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A percepção dos profissionais acerca da Educação em Saúde

Seção 1 O Programa Saúde da Família: aproximação com a

6 Educação em saúde: como o processo acontece no PSF

6.1 A percepção dos profissionais acerca da Educação em Saúde

A compreensão de Educação em Saúde emitida pelos profissionais da ESF está amparada no que expressam esses informantes do estudo em seus depoimentos:

Eu compreendo educação em saúde a instrução que você passa através dos profissionais, dos meios de comunicação pra toda comunidade local, é muito importante, é tudo que falta nessa comunidade é educação a questão não só educação e saúde, a educação como um todo. (Médico 1).

Eu acho que é a gente está interagindo o profissional e o cliente no caso e que a gente troque assim informações e que ele venha e você depois possa detectar se ele está entendo isso, porque a gente passa muita informação, mas não sabe se essa pessoa está sendo educada em relação à saúde. (Enfermeira 1).

A gente passar o que é de melhor pras pessoas, saber conversar, a gente tem que orientar, dizer tudo direitinho pra que eles façam assim suas higiene, seu tratamento bem feito, o asseio também, se preparar bem, tudo direito. (Aux. Enf. 1).

Nessa parte aí é levar as orientações das famílias, repassar pra eles aquilo que a gente aprende antes mostrando pra ele como ele deve viver familiarmente na comunidade e com isso tentar melhorar a saúde. (ACS 1.1). A educação em saúde é a gente levar o paciente e educar eles, quer dizer levar eles a entender e se prevenir das doenças. (ACS 1.2).

Tenho educação em saúde como uma base no nosso trabalho no PSF. Eu entendo que a educação realmente é a base, se a gente conseguir educar a população ela vai prevenir mais as doenças, procurar prevenir pra promover saúde. (ENFERMEIRA 2).

Eu realmente acho que se a gente conseguisse educar eles, a participação seria bem mais fácil, acho que também o erro não é só deles, acho que a gente também tem muito a ver pra poder saber o que é participação. (ENFERMEIRA 2).

Educação é tudo aquilo que a gente sabe e passa pras pessoas, educar, como vim a unidade, como se informar das coisas e também ouvir tudo sobre vacinas, consulta e tudo. (Aux. Enf. 2).

Pra mim a Educação em Saúde é como é no Programa Saúde da Família é a preventiva é você prevenir enquanto não acontece o pior,então e a gente chegar a tempo nas famílias pra que a gente precisa evitar a doença maior,uma conseqüência maior né, então o Programa Saúde da Família é pra isso,ele é preventivo né... (AUX. ENF. 3).

Eu entendo que é uma promoção e você não precisa estar doente pra ir ao médico, você tem que se prevenir, ter como se prevenir através do meio de saúde mesmo pra que não adoeça, pra diminuir as doenças. (ACS 3.3).

Eu acredito que quando vai esclarecendo a comunidade vai melhorando o atendimento e isso é educação em saúde. (ACS 3.2).

É um trabalho voltado principalmente para as comunidades carentes,é um trabalho que tem que trabalhar nas escolas,na comunidade,na família,pra ter uma saúde de qualidade,primeiro com educação,a base da higienização,da alimentação,da medicação,é todo um conjunto de educação pra ter uma saúde de qualidade. (ENFERMEIRA 4).

Educação em saúde é você educar o paciente, é... do ponto de vista de promover a saúde né, de não adoecer. (MÉDICO 5).

Eu acho que é uma maneira de ensinar o povo o que é saúde e como prevenir as doenças. O jeito da equipe se aproximar mais das pessoas, buscar novas maneiras de se aproximar e ensinar o que é saúde pra elas. (AUX. ENF. 5).

É educar é prevenir, é orientar ao pessoal da comunidade, o que eu adquiro na minha vida cotidiana eu vou levar pra eles na questão de prevenir. (ACS 5.2).

Pra mim educação é a informação no dia a dia, é a gente orientar sobre alimentação, sobre uma prevenção de colo de útero, orientar sobre a higiene da casa. (ACS 5.3).

A percepção dos profissionais relativamente a Educação em Saúde está baseada em elementos como transmissão de conteúdo, troca de informação, instrução, conduzir a compreensão, orientação, esclarecimentos, ensinamentos e prevenção de doenças. O enfoque na prevenção das doenças confirmou-se tanto nos relatos desses informantes, como nos momentos das observações realizadas junto às ESF, quando os temas abordados pelas equipes nas palestras foram definidos por ciclo de vida ou patologias. Das seções educativas observadas, apenas duas tratavam do pré-natal e uma de saúde bucal; as demais abordaram hipertensão, diabetes e dengue.

Os dados indicam que as ações de Educação em Saúde realizadas pelas ESF são mais orientadas para processos normativos a partir das demandas dos usuários. Para Naidoo e Wills (1994), o processo educativo acontece mediante algum tipo de necessidade, a saber: normativas, sentidas e percebidas. A necessidade normativa é aquela na qual o processo acontece de forma verticalizada, ou seja, os profissionais definem o que abordar, como e quando o processo deve acontecer. A necessidade sentida é aquela vinculada à percepção da equipe quanto às necessidades das pessoas, ou ainda quanto ao diagnóstico da população com base nos indicadores epidemiológicos presentes na comunidade trabalhada. Já um processo educativo baseado nas necessidades percebidas é quando acontece de forma expressada pela clientela, ou seja, a população é consultada sobre suas necessidades, de modo que eles se achem parte do processo.

Seguindo este referencial, podemos garantir que no grupo estudado o processo ainda acontece com base nas necessidades normativas e sentidas, ou seja, este é o eixo que conduz a Educação em Saúde na realidade investigada. Evidenciamos ainda que, no contexto estudado, as ações de Educação em Saúde ficam restritas a sets, ou seja, as práticas eram planejadas pelas equipes, de modo a atender o cronograma de atendimento do Programa, com dia e hora marcados, e podendo ser na própria unidade ou em outro espaço da área adstrita. Certamente esta conduta da equipe delimita por demais a amplitude das ações pertinentes à Educação em Saúde quando assumem o aspecto de ações ordenadas e normatizadas, não havendo a reflexão acerca de outros espaços também como educacional. Sob esta óptica, o processo educativo fica limitado a sessões educativas programadas sem serem pensadas como práticas permanentes e continuadas, realizadas no cotidiano do PSF.

Evidenciamos ainda, nos momentos de observação das sessões educativas, que a realização dessas ações de Educação em Saúde, muitas vezes, estava atrelada a uma forma de barganha que, mesmo não revelada de forma verbal, era expressa, pelos usuários, por manifestações como inquietação pelo momento da distribuição do medicamento ou pela verificação da pressão arterial. Essa estratégia utilizada pelos profissionais para mobilizar o usuário a participar da sessão educativa, como, por

exemplo, verificação da pressão arterial ou distribuição de medicamento no final da sessão educativa, caracteriza-se de certa forma uma coerção silenciosa, já que há uma ausência de liberdade de escolha por parte do usuário. Entendemos que este posicionamento adotado pela equipe repercute de forma negativa na participação da comunidade.

A percepção emitida pelos profissionais da ESF acerca da Educação em Saúde tem um enfoque na prevenção das doenças. Observamos uma predominância dos temas abordados nas sessões educativas na área dos determinantes biológicos da doença. Percebemos ainda que os profissionais de saúde ancoram seus referenciais teóricos numa prática de estado Normativo de mudança de comportamento. Assim, em relação às ações de Educação em Saúde no PSF, evidenciamos transições de elementos nos estágios de Pré-Contemplação e Contemplação.