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Capítulo V. Portugal no Debate e no Contexto da APD

V.1. A Política de Cooperação de Portugal

«A missão fundamental da Cooperação Portuguesa consiste em contribuir para a realização de um mundo melhor e mais estável, muito em particular nos países lusófonos, caracterizado pelo desenvolvimento económico e social, e pela consolidação e o aprofundamento da paz, da democracia, dos direitos humanos e do Estado de direito». Esta é a forma como é apresentada a Missão da Cooperação Portuguesa, na «Visão Estratégica para a Cooperação Portuguesa» que resultou da Resolução do Conselho de Ministros nº196/2005144.

A Visão Estratégica é a atual lei que regula a Cooperação para o Desenvolvimento de Portugal e decorre, em parte, da primeira lei propriamente dita que existiu em Portugal sobre a cooperação para o desenvolvimento, datada de 1999. O documento foi aprovado pelo XIII Governo145e intitulado «A Cooperação Portuguesa no Limiar do Século XXI»146. As reformas que a partir deste momento foram encetadas tornaram-se um marco na Cooperação Portuguesa.

Antes de 1999 não se pode falar de política de cooperação em Portugal, dada a falta de quadro legal. Durante toda a década de 90 a política de ajuda esteve, aliás, muito ligada a laços históricos, linguísticos e comerciais. Portugal tinha também sido membro fundador do CAD e pertenceu a este órgão até 1974, altura em que saiu por questões políticas, só regressando em 1991. No período intermédio, passa mesmo de país “doador” a país suscetível de beneficiar de apoio internacional.

143 Consultar Anexo 5 para informação detalhada sobre os países recetores de ajuda do CAD.

144 Resolução publicada em Diário da República – Nº 244 – 22 de Dezembro de 2005. E editada pelo

IPAD em Uma Visão Estratégica para a Cooperação Portuguesa. Edição Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento, Ministério dos Negócios Estrangeiros, 3ª Edição. Maio 2008.

145 O XIII Governo Constitucional tomou posse a 28 de Outubro de 1995, sendo constituído pelo Partido

Socialista. Terminou o seu mandato em 25 de Outubro de 1999.

146 Resolução do Conselho de Ministros nº 43/99, de 18 de maio. Resolução publicada em Diário da

Durante todo este período, a cooperação caracterizou-se por uma grande dispersão institucional. Atualmente, para além do IPAD, existe também a Comissão Interministerial para a Cooperação (CIC), Conselho de Ministros para os Assuntos da Cooperação, Câmaras Municipais e Associações de Municípios e o Fórum da Cooperação para o Desenvolvimento147.

Dado que a política de cooperação portuguesa, enquanto parte da Política Externa portuguesa, se insere num contexto internacional, a preocupação central em 1999 ficou patente na introdução à Resolução do Conselho de Ministros que aprovou o documento: «O importante desafio que se coloca a Portugal é o de saber articular, nos planos político, económico e cultural, a dinâmica da sua integração europeia com a dinâmica de constituição de uma comunidade, estruturada nas relações com os países e as comunidades de língua portuguesa no mundo, (…).»148

A Visão Estratégica que veio a ser aprovada em 2005 contém aspetos de continuidade com a estratégia de 1999, mas também inovações.

Em termos de continuidade, destaca-se a preocupação em estabelecer uma ligação clara e eficaz entre princípios, prioridades, programas e projetos. Destaca-se também a importância que em ambos os momentos se atribui ao requisito fundamental de comando e responsabilidade política, em oposição a uma tradição de dispersão com a consequente perda de eficiência e sentido estratégico.

Em termos de inovações, notou-se desde 1999 uma acentuada tendência para a coordenação internacional da APD, e que a cooperação portuguesa está pouco preparada para lidar com essa realidade, reduzindo desta forma a margem de atuação e a influência nacional nos grandes centros de discussão e decisão. A atual estratégia procura, à semelhança da anterior, atribuir clareza, objetividade e transparência à Cooperação Portuguesa. Nota-se, no entanto, uma trajetória histórica que liga a ajuda a relações interpessoais entre funcionários de serviços homólogos das administrações públicas ou outras, o que levou sucessivamente a uma desresponsabilização política ao longo dos anos.

