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A perceção social do envelhecimento

CAPÍTULO I FUNDAMENTOS TEÓRICO-CONCETUAIS

2. O processo de envelhecimento: fatores explicativos

2.4. A perceção social do envelhecimento

As alterações que têm vindo a ocorrer nas pirâmides etárias, resultam em problemas e dúvidas para as quais se tem vindo a procurar uma resposta consensual. As mudanças que ocorrem durante o desenvolvimento do processo de envelhecimento são sentidas de forma particular por cada um. As adaptações podem acontecer de forma adequada, saudável ou patológica. Tudo depende da história anterior, da idade física, do bem-estar, do poder socioeconómico e da vivência atual das modificações, perdas e ganhos. O envelhecimento, por mais natural que surja, traz sempre algumas alterações aos níveis biológico e psicológico, podendo, em algumas pessoas, essas alterações ocorrerem apenas ao nível biológico e, noutras a ambos os níveis.

Os estudos realizados por Luz & Miguel (2015) procuram compreender e explorar a imagem da velhice e a sua multidimensionalidade. Na história do Ocidente a velhice era vista de forma ambivalente, sendo o envelhecimento caracterizado pela prevalência de duas perspetivas filosóficas opostas: uma positiva assente no pressuposto que as virtudes humanas aumentam com a idade e outra negativa e pessimista, que enfatiza a velhice como uma doença natural.

O idoso jamais conquista o estatuto de velhice, este, é-lhe concedido pela sociedade, que define as suas possibilidades e interesses. A velhice é um estado sociocultural de uma determinada época e sociedade, assim como, uma representação da forma como os idosos são cuidados. Durante muito tempo existia a crença de uma espécie de “golden age”, em que a velhice era valorizada e reconhecida pelas sociedades ditas “tradicionais”. Porém, a velhice apesar de valorizada, era igualmente sinónimo de impotência e inutilidade, sendo os idosos muitas vezes abandonados e até mortos (Dias, 2005).

As designações de pessoa idosa têm sido várias: “pessoa da terceira idade”, “pessoa da melhor idade”, “velho”, “pessoa de meia-idade”, “maior idade”, “melhor idade”, “idade madura”, “idade avançada”. Socialmente a velhice não é encarada com uma fase nitidamente assinalada. Enquanto, a crise da puberdade permite traçar a passagem do adolescente para o adulto, delimitando uma idade, na velhice não acontece o mesmo. O início da velhice é indefinido, variando consoante as épocas e lugares, sendo que não se encontram rituais de passagem definidos para que seja estabelecido o novo estatuto (Feijo & Medeiros, 2011).

A velhice tem vindo a ser diferenciada ao longo de diversas épocas sócio históricas. Na Grécia Antiga, era pouco valorizada, sendo considerada como triste e ridícula. A época romana teve dois períodos distintos, um favorável e outro desfavorável a esta faixa etária. Na Renascença e até ao final do século XVII surge o culto da juventude. Somente no século XVIII os idosos foram reconhecidos como pessoas completas, o que perdurou até à época das Luzes. Neste período foi criada legislação no sentido de apoiar os idosos, sobretudo os que mais precisavam (Dias, 2005).

Em 1982, a Organização das Nações Unidas (OMS) classificou os idosos em três categorias (Feijo & Medeiros, 2011):

· pré-idosos (entre 55 e 64 anos);

· idosos jovens (entre 65 e 79 anos ou 60 e 69 anos) · idosos avançados (com mais de 70 anos)

As conceções acerca da velhice e do envelhecimento destacam dimensões positivas, expressas na maturidade emocional, experiência de vida e sabedoria, porém, a prevalência recai sobre a dimensão negativa, assente numa visão reducionista que enfatiza as noções de declínio e incapacidade ligadas à vivência da condição do idoso (Luz & Miguel, 2015).

Correia (2007) num dos seus estudos questionou se o ditado “Velhos são os trapos”, é um mito ou uma realidade, com a entrada numa nova fase da sua vida os idosos devem ter o acompanhamento de redes de apoio social, formais e informais que os devem ajudar a ultrapassar os seus problemas, medos, inseguranças e solidão. Esta intervenção deve igualmente ocorrer ao nível educativo, por forma a proporcionar ao idoso o seu desenvolvimento a interação com outras gerações. Este tipo de intervenção tem vindo a ser realizada no âmbito da animação, uma vez que esta apresenta funções culturais, psicossociais, socioeducativas, terapêuticas, entre outras, proporcionando um envelhecimento digno e valorizando o idoso, contribuindo para a prevenção de doenças, mobilidade e sensação de bem-estar físico e psicológico

O envelhecimento é mais do que um fenómeno biológico, deve ser entendido como uma construção social multidimensional, assente numa confusão de mitos e realidades. Atualmente, resulta essencialmente de uma imagem negativa, pejorativa e

estereotipada que traduz a ideia de que os idosos, ainda que saudáveis, são incapazes de se desenvolverem (Luz & Miguel, 2015). Como diz o ditado “burro velho já não aprende línguas”.

Muitas das características atribuídas aos idosos constituem preconceitos e estereótipos, que podem ser denominados de idadismo ou de gerontofobia (Oliveira, 2008). A consolidação dos mitos e ideias levaram a literatura anglo-saxónica a criar o termo idadismo (ageism), que se refere às atitudes e práticas negativas generalizadas com base na idade, relativamente aos idosos (Luz & Miguel, 2015). O idadismo pode influenciar a forma como olhamos e nos comportamos com os idosos (Marques, 2011). Por um lado, o idadismo reforça crenças e imagens negativas de cariz social, por outro, condiciona os grupos e as ações individuais. O aspeto mais negativo do idadismo é a forma como poderá condicionar negativamente as atitudes e comportamentos das gerações mais novas face aos idosos, assim como, a internalização por parte destes, de uma visão negativa do envelhecimento (Luz & Miguel, 2015).

Deste modo, o conceito de velhos e de velhice, pode referir-se à idade cronológica, biológica, psicológica, social ou ainda cultural. Nas sociedades africanas e orientais, o idoso atinge o auge do prestígio, enquanto nas sociedades ocidentais e de produção o idoso é desacreditado (Oliveira, 2008).

Por conseguinte, a velhice não é um mito, é uma realidade, símbolo de uma vida que é como um grande livro que folheamos e cujas páginas mais belas se encontram no fim como refere Manuel Eyguem Montaigne-Essais (Correia, 2007).