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7.2 AS EMPRESAS ERVATEIRAS

7.2.2 A percepção sobre a Floresta com Araucária

As entrevistas com representantes das empresas ervateiras colocaram a eles dados da situação das áreas remanescentes de Floresta com Araucária no município de São Mateus do Sul, conforme discutido na seção 2.5.1. Ao se constatar concordância com o contexto histórico de desaparecimento de áreas naturais no município – todos os entrevistados concordaram que tem havido desmatamento de áreas naturais em São Mateus do Sul. Também procurou-se discutir os reflexos que este fenômeno poderia ter sobre a produção de erva-mate nativa – a sombreada, que tem o cultivo consorciado com áreas naturais ou árvores nativas do ecossistema local.

Para dois dos entrevistados, relata-se um risco com a diminuição de áreas naturais para a produção de erva-mate. Para dar embasamento a esta opinião, apresentam argumentos como ameaças à manutenção da qualidade da erva-mate produzida localmente, que tem suas características reconhecidas devido à sua genética e as relações ecológicas que mantem com os ecossistemas da Floresta com Araucária.

Para outros dois entrevistados, a continuidade do desmatamento não representa riscos para o cultivo de produção de erva-mate, pois há adensamentos nas áreas de cultivo, que garantem a manutenção da produção. Mas, por outro lado, reconhecem que as áreas naturais desempenham função importante na qualidade do produto. Apresentam, neste sentido, características como o sombreamento feito pelas árvores, o controle biológico de pragas feito pelas aves que se alimentam das lagartas e as implicações de solo e clima que diferenciam as folhas provenientes dos ervais sombreados de São Mateus do Sul em relação a outras regiões.

Os quatro entrevistados expressam a opinião de que a forma de cultivo de erva- mate sombreada garante a manutenção ou preservação dos ecossistemas da Floresta com Araucária.

Apesar dessas percepções favoráveis à conservação da Floresta com Araucária, há alguns fatos que representam conflitos com o conhecimento técnico- científico sobre a conservação deste ecossistema. O primeiro ponto é que não se mensura qual é, efetivamente, o status de conservação desses ecossistemas – e o quanto se demandaria de esforço para sua manutenção. O segundo ponto é o conflito de se tomar algum tipo de providência frente ao risco de o quadro de desmatamento se permanecer.

Em relação a este último ponto, o que se obtém como resposta são empreendimentos de iniciativas como o da Identificação Geográfica, que, entre outros estímulos, estabelece um protocolo de manejo da erva-mate menos impactante ao meio ambiente – mas, necessariamente, não plenamente alinhado à integral conservação da biodiversidade de um ecossistema como a Floresta com Araucária.

No que diz respeito ao acompanhamento do cultivo da erva-mate no campo, o espaço em que de fato se dão as relações com o ecossistema, as empresas Rei Verde e Taquaral têm rotinas de contato com os produtores que lhes fornecem matérias- primas. O acompanhamento tem razões maiores de verificar a origem da erva-mate

comprada – se sombreada ou plantada a pelo sol. Averiguam também outras práticas que podem interferir na qualidade do produto que será embalado e posteriormente chegará ao mercado. Relatam, ainda, casos de produtores que foram descadastrados por não atenderem os padrões requeridos pelas empresas.

Quando analisam se o produto está associado a plantios sombreados, as empresas atestam, sim, a associação dos ervais com as áreas nativas. No entanto, isso permanece no padrão registrado nos cultivos de erveiras em São Mateus do Sul. Isto é, as práticas verificadas no campo podem não corresponder plenamente aos requisitos de um ecossistema equilibrado, apesar de os ervais prestarem importantes serviços ecossistêmicos e contribuírem para a manutenção de muitas espécies da fauna e da flora.

O aprofundamento desta questão demanda uma análise da relação comercial entre empresa ervateira e produtor ervateiro sob a perspectiva da gestão ambiental da beneficiadora de erva-mate. Se os ervais de São Mateus do Sul dependem da presença e do funcionamento ecológico dos ecossistemas da Floresta com Araucária, é mister que haja uma incorporação desta relação como aspecto da gestão ambiental e como um fator de risco para as operações empresariais.

Por outro lado, esta discussão não pode render apenas algum tipo de ônus para as empresas ervateiras. Apesar da produção e consumo de erva-mate já durar séculos, este tipo de aprimoramento da gestão empresarial é recente não apenas para o setor da erva-mate, mas também para outras atividades do agronegócio e ramos da economia. Assim, o que se faz necessário é recomendar que os planejamentos dessas organizações em São Mateus do Sul considerem o efetivo impacto que a continuidade de perda de áreas naturais da Floresta com Araucária em São Mateus do Sul apresenta para suas operações.

Por fim, aborda-se nesta seção outras informações da prática ambiental das empresas. Vale registrar outros dados da administração empresarial que podem ser classificados como aspectos de gestão ambiental. O principal deles é o consumo de lenha como fonte de energia para os fornos que secam e tostam a erva-mate in natura. Além da proibição legal de usar os recursos dos ecossistemas locais, verificou-se que a origem deste combustível é de madeira plantada, como eucalipto, e não lenha de árvores nativas que poderiam aumentar as pressões sobre o meio natural.

Outro aspecto ambiental relevante é a geração de resíduos. Este item abrange a geração de “palitos” – a parte dos galhos de erva-mate que após a secagem é descartado do produto final – e as cinzas da lenha consumida nos fornos. A geração de resíduos não é classificada como um impacto ambiental relevante e, muitas vezes, pode-se dar uma outra destinação a eles – como uso nos próprios fornos, no caso dos palitos, e como complemento de adubação na agricultura, no caso das cinzas.