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Envelhecimento, Saúde, Qualidade de Vida e Bem-Estar

CAPÍTULO I FUNDAMENTOS TEÓRICO-CONCETUAIS

2. O processo de envelhecimento: fatores explicativos

2.6. Envelhecimento, Saúde, Qualidade de Vida e Bem-Estar

Envelhecer com saúde, autonomia e independência, o mais tempo possível, constitui, hoje, um desafio à responsabilidade individual e coletiva, com tradução significativa no desenvolvimento económico dos países (OMS, 2004).

Ao longo dos anos têm vindo a surgir diversas mudanças nas direções políticas da velhice, no entanto, a proclamação do Ano Internacional das Pessoas Idosas em 1999, provocou a grande mudança de mentalidades relativamente a esta população (Rodrigues, 2014). O envelhecimento humano é um fenómeno complexo que envolve aspetos socioculturais, políticos e económicos. A reestruturação dos sistemas de reforma, os regimes de previdência social e o aumento das instituições de apoio à velhice são indicadores da preocupação e adaptação social ao fenómeno do envelhecimento. As atividades de tempos livres variadas, o contacto afetivo e social, as relações familiares, as formas de apoio e assistência na doença, a alimentação e a higiene devem ser estimuladas de forma a dar resposta à crescente necessidade de apoio aos idosos (Carvalho, 2005).

A problemática da saúde nos idosos é um aspeto fundamental quando se perspetiva um envelhecimento ótimo. O envelhecimento é um processo gradual influenciado por fatores genéticos e ambientais que, de forma positiva ou negativa, influenciam o resultado do envelhecimento individual. A ausência de saúde leva ao sofrimento e diminuição do bem-estar, tendo implicações na felicidade e qualidade de vida do indivíduo (Paúl, 2005).

Já dissemos que a velhice abarca progressivas limitações. A limitação maior surge associada à perspetiva que temos da mesma, à dificuldade social e cultural em valorizar as potencialidades dos idosos. Quanto maior for o reconhecimento do valor destes indivíduos em sociedade, maior será a qualidade de vida dos idosos e dos seus familiares, assim como, o seu desenvolvimento pessoal e social (Saúde, 2006). A

adaptação ao processo de envelhecer implica a compensação de perdas através do recurso de novas estratégias de pensamento e de resolução de problemas que refletem bem a experiência de vida de cada um (Paúl, 2005).

Em relação à Qualidade de Vida, que devem ter os idosos no seu processo de envelhecimento, Martins (2013) refere os principais modelos conceptuais, que são os seguintes:

ü Modelo de Satisfação de Baker e Intagliata que defende que a Qualidade de Vida é o produto de três variáveis, características pessoais, condições de vida objetivas em vários domínios e satisfação com a vida nestes domínios.

ü posteriormente surge o Modelo combinado Importância/Satisfação que valoriza não só a satisfação numa área de vida como a importância de que essa área de vida se reveste para a pessoa, pretende, desta forma, explicar por é que pessoas que vivem em condições completamente diversas exprimem o mesmo grau de satisfação.

ü O modelo de Preenchimento de Necessidades baseia-se nas ideias de Maslow em que felicidade e satisfação estão relacionadas com as condições sociais e ambientais requeridas para o preenchimento de necessidades humanas básicas. Este modelo valoriza a interação indivíduo-ambiente, realçando o facto de o indivíduo ter necessidades, sejam elas materiais, psicológicas (autonomia, autoestima, realização pessoal), o ambiente fornece a oportunidade para as satisfazer. O grau pelo qual uma pessoa pode satisfazer as suas próprias necessidades depende da sua capacidade, da sua habilidade ou competência afetiva, cognitiva e comportamental, da sua ação face às solicitações postas pelos papéis sociais. Com este modelo aumentou a compreensão teórica da associação entre bem-estar e condições ambientais e generalizou-se as necessidades como universais e estáveis.

ü O Modelo Dinâmico de Agermeyer e Kilian que se debruça sobre a busca do nível de satisfação constante, apesar das mudanças ambientais. Defendem a manutenção da satisfação constante através de atividades cognitivas e conativas.

ü O Modelo Multidimensional de Kastsching e Angermeyer dirigido para ação, sendo composto por dimensões psicológicas (uma vertente cognitiva – a satisfação, e outra afetiva - o bem-estar) e sociológicas (o funcionamento psicossocial e as condições ambientais). O modelo prevê que qualquer dimensão possa influenciar as outras e que qualquer relação causal seja possível.

