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CAPÍTULO 1: A METODOLOGIA DE TRABALHO E A ESCOLA ESTUDADA

1.2 A pesquisa empírica

A inserção deste pesquisador no quadro dos gestores da EEI Professor Zeferino Vaz, através de concurso público, na condição de Orientador Pedagógico em abril de 2016, foi o fator que determinou a escolha do nosso objeto de pesquisa. Como mencionado na apresentação, a questão da ampliação do tempo de estudo, na perspectiva de uma educação integral, sempre permeou minha trajetória escolar e agora, trabalhar numa escola de educação integral em tempo integral, recém constituída como tal, foi um forte elemento motivador.

Ávido por conhecer o objeto desta pesquisa, ou seja, a implantação do projeto de educação integral na referida escola, a partir do ano de 2014, e entender como se deu e se dá o processo, desde as discussões em 2011 até o presente momento, comecei a buscar pessoas que tivessem participado de todo o processo de chegada dessa nova concepção de educação na escola ou que iniciaram seu trabalho na unidade, a partir de 2014. Em conversas informais com as pessoas que atualmente trabalham na escola, descobri que boa parte dos profissionais que lá trabalhavam em 2013, já não atuava mais na unidade, pois se transferiram para outras unidades de ensino, no final daquele ano, portanto, antes do início da implementação do

projeto de educação integral. Posteriormente, nos relatos, busquei entender os motivos de tais transferências.

No primeiro movimento formal da pesquisa empírica, entrevistei, por meio de relatos comunicativos, duas das professoras remanescentes, uma que atuou na escola durante vinte anos e se aposentou no final de 2017 e outra que atua há dez anos; uma das gestoras da SME, que atuou como um dos membros da Comissão formada para a elaboração do relatório que subsidiou a implantação das duas escolas pilotos de educação integral na Rede Municipal de Ensino de Campinas, que acompanha a escola há dez anos, e uma mãe de aluno, membro do Conselho de Escola, participante ativa das questões relacionadas ao processo de ensino e aprendizagem da unidade, cujo filho, matriculado no ciclo II, estuda na instituição desde 2014, que nos ofereceu uma primeira avaliação do andamento do projeto.

As duas professoras e a mãe do aluno foram entrevistadas no lócus da escola, em momentos de intervalos das atividades escolares, e a gestora da SME, foi entrevistada fora do lócus da instituição. Os relatos foram áudiogravados e transcritos, fornecendo valiosas informações para o desenvolvimento da pesquisa. Uma vez construído um panorama geral de como o projeto de educação integral chegou à EEI Prof. Zeferino Vaz, passei a buscar outros sujeitos que nos ajudassem a compreender em que medida o mesmo atende o seu intento principal: permitir que os alunos tenham condições de permanecer um tempo maior na escola e com ele se desenvolver integralmente.

Em conversas informais que se davam nos intervalos das atividades escolares, nos corredores da unidade, nos momentos do cafezinho na sala dos professores, em pequenos grupos ou individualmente, os professores foram sendo convidados a participar da pesquisa. Após serem apresentados aos objetivos da mesma, eram convidados a responder um questionário elaborado na ferramenta on line, Google Doc, que seria disponibilizado via correio eletrônico. Foram convidados sessenta docentes, dos quais doze responderam o questionário. A diretora educacional também deu sua contribuição, respondendo ao mesmo questionário, além de auxiliar muito este pesquisador em conversas informais.

As questões objetivas presentes no questionário abordavam alguns aspectos relacionados ao perfil e à trajetória do entrevistado, como a idade, a formação, o tempo de atuação no magistério e na EEI Prof. Zeferino Vaz, se atuavam ou não na escola antes da implantação do projeto, e se conheciam o Projeto Piloto. Já as questões abertas tratavam da avaliação do entrevistado sobre o desenvolvimento do projeto de educação integral na escola, nos quesitos: ampliação do tempo de permanência dos alunos na escola, os espaços escolares, a estrutura geral da escola, a matriz curricular vigente e a organização administrativa.

Lançamos ainda mais duas questões, uma para que o entrevistado fizesse sua proposta para o avanço do projeto e outra para que este contemplasse algum aspecto que não foi elencado no questionário.

