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A passagem de Divisões para Batalhões

No documento A Brigada Real da Marinha (páginas 85-89)

5. As Restruturações

5.1.5. A passagem de Divisões para Batalhões

A BRM tentou sempre ao longo da sua existência, alinhar a sua constituição pela dos Corpos do Exército, daí o facto do Inspetor Geral da BRM Rodrigo Pinto Guedes propor ao Ministro da Marinha e do Ultramar, Visconde da Anadia, uma nova organização para a BRM.222

Na proposta que o Inspetor faz ao Ministro, este refere que “basta um golpe de vista sobre a organização actual da Brigada para sem hesitação decidir contra mal forma-se actualmente o corpo da Brigada”, é exposto ainda que não existe uniformidade e regularização nas duas divisões, uma apresenta 10 companhias e a outra 12, respetivamente. Cada companhia era constituída por 184 praças formando um total de 4048 praças.

O Inspetor exprime a dificuldade em organizar o corpo para a realização de exercícios: “Poderá alguém imaginar, que com hum corpo assim organizado se possa fazer alguma manobra ou evolução que não participe das irregularidades do corpo, que as deve executar?” 223

O Plano de Organização da BRM consistia em passar de duas divisões para três batalhões, cada batalhão constituído por 8 companhias, formando um contingente de 2465 praças. O Estado Maior da Brigada seria de 11 elementos e o das companhias de 10, de acordo com o quadro resumo realizado pelo Inspetor Geral.224

222 BCM- Arquivo Histórico, Cx. 76, Plano de Reforma para a BRM Rodrigo Pinto Guedes, 29 de setembro

de 1804.

223 Ibidem. 224 Ibidem

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Resumo

Estado Maior da Brigada 11

Estado Maior do 1º Batalhão 10

30

Estado Maior do 2º Batalhão 10

Estado Maior do 3º Batalhão 10

Oficiais das 24 Companhias 96

Sargentos 72 Furriéis 48 Cabos de Esquadra 192 Soldados 1920 Pífanos 24 Tambores 72

Total

2465

Quadro 4- Resumo da Proposta de reorganização da BRM pelo Inspetor Geral Rodrigo Pinto Guedes

A proposta com o Plano de reorganização da Brigada apresenta diversos mapas detalhados sobre os gastos em fardamentos, e em soldos de todas as praças do corpo, realizados de forma minuciosa, fazendo sempre a comparação dos gastos anuais com a Brigada até à data deste documento, e posteriormente, à hipotética reorganização. Revelando uma poupança para a Real Fazenda.

No documento onde seguia a proposta, o Inspetor roga que todos os assuntos que tenham a ver com a Brigada sejam tratados pela Secretaria de Estado dos Negócios da Marinha, com a exceção dos assuntos referentes à Real Fazenda de forma a agilizar o processo.

65 A 7 de dezembro do ano seguinte, o Inspetor Geral da BRM enviou um novo Plano para reorganizar a BRM, definindo os artigos que deveriam ser colocados no futuro alvará que iria dar uma nova reorganização do corpo. 225

Quando a BRM tinha dez anos de existência, foi publicado um alvará com a data de 10 de setembro de 1807 que deu uma nova forma à Brigada. Até chegarmos, a este alvará tivemos um período de apreciação de cerca de três anos, desde a primeira proposta até o alvará ser efetivamente publicado.

No início deste alvará, faz se referência aos problemas que foram colmatados com a criação da BRM, mas, no entanto, surgiram outros ao longo da sua existência, nomeadamente “subsistem ainda outros [problemas], os quaes procedem da diferença dos Córpos, que compõem a referida Brigada, quanto ás Arma, em que respectiva e privativamente se instrue”.226

Este alvará, planeava que a Brigada ficasse em conformidade com os Corpos do Exército e em simultâneo reduzir o número de praças prescritas no alvará de 28 de agosto de 1797, dado que este número seria muito superior às necessidades da Armada Real e também de forma a reduzir as despesas. 227

A redução de praças não se encontra em conformidade com a realidade dos Mapas do Estado da Brigada que o Inspetor Geral tem de remeter à Secretaria de Estado da Marinha, ao Conselho do Almirantado e à Junta da Fazenda para que fossem processados os salários, considerando este o documento mais fidedigno dos quantitativos reais da Brigada. Assim de acordo com o Mapa do Estado da Brigada de 1 de setembro de 1807, redigido pelo Inspetor Geral Rodrigo Pinto de Guedes, o total de praças efetivas228 de 2353 das quais 910 se encontravam embarcadas. 229 De acordo com o alvará de 11 de setembro de 1807, a Brigada iria ficar com o número total de 2992 praças, o que não corresponde ao intuito de reduzir o número

225 BCM- Arquivo Histórico, Cx. 76, Plano respectivo a huma nova organização da BRM, Rodrigo Pinto

Guedes, 7 de dezembro de 1805.

