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A PERSPECTIVA DE INTERNACIONALIZAÇÃO DO AGRONEGÓCIO

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Antes mesmo da assinatura do primeiro termo de cooperação, em 2011, começaram a ser promovidos pela JICA e pela ABC, tanto no Brasil, quanto em Moçambique e no Japão, eventos em que se divulgava a cooperação entre os três países para o desenvolvimento rural da Savana moçambicana (Tabela 2). Eram eventos claramente voltados para a atração de investidores e produtores para o Corredor de Nacala. Na sequência dessas atividades, o ProSavana ganhou espaço nos meios de comunicação brasileiros, em matérias focadas na perspectiva de abertura de novas fronteiras agrícolas em Moçambique, por parte dos produtores do agronegócio brasileiro. Várias entrevistas relataram missões de empresários do agronegócio brasileiro em Moçambique, das quais participaram também representantes da bancada ruralista no congresso brasileiro.

Tabela 2 - Eventos relacionados à cooperação tripartite

Evento Data e local

Simpósio Internacional e Tripartite do ProSavana Março de 2010, Tóquio Seminário Internacional do Agronegócio em Moçambique:

cooperação internacional Brasil-Japão e as oportunidades de investimento

Abril de 2011, São Paulo (realizado com apoio financeiro da ABC)

Lançamento do Fundo Nacala Julho de 2012, Maputo

Lançamento do Fundo Nacala Julho de 2012, São Paulo

Em março de 2010 teve lugar, na Universidade das Nações Unidas em Tóquio, o Simpósio Internacional e Tripartite do PROSAVANA, com a participação de autoridades brasileiras, moçambicanas e japonesas. Participaram da mesa brasileiros que atuaram no âmbito do Prodecer: o presidente do Grupo Campo, o presidente da Embrapa e o pesquisador da Embrapa Edson Lobato, vencedor do prêmio World FoodPrize39 de 2006, por seu trabalho na transformação do Cerrado em terra produtiva (LOPES, 2010; SAKAGUCHI, 2010). Agências de notícias brasileiras e japonesas noticiaram o evento enfatizando os discursos centrados na transferência da experiência brasileira de desenvolvimento agrícola do Cerrado para as savanas

39 World FoodPrize é uma premiação internacional que reconhece as descobertas científicas feitas por indivíduos que fazem avançar o desenvolvimento humano através de melhoras na qualidade, quantidade ou disponibilidade de alimentos no mundo. O prêmio é notoriamente patrocinado pelas companhias de biotecnologia.

tropicais africanas e na perspectiva de aumento da produção de alimentos para alimentar a população global.

Em 2011, JICA e ABC promoveram em São Paulo, o seminário internacional “Agronegócio em Moçambique: cooperação internacional Brasil-Japão e as oportunidades de investimento”. Durante o evento, Katia Abreu, presidente da CNA, e Roberto Rodrigues, então presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP e Coordenador do FGV Agro, discorreram sobre a internacionalização do agronegócio brasileiro. Em seguida a esse evento, Katia Abreu ofereceu em Brasília, na sede da CNA, um jantar ao Ministro da Agricultura de Moçambique (CNA, 2011). Outro evento de destaque que ocorreu na sequência foi o denominado Oportunidades de Investimentos no Agronegócio Moçambicano, promovido pela ABC, pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços – MDIC, pela AMPA e pela FAMATO. De acordo com Chinchava et al. (2013), na esteira desses seminários, mais de 100 agricultores, especialmente do Mato Grosso, estiveram visitando terras moçambicanas. Matéria sobre o evento, publicada na página da JICA, relata que “os palestrantes do Brasil e de Moçambique falaram da necessidade de ampliar a zona de produção alimentar para atender ao rápido crescimento da população mundial e, do grande potencial que os dois países têm de se tornarem uma base alimentar mundial” e ainda que “na cerimônia de encerramento foi ressaltada a importância de o Brasil, Moçambique e Japão promoverem o presente projeto em parceria com o setor privado, com vistas a evitar a crise alimentar mundial” (KOBAYASHI, 2011).