A equipe docente que participou desta pesquisa é composta por professores jovens, que em sua maioria, possuem entre vinte e seis e quarenta anos. Em relação à formação, todos possuem algum tipo de especialização latu ou stricto sensu, sendo que 30,8% dos entrevistados são mestres. Boa parte destes atua nos anos iniciais do Ensino Fundamental, atendendo a alunos com idades entre seis e dez anos e possuem entre seis e quinze anos de atuação no magistério. Os dados relacionados ao tempo de atuação na EEI Prof. Zeferino Vaz indicam que a maioria, ou seja, 61,5% fazem parte da equipe docente há três anos ou menos, o que nos faz inferir que iniciaram seu trabalho na unidade quando esta passou a funcionar sob a concepção de educação integral. Sobre o projeto piloto que entrou em vigor em 2014, 69,2% afirmaram o conhecer e 30,8% afirmaram não conhecer ou conhecer pouco.

Tivemos ainda a oportunidade de acompanhar reuniões de planejamento e avaliação institucional e encontros de trabalho docente, nos quais pudemos entender um pouco mais da visão que os professores têm da escola. As atas destes encontros nos subsidiaram nesse processo.

Os alunos, que consideramos personagens primordiais nesse processo, uma vez que são os maiores interessados nos rumos tomados pela escola, também foram ouvidos na pesquisa. Inicialmente, pensamos na elaboração de um questionário com questões abertas, no qual os alunos responderiam o que consideram como aspectos positivos e negativos no processo de ensino-aprendizagem da escola, no entanto, num dado momento da pesquisa, tivemos acesso a um documento elaborado por um grupo de nove alunos, representantes de turmas das séries finais do ensino fundamental (do 6º ao 9º anos, na faixa etária dos 11 aos 15 anos), que percebemos ser deveras relevante e decidimos que aquele seria o ponto de partida para entendermos a visão que os alunos tem da escola. O documento em questão, elaborado no mês de abril de 2017, continha um conjunto de treze reivindicações dos alunos da unidade escolar à Secretária da Educação do município.

Por meio do relato da diretora educacional buscamos entender como se deu o processo que resultou no referido documento. Após esse movimento, nos valendo do grupo de discussão comunicativo, analisamos, juntamente com os alunos, os elementos presentes naquelas reivindicações. Os alunos em questão são todos moradores do bairro e a maioria estuda na unidade desde o início da sua escolarização. Destacam-se por seu envolvimento e protagonismo nos assuntos relativos à escola.

O segundo momento de investigação com os pais se deu por meio de um questionário. Resolvemos convidar para participar da pesquisa, pais representantes do Conselho Escolar, dada à sua proximidade e envolvimento com a escola. Estes pais são moradores do bairro, possuem entre 35 e 50 anos e atuam em diferentes áreas profissionais, como a da assistência social e comércio.

Numa das reuniões do Conselho, no mês de novembro de 2017, solicitamos um espaço, ao final do encontro, para conversar de maneira informal com os pais a respeito da pesquisa que vem sendo realizada e convidá-los a participar da mesma. Estavam presentes cinco pais/conselheiros, incluindo a mãe que entrevistamos no primeiro movimento da pesquisa, que participou da conversa, mas que consideramos desnecessário responder ao questionário apresentado. Apresentamos os objetivos do trabalho e solicitamos que fosse respondido um questionário com questões abertas, no qual, o respondente faria uma breve apresentação e responderia em que medida a escola atende suas expectativas quanto ao ensino que esta sendo ofertado ao filho (a), abordando os aspectos positivos e negativos e ainda que descrevessem o que pensam ser necessário para que a escola continue avançando rumo a uma educação de qualidade. Os quatro conselheiros (dois pais e duas mães) aceitaram participar da pesquisa. Tivemos o retorno, via correio eletrônico, de três questionários.

Os dados obtidos por meio dos relatos, das discussões do grupo comunicativo, dos questionários, das conversas informais, das reuniões da equipe escolar das quais participamos, nos mostram aspectos que a impessoalidade dos documentos oficiais não revelam, pois, os partícipes da pesquisa relatam de modo particular, como se deu esse importante momento de transição na escola. Optamos por transcrever, em alguns momentos, excertos dos relatos e das respostas dos questionários, para desse modo transmitir na íntegra o sentido e a emoção dos sujeitos que participaram de um processo que está sendo escrito e lido por eles (NOZELLA E BUFFA, 2009). Os participantes estão identificados por pseudônimos. Estes homenageiam grandes escritoras brasileiras.