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2 PERCEPÇÃO AMBIENTAL: A RELAÇÃO

3.1 Características físicas: Boa Vista e igarapé do Frasco

Como destacado anteriormente, o espaço geográfico da bacia do igarapé do Frasco é parte integrante do espaço urbano de Boa Vista. Portanto, sua geografia física segue as características da mesma. Geomorfologicamente, Boa Vista está inserida na área denominada Craton das Guianas, que se estende pela Depressão da Amazônia Setentrional, formada por rochas predominantemente cristalinas muito antigas. Essa região após um processo de pediplanação transformou-se no atual relevo de áreas aplainadas que formou uma unidade morfoestrutural de relevo denominada Pediplano Rio Branco – Rio Negro.

Esta formação é composta por sedimentos arenosos e areno-síliticos semi-inconsolidados que recobrem indistintamente os sedimentos consolidados arenosos e argilosos da Formação Boa Vista. Apresenta uma diversidade Pedo- Geomorfológica associada a processos de erosão e deposições cíclicas, e alternâncias climáticas originárias do período Jurássico (BRASIL, 1975; VALE JUNIOR; SOUZA, 2005).

Ora, a base de qualquer estudo sobre as condições presentes de um território e suas possibilidades no futuro, repousa, necessariamente na Geografia, em cujo domínio ressalta a importância do "clima", elemento fundamental no estudo geográfico da produção.

As condições climáticas da cidade de Boa Vista-RR, advém do clima tropical chuvoso, quente e úmido, com uma estação seca bem acentuada geralmente com 4 a 6 meses, entre outubro e abril, e uma estação chuvosa com período aproximado ao anterior entre os meses de maio a setembro. A estação seca conhecida como “verão” apresenta o período de menor precipitação entre dezembro e março quando o volume pluviométrico atinge em torno de 10% da taxa anual de precipitação.

Assim, pela ação profunda que exerce na composição da paisagem natural e influência na paisagem cultural, o clima constitui, ainda, elemento verdadeiramente fundamental à compreensão e interpretação das inúmeras "combinações" existentes num meio geográfico qualquer. Na Figura 6, a seguir, apresenta-se, segundo a classificação de Koppen, a distribuição das regiões climáticas de Roraima. Considerando o mapa, Boa Vista está definida com o tipo

climático Aw de Koppen. De acordo com tal classificação, trata-se de clima Tropical, com temperaturas elevadas durante todos os meses do ano e chuva concentrada no verão com inverno seco. Cabe lembrar que tal cidade se encontra no Hemisfério Norte.

Figura 6 – Mapa de distribuição das regiões climáticas de Roraima, segundo a classificação de Koppen

Fonte: Modificado de Brasil (1975).

A variação anual na distribuição das chuvas para o Estado de Roraima e para a cidade de Boa Vista pode ser vista no Gráfico 1. O igarapé do Frasco sofre consequências da interferência climática no período seco, que permite queimadas nas margens que comprometem a manutenção da mata ciliar e no período chuvoso padece pela incapacidade de escoamento do elevado nível de precipitação que o atinge, tendo em vista os processos de degradação e assoreamento do mesmo.

À extrema queda nos volumes pluviométricos, atinge pelo menos um mês uma quantidade de chuvas inferior a 60 mm. Na estação chuvosa os maiores totais

de precipitação anual (60%) (Gráfico 1) acontecem entre maio e agosto (BARBOSA; MIRANDA, 2005; EVANGELISTA; SANDER; WANKLER, 2008). A variação térmica entre as médias do mês mais quente e do mês mais frio para a região é inferior a 5ºC (BRASIL, 1975).

Nota-se que o mês de junho apresenta a maior média de precipitação entre os demais, além disso, também é juntamente nos meses de janeiro e fevereiro que ocorre uma das menores variações pluviométricas encontradas nesses anos avaliados, cabendo destacar a presença de duas estações bem definidas: a estação seca e a chuvosa. A precipitação média da região de Boa Vista de acordo com medições feitas entre 1910 e 2007, é de 1614 mm/na (EVANGELISTA; SANDER; WANKLER, 2008).

Gráfico 1 – Histogramas com a precipitação total mensal média da estação pluviométrica de Boa Vista (1910-2007)

Fonte: Modificado de Evangelista, Sander e Wankler (2008).

O igarapé do Frasco deságua no Rio Cauamé afluente do Rio Branco, principal rio de Boa Vista e do Estado de Roraima que forma a bacia do Rio Branco

importante sistema hidrográfico estadual, além destes. Atualmente, o sistema hídrico de Boa Vista se expandiu para dez bacias hidrográficas, composta por igarapés e lagos de dimensões variadas e o rio Cauamé (CAVALCANTE MARTINS; SANTOS; SOUZA, 2014).

