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Constituídas como espaço para potencializar o desenvolvimento das crianças pequenas, atendendo aos princípios de educar e cuidar, a escola de Educação Infantil, partilha juntamente com as famílias a responsabilidade com a educação das crianças menores de cinco anos. Porém, difere na intencionalidade de suas ações, as quais são constituídas de significados representados fundamentalmente pelas políticas que subjazem o contexto da infância.

Vieira (2007), ao retratar as políticas educacionais descreve:

[...] quando nos referimos à política educacional, estamos falando de ideias e ações. E as políticas educacionais, nessa perspectiva, expressam a multiplicidade e a diversidade da política educacional em um dado momento

histórico. Dizem respeito a áreas específicas de intervenção, daí porque se fala em políticas de educação infantil, educação básica, educação superior, etc. Cada uma delas, por sua vez, pode se desdobrar em outras. (Ibid, p. 55).

De forma abrangente, a política pressupõe uma ação governamental numa determinada esfera pública como no caso, a Educação. Implementada através de documentos oficiais, as políticas adentram as escolas, configuradas como algo que vêm pronto, sem a participação da escola no seu processo de construção, porque são “impostas” pelo governo federal, num movimento de cima para baixo.

Essa percepção é evidenciada nas falas da professora Julia e da diretora Vera, ao serem questionadas sobre a procedência das políticas públicas.

Eu sei que a política vem do governo; depois vai para SMED. Então ela envia para a escola, com uma reunião com os seus gestores. Só depois, a gestão da escola conta da política para nós professores [...] A gente não está informada de nada como professor. (PROFESSORA JULIA, EE 26/10/2013)

A política não vem do nada, existe sempre um interesse por trás [...] e nas escolas quando chegam, cada uma de sua maneira, precisa colocá-la em prática. (DIRETORA VERA, EE, 27/12/2012).

Ao que se percebe, falar de política, sua procedência, seus objetivos com relação à educação, não é algo que acontece com frequência no cotidiano escolar, principalmente por parte dos professores que a entendem como assunto exclusivo da gestão. Naturalizou-se uma ideia de que a política é assunto exclusivo dos gestores escolares, posto que atuem diretamente na organização e estruturação da escola. No entanto, é no meandro do micro espaço da sala de aula que a política efetivamente se materializa. Cabe ao professor à tarefa de mostrar seus entendimentos e concepções da política nacional, a da escola e porque não dizer, da fusão destas.

Compreendendo a necessidade da participação dos professores nos processos organizacionais da instituição escolar, inclusive na própria elaboração do Projeto Político, como determinado na Constituição Federal e na LDB 9394/96, a Escola Municipal de Educação Infantil traz três princípios básicos que delineiam o trabalho da Gestão Democrática:

Primeiro princípio a descentralização, pois a administração da escola, as decisões, as ações são elaboradas e executadas de forma não hierarquizada somente pela direção.

O segundo princípio, busca a participação de todos os envolvidos no cotidiano escolar, participam da gestão escolar: educadores, estudantes, funcionários, pais ou responsáveis e a comunidade da qual a escola parte. O último prima-se pela transparência, pois toda e qualquer decisão e ação tomada, implementada na escola são do conhecimento de todos os membros da escola. (PPP, 2012, p, 43).

Este entendimento é reiterado na fala da diretora Vera que atuante no contexto da escola há mais dezessete anos compreende a importância dos professores estarem inseridos em todas as instâncias da escola e, conhecerem as políticas de Educação Infantil como forma de entendimento e subsídio para o seu trabalho.

Nas reuniões de formação que fazemos, apresentamos as professoras os textos e legislações, porque é importante elas conhecerem e saberem o que pode ser feito com as crianças [...] de que modo, de que maneira. Elas precisam conhecer possibilidades diferentes. (DIRETORA VERA, EE, 27/12/2012)

Essa ponderação é reafirmada nas metas da formação continuada de seus professores, quando se busca o diálogo reflexivo sobre:

As Políticas Públicas para a Educação Infantil;

As Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil;

As Diretrizes Curriculares da Educação do Município de Santa Maria; Currículo na educação infantil;

A linguagem e a escrita na educação infantil;

A criança da educação infantil e o conhecimento matemático; A especificidade da ação pedagógica com bebês;

Avaliação na educação infantil;

A importância do brincar para a criança de 0 a 5 anos e 11 meses;

As múltiplas linguagens da criança no cotidiano da educação infantil; (PPP, 2012, p. 58).

A constatação da preocupação da escola em promover encontros de discussão sobre o todo da Educação Infantil, remete a questão do comprometimento educativo desta instituição com seus agentes educativos (professores e alunos). Da mesma forma que, implicitamente, denuncia quão efêmero são os processos de formação continuada informal do professor, já que todos os elementos elencados como objetos de estudos estão acessíveis aos professores através de livros, internets, artigos científicos, revistas...

A respeito desta autonomia formativa, a professora Julia quando questionada ao conhecimento das políticas de Educação Infantil, destaca um elemento fundamental: o eu.

A escola até mostra, fala para nós em reunião sobre as políticas, mas depois que a gente é professora, nós sabemos pouco sobre isso [...] a gente se preocupa com o que fazer com elas e, eu, particularmente não gosto disso. Já saí da direção da outra escola para não me incomodar com a burocracia. [...] meu trabalho é com as crianças! (PROFESSORA JULIA,EE26/10/2013)

Ao que parece, a professora compreende sua profissão exclusivamente pelos ditames de seu espaço de atuação, a sala de aula. De certa forma, construiu-se a ideia de que para ser professor basta saber o conteúdo da área que será ensinada, ou no caso, da Educação Infantil, gostar de criança. Porém, isso não é suficiente. Quando se trabalha com crianças pequenas, a especificidade do trabalho docente está imbricada nas características específicas do seu grupo, em seu “[...] estágio de desenvolvimento, aos seus processos de crescimento e à sua vulnerabilidade”. (FORMOSINHO, 2008, p. 135) e também ao universo que a compreende no caso a escola e a Educação.

Compreendo que a professora na prática, recria e (re) significa a política, como sublinha a abordagem do ciclo de política, no contexto da política em ação, pois elas não são fixas e imutáveis e estão sujeitas a diferentes compreensões, reações e redefinições, por intermédio das histórias, experiências, valores e propostas do próprio professor, porém estas definem a forma de agir e pensar a educação da criança pequena.

5.2 A presença/ausência das Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação