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Impacto ambiental do manejo das atividades econômicas na propriedade

6.2 A ERVA-MATE DE SÃO MATEUS DO SUL

7.1.3 Impacto ambiental do manejo das atividades econômicas na propriedade

pode apresentar outras práticas desfavoráveis ao meio ambiente. O uso de insumos químicos poluentes e contaminantes (fertilizantes e agrotóxicos), para aumento da produtividade e controle de pragas, é um deles.

No caso das propriedades rurais que fazem parte da amostra desta pesquisa, os produtores afirmaram em sua totalidade que não utilizam insumo químico para nutrir as plantas ou combater a ocorrência de pragas. Nos trabalhos de observação do pesquisador, também não se verificou evidências de uso de insumos químicos. Em outras propriedades que os utilizam, e não fizeram parte da amostra, um exemplo de evidência de aplicação de insumo químico é o efeito de ausência ou reduzido desenvolvimento da vegetação sobre o solo dos ervais.

As Fotografias 10 e 11 apresentam imagens que comparam o uso ou não de insumo químico. A primeira foi registrada em uma propriedade aleatória, fora da amostra desta pesquisa, em que se percebe o parco desenvolvimento de vegetação no solo de um erval, possivelmente decorrente da aplicação de herbicida ou produto químico para controle de pragas. A segunda, em uma propriedade presente na amostra da pesquisa e localizada próxima à primeira, em que se verifica uma quantidade maior de vegetação no solo.

Fotografia 10 – Aspecto de erval com evidências de uso de agroquímico

Fonte: elaborada pelo autor (2017).

Fotografia 11 – Aspecto de erval sem uso de agroquímico

Fonte: elaborada pelo autor (2017).

Ainda segundo depoimento de produtores entrevistados, exceções para o uso de herbicidas em suas propriedades se dão em estágios iniciais de cultivo dos ervais,

quando mudas de erva-mate são plantadas, e a fim de facilitar seu desenvolvimento, recorre-se ao insumo químico como forma de combater as plantas que competem com o crescimento da espécie de interesse econômico. Dos oito produtores entrevistados, três afirmaram recorrer a esta prática.

Por outro lado, as preocupações com o aumento de produtividade, que justificaria o emprego de fertilizantes, e o combate de pragas, que demandaria inseticidas, são resolvidas de outra forma. Insumos naturais como “pó-de-pedra”, também conhecido como “pó-de-rocha”, são utilizados. Quanto à capacidade de os ervais produzir folhas de erva-mate em quantidade e qualidade, o manejo das plantações associado às características ambientais oferece resposta satisfatória, segundo as práticas observadas entre os produtores da pesquisa.

Já o controle de pragas, como lagartas e ervas daninhas, a ocorrência delas não se verificou constante nas oito propriedades pesquisadas e quando ocorrem parece não representar um impacto significativo nos ervais trabalhados. O manejo de pragas em três propriedades que compuseram a amostra – e somente as quais relataram a ocorrência de pragas – se dá por manejo manual. Isto é, o próprio produtor ou um auxiliar em campo remove galhos das erveiras com presença de pragas ou os cipós que “sufocam” as erveiras. As Fotografias 12 e 13 mostram a ocorrência dessas pragas nos ervais.

Fotografia 12 – Exemplo de ocorrência de praga, lagarta, em erveira

Fonte: elaborada pelo autor (2017).

Fotografia 13 – Exemplo de ocorrência de praga, cipó, em erveira

Fonte: elaborada pelo autor (2017).

Nota-se que foi relatado por apenas um dos produtores entrevistados a ocorrência da broca da erva-mate (Hedypathes betulinus), ou “corintiano”, uma praga

mais comumente relatada entre os cultivadores de erva-mate. A lembrança deste relato, em verdade, foi decorrente de uma questão que o pesquisador fez sobre serviços ecossistêmicos. O produtor rural lembrou-se da função ecológica que as aves fazem ao se alimentarem do inseto que contamina os ervais.

Outros três produtores participantes da pesquisa também relataram o papel das aves no controle de lagartas. Este tipo de exemplificação é uma das situações que ilustram a percepção ambiental dos produtores, questão que é desenvolvida na próxima seção.

Do ponto de vista da conservação da biodiversidade, prevê-se como medidas para manter a produtividade dos ervais duas práticas bastante recorrentes no manejo da erva-mate, que podem representar prejuízos para a manutenção da diversidade biológica e o equilíbrio dos ecossistemas. As práticas de “raleamento” e adensamento de ervais são elas.

A primeira consiste em remover parte da vegetação prevendo duas funções: a busca pelo equilíbrio para sombreamento e entrada de luz sobre as erveiras, e a liberação de espaço para plantio de novas árvores para a produção das folhas de erva-mate. O adensamento consiste no plantio de novas erveiras em meio à vegetação ou ao espaço liberado pelas áreas “raleadas”.

Essas duas medidas alteram os padrões naturais de um ecossistema e mais particularmente dos ervais. Segundo Marques (2014), a distribuição natural da planta costuma ser em forma de reboleiras – porções do terreno com adensamento espontâneo de erveiras. Nos ervais cultivados em sombreamento, chega-se a verificar a presença de uma quantidade de plantas em quantidade muito superior ao que se encontra na natureza. Paradoxalmente, dá-se o nome a esses ervais de nativos.

Uma outra contradição ecossistêmica que se percebe entre as práticas dos produtores de erva-mate é combate às espécies nativas que concorrem com a Ilex

paraguariensis, como é o caso da murteira (Blepharocalyx salicifolius) e do miguel-

pintado (Matayba elaeagnoides) – dois tipos de arbustos, ambos nativos, de fácil ocorrência e que causam prejuízos para o desenvolvimento das erveiras O crescimento destas plantas, geralmente acelerado em relação à erva-mate causa sombra excessiva para a erva-mate. A medida que se empreende neste caso é a remoção dessas espécies.

Entre os quatro produtores que relataram a eliminação de murtas ou migueis- pintados, três deles reconheceram que essas plantas têm, sim, função no ecossistema como, por exemplo, a disponibilização de frutos para pássaros.