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2 PERCEPÇÃO AMBIENTAL: A RELAÇÃO

2.2 Percepção ambiental, processo perceptivo “a compreensão do

2.2.1 A percepção da organização da cidade na visão de quem o

Desprender sobre a teoria de autores como Tuan e Lívia de Oliveira sobre a percepção da sociedade quanto a cidade, se torna relevante à medida que o tema dessa pesquisa precisa focar nos aspectos e problemas de seu lugar de estudo, o igarapé do Frasco, parte integrante do espaço urbano de Boa Vista em Roraima.

Segundo Tuan (1980) a grande maioria da população urbana, incluindo parte dos acadêmicos, demonstra dificuldades no entendimento de como deve ser a organização espacial da cidade. Historicamente o pensar sobre, foi construído sob a perspectiva da classe dominante, deixando para a sociedade uma visão particular e subjetiva do seu espaço de vivência. Portanto, é imprescindível a desconstrução da cultura ocidental, e a valorização das aspirações humanas, que dão sentido aos lugares vivenciados, possibilitando a constituição do espaço arquitetônico “[...] favorecer e desenvolver o equilíbrio, a harmonia e a evolução espiritual do Homem, atendendo às suas aspirações, acalentando seus sonhos, instigando as emoções de se sentir vivo, desenvolvendo nele um sentido afetivo em relação ao lócus [...]” (OKAMOTO, 2002, p. 14).

A análise da percepção ambiental no contexto urbano visa analisar a percepção ambiental da sociedade de uma área urbana, no entanto, os problemas ambientais estão presentes em quase todas as regiões do planeta, e o seu entendimento requer observar o contexto global para um melhor entendimento dos problemas. A epistemologia e o pensamento geográfico sobre a relação da sociedade na formação do espaço geográfico sofreram variações no decorrer da história, dependendo do período e do contexto do momento. Isso aconteceu a nível mundial, e de forma mais acentuada em relação ao espaço urbano.

Segundo Tuan (1980), os sentidos percebem o espaço urbano por meio de formas espaciais, e a percepção contempla um conjunto de elementos e nunca um elemento isolado. A forma de perceber o espaço sofre variações decorrentes da realidade temporal, em alguns momentos o espaço era visto como a representação cosmológica do sagrado, em outros, como lugares da perdição, da violência.

A ideia deste autor é de que a mente humana está adaptada para organizar os fenômenos, não apenas como segmentos, mas também como oposições binárias ou pares opostos, belo e feio, quente e frio. Quanto ao espaço rural e urbano, são considerados como realidade dualógica, opostas. No espaço urbano, aparece a oposição centro e periferia, que, está presente no conceito do pensamento científico geográfico.

No entanto as cidades evoluíram e o avanço tecnológico transformou o espaço urbano, que observadas assim:

As cidades modernas são vistas como conglomerados de casas residenciais, de prédios de trabalho, de edifícios públicos, de templos religiosos, de acervos de museus, de parques e praças. As se estabelecerem relações perceptivas e cognitivas como espaço urbano é preciso considerar os anseios da população: o que quer, o que gosta/não gosta, o que sonha, o que espera do futuro (OLIVEIRA, 2012, p. 62).

Neste contexto, a percepção ambiental urbana é o resultado de como os indivíduos ou grupos percebem como a cidade foi ou está sendo implantada, como aconteceu ou deverá acontecer a transformação do espaço, neste caso, principalmente o urbano. Segundo Oliveira (2012) a percepção e cognição ambiental dentro do espaço urbano vê os fenômenos de forma desintegrada, separados por classes, e por segmentos comerciais e culturais, isso nos remete a necessidade de desenvolver a percepção numa perspectiva nova, no refletir e repensar o espaço urbano de forma integrada.

Em se tratando de planejamento urbano a percepção ambiental urbana do poder público é fundamental na previsão e organização territorial levando em consideração o tempo e a extensão do espaço e as necessidades básicas da população quanto a moradia, saúde, educação, trabalho, lazer e deslocamento etc.

O ordenamento espacial dos planejadores e urbanistas deve se respaldar no enfoque ambiental, estes precisam atentar para a localização, o uso, a finalidade do urbano em relação aos moradores ou visitantes da cidade, e para a qualidade ambiental dos recursos naturais, acompanhar o crescimento urbano no sentido de manter as condições ambientais necessárias a qualidade de vida da população. Além de lembrar que a percepção ambiental da população carece de estímulos para o desenvolvimento de atitudes sustentáveis (OLIVEIRA, 2012).

