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A parábola de Lucas

No documento Watchman Nee Oremos (páginas 37-41)

Na parábola registrada em Lucas 18:1-8, nosso Senhor Jesus abrange os três aspectos da oração sobre os quais estamos falando. Com relação a isto, note, por favor, que encontramos menção de três pessoas na parábola, a saber, (1) o juiz, (2) a viúva e (3) o adversário. O juiz (de um modo negativo) representa a Deus, a viúva representa a igreja de hoje ou os cristãos fiéis, enquanto o adversário representa nosso inimigo, o diabo. Quando explicamos esta parábola, muitas vezes damos atenção somente à relação entre o juiz e a viúva. Notamos que o juiz, que não teme a Deus nem respeita aos homens, finalmente decide o caso da viúva por causa de sua petição incessante; e, concluímos, que uma vez que nosso Deus não é como este juiz iníquo, por certo nos atenderá rapidamente se orarmos. Ora, isto é quase tudo o que explicamos com respeito a esta parábola.

Mas muitos de nós estamos inconscientes do fato de estarmos negligenciando outra pessoa importante da parábola. Vejamos que se não houvesse o adversário esta viúva não teria necessidade de comparecer perante o juiz. Porém ela é levada a procurar o juiz porque está sendo oprimida pelo adversário. Especialmente quando considera- mos suas palavras ao juiz não podemos deixar de reconhecer

o lugar que o adversário tem nesta história. Para ser breve, as Escrituras meramente registram estas poucas palavras: “Julga a minha causa contra o meu adversário, mas esta curta sentença contém muito! Não representa ela uma situação agonizante? Ao pedir justiça revela que houve erros cometidos. De onde vêm tais erros e tais ofensas? Procedem da opressão do adversário: e assim descobre-se a profunda inimizade que existe entre ele e a viúva. Fala também do severa sofrimento que esta viúva tem passado nas mãos do adversário. O que reclama perante o juiz deve ser indubita- velmente uma recapitulação de suas experiências passadas e sua situação atual. E ela pede que o juiz julgue os atos errados cometidos contra ela e que lhe faça justiça.

Em certo sentido, este adversário é a figura central da parábola. Sem ele não haveria a perturbação da viúva e então ela não compareceria perante o juiz – estaria mui comodamente vivendo em paz. Sem dúvida, não havendo o adversário não haveria nem história nem parábola, pois o que ocasiona todos os problemas é esse adversário: ele é o instigador de todas as confusões e aflições. E assim deve ser o foco de nossa atenção enquanto examinamos os três personagens desta parábola, um a um.

O Juiz

Este juiz é a única autoridade numa determinada cidade. Governa-a inteiramente. Em certo sentido esta é uma figura do poder e autoridade de Deus. Embora no presente Satanás reine temporariamente sobre o mundo, ele é somente um usurpador que ocupou o mundo pela força. Quando o Senhor Jesus morreu na cruz, lançou fora o príncipe deste mundo. Em sua morte ele “despojou os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz” (Cl 2:15). Embora o mundo ainda esteja no maligno, e totalmente ilegal. E Deus já determinou um dia quando o reino será retomado e seu Filho será o Rei deste mundo por mil anos, e daí para frente,

então para a eternidade. Mas antes que este tempo chegue, Deus somente permite que Satanás permaneça ativo, enquanto Deus mesmo detém as rédeas do governo deste mundo. Satanás pode governar sobre tudo o que pertence a si mesmo, e pode até perseguir todos os que pertencem a Deus; entretanto, tudo isto é só por pouco tempo. E mesmo neste curto período, Satanás está inteiramente restrito por Deus. Ele pode perturbara os santos, mas somente dentro de certos limites. À parte do que Deus permite, o inimigo não tem autoridade alguma. Podemos perceber isto claramente na história de Jó. Assim como este juiz governa uma cidade inteira, também Deus reina sobre o mundo todo. E assim como é altamente impróprio que as pessoas que estejam sob a jurisdição de um juiz perturbem os outros, desta forma tornando-se adversários, também é extraordinário, até mesmo monstruoso, que Satanás, que esta sob o governo de Deus, persiga os santos.

O caráter deste juiz é revelado por suas próprias palavras: “Bem que eu não temo a Deus, nem respeito a homem algum.” Deve ser uma pessoa verdadeiramente imoral, pois não tem respeito por Deus nem pelos homens. Mas por causa das vindas incessantes da viúva pedindo justiça, ele fica tão perturbado e cansado de suas petições que finalmente lhe concede vingança. O Senhor Jesus emprega esse juiz em termos negativos para sublinhar a bondade de Deus: pois Deus não é igual ao juiz iníquo da parábola; pelo contrário, ele é o nosso Pai gracioso e nos protege; como ele gosta de dar-nos as melhores coisas; e não é como o juiz da parábola que não se relaciona com a viúva.

Ora, se um juiz como o da parábola está disposto a julgar a causa da viúva para livrar-se de sua incessante importunação, quanto mais Deus, que é todo virtude e bondade, e que se relaciona tão intimamente conosco, julgará a causa de seus filhos que orem a ele incessantemente! Se um juiz imoral julga a causa de uma mulher por seu contínuo clamor, não operará Deus por seu próprio povo? O motivo de a viúva finalmente obter o consentimento do juiz

de julgar sua causa deve ser encontrado em sua petição incessante. Ela não pode ter esperança no próprio juiz, pois sabe que ele é imoral e sem virtude. Entretanto, devemos reconhecer que a resposta à nossa oração a Deus não vem somente por causa de nosso orar sem cessar – o que em si mesmo deve ser suficiente para obter o que pedirmos – mas também por causa da bondade de Deus. É por isso que o Senhor Jesus termina a parábola dizendo: “Não fará Deus justiça aos seus escolhidos?” Estas palavras: “não fará Deus”, implicam uma comparação. Assim como a viúva depende inteiramente de sua petição incessante como meio de conseguir o que pede, não receberemos também o que pedimos por causa de nossa oração constante a Deus e por causa de sua bondade?

A Viúva

A viúva não tem a quem recorrer. A própria palavra “viúva” trai o fato de seu isolamento. O marido de quem ela sempre dependeu está morto. Agora está viúva. Ela verdadeiramente serve como um tipo para nós, os cristãos, no mundo. Nosso Senhor Jesus já subiu aos céus; de modo que, falando simplesmente do ponto de vista físico, os cristãos estão sem amparo como qualquer viúva. O ensina- mento de Mateus 5 revela as condições dolorosas dos cristãos. Devemos ser os mais mansos de todos, e não devemos oferecer resistência de qualquer à tipo; e, portanto, sofremos perseguição e até humilhação em todos os lugares. O Senhor, Jésus seus apóstolos nunca instruíram os crentes a procurar poder e posição neste mundo; em vez disso, ensinam-nos a ser humildes, e mansos, aceitando o desprezo e a perturbação deste mundo e recusando-nos a reivindicar qualquer coisa segundo o direito ou, a lei. Tal é a posição dos cristãos e o caminho que nosso Senhor mesmo delineou para nós. Da mesma forma que o Filho Deus deve morrer na cruz sem nenhuma resistência ou murmuração, podem seus discípulos esperar tratamento melhor da parte do mundo? A

vista de tudo isto, viúva é deveras uma boa ilustração de nós os cristãos, nesta era.

No documento Watchman Nee Oremos (páginas 37-41)

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