brasil não deixam de definir a Renovação Carismática, como um catolicismo pentecostalizado.

A Renovação Carismática Católica permanece como movimento de espiritualidade, interno à organização institucional católica e tem gestado muitos outros movimentos espirituais na mesma tonalidade pentecostal. Embora, várias situações conflitivas com parte da hierarquia e lideranças, permanecem dentro da macro-ortodoxia católico romana, demonstrando no âmbito estético-litúrgico forte flexibilidade e dinâmica de massas. Porém, em termos de doutrina-moralidade, o perfil é conservador. Assim, o movimento tem crescido e barganhado saliente simpatia de parte da hierarquia, lideranças e povo católico.

Podemos concluir que o movimento pentecostal tornou-se fonte de pluralismo cristão, somando-se ao vasto pluralismo religioso, marcante na sociedade moderna e pós-moderna. De forma semelhante ao movimento pentecostal, interno ao catolicismo, também nas origens protestantes195, ocorreram movimentos pentecostalizadores, como

as seitas anabatistas (Alemanha), os Quacres e as seitas operárias(Inglaterra). Portanto, como fenômeno religioso cristão, ocorrem em nossa época, manifestações pentecostais evangélicas com institucionalizações autônomas (seitas-igrejas), extraevangélicas

195 Exemplos: já no período da Reforma, sob a inspiração de Zwinglio (Suíça), surgiram diversas seitas anabatistas. Não aceitavam o batismo de crianças e incutiam a busca da experiência do Espírito Santo em

particular, livre da mediação institucional. Afirmavam a possibilidade de relação interior e direta do indivíduo com Deus, a força espiritual que supera as diferenças, gera a comunhão dos eleitos, o caminho à igualdade humana e mudança da realidade social. Thomas Muentzer foi um líder religioso destacado e desencadeou a Guerra dos Camponeses, em busca do sonho da eleição divina na terra.

(movimentos místicos católicos), e, também, ocorrem presenças pentecostais intraeclesiais protestantes. É o caso do neodenominacionalismo, formador de novas igrejas, a partir das denominações evangélicas históricas nas décadas de 1960-80. Então:

Há, [ainda], o pentecostalismo ligado às igrejas protestantes tradicionais, os chamados movimentos de restauração e renovação, que envolvem batistas, metodistas, presbiterianos e congregacionais. Esses movimentos, embora permaneçam fiéis às igrejas de origem, agregam o estilo pentecostal às suas práticas religiosas, como o batismo com o Espírito Santo, as orações espontâneas, a permissão de pregação aos leigos, os testemunhos e os cânticos populares. Constituem uma situação melindrosa, que as igrejas protestantes tradicionais se recusam a encarar com determinação.196

Templo Assembleiano do Setor (Aldeia) Mato Queimado

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No documento Odemio Antonio Ferrari.pdf (páginas 156-160)

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