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Capítulo III: Um exame da indústria de semicondutores brasileira: os obstáculos e as

3.4. Oportunidades e iniciativas promissoras para o Brasil diante da dinâmica da indústria

3.4.2. A PITCE e as possíveis design houses brasileiras

Partilhando da perspectiva de que a inserção brasileira por meio do segmento de

design de circuitos integrados apresenta perspectivas positivas, o atual governo vem

realizando diversas atividades para o desenvolvimento setorial. Prova disso é a seleção dos semicondutores como uma de suas opções estratégicas para a atual política industrial. A atuação governamental na PITCE se revela como uma oportunidade, diante do reconhecimento do governo da importância dos circuitos integrados, tanto para o adensamento da indústria eletrônica, como também para concentrar esforços no

65 Nesse caso, há uma progressiva aproximação entre o custo de implementação do sistema e o próprio chip, uma vez que são empregados sistemas embarcados, que requerem cada vez mais o desenvolvimento conjunto do hardware com o software, abrindo novas oportunidades de negócios para o desenvolvimento de software embarcado (Bampi, 2004).

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desenvolvimento de uma indústria local no segmento, principalmente por meio do design

de chips. Para atingir esse objetivo, o governo federal concentrou esforços em 3 iniciativas

principais:

1. o programa CI-Brasil, para a criação de design houses locais (dando continuidade aos

esforços iniciados no Programa Nacional de Microeletrônica-Design);

2. uma unidade produtiva em prototipagem de circuitos integrados (o CEITEC, Centro de Excelência em Tecnologia Eletrônica Avançada), e

3. medidas para incentivar a atração de IDE para a instalação de uma fábrica de chips em

larga escala (ABDI, 2006).

O Programa CI-Brasil de design houses pretende criar empresas de projeto no país,

totalizando um investimento de R$ 25 milhões. Esta iniciativa do governo pretende dar continuidade e consolidar as iniciativas propostas no Programa Nacional de Microeletrônica – design, de 2002, que teve poucas medidas efetivamente implementadas.

Segundo o projeto do governo66, devem ser criadas design houses estrategicamente

localizadas de acordo com a possibilidade de sua participação no “tecido industrial local”, sendo selecionadas as seguintes instituições para isso: 1.Cenpra/Campinas, 2.LSITEC/USP, 3. Ceitec-Porto Alegre, 4. CESAR/Recife e, 5. CT-PIN/Manaus.

O LSITEC está estruturando e contratando funcionários e deve se tornar uma design house especializada em circuitos de alta freqüência, procurando atender à demanda de

pequenas e médias empresas. A unidade do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife67

(CESAR), localizada no Porto Digital do município, vai se tornar uma companhia de projetos direcionada para o desenvolvimento de softwares, diante de sua experiência

acumulada nessa área. Já o centro de Manaus deve suprir as demandas específicas da Zona Franca de Manaus, relacionadas com testes de confiabilidade de circuitos impressos. Finalmente, o Cenpra e o CEITEC serão unidades “âncoras” para prestar assessoria ao desenvolvimento das demais, já que dispõem de maior infra-estrutura e instalações, mas não deverão se tornar design houses propriamente ditas.

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Documento do Programa CI-Brasil – “Projeto para a formação de recursos humanos e apoio para empresas de empresas de projeto de circuitos integrados (design houses) no Brasil”, disponibilizado por Henrique Miguel, do MCT, por e-mail.

67 Para mais informações sobre as atividades e a atuação do CESAR, sugerimos a consulta em http://www.cesar.org.br/ (conforme consulta realizada em junho/2006).

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Outra iniciativa do CEITEC68 é se tornar um centro de prototipagem especializado

no desenvolvimento e produção de circuitos integrados de aplicação específica. Para sua instalação foram destinados R$ 155 milhões, dos quais R$ 55 milhões já foram liberados. Na estrutura do centro existirão as “salas limpas”, para aa atividades de manufatura produção de circuitos, em pequena escala e uma design house, com cerca de 20 projetistas.

Os equipamentos instalados foram doados pela Motorola e não são de tecnologia de ponta, mas trabalham com tecnologia CMOS (Complementary Metal Oxide Semiconductor), que

permanece sendo utilizada nas atividades do setor.

Finalmente, dentre os esforços para incentivar a atração de IDE na instalação de uma fábrica de chips em larga escala, houve uma amplo debate recentemente, já que o

governo solicitava dos países interessados na adoção do seu padrão de TV Digital – europeu, norte-americano e japonês – a instalação dessa fábrica como contrapartida. No entanto, com a adoção do padrão de TV digital japonês ficou estabelecido apenas um compromisso de elaboração de um plano estratégico para o desenvolvimento da indústria de semicondutores69.

Tal medida demonstra que praticamente nenhuma contrapartida formal foi efetivada ao longo dos vários meses de negociação com os japoneses, sugerindo que outra oportunidade foi desperdiçada. Nesse período, chegou a ser divulgado que a Toshiba tinha intenção de implementar uma planta produtiva no Brasil, com um investimento de US$ 700 milhões70, o que também não representava um foundry com tecnologia de ponta, mas, por

outro lado, já seria um avanço, pois teríamos uma instalação industrial capaz de atender alguns segmentos especializados, como o automotivo, conforme a classificação que consta nos anexos.

Portanto, tais esforços do governo, mesmo que sejam incipientes e repletos de fragilidades, principalmente se considerarmos que o investimento realizado é muito distante

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Há uma variedade de informações sobre o CEITEC em seu site:

http://www.ceitecmicrossistemas.org.br/portal/ (conforme consulta realizada em junho/2006).

69 Uma discussão mais detalhada sobre as contrapartidas estabelecidas com a adoção do padrão de TV digital japonês, pode ser obtida no Jornal Valor Econômico, na matéria “TV Digital chega cercada de incertezas”, publicada em 29/06/2006, “Fábrica de chip continua polêmica”, de 30/06/2006 e na Revista Isto é Dinheiro, na matéria “A imagem que vem do Oriente”, publicada em 05/07/2006 e disponível em http://www.terra.com.br/istoedinheiro/459/ecommerce/tv_digital.htm (conforme consulta realizada em julho/2006).

70 Fonte: Jornal Valor Econômico, “País poderá ter fábrica de US$ 700 milhões” e “Toshiba quer fabricar chips dedicados”, publicadas em 19/04/2006.

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das necessidades da indústria, principalmente com relação aos dispêndios governamentais realizados por meio do BNDES em vários setores. No entanto, essas iniciativas se consolidam como promissoras, ou seja, oportunidades para a indústria nacional de semicondutores, já que vão criar possíveis design houses brasileiras. Mas as companhias de

projeto são suficientes para superar o atraso no desenvolvimento da indústria nacional de semicondutores? O problema da balança comercial será solucionado? Esta é uma trajetória que se sustenta no longo prazo ou são exigidos outros elementos? Para discutir tais questões apresentamos o item a seguir.