226 António Delgado da Silva, Colleção da Legislação Portugueza desde a ultima compilação das ordens, Legislação de 1802 a 1810…, p.461.

227 Ibidem, p.461.

228 Considere-se praças efetivas, todas as praças pertencentes à BRM desde o Estado Maior ao soldado

mais moderno, não fazendo parte o Corpo de Inválidos.

229 BCM- Arquivo Histórico, Cx. 76, Mapa Mensal do Estado da Brigada pelo Inspetor Geral Rodrigo Pinto

66 de praças, uma vez que para atingir a totalidade de praças deste novo alvará era necessário recrutar mais de 600 praças.

O alvará de 10 de setembro de 1807 não foi publicado exatamente com as propostas apresentadas, sofrendo algumas alterações até chegarmos ao produto “final”.

O Estado-Maior apresentado na proposta de 1804, contemplava 11 elementos porque o Inspetor Geral Rodrigo Pinto Guedes acreditava que a Brigada necessitava de auditor, uma vez que não foi aprovado a criação deste posto230, o Estado-Maior da Brigada seria de 10 elementos. As novas companhias teriam na sua constituição 101 elementos,231 e existiriam apenas três classes de soldados232, mas de acordo com o alvará as companhias passaram a ser constituídas por 123 elementos e foram criadas quatro classes de soldados, tendo a primeira classe 10 soldados e as restantes trinta.233 Para os soldados ascenderem à classe de cima precisavam de manter um comportamento exemplar e só poderiam passar à classe superior, ao fim de pelo menos dois anos na mesma classe. Desta forma para ser um soldado de primeira classe tinha de se ter pelo menos seis anos de serviço exemplar.234

Com o alvará de 10 setembro de 1807, todos os soldados pertencentes à BRM passaram a ser designados de artilheiros.235 Assim, a BRM ficaria com três batalhões, cada um com oito companhias e todas os seus soldados passaram a ser denominados de artilheiros, ficando assim a BRM com um Corpo homogéneo. Desta forma, é possível concluir que a Brigada continua a desempenhar as mesmas funções de acordo com o alvará de 28 de agosto de 1797, mas os seus soldados passaram todos a ter instrução em artilharia.

Este alvará veio regular a burocracia da BRM após diversas propostas do Inspetor Geral, passando todos os assuntos relacionados com a Brigada pela Secretaria de Estado da Marinha e todos os documentos elaborados pelo Inspetor seriam expedidos por esta. No entanto, tudo o que era matéria de contabilidade mantinha-se sob a inspeção da Real Junta da Fazenda da Marinha. 236

230 BCM- Arquivo Histórico, Cx. 76, Plano de Reforma para a BRM Rodrigo Pinto Guedes, 29 de setembro

de 1804.

231 Ibidem.

232 BCM- Arquivo Histórico, Cx. 76, Mapa Mensal do Estado da Brigada pelo Inspetor Geral Rodrigo Pinto

Guedes, 1 de setembro de 1807.

233 António Delgado da Silva, Colleção da Legislação Portugueza desde a ultima compilação das ordens, Legislação de 1802 a 1810…, p.462.

234 Ibidem, p. 463. 235 Ibidem, p. 463. 236 Ibidem, p. 463.

67 Quando o alvará entrou em vigor, surgiu a necessidade de definir e ajustar os oficiais que iriam servir em cada batalhão, companhia e qual seria a sua função sendo, portanto, expedida a 23 de novembro de 1807 pela secretaria dos Negócios da Marinha para a BRM, a relação dos oficiais que eram para continuar ao serviço da Brigada.237

Todavia, com as invasões francesas, a migração da família real e parte deste corpo para o Brasil, não se verificou que este alvará tenha sido colocado em prática através da consulta no AHM.

No documento A Brigada Real da Marinha (páginas 85-89)