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Foto 6 – I Oficina de elaboração do Plano de Ação do assentamento Terra livre

2 PERCURSO METODOLÓGICO: estratégias

2.3 Sujeitos, contextos e sentidos

2.3.1 Busca e organização dos elementos de pesquisa

Dentre os procedimentos utilizados para o presente estudo, estão a observação direta, a entrevista semiestruturada individual, os Grupos Geradores e as dinâmicas grupais, mais adiante explicados. Já para registro e sistematização dos elementos, me utilizei de instrumentos como diário de campo, tratando de dar um tom mais descritivo a partir da observação direta nos eventos, no acompanhamento das atividades dos profissionais de ATER, nas reuniões internas de avaliação e planejamento dos profissionais de ATER, bem como com relação à atividade de monitoria na disciplina de extensão rural. Além disso, utilizei-me de gravações digitais e transcrições para as 21 entrevistas semiestruturadas individuais e 3 Grupos Geradores, com o fim de buscar na integra das falas dos sujeitos.

Para tratar da importância da observação direta como procedimento da pesquisa, Minayo (2007, p. 70) se refere a essa estratégia de aproximação com à realidade “[...] como um processo pelo qual um pesquisador se coloca como observador de uma situação social,

com a finalidade de realizar uma investigação científica”. Para a autora (Ibid.., p. 70):

O observador, no caso, fica em relação direta com seus interlocutores no espaço social da pesquisa, na medida do possível, participando da vida social deles, no seu cenário cultural, mas com a finalidade de colher dados e compreender o contexto da pesquisa. Por isso, o observador faz parte do contexto sob sua observação e, sem dúvida, modifica esse contexto, pois interfere nele, assim como é modificado pessoalmente.

No que diz respeito à entrevista semiestruturada, esta é classificada por Severino (2007, p. 125) como não-diretiva, é onde “[...] colhem-se informações dos sujeitos a partir do seu discurso livre. O entrevistador mantém-se em escuta atenta, registrando todas as

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A experiência também se tornou significativa na medida em que dois profissionais de ATER da ACACE em Canindé foram alunos do curso de Agronomia da UFC. Com isso, pude dialogar com os dois sobre o a formação inicial sobre a extensão rural.

informações e só intervindo discretamente para, eventualmente, estimular o depoente.” Romanelli (1998, p. 131), ao tratar desse estilo de entrevista, afirma que “[...] a fala é

construída mediante um recorte de experiências do sujeito e aquilo que ele oferece ao

pesquisador é uma faceta sintetizada de parte de sua biografia”. Ressalto aqui que as

entrevistas semiestruturadas foram de suma importância para esclarecer pontos que não foram possíveis com a observação direta. Trata-se de uma atividade complementar e rica na sua forma de abordagem, porque os sujeitos e o pesquisador vão dialogando pontos do que está sendo vivido a fim de compreender melhor as ações que estão sendo efetivadas na prática. Soma-se a isso, conhecer melhor os sujeitos a partir de seus relatos pessoais e profissionais, dando sentidos e significados às experiências múltiplas que se traduzem nas facetas e recortes pensados por Romanelli.

Nas entrevistas semiestruturadas individuais contei com a participação de 11 profissionais de ATER da ACACE em Canindé, 3 militantes do MST, 3 assentados do Terra Livre, 2 assentados do São Francisco de Assis, 3 técnicos governamentais do INCRA e 1 profissional da ONG CACTUS.

Já para as atividades grupais, através dos chamados Grupos Geradores e das dinâmicas de grupo deu-se da seguinte forma: foram realizados 2 Grupos Geradores no assentamento São Francisco de Assis (grupos de homens e mulheres) e 1 Grupo Gerador com os profissionais de ATER da ACACE em Canindé. Para as dinâmicas de grupo utilizei o Diagrama de Tortas e a Linha do Tempo, ambas na Intervenção Participativa dos Atores (INPA), para mapear o cotidiano e a história do assentamento São Francisco das Chagas. Não houve possibilidade de realizar atividade grupal no assentamento Terra Livre devido ao clima de apreensão, críticas e insatisfação acerca da política de ATER. Diante disso, não percebi ambiente favorável para realização das mesmas.

Os Grupos Geradores foram pensados como uma técnica de construção de elementos em campo, sua terminologia se refere à geração de conhecimento coletivo a partir dos contextos vividos pelos sujeitos que fizeram parte da pesquisa. Trata-se de um Grupo cujo objetivo é a reflexão e o debate das experiências através da entrevista em grupo. Foi com base nos princípios da educação popular, à luz do pensamento de Paulo Freire, que busquei a utilização de alguns temas geradores que foram surgindo durante a pesquisa de campo, temas que tanto atendem aos objetivos da pesquisa.

Assim, o Grupo Gerador com os profissionais de ATER teve duração de mais de duas horas. A atividade foi dividida em dois blocos de temas com seus respectivos pontos de intervenção, a saber, no tema 1 - “Políticas públicas de ATER”, cujos pontos levantados foram: a) as políticas de ATER no município de Canindé, b) Chamada pública de ATER, ACACE e MST, c) políticas de parcerias: INCRA, ACACE e CACTUS e d) consórcio entre CACTUS e ACACE. Já no tema 2 sugeri a discussão entre “Extensão rural e educação”, onde os tópicos de reflexão se deram na seguinte ordem, a) o que é extensão rural e o que é assistência técnica, b) PNATER e projeto da ACACE para extensão rural e c) a prática de extensão rural no campo. Para este último ponto, que trata das práticas, solicitei aos profissionais que construíssem um desenho sobre seus respectivos olhares acerca de suas práticas de extensão rural em campo, ao final foi pedido que cada um expusesse os desenhos e seus significados.

