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Foto 6 – I Oficina de elaboração do Plano de Ação do assentamento Terra livre

2 PERCURSO METODOLÓGICO: estratégias

2.2 A pesquisa exploratória

Com isso, dou início a um quadro geral do que foi realizado na fase da pesquisa exploratória. Esta se realizou em dois momentos: o primeiro se deu na fase de elaboração, ainda inicial, do projeto de pesquisa que antecede à seleção do mestrado, primeiro semestre de 2010; já o segundo momento, deu-se no percurso do segundo e terceiro semestres do curso de mestrado, fase anterior à defesa do projeto de pesquisa, entre fevereiro de 2011 até novembro de 201123.

Assim, é no primeiro momento que busco construir o objeto de pesquisa. Isso incluiu um primeiro diálogo com alguns membros do MST e da ACACE para levantar a possibilidade da proposta de pesquisa, em fevereiro de 2010. Um dos coordenadores do setor de produção do MST foi a primeira pessoa com quem tive contato e que me deixou informada sobre o processo de seleção para execução dos serviços de ATER que iria ocorrer através do INCRA, sendo o edital lançado no final do ano de 2010, por meio da Chamada Pública de nº. 02/2010

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Com exceção dos meses de março, abril, maio e junho, meses que tive que me afastar devido ao período pós- gestação.

para o lote Território Sertões de Canindé no Ceará. A ACACE, no segundo momento de visita da fase exploratória da pesquisa, aguardava o resultado do processo seletivo, datando fevereiro de 2011.

No caso específico de Canindé, a Associação concorreu através de um consórcio junto a ONG CACTUS, entidade líder do contrato, e a ACACE, como entidade consorciada. Quando foi divulgado o resultado da seleção, no final do primeiro semestre de 2011, as atividades de ATER logo se iniciaram no fim do mês de agosto de 2011. O contrato tinha uma perspectiva de duração de cinco anos, e a cada ano previa-se um processo de renovação dos contratos de acordo com a avaliação da política executada. Com isso, pude realizar o acompanhamento desde o final de agosto de 2011 até o mês de abril de 2012. Vale salientar que a Chamada Pública, como processo seletivo para prestação de serviços de ATER, é resultado da promulgação da Lei de ATER de nº. 12.188, do dia 10 de janeiro de 2010.

Nesse momento, defini junto ao coordenador do MST os dois possíveis assentamentos rurais para realizar o acompanhamento das atividades de campo: o assentamento São Francisco das Chagas e o assentamento Terra Livre, ambos do município de Canindé. Os critérios para escolha dos respectivos assentamentos se deram, inicialmente, por dois aspectos: localidades em que estivessem ocorrendo atividades de extensão rural e o segundo, a proximidade com o município de Fortaleza. No entanto, no decorrer do processo, outros critérios foram sendo pensados e redefinidos, como será colocado mais adiante.

A segunda etapa da pesquisa exploratória deu-se, principalmente, com as minhas primeiras viagens a Canindé, em fevereiro de 2011, período em que estive por duas vezes no município. O objetivo era realizar uma aproximação inicial sobre a realidade dos assentamentos rurais, bem como conhecer a equipe de ATER da ACACE em Canindé. Depois, retornei no final de agosto de 2011, período em que se iniciam as atividades de ATER, até novembro de 2011. Os primeiros contatos ocorreram junto a um dos coordenadores e também militante da Brigada Mandacarú24. A pesquisa foi apresentada na Brigada, numa reunião que ocorreu entre os profissionais de ATER e militantes presentes. Já no contexto dos assentamentos, o coordenador e militante do MST me acompanhou no primeiro contato tanto no assentamento São Francisco das Chagas como no assentamento

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No início fiz minha apresentação e entreguei uma declaração da universidade que apresentava o tema do projeto de pesquisa do mestrado e o nome da orientadora. As Brigadas no Ceará é a forma que o MST está organizado para coordenar as comunidades que estão vinculadas a ele. Este aspecto será melhor detalhado no capítulo 3.

Terra Livre. Só posteriormente, nos meados de setembro do mesmo ano, tive a possibilidade de conhecer outro assentamento, o Souza, no qual estive com parte de outra equipe de ATER. Aqui, desde já, pude acompanhar de forma mais sistemática os sujeitos, as ações de campo e seus contextos, sobretudo, com a utilização da observação direta com registros em diário de campo.

