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Capítulo V. Portugal no Debate e no Contexto da APD

V. 2. Características da APD Portuguesa

V.2.2. Ajuda Multilateral: Abordagem Bi-multi

Sensivelmente 40% da APD portuguesa segue por via multilateral, o que se deve em grande parte à sua pertença a diversos contextos multilaterais e destina-se sobretudo à UE, Banco Mundial, Bancos Regionais de Desenvolvimento e Agências da ONU170.

A cooperação multilateral portuguesa é regulada pela Estratégia Portuguesa de Cooperação Multilateral (EPCM)171, aprovada em 2009. A EPCM resulta da necessidade de operacionalizar, na sua vertente multilateral, o documento de orientação estratégica intitulado “Uma Visão Estratégica para a Cooperação Portuguesa” e define os critérios, objetivos e atores envolvidos, instrumentos programáticos, mecanismos e recursos necessários à sua prossecução.

Um dos objetivos principais é operacionalizar a abordagem bi-multi como forma de aumentar a coerência e eficácia da cooperação portuguesa. Um outro objetivo é funcionar como alavanca financeira para os programas e projetos da cooperação. Como instrumentos programáticos utiliza documentos estratégicos de programação plurianual do relacionamento político-institucional com cada organização multilateral; acordos de parceria de natureza política e/ou institucional e Programas Integrados de Cooperação (PIC) com os países parceiros.

Os documentos estratégicos identificam os objetivos estratégicos, as áreas de intervenção prioritária, as linhas de ação e os resultados esperados da cooperação político-institucional e operacional com as instituições multilaterais. Os acordos de parceria identificam os objetivos políticos e/ou operacionais específicos da parceria e as atividades de natureza operacional bi-multi normalmente de natureza técnica e operacional com as organizações multilaterais.

Os PIC são documentos de programação que identificam atividades operacionais numa abordagem bi-multi através de parceria com as organizações multilaterais presentes no terreno. Estas parcerias vão depender das vantagens e mais-valias que

170 Para informação mais detalhada sobre cada uma das contribuições, consultar Anexo 7. 171 IPAD – Estratégia Portuguesa de Cooperação Multilateral. Disponível online em:

http://www.ipad.mne.gov.pt/CooperacaoEuropeiaMultilateral/estrategiamultilateral/Documents/Estrategia Multilateral.pdf

essas organizações representam na prossecução dos objetivos específicos para com esse país parceiro. Portugal apoia igualmente programas nacionais de crescimento e redução da pobreza de países africanos em geral, e dos PALOP em particular, através da sua participação nos grupos do Banco Mundial e do Banco Africano de Desenvolvimento.

As metas em termos de APD/RNB da cooperação portuguesa encontram-se definidas no Piloto da Cooperação Portuguesa (0.51% do RNB em 2010 para a APD e 0.7% do RNB em 2015), instrumento de programação orçamental plurianual levado a cabo em 2008 pelo Grupo de Trabalho e Implementação do Programa Orçamental Plurianual (GTIPOP).

Em termos de influências, Portugal identifica-se com os compromissos europeus de dedicar um esforço acrescido ao desenvolvimento de África e procura concertar esforços no âmbito multilateral das suas parcerias com agências das Nações Unidas, no quadro da UE e das Instituições Financeiras Internacionais, em torno de problemas sectoriais específicos de países africanos, começando pelos PALOP. A existência de “Estados frágeis” constitui também uma das mais importantes ameaças na era da globalização, pelo que lhes é destinada especial atenção.

A UE é o espaço multilateral que assume maior importância na política da cooperação portuguesa. Mais de 70% da APD multilateral tem sido canalizada para a UE, com o FED a representar um quarto desta APD e o Orçamento para a Ação Externa os três quartos restantes (ver Anexo 17).

No seio da UE, a cooperação, pelo menos em termos formais, processa-se em dois sentidos: Portugal participa na definição da política comunitária de ajuda ao desenvolvimento, tanto em relação aos países ACP (Ásia, Caraíbas e Pacífico) através do Acordo de Cotonou, como em relação aos países da América Latina e Ásia; e é ao mesmo tempo influenciado pelas decisões comunitárias.

No âmbito da ONU, Portugal participa nos grandes debates internacionais sobre temas de desenvolvimento que se realizam na Assembleia Geral e no Conselho Económico e Social (ECOSOC), e trabalha com as agências relevantes das Nações Unidas, como o PNUD, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), a Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). No âmbito da ONU e organizações afiliadas, Portugal colabora com cerca de 5% da sua APD.

A cooperação portuguesa colabora com estas agências não só através de contribuições para o seu financiamento central, como também através da afetação de

recursos a projetos específicos. Em termos institucionais, de modo a cooperar no âmbito das iniciativas de outras agências como a FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação), a OMS (Organização Mundial de Saúde) e a OIT (Organização Internacional do Trabalho), o MNE, sobretudo através do IPAD, trabalha em estreita cooperação com outros ministérios tendo em vista esse fim.

A OCDE constitui outra importantíssima esfera de discussão sobre temas de desenvolvimento internacional, em especial através do CAD e do Centro de Desenvolvimento.

Portugal tem procurado também aumentar a sua participação em instituições financeiras internacionais, nomeadamente no Banco Mundial, FMI e Bancos Regionais de Desenvolvimento, igualmente enquanto importantes centros de discussão. Neste esforço, importa destacar a coordenação entre os Ministérios dos Negócios Estrangeiros e das Finanças. As contribuições para os Bancos Regionais são na ordem dos 10%, e as Instituições de Bretton Woods (FMI e BM) cerca de 8%.

Portugal participa igualmente em Fundos e Mecanismos financeiros verticais como o Fundo para o Ambiente Global (FAG/GEF), o Fundo Global de Luta contra a Sida Tuberculose e Malária (FG)172, o Fundo Comum dos Produtos de Base (FCPB), e o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA). Tratam-se, em geral, de apostas da cooperação portuguesa no financiamento de bens públicos globais como o ambiente sustentável, o comércio internacional, a segurança alimentar e a saúde global, sobretudo no que diz respeito a doenças endémicas. Destinos como o Fundo Global para o Ambiente, o Protocolo de Montreal, a CPLP e o Fundo Global para a Sida, Tuberculose e Malária, recebem em conjunto cerca de 3% da APD, embora tenha vindo progressivamente a diminuir.

Outra esfera multilateral que requer também atenção são as organizações de âmbito regional. Portugal participa nas Cimeiras Ibero-Americanas, enquanto espaço de coordenação político-diplomática e de cooperação para