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Psicogerontologia na compreensão da velhice

CAPÍTULO I FUNDAMENTOS TEÓRICO-CONCETUAIS

2. O processo de envelhecimento: fatores explicativos

2.5. Psicogerontologia na compreensão da velhice

O processo de envelhecimento poderá ser dividido em primário e secundário. Como envelhecimento primário consideram-se as mudanças irreversíveis no tempo, por sua vez, o envelhecimento secundário, são as mudanças provocadas por doenças ou afeções específicas (Martins, 2013).

A fase de envelhecimento mais rápida que ocorre após os 65 anos de idade, dá-se o nome de senescência (Barreto, 2005). No decorrer do processo de envelhecimento a idade não é o único fator determinante, visto que esta depende do contexto histórico, social e pessoal envolvente. Ao longo da vida são reconhecidos padrões de crescimento distintos, marcados pelas condições biomédicas, psicológicas, comportamentais e sociais. O envelhecimento psicológico não apresenta o mesmo padrão que o envelhecimento biológico (Jacob & Fernandes, 2011).

Na verdade, o processo de envelhecimento não tem um início preciso, é um fenómeno individual que ocorre ao longo da vida com base nas condições genéticas, biológicas, sociais e psicológicas (Jacob & Fernandes, 2011). Os investigadores têm vindo a ser unânimes no destaque dos quatro critérios delimitadores da velhice: cronológico, psicobiológico, psicoafectivo e social (Osório & Pinto, 2007).

As mudanças físicas associadas à velhice, que geralmente se encontram associadas à deterioração de capacidades, dizem respeito à idade física e biológica do indivíduo. A idade psicoafectiva diz respeito aos acontecimentos ocorridos a partir de uma determinada altura que afetam, cognitiva e afetivamente, os indivíduos, como a reforma ou a morte do cônjuge. A idade social define os papéis que se pode, se deveria, se pretende, se deseja ou se tem de desempenhar em sociedade e que, de certa forma, condicionam o comportamento que se espera do idoso (Osório & Pinto, 2007).

As modificações ao nível do aspeto físico exterior são alvo da preocupação dos idosos. Alterações na estatura, no aspeto, peso, força muscular, mobilidade, para além da perda dos sentidos, como a visão e audição são algumas das mudanças físicas que o idoso tenta minimizar. Outras alterações igualmente relevantes acontecem ao nível dos aspetos psicossociais. Socialmente a vida do idoso muda e a presença de acontecimentos significativos cria a necessidade constante de ajustamento e adaptação. No campo psicológico, as mudanças e as perdas associadas aos processos sensoriais, motores, cognitivos, entre outros devem ser vistos como pontos de partida para a melhoria da sua qualidade de vida (Martins, 2013).

As teorias acerca do adulto e do envelhecimento são principalmente desenvolvimentistas. Um dos pioneiros da psicologia do desenvolvimento defende a diferenciação e integração hierárquica, com base num processo de continuidade e descontinuidade (Oliveira, 2008). A partir do início dos anos 70, investigadores iniciaram o estudo com abordagens neurológicas, psicológicas e pedagógicas à exploração do cérebro, em paralelo com a influência do funcionamento cognitivo nos comportamentos (Osório & Pinto, 2007).

A psicologia dinâmica compreende o processo evolutivo com base numa perspetiva além da evolução por etapas fixas e universais, assinalando o envelhecimento como mais um período na constituição subjetiva, com conotações particulares que se articulam com a singularidade do idoso no decorrer do seu processo de desenvolvimento (Osório & Pinto, 2007).

A ideia de desenvolvimento aplicada ao envelhecimento tem como intuito a possibilidade dos idosos, independentemente da idade cronológica, poderem continuar a apresentar traços e características positivas de desenvolvimento psicológico. A visão positiva do envelhecimento fundamenta a promoção do desenvolvimento psicológico no envelhecimento, surgindo o interesse de investigar o conceito de plasticidade associado ao desenvolvimento humano (Paúl & Ribeiro, 2012). A personalidade do ser humano organiza-se em torno de dois aspetos divergentes: a extroversão e a introversão. Estes dois aspetos equilibram-se, embora, com base na idade, um supere o outro. Na juventude prevalece a extroversão, que se caracteriza pela necessidade de afirmação e realização pessoal e profissional. Na segunda metade da vida predomina a introversão, onde ocorre a análise dos

sentimentos, o balanço do sentido da vida e a tomada progressiva de consciência da morte (Oliveira, 2008).