A partir disso, tive a necessidade de inserir, à época, este outro assentamento, o qual contempla três comunidades: Pompeu, Quintas e Souza. Essa necessidade partiu do seguinte aspecto: os dois primeiros assentamentos eram acompanhados por uma mesma equipe de três profissionais: 1 agrônomo, 1 assistente social e 1 técnico administrativo de cooperativas, equipe denominada Patativa do Assaré. Nesse sentido, considerei que acompanhar outra equipe distinta seria válido para diversificar e qualificar a construção dos elementos. A equipe que acompanhava o assentamento Souza era formada por quatro profissionais: 1 biólogo, 3 técnicos agropecuários e 1 técnico em administração de cooperativas, e é chamada de Lampião e Maria Bonita. No entanto, estes se dividiram em duplas para acompanhar melhor as três comunidades rurais (Souza, Quintas e Pompeu), então permaneceram no Souza apenas dois profissionais: o biólogo e um técnico agropecuário. Com isso, o quadro de profissionais de ATER foi ampliado para cinco profissionais25. Outro aspecto que considerei relevante foi que o assentamento Souza tinha em torno de dez anos de existência, enquanto os outros dois tinham em média cinco anos. A seguir traço algumas características dos respectivos assentamentos.

O assentamento São Francisco das Chagas fica a 3 km da sede de Canindé, aspecto

que lhe dá uma particularidade, já que fica tão próximo da “rua26”. O período de conflito e de

ocupação se deram entre os anos de 2001 e 2006, sendo que a emissão de posse ocorreu apenas em fins de 2007. Trata-se, portanto, de um assentamento recém-criado. A terra pertencia à Paróquia de São Francisco, ligada à Igreja Católica em Canindé, mas foi sendo ocupada por outros seis moradores que se diziam donos e/ou gerentes, ou seja, por particulares. Por outro lado, quando o MST a ocupou, iniciou-se a luta pela desapropriação. Além dos conflitos entre alguns antigos moradores e acampados, os primeiros tiveram o auxílio da polícia para limitar as ações dos segundos. Até o momento havia 24 famílias

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O quadro dos profissionais de ATER da ACACE no município de Canindé está no anexo A.

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A rua é um termo dado ao centro urbano de Canindé, os moradores do campo e da cidade fazem essa nomeação.

morando no assentamento. Nesse Projeto de Assentamento (PA), tive uma conversa inicial com uma assentada que, à época, era presidente da associação.

Já o assentamento Terra Livre fica acerca de 8 km da sede do município de Canindé. Na localidade havia 23 famílias assentadas, mas, antes, havia um total de 26 famílias. Segundo o vice-presidente da associação, do período, algumas famílias foram embora em busca de melhores condições de vida. A intenção inicial era conversar informalmente com o presidente da associação do assentamento, mas como este não estava no local, conversei com o vice-presidente.

Travei diálogos iniciais, sem um roteiro pronto, pois a minha prática com a pesquisa de campo tem revelado que para esse momento deve-se evitar ao máximo a escrita e as gravações, atentando-se o pesquisador para a pessoa que fala, no caso, os sujeitos, fator que pode favorecer uma melhor aproximação do contexto. Logo após as conversas foi possível fazer breves anotações no diário de campo, que muito auxiliaram no conhecimento da realidade.

O assentamento Souza foi o terceiro a ser escolhido, processo ocorrido no mês de setembro de 2011. A escolha partiu da necessidade de perceber que um assentamento com mais tempo de existência poderia dar contribuições distintas dos assentamentos mais novos. Souza tem cerca de dez anos de existência, constituindo-se como lócus de pesquisa rico para levantar como as práticas pedagógicas, através da extensão rural, têm sido desenvolvidas ao longo desses anos. Outro aspecto que favoreceu a escolha foi a existência de pesquisas em torno do mesmo, o que colabora para uma confrontação com estudos já realizados. É composto por mulheres, homens, jovens, idosos e crianças que têm enfrentado problemas sérios no que diz respeito à escassez de recursos hídricos, alcoolismo, violência e a ausência de políticas públicas para o campo. Exemplo disso é a falta de continuidade com a política de ATER, apontando eles, no primeiro momento, críticas na atuação das equipes de ATER.