Os problemas da relação sociedade/natureza se alinha aos valores simbólicos para os indivíduos e a coletividade, e determina a maneira de perceber e de organizar seus espaços no decorrer da história. A história da vida humana sobre a superfície terrestre resulta num mosaico de espaços míticos, simbólicos ou afetivos, no qual se familiarizado se torna o nosso “Lugar” inserido no nosso “Espaço”, e tudo isso, estudado, explicado ou aceitado, e principalmente compreendido pela sociedade criaria um vínculo do homem com o lugar e propiciaria a percepção de algo significativo e que precisa ser preservado (OLIVEIRA, 2012).

As discussões até o momento evidenciam que é através da percepção que vamos compreender a configuração do espaço geográfico e entender as

transformações que ocorrem neste cenário. A construção da realidade se materializa no espaço geográfico, portanto, a experiência é um item relevante na construção da realidade, e para percebê-la é fundamental refletir sobre as diversas maneiras com que as pessoas sentem, pensam e agem nos espaços e nos lugares (TUAN, 2012).

Na obra “Espaço e Lugar”, de Tuan (1980), a discussão se fundamenta na perspectiva da experiência, como meio para diferenciar os conceitos, que se complementam, a cidade é um lugar e ao mesmo tempo um espaço, dependendo da escala, dos sentimentos e das ideias que se relacionam e se unem formando um todo.

Assim, o espaço e o lugar se integram, o espaço é desprovido de qualquer ligação afetiva e está sujeito a implementação de significado, enquanto que o lugar é algo pessoal, reservado, protegido e humanizado, possui significado, é a amplitude do mundo vivido e das experiências cotidianas dos sujeitos, ou seja, é um espaço imputado de valores simbólicos para os indivíduos e a coletividades. Por tanto é fundamental que a sociedade ressignifique a forma de ver e perceber a cidade, como lugar de moradia, seu habitat criando um elo afetivo com a mesma.

Em se tratando da percepção dos moradores quanto ao espaço estudado do igarapé do Frasco, foi possível detectar, que estes, percebem os recursos hídricos urbanos como parte de uma paisagem desintegrada da sociedade, possuem uma visão naturalista do meio ambiente, motivo esse que dificulta ao mesmos, sentirem o igarapé do Frasco seu “lugar”, e ter atitudes comprometidas com o lugar, discussão esta, que será apresentada na seção 5.4.3.

3 IGARAPÉ DO FRASCO: PAISAGEM AMBIENTAL, O RETRATO DA OCUPAÇÃO TERRITORIAL HISTÓRICA DE BOA VISTA

No planejamento desenvolvido para o levantamento de dados que envolveram a análise da percepção ambiental dos discentes sobre os aspectos e problemas geoambientais do igarapé do Frasco, se considerou importante apresentar as suas características físicas e um breve histórico do contexto de formação deste espaço, com o propósito de entendimento dessa realidade. O igarapé do Frasco como parte do contexto urbano de Boa Vista é possuidor das características ambientais provenientes do processo histórico de expansão e ocupação espacial, que se efetivou de modo desordenado e descomprometido com a preservação ambiental.

O igarapé do Frasco é o corpo hídrico principal de uma das bacias que compõe a hidrografia urbana de Boa Vista. Esta cidade é a capital do Estado de Roraima e se localiza a margem direita do Rio Branco, principal Rio da bacia de mesmo nome. A bacia do Rio Branco domina praticamente toda a área do Estado e é o principal componente do sistema hidrográfico de Boa Vista, juntamente com o rio Cauamé, seu principal afluente e outros igarapés e lagoas. Na Figura 4, pode ser visualizada a hidrografia Boa Vista e na Figura 5, a localização de parte do perímetro urbano de Boa vista, margeando o Rio Branco.

Boa Vista possui uma densa composição hídrica que se preservada pode ser aproveitada no paisagismo urbano agregando qualidade de vida aos residentes da cidade. O sistema hidrográfico de Boa Vista, comporta as bacias dos igarapés Grande, Caranã, Mecejana, Caxangá, Mirandinha, Wai Grande, Waizinho, Taboca, Carrapato e o Frasco, além dos rios Cauamé e Branco.

Figura 4 – Mapa de recursos hídricos de Boa Vista- rios e igarapés.

Fonte: IBGE; ANA; MEPA (UFRR) (2018).

Figura 5 – Vista aérea do centro de Boa Vista, as margens do Rio Branco.