Os problemas de escoamento apresentado pelo igarapé do Frasco em períodos chuvosos estão associados tanto pela ação humana, como também sua a formação morfológica. A bacia sedimentar Boa Vista revela, morfologicamente, características de uma planície com relevo suave e dissecação localizada e representada por limitados campos arenosos. Nos estudos da Companhia de Pesquisa e Recursos Minerais (CPRM) a formação Boa Vista está localizada nos melhores aquíferos de Roraima, em Boa Vista, as bacias hidrográficas urbanas (Figura 7) a seguir, se formaram de acordo com a movimentação de falhas transcorrentes dextrais que estruturaram o relevo, conforme Reis, Fraga e Almeida (2014).

Figura 7 – Mapa de bacias urbanas de Boa Vista – RR

Atualmente, percebe-se que a retirada da mata ciliar tem contribuído com o carreamento de resíduos e detritos que juntos ao processo de erosão provocam o assoreamento em alguns pontos dos rios e dos igarapés urbanos, contribuindo para a diminuição da diversidade de habitat, a eutrofização, a alteração do curso normal dos canais, a poluição, que por sua vez, são carreados para os igarapés e consequentemente para o Rio Branco soterrando os canais.

Os solos predominantes nessa área são: Latossolo Amarelo e Argissolo Amarelo. Ambos são solos minerais bem desenvolvidos, formados a partir de sedimentos argilosos e argilo-arenosos no período Quaternário-Pleistoceno e cobertura sedimentar Terciária a Pleistocênica. A classe dos Latossolos Amarelos apresenta perfil com espessura em torno de 200 cm. Estes solos são característicos em áreas planas, apresentados em perfis profundos, possuem textura entre média a argilosa, variando respectivamente entre 15% a 30% e 30% a 60% os teores de argila. São solos que no período seco tornam-se bastante endurecidos, este fato dificulta a infiltração no período chuvoso e o torna suscetível a erosão. Existem ainda os sedimentos arenosos que deram origem a Formação Boa Vista onde o relevo é plano e abaciado. Em áreas de formas abaciadas (Neossolo Quartzarênico Hidromórfico e gleissolos), o solo permanece em constante umidade (BARBOSA; MIRANDA, 2005; VALE JUNIOR; SOUZA, 2005).

A cobertura vegetal de Roraima é bastante diversificada. Cerca de 85% do total do Estado possui florestas típicas da Amazônia e o restante é ocupado por savanas (SETTE SILVA, 1997), sendo esta última, a vegetação característica de Boa Vista e consequentemente da área onde se localiza o igarapé do Frasco. A vegetação representada na área estudada, está classificada como Savana Graminosa e ou Gramínea Lenhosa e se estende além da Cidade pelos campos ondulados do Pediplano de Boa Vista (BARBOSA; MIRANDA, 2005).

A vegetação, à medida em que se aproxima do igarapé do Frasco, varia de médio a pequeno porte, passando de uma Savana Parque para Savana Gramínea Lenhosa ou campo sujo. E quando se afasta a vegetação muda drasticamente, passando de forma brusca para uma Savana Graminosa (campos limpos); naquela direção são encontrados os bairros da expansão urbana de Boa Vista, Figura 8, a seguir.

Figura 8 – Composição vegetal de Savana no Bairro Cauamé, Boa Vista

Fonte: Rosa Silva et al. (2017).

Surpreendentemente, a Savana Graminosa contribui para a formação de uma beleza exuberante no perímetro urbano de Boa Vista, que é plana e recebe grande quantidade de radiação solar durante todo o ano. A cidade está em uma área de savana com solo pobre em argila na parte superior, por conta da lixiviação ou da hidrólise da própria argila e nas partes superficiais da savana, a cor do solo é mais cinzenta.

A ausência de vegetação em parte das margens dos recursos hídricos está associada às derrubadas com intuito de construírem suas casas e aumento de área disponível para banhistas, onde a qualidade ecológica da água ainda possui balneabilidade. No período de seca, muitas pessoas constroem suas casas às margens dos rios e quando ocorrem as grandes enchentes, os mesmos têm que sair às pressas, obtendo grande prejuízo financeiro.

O conhecimento integrado de todas essas características físico- ambientais são importantes e poderão se constituir em conhecimento prévio para o

desenvolvimento das atividades do Turismo Geoeducativo a ser realizado com os discentes do Ensino Médio, a fim de desenvolver a percepção do espaço vivido.