Do ponto de vista psicológico o envelhecimento caracteriza a segunda metade da vida, sendo a “meia-idade” a porta de entrada. O envelhecimento tem vindo a ser descrito como uma fase marcada por transformações que ocorrem com base numa componente biológica e social. O impacto destas transformações está subjacente aos percursos desenvolvimentais do individuo durante a adultez (Paúl & Ribeiro, 2012).

O resultado desenvolvimental é substancialmente diferente de pessoa para pessoa. A enorme variabilidade interindividual cria a distinção no padrão de desenvolvimento de cada um. Por isso, as diferenças individuais são fundamentais no processo adaptativo, uma componente essencial no desenvolvimento psicológico na velhice, que resulta da junção de fatores biológicos, psicológicos e sociais (Paúl & Ribeiro, 2012).

Sabemos que o conceito de envelhecimento remete-nos para o conjunto de modificações que decorrem do avançar da idade para além da fase de maturidade. Em parte, é o processo inverso do desenvolvimento, onde começa a observar-se a diminuição progressiva das aptidões e capacidades, tanto físicas como psíquicas, isto é, a involução, em contraponto com a evolução que a precedeu. Estatisticamente, o início da velhice foi demarcado aos 65 anos, por ser a idade legal que coincide com a reforma. Porém, outros estudos posteriores demonstraram que a velhice não depende unicamente da idade, mas também, do estado de saúde, do estatuto económico, das habilitações, do sexo e do grupo étnico em que o idoso de insere (Osório & Pinto, 2007).

No decurso do envelhecimento o desenvolvimento psicológico envolve um conjunto de ajustamentos individuais face às mudanças no self, isto é, no seu “eu” interior. As alterações corporais, cognitivas e emocionais, expectativas sociais, relações interpessoais, alterações familiares, profissionais, na rede de relações e no próprio contexto residencial, promovem a necessidade ajustamento e adaptação (Paúl & Ribeiro, 2012).

Fisiologicamente, o envelhecimento compreende uma série de alterações nas funções orgânicas e mentais causadas pela idade no organismo, provocando a perda do equilibro homeostático e o declínio de todas as funções fisiológicas. Estas alterações diminuem a reserva funcional, isto é, o organismo, quando submetido a situações de estresse físico e/ou emocional, pode ter dificuldades em manter o seu equilíbrio, manifestando uma sobrecarga funcional, da qual podem resultar processos patológicos, devido ao comprometimento dos sistemas endócrino, nervoso e imunológico (Cancela, 2007).

As alterações provocadas pelo envelhecimento ao nível do organismo são inúmeras como: a diminuição do fluxo sanguíneo para os rins, fígado e cérebro; diminuição da função renal; diminuição do débito cardíaco; diminuição da tolerância

à glicose; diminuição da capacidade pulmonar; diminuição da função celular de combate às infeções, entre outros (Cancela, 2007).

Com o envelhecimento ocorre, igualmente, a alteração em algumas das modalidades sensoriais, como a audição, a visão e o equilíbrio que são gravemente afetadas. O comprometimento ao nível do equilíbrio, audição e visão tem consequências não só funcionais, mas também ao nível psicológico e social. Por outro lado, os défices de natureza auditiva e visual parecem estar na origem do declínio geral do funcionamento das atividades intelectuais (Cancela, 2007). Inevitavelmente, o envelhecimento tem problemas associados, porém, uma perspetiva positiva em torno do envelhecimento possibilita o foco na valorização das forças dos idosos e na promoção de mudanças positivas na segunda metade da vida. É um fato que nos esperam as doenças e a morte, é por isso que não vale a pena passar a vida à espera delas (Paúl & Ribeiro, 2012).