De uma forma geral, acompanhei nessa etapa os trabalhos de campo dos profissionais da ACACE em Canindé nos seguintes contextos: a) assentamentos rurais: no assentamento Terra Livre, nesse período, foram realizadas cinco visitas, constando de uma oficina para elaboração dos planos de ação inicial, duas visitas às unidades familiares, uma visita à unidade produtiva e uma reunião com três membros da direção da associação para tratar da organização e do regimento interno. Já no assentamento São Francisco das Chagas acompanhei uma oficina para elaboração dos planos de ação inicial e duas visitas às unidades

familiares. No assentamento Souza, onde estive por duas vezes, acompanhei uma reunião para discussão do regimento interno e outra visita para acompanhamento junto a um dos técnicos em uma unidade familiar e b) escritório ACACE: reuniões internas de planejamento e avaliação semanais. Também foi possível o acompanhamento de duas reuniões internas entre a ONG CACTUS e ACACE para discussão da política de uma maneira geral, observando as dificuldades burocráticas, os aspectos metodológicos, os aportes teóricos para as ações de ATER, os trabalhos em parceria, a formação dos profissionais de ATER, suas concepções em torno da extensão rural, dentre outros.

Outra atividade realizada na fase exploratória foi visita à ACACE em Fortaleza, por três vezes. Na primeira, entrei em contato com dois membros da coordenação de ATER onde realizei conversas informais sobre os profissionais de ATER da ACACE. Posteriormente, tive uma conversa individual com uma militante e um militante, ambos, à época, coordenadores do Setor de Produção da MST27. O objetivo da visita foi o de obter informações gerais com membros da ACACE e do MST, responsáveis pela política de ATER e a atuação dos respectivos profissionais de extensão rural.

Importante ressaltar que no projeto inicial nomeei os profissionais de campo, da

extensão rural, como “técnicos-militantes” porque assim os conheci no encontro de formação

no ano de 2009. Simbolicamente foi o que de imediato me chamou atenção por se tratar de sujeitos que estavam adjetivados de maneira distinta dos demais. Ou seja, além das atribuições técnicas, os profissionais se caracterizavam como militantes políticos. Com a pesquisa exploratória em Canindé, os profissionais de ATER, para minha surpresa, logo questionaram o termo que a pesquisa estava utilizando para nomeá-los. No decorrer do processo, optei por utilizar profissionais de ATER cujo termo se faz mais genérico e abrange até os profissionais recém-chegados à instituição28.

De acordo com os resultados levantados na fase da pesquisa exploratória, existe a proposta de trabalhar dentro de uma perspectiva democrática junto aos trabalhadores e trabalhadoras rurais, a partir de um processo participativo com vistas à autonomia dos assentados e das assentadas. São destacados os princípios que devem orientar os trabalhos e,

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Há pouco tempo uma das coordenadoras deixou o setor de produção para fazer parte da direção nacional do MST representando o estado do Ceará. O outro coordenador também deixou o setor de produção para trabalhar na militância em um dos municípios do Ceará.

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Aspecto que será discutido no último capítulo que trata especificamente das concepções e práticas dos profissionais de extensão rural da ACACE.

ao fim, é evidenciada a proposta da Intervenção Participativa dos Atores (INPA), estudo e proposta metodológica que toma como base a educação popular na capacitação para o desenvolvimento sustentável, publicada por Furtado e Souza em 2000, ambos educadores e pesquisadores da área de educação popular no Ceará. Tudo isso levou-me a concluir que os técnicos do INCRA eram imprescindíveis para a pesquisa na medida em que a política de ATER era realizada em parceria com a ACACE, cuja proposta de extensão rural deveria ter como base a PNATER, sendo esta “sensível à concepção da educação popular” (FURTADO, 200-).

Por fim, a fase da pesquisa exploratória foi de grande relevância para o presente estudo, pois possibilitou definir melhor categorias, sujeitos e contextos para elaboração e realização da etapa posterior em que trato de delimitar melhor as técnicas, os instrumentos e os procedimentos para construção dos elementos de análise. A seguir, discorro sobre os sujeitos, os contextos e os sentidos para o presente estudo.

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