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Inspetor Geral do Corpo

No documento A Brigada Real da Marinha (páginas 57-60)

3. A Brigada Real da Marinha

3.1. A Criação

3.1.2. Inspetor Geral do Corpo

O Inspetor Geral do Corpo ou da Brigada foi um cargo concebido para desempenhar as funções de comando e inspeção da BRM, ou seja, o Inspetor Geral era Comandante da BRM e o Oficial que fosse escolhido para a desempenhar nunca poderia ter o posto inferior a Chefe de Esquadra.113

O Inspetor Geral ficava sob a alçada da Secretaria de Estado da Marinha, e do Almirantado e da Real Junta da Fazenda da Marinha. Os assuntos seriam tratados de acordo com a sua natureza: se fossem de natureza militar seria responsabilidade do Almirantado, se fossem de cariz financeiro a responsabilidade cairia sobre a Real Junta da Fazenda da Marinha e caso o assunto não seja sequer militar, nem financeiro a responsabilidade é da Secretaria de Estado da Marinha.

Os militares deste corpo sempre que fossem solicitados para desempenhar funções no Arsenal da Marinha, ou de Guarda seria o Inspetor Geral que determinaria se estes poderiam ser facultados para os respetivos serviços, não interferindo com a jurisdição do Inspetor do Arsenal. As peças de artilharia e os respetivos apetrechos só seriam distribuídos pelos navios, pelo Arsenal ou em outro local que seja necessário com a ordem do Inspetor Geral da BRM.

113 António Delgado da Silva, Colleção da Legislação Portugueza desde a ultima compilação das ordens, Legislação de 1791 a 1801…, p.449.

36 A conservação e manutenção de todo o material de artilharia da marinha era fundamental para ter o máximo de material disponível para armar um navio, sendo esta uma responsabilidade do Inspetor e do Capitão-de-fragata da primeira divisão. O Inspetor Geral era responsável por propor ao Conselho do Almirantado as peças de artilharia e as suas dimensões para as Embarcações da Armada Real, tal como propor novas inovações que se julguem úteis para posterior aquisição.

Os Armazéns de pólvora da Marinha onde se garantia a correta arrecadação e contabilização das quantidades de pólvora eram entregues aos cuidados do Inspetor Geral, sendo todos os meses enviado para a Secretaria de Estado da Marinha o inventário.

A BRM tinha uma secretaria própria, onde semanalmente o Inspetor Geral, os chefes de divisão e os ajudantes do corpo se encontravam para avaliar o estado da Brigada e para expedir novas ordens. O serviço dos oficiais das divisões era regulado pelo Inspetor, podendo mudar os oficiais de uma divisão para outra, dividindo os trabalhos de forma a não sobrecarregar nenhum. O Inspetor tinha ainda o papel de difundir os ensinamentos teóricos e práticos. Assim, foi criada uma sala para que os oficiais pudessem estudar os temas de seu agrado sendo alguns deles sugeridos ao Inspetor Geral, tal como: Construção Naval, Artilharia e Tática, permitindo assim que os oficiais do Corpo pudessem ter o máximo de instrução possível.

O Inspetor Geral ficou encarregue pelo alvará de 28 de agosto de 1797, de criar uma Escola Prática de Artilharia em que o Capitão-de-fragata dos Artilheiros marinheiros era responsável por dar as lições que achasse convenientes. Quando passassem três anos que o Corpo estivesse reunido o Inspetor deveria sugerir ao Almirantado os oficiais para saírem da BRM, e os da Armada Real para os substituir, medida que tinha como finalidade familiarizar todos os oficiais pertencentes à Armada com o funcionamento da BRM, ficando estes mais habilitados na tomada de decisões.

Mensalmente, eram passadas revistas às três divisões pelo Inspetor Geral do Corpo com o intuito de verificar o estado da Brigada. O Inspetor era responsável por enviar todos os meses o mapa do estado da BRM, contendo de forma discriminada a situação de cada Divisão e onde se encontram todos os elementos do corpo, à Secretaria de Estado da Marinha, ao Conselho do Almirantado e à Junta da Fazenda para que os salários fossem processados.