Todas as matérias sobre o ProSavana publicadas em 2011 trataram da reprodução da experiência de desenvolvimento do Cerrado, como referência para a Savana moçambicana. É o que se vê nesta manchete da revista Presença Internacional do Brasil: A Savana vai virar Cerrado (PIRES, 2011). Muitas das matérias tinham foco na disponibilidade de terra. Segundo um representante da Embrapa, “Um agricultor que quiser uma área em concessão não terá problema, há muita terra para produzir” (PIRES, 2011). A revista Dinheiro Rural informou: “Moçambique doa seis milhões de hectares a agricultores brasileiros interessados em investir na agropecuária do país”. Noticiou ainda que a terra seria concedida à iniciativa privada por 50 anos, renováveis por mais 50, mediante o pagamento anual de R$ 21,00 de imposto por hectare ao governo moçambicano (COSTA, 2011). A Folha de São Paulo (2011a), na matéria Moçambique oferece

terra à soja brasileira, anunciou uma viagem de reconhecimento de 40 agricultores do Mato Grosso a Moçambique. O presidente da AMPA expôs a seguinte visão: “Moçambique é um Mato Grosso no meio da África, com terra de graça, sem tanto impedimento ambiental e frete muito mais barato para a China (...) Hoje, além de a terra ser caríssima em Mato Grosso, é impossível obter licença de desmate e limpeza de área” (MELLO, 2011a). Um representante da Embrapa afirmou que metade da região de implementação do ProSavana era despovoada, como o Oeste da Bahia e o Mato Grosso nos anos 1980 (MELLO, 2011a).

Outra matéria da Folha de São Paulo, Consultoria vai fazer turnê pró-África, discorreu sobre a estratégia do FGV Agro de atração de agricultores brasileiros para a abertura de novas fronteiras agrícolas na África e cita a atuação do FGV Agro como consultor do ProSavana. Segundo representante da Fundação, as vantagens estariam nos regimes de concessão de terras, que eliminariam o investimento inicial de compra de terras, e ainda na possibilidade de expansão das vendas do pacote tecnológico brasileiro (MELLO, 2011b). Nessa mesma matéria, Marco Farani, então diretor da ABC, reforçou a perspectiva do Cerrado como referência – “Moçambique pretende ser uma réplica do Prodecer” (MELLO, 2011b) – e da internacionalização do agronegócio brasileiro: “Queremos estimular os produtores brasileiros a ir para lá e aproveitar a tecnologia que estamos desenvolvendo” (MELLO, 2011b). Roberto Rodrigues, por sua vez, enfatizou a dimensão geoestratégica da expansão do agronegócio brasileiro na África: “A China está lá, mas para extrair riquezas; nós podemos transferir tecnologia agrícola, dentro de uma estratégia para sermos líderes em economia verde” (MELLO, 2011b). Ainda, uma notícia com fonte atribuída à Embrapa enfatizou a importância da atração de investimentos. Segundo o chefe da Secretaria de Relações Internacionais dessa Empresa: “um componente importante dos projetos de cooperação técnica com viés estruturante é a atração de investimentos, como fator indutor do desenvolvimento dos países receptores, como Moçambique, que tem se mostrado, cada vez mais, um destino confiável” (SABOIA, 2011). Salientou ainda o empenho por parte do governo de Moçambique na promoção da segurança jurídica e institucional necessárias para a tomada de decisão dos investidores (SABOIA, 2011).

Em agosto de 2012, foi noticiado o lançamento do Fundo Nacala pela FGV, anunciado como iniciativa que visava a promover o desenvolvimento não só do agronegócio na região, mas de toda sua cadeia produtiva (AGROANALYSIS, 2012). De acordo com informações publicadas

pela Revista de Agronegócios da FGV, a AgroAnalysis, aconteceram eventos de lançamento simultâneos em Moçambique e no Brasil, dos quais participaram, pelo lado do Brasil, representantes do FGV, ABC, Embrapa, Câmara de Comércio, Indústria e Agropecuária Brasil- Moçambique – CCIABM, e também da FAO. O Fundo Nacala era apresentado como iniciativa alinhada com as estratégias de atração de investimentos privados do ProSavana, seguindo as diretrizes do Plano Diretor para o Desenvolvimento da Agricultura do Corredor de Nacala (AGROANALYSIS, 2012).

3.6 DA DESCONFIANÇA AO REPÚDIO: A CONSTRUÇÃO DE UM DISCURSO

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