Deste modo podemos abordar a Qualidade de Vida segundo três perspetivas fundamentais: a Qualidade de Vida Geral (general quality of life), a Qualidade de Vida relacionada com a saúde (health – related quality of life) e a Qualidade de Vida relacionada com a doença (disease – specific quality of life). A primeira, a Qualidade de Vida Geral é constituída por três dimensões: a do nível de funcionamento global, a dos recursos disponíveis para a obtenção dos seus próprios objetivos e a do sentido de

bem-estar e satisfação. Esta última dimensão inclui numerosas áreas de vida, como por exemplo, a família, as relações sociais, o trabalho, a situação financeira e a habitação. A perspetiva global é aquela que mais diretamente deriva dos estudos sobre a Qualidade de Vida das populações em geral.

A Qualidade de Vida relacionada com a saúde é limitada à influência que a doença detém sobre a Qualidade de Vida. Nesta abordagem, estudam-se as áreas de vida ligadas à saúde quanto aos aspetos físico, psíquico e social. Esta aproximação, ainda que mais estreita do que a das Qualidade de Vida geral apresenta uma perspetiva que pode ser aplicada a muitas doenças, quer orgânicas quer psíquicas. A Qualidade de Vida especifica ligada à doença é centrada sobre o impacto que os sintomas de uma doença e os efeitos da terapia têm sobre a Qualidade de Vida.

O envelhecimento saudável é um desafio para todos os indivíduos e também para todos os gerontólogos e políticos. Sobre este tema, referimos que uma política destinada aos idosos deve assentar em três frentes principais: manutenção e aumento das competências, para ultrapassar a dependência; expansão e melhoria das medidas de reabilitação, para conseguir que os idosos voltem a ser capazes de levar uma vida independente; e resolução dos problemas dos idosos dependentes de outras pessoas (Osório & Pinto, 2007).

A quebra do exercício da atividade profissional tem um forte impacto na qualidade de vida e bem-estar dos idosos. Tendo em conta a grande diversidade de objetivos que as pessoas preenchem com o trabalho, são evidentes as vantagens do exercício profissional para o bem-estar individual e social. O desenvolvimento regular de uma atividade, que seja, simultaneamente, gratificante para o próprio e útil para os outros e para a sociedade, constitui uma das principais formas de ajustamento pessoal e de preservação da saúde mental. Para além do rendimento económico, há um conjunto de vantagens associadas à vida profissional, como a estruturação do uso do tempo, a conquista da identidade pessoal e do estatuto social, o contexto para interação social, o local de expressão de capacidades pessoais ou o sentimento de realização pessoal (Fonseca, 2012)

A estrutura familiar atual e as exigências do dia-a-dia, levam na maior parte dos casos, os idosos a instituições. Ainda que esta não signifique uma solução de sucesso por parte dos familiares é, muitas vezes, a mais viável para a garantia do bem-estar e saúde do idoso. Esta mudança requer adaptações de ambas as partes e é, por isso, fundamental a análise e a identificação dos problemas associados ao processo de adaptação do idoso, assim como, o envolvimento familiar no decorrer de todo o processo de institucionalização (Carvalho & Dias, 2011).

Em Portugal, os serviços de prestação de cuidados a idosos provêm de diversos intervenientes: estado, setor lucrativo e setor não lucrativo. Grande parte das instituições têm por base o cariz religioso e católico. O crescente aumento da população de idosos requer respostas por parte da OMS e pela Direção Geral de Saúde, que em conjunto com o Ministério da Saúde, têm delineado um conjunto de

políticas sociais e programas integrados de apoio permanente à população envelhecida (Carvalho & Dias, 2011).

Em 2008, foram definidos pelo Ministério da Saúde em parceria com a Direção Geral da Saúde programas de apoio aos idosos como: o Programa de Apoio Integrado a Idosos (PAII), o Programa Idosos em Lar (PILAR) e o Programa de Apoio à Iniciativa Privada Social (PAIPS) (Carvalho & Dias, 2011).

O serviço de apoio domiciliário (SAD), surge como resposta social a prestação de cuidados individualizados e personalizados ao domicílio, de forma a assegurar temporariamente, ou de forma permanente, a satisfação das necessidades básicas e atividades de vida diária do idoso. Este serviço assegura necessidades como: os cuidados de higiene e conforto; arrumação e pequenas limpezas no domicílio; confeção, transporte e/ou distribuição de refeições e tratamento de roupas (Rodrigues, 2014).

Os centros de dia surgem igualmente como resposta as necessidades desta população, neles são prestados um conjunto de serviços que visam a manutenção do idoso no seu meio sociofamiliar. Aqui, para além da satisfação das necessidades básicas, há a preocupação pelo desenvolvimento de atividades de convívio e ocupação do idoso A ASC surge, neste contexto como uma das respostas fulcrais à necessidade, de ocupação adequada do idoso proporcionando atividades que promovem o desenvolvimento social e grupal do idoso (Rodrigues, 2014).