Destaco ainda que a entrevista ocorrida, em abril de 2012, através do Grupo Gerador, realizada com a equipe de ATER da ACACE em Canindé deu-se em um clima de grandes insatisfações. Esse período contava com três meses de atrasos de salários, além da ausência de ajuda de custo, fatos que interromperam a continuidade de ações nos assentamentos rurais. Com isso, ficaram evidentes nas reflexões de grupo as críticas em torno da política de ATER, sobretudo quando tratamos de uma possível prática educativa nas referidas atividades.

Já no assentamento São Francisco das Chagas foram realizados na sede da associação dois Grupos Geradores: um com os homens e o outro com as mulheres.. A separação se deu por duas necessidades, primeiro pela quantidade de pessoas para realização da atividade; segundo por querer observar os olhares específicos a partir das condições e especificidades de gênero sobre o tratamento dado à ATER, bem como pela possibilidade de oportunizar a fala dos atores42.

Também é importante considerar que os assentados e as assentadas participaram das atividades no momento mesmo em que alguns serviços de ATER estavam paralisados devido ao atraso de pagamento das equipes, ao atraso de recursos para ajuda de custo para deslocamento e realização das ações de assistência técnica e extensão rural43.

42 Este último ponto, o de „oportunizar‟ a fala dos atores, trata-se de compreender que em grupos extensos,

sobretudo de homens e mulheres, muitos acabam não falando por se sentirem pouco à vontade para a publicização de suas opiniões.

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Enquanto alguns criticavam fortemente a política, outros defendiam os profissionais pelo fato de acreditarem que, quando os profissionais são „bons‟ ou começam a conhecer a realidade e os conflitos, o INCRA trata de

Devido à especificidade dos grupos, foi necessário que houvesse pontos distintos. Nesse sentido, para o grupo de mulheres expus as questões: a) o que são assentamentos rurais, b) história da ATER no assentamento, c) desenvolvimento e ATER, d) linguagem e conteúdos da ATER, e) atividades propostas pela ATER para mulheres, f) a participação das mulheres no planejamento, avaliação e execução da ATER, g) ATER e Educação, h) relação dos profissionais de ATER com as assentadas, i) a participação dos profissionais de ATER nas atividades do assentamento e j) ATER do assentamento São Francisco das Chagas. Já para os homens, foram colocados os seguintes temas: a) o que são assentamentos rurais, b) história da ATER no assentamento, c) assistência técnica e extensão rural, d) desenvolvimento e ATER, e) meios de comunicação e ATER, f) formação e ATER, g) linguagem e conteúdo da ATER, h) a participação dos homens no planejamento, avaliação e execução da ATER, i) a participação dos profissionais de ATER nas atividades do assentamento, j) Educação e ATER e l) ATER do assentamento São Francisco das Chagas. A atividade foi importante na medida em que pude me aproximar mais dos grupos específicos e conhecer melhor a realidade do assentamento em sua relação com a política de ATER44.

Já as dinâmicas de grupo foram realizadas apenas no assentamento São Francisco das Chagas. As atividades foram feitas com os grupos mistos, com homens, mulheres, jovens e idosos. Esse momento foi realizado na noite anterior aos grupos geradores. No primeiro momento, apresentei a pesquisa e a proposta da atividade. A dinâmica de apresentação é chamada de Raiz da Vida, esta tem como objetivo conhecer melhor as pessoas e trabalhar a

identidade dos sujeitos envolvidos e, ainda, “fazer a apresentação e a socialização dos participantes” (FURTADO E SOUSA, 2000, p.75). Nessa atividade, um dos participantes

busca uma planta com raiz, depois todos ficam de pé e em círculo para que cada um se apresente com o nome e a origem do seu nome. A dinâmica de apresentação foi fundamental para melhor me aproximar dos sujeitos, bem como mediar um processo em que eles mesmos pudessem se conhecer melhor. De uma maneira geral, os nomes dos sujeitos têm suas raízes na religiosidade e na descendência familiar, poucos não souberam dizer qual a origem dando margem para ir à busca de um sentido. Depois, utilizei a dinâmica Linha do Tempo45. Por retirá-los das localidades em que trabalham. Em alguns momentos, senti alguns cuidados na hora da exposição de opiniões.

44 Mesmo com a „separação‟ dos grupos na hora da entrevistas com os homens havia duas mulheres, as mesmas

não puderam vir no horário outro, não implicando no comprometimento da atividade.

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Amarrei uma corda de barbante atravessando a sala, depois entreguei uma folha de papel em branco para cada um dos presentes. Pedi que cada um escrevesse ou desenhasse um fato que marcou suas vidas, depois cada

último, realizei outra dinâmica, o Diagrama de Tortas46, que tem como objetivo identificar entidades, sujeitos que estão próximos e distantes do assentamento rural quando da relação, seja social, econômica, política e outros. Esta atividade foi pensada como complementar, não menos importante, a fim de perceber o contexto do assentamento hoje e suas relações externas e internas com diversas entidades e/ou sujeitos. Depois das atividades realizadas em campo, busquei organizar os elementos através da sistematização no diário de campo, ordenando-os a partir da construção de categorias importantes para pesquisa.

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