Em 2005 notou-se por isso a necessidade de se identificarem as prioridades e os mecanismos necessários para a canalização de recursos de acordo com uma nova estratégia para a Cooperação Portuguesa. Isto pode ser tanto mais benéfico quanto

147 Para mais informação sobre cada uma das Instituições da Cooperação Portuguesa, consultar Anexo 6. 148 Resolução do Conselho de Ministros nº 43/99, de 18 de Maio. Resolução publicada em Diário da

Portugal dispõe de algumas vantagens comparativas, como é o caso de Língua Portuguesa que pode trazer vantagens na área da educação e da formação, e dos laços históricos, que podem facilitar o entendimento nas áreas jurídica e da administração pública.

Tanto a iniciativa do Estado como a iniciativa privada e o bom funcionamento de uma economia de mercado são aspetos importantes enquanto fatores dinamizadores e modernizadores das economias149. Também nesta área se verificam vantagens comparativas. Portugal partilha com os países lusófonos a matriz jurídica e judicial, ao mesmo tempo que em todos estes países as empresas portuguesas estão entre os maiores investidores estrangeiros.

Portugal empenhou-se também em cumprir os princípios de racionalidade, eficiência e eficácia que resultaram de Declarações Internacionais, como a Declaração de Paris, tendo estabelecido e publicado em Fevereiro de 2005 um “Plano de Ação para a Harmonização e Alinhamento”150. Trata-se do reforço dos princípios e compromissos que decorrem da Declaração de Roma, Paris e Acra.

Na Declaração de Roma, Portugal e os restantes Estados-membros comprometeram-se a alinhar as suas políticas em torno da harmonização (uniformização e simplificação da concessão de ajuda, aumento da cooperação delegada, maior flexibilidade e poder de decisão nas representações no terreno), alinhamento (articulação entre os doadores em termos de estratégias e prioridades de desenvolvimento do país parceiro) e apropriação (o país parceiro deve definir a sua própria agenda de desenvolvimento).

De acordo com o referido Plano de Ação, Portugal deverá canalizar os esforços de harmonização em três planos: entre o doador e o país parceiro, entre as Agências doadoras, e nos sistemas dos doadores. Portugal participa, assim, na área da Ajuda ao Desenvolvimento e tem cinco aspetos principais como linhas orientadoras da Política de Cooperação (Figura 15). Estes cinco princípios são também reveladores da forma como Portugal se tem assumido e pretende assumir no quadro internacional.

Em 2008, por iniciativa do IPAD, iniciou-se um processo de elaboração de uma Estratégia Nacional de Educação para o Desenvolvimento (ENED) conjuntamente com

149

O próprio Consenso de Monterrey, em 2002, destacou a importância de melhorar o ambiente de trabalho para a iniciativa privada em qualquer estratégia de desenvolvimento.

150 Texto disponível em:

http://www.ipad.mne.gov.pt/CooperacaoDesenvolvimento/AjudaPublicaDesenvolvimento/Documents/ha _planodeaccao.pdf

outros atores governamentais e não-governamentais, visando a sensibilização da sociedade portuguesa e a influência política.

A educação para o desenvolvimento assume sobretudo uma componente nacional, através da aposta num processo educativo constante que favorece as inter- relações sociais, culturais, políticas e económicas entre o Norte e o Sul, e que promove valores e atitudes de solidariedade e justiça. O objetivo final é a mobilização das sociedades em torno da questão do desenvolvimento, em coordenação com o Ministério da Educação.

Figura 15 – Política de Cooperação Portuguesa

Cooperação Portuguesa

1 Empenho na prossecução dos ODM.

2 Reforço da segurança humana, em particular em “estados frágeis” ou em situações

de pós-conflito.

3 Apoio à lusofonia, enquanto instrumento de escolaridade e formação.

4 Apoio ao desenvolvimento económico, numa ótica de sustentabilidade social e

ambiental.

5 Envolvimento mais ativo nos debates internacionais, tendo em vista a convergência

internacional em torno de objetivos comuns.

FONTE: com base na Visão Estratégica de 2005