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A Pertinência da Abordagem de Projeto na Educação Pré-escolar

Capitulo 1 Enquadramento Teórico

1.3. Trabalho de Projeto

1.3.1. A Pertinência da Abordagem de Projeto na Educação Pré-escolar

“Um projeto é um estudo em profundidade de um determinado tópico que uma ou mais crianças levam a cabo” (Katz & Chard, 1997, p.3). Os tópicos do trabalho de projeto deverão ser extraídos dos interesses e ambientes familiares das crianças

envolvendo-as, individualmente ou em grupo, numa participação ativa no seu próprio estudo. A defesa desta abordagem está enraizada em compromissos e valores ideológicos relacionados com os objetivos da educação.

A inclusão da abordagem de projeto no currículo para a Educação de Infância baseia-se na compreensão de diversas pesquisas contemporâneas sobre os processos de desenvolvimento das crianças mais novas, que vêm mostrar que a instrução formal parece servir fins normativos em detrimento dos objetivos dinâmicos e a longo prazo da educação. O que se sabe hoje sobre a natureza e a aquisição de conhecimentos, e o processo ensino aprendizagem, permite considerar que, quanto mais novas forem as crianças, mais informal e integrado deverá ser o currículo.

De acordo com Katz e Chard (1997) o trabalho de projeto, não sendo um meio de instrução formal, envolve as crianças num planeamento avançado, na procura de respostas a questões anteriormente formuladas e em várias atividades que lhes solicitam a manutenção de esforço durante períodos de tempo que podemos considerar prolongados, ao contrário do que acontece nas brincadeiras espontâneas. Este tipo de trabalho parte dos conhecimentos, capacidades, predisposições e sentimentos das crianças e proporciona situações de aprendizagem nas quais podem ocorrer interações e conversações enriquecidas a nível de contexto e conteúdo, relacionadas com assuntos que lhes são motivantes e/ou familiares. Ainda segundo Katz e Chard (1997) “Um objetivo global desta abordagem é cultivar a vida da mente da criança mais nova. No sentido mais lato, o termo mente engloba não só os conhecimentos e capacidades, mas também a sensibilidade emocional, moral e estética” (p. 6). Assim as experiências de aprendizagem proporcionadas às crianças através da metodologia de projeto fortalecem, citando Vasconcelos et al. (2012):

as disposições inatas das crianças para: fazer sentido da sua própria experiência; colocar hipóteses, analisar, elaborar conjeturas; ser curiosa; fazer previsões e verificá-las; ser empírica; persistir na resolução de problemas; tomar iniciativas e ser responsável pelo que conseguiu fazer; antecipar os desejos dos outros, as suas reações (usando disposições sociais) (p.11).

O trabalho de projeto pode proporcionar atividades nas quais, crianças com competências diferentes, podem contribuir de forma diferenciada para um trabalho coletivo comum. Esta metodologia de trabalho também possibilita situações e acontecimentos nos quais as capacidades sociais e cognitivas são funcionais e podem ser intensificadas. Nesta perspetiva e de acordo com Katz e Chard (1997) pode afirmar- se que, quando as crianças têm oportunidades frequentes para dialogar sobre coisas que

são importantes para si, o seu desenvolvimento intelectual é fortalecido. É neste sentido que se defende a pertinência de metodologias ativas, construtivistas, onde a criança seja envolvida em processos de investigação de que poderá ser exemplo o trabalho de projeto.

Esta metodologia de trabalho pode ser considerada um “andaime” (Bruner, Ross & Wood, 1976, como citado em Vasconcelos et al., 2012, p.12) no sentido de que trabalha na “zona de desenvolvimento proximal” (Vigotsky, 1978, como citado em Vasconcelos et al., 2012, p.12). Neste mesmo sentido Katz e Chard (1997) referem que “quase todos os projetos de interesse para as crianças mais novas fornecem contextos para a aquisição e aplicação de capacidades emergentes na literacia, no cálculo e na resolução de problemas” (p.53). Durante a realização dos projetos surgirão naturalmente atividades que requerem a aplicação de determinadas capacidades, umas mais complexas que outras. As crianças têm cada uma, o seu nível de competência para a realização dessas tarefas e de forma natural distribuirão entre si as atividades de acordo com o que conseguem fazer, contudo o professor também poderá ajudar a estruturar as tarefas e aconselhar individualmente as crianças de forma a conseguirem ter sucesso e simultaneamente realizarem aprendizagens importantes.

A interação entre pares provocada por esta metodologia de trabalho tem também um papel importante no desenvolvimento da competência social. Ames e Ames (1984, como citado em Katz e Chard, 1997) “demonstraram como a estrutura de objetivos da sala de aula afeta as respostas das crianças em termos de predisposições sociais” (p.82). Neste sentido numa estrutura de aula que apele à cooperação, como será o caso do trabalho de projeto realizado em grupos segundo Ames e Ames (1984, como citado em Katz & Chard, 1997) “a probabilidade de um estudante receber uma recompensa aumenta com a presença de outros capazes de o fazer” (p.82). Estes mesmos autores identificaram outros dois tipos de estrutura de aula “competitiva” e “individualista”. Nesta primeira os estudantes tenderão a trabalhar uns em oposição a outros e na segunda o estudante terá tendência a focar-se totalmente no objetivo da tarefa. Nestas estruturas de aula a recompensa do aluno não só não depende da interação com os outros como inclusivamente na estrutura competitiva poderá acontecer que a recompensa seja reduzida pela presença de outros.

Como sugerem Katz e Chard (1997) nas crianças de idades pré-escolares as amizades estão constantemente a sofrer ruturas e desenvolvimentos no decorrer do desenvolvimento normal da vida em sala de aula. A relação com os outros assume uma

importância relevante numa idade em que se fazem descobertas importantes sobre a amizade, a comunicação, a cooperação, a colaboração e o conflito. O trabalho de projeto cria oportunidades para as crianças poderem desenvolver as suas competências sociais, através de conversas em pequenos ou grandes grupos, de trabalhar e brincar umas com as outras na sala de aula. Como proposto por Katz e Chard (1997) o trabalho de projeto é um contexto privilegiado para “incentivar a cooperação e a colaboração, através de problemas adequados às crianças.” (p.165).

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