O Inspetor Geral da BRM era um oficial que deveria apresentar notáveis capacidades de liderança, experiência e conhecimentos abrangentes, graças à diversidade de funções que a Brigada apresentava. Enquanto comandante, tinha o dever de zelo para com os materiais que

37 estavam atribuídos à Brigada e com os militares que tinha sob a sua alçada garantindo que a função deste corpo era cumprida da melhor forma possível e de acordo com os recursos materiais e humanos. O Inspetor tinha a incumbência de incentivar os seus oficiais e restantes praças do corpo a melhorar os seus conhecimentos nas mais diversas áreas. Assim, foi criada uma sala onde estes pudessem consultar os mais recentes escritos em todas as áreas de interesse para a Brigada.

3.1.2.1. O 1º Inspetor Geral do Corpo

Para ocupar o recém-criado posto de Inspetor Geral e Comandante de um corpo militar específico da marinha, o militar deveria ter experiência em todas as especificidades que este corpo apresenta e com instrução. E acima de tudo, ser uma pessoa com valores pessoais e militares, extremamente zelosa para que fosse possível fazer uma boa gestão dos materiais atribuídos à Brigada, e da confiança dos monarcas para que este atuasse em conformidade com as suas ordens.

Pelo Decreto de 17 de outubro de 1797 foram selecionados os oficiais para preencher os postos no Estado Maior da Brigada. O chefe de esquadra escolhido para ocupar o cargo de Inspetor Geral e Comandante da BRM foi Domingos Xavier de Lima, Marquês de Nisa. 114

Xavier de Lima era conhecido por ser um grande marinheiro, um amante do mar, leal e um militar com sólidos conhecimentos profissionais que demonstrou ao longo das suas comissões a bordo dos navios da armada e na campanha militar do Rossilhão, portanto a sua escolha para comandar um corpo militar recém-criado não seria descabida. Era um homem de armas com uma vasta experiência para a sua idade, tendo apenas 32 anos à data do decreto.

No manuscrito de proposta de Oficiais para a BRM pelo Inspetor Geral, Marquês de Nisa, datado de 23 de janeiro de 1798, o Almirante remete a proposta a D. Rodrigo Sousa Coutinho dos oficiais que este escolheu para ocuparem lugar na BRM, mostrando descontentamento em não propor nenhum para certos postos, uma vez que não conhecia nenhum oficial capacitado para ocupar o cargo.115 O Marquês acaba com as seguintes palavras:

114 BCM- Arquivo Histórico, Cx. 75, Relação dos oficiais que Sua Majestade hé servida nomear por

Decreto de 17 de outubro de 1797 para os Postos da Brigada Real da Marinha, 17 de outubro de 1797. O Decreto encontra-se transcrito no Anexo B.

115 BCM- Arquivo Histórico, Cx. 75, Proposta dos Oficias para serviram a BRM pelo Inspetor Geral

38 “Eu teria feito esta Proposta há mais tempo, mas a falta de conhecimento dos Officiaes dos Corpos extinctos me obrigou a tirar me novas informaçoens em que se gastou muito tempo. O desejo de estar na escolha dos Officiaes que proponho, e o zello pelo Serviço da Raynha minha Senhora me obrigarão a esta demora “116

Através deste documento, verifica-se o zelo e a vontade de bem servir a coroa e a BRM, escolhendo os oficiais que tinham demonstrando melhor desempenho nos extintos regimentos. A sua permanência como Inspetor Geral, não durou muito porque este experiente marinheiro foi escolhido em maio de 1798 para comandar a esquadra de auxílio à Inglaterra, no Mediterrâneo. Durante esse período, salientam-se duros cruzeiros como: os dois bloqueios à ilha de Malta, a interceção de comboios franceses e a reconquista do reino de Nápoles, sendo estes apenas alguns exemplos de outros tantos. O almirante Nelson elogiou a atuação do Almirante Marquês de Nisa e dos homens ao seu comando, elogio que se pode estender às tropas da recente Brigada embarcada nos navios da Armada Real, tendo-se estreado em combate nesta campanha naval no Mediterrâneo.

Após o regresso da dura campanha do Mediterrâneo, nos finais de 1800 exerceu durante oito meses, o cargo de embaixador no Império Russo. Com este título, ganhou a simpatia do imperador devido à sua franqueza, fidalguia e acima de tudo o seu tato político, que deixou marcada uma amizade entre as duas nações. 117

O almirante Marquês de Nisa faleceu com varíola em Konigsberg a 30 de junho de 1802 quando regressava a Portugal.118

No documento A Brigada Real da Marinha (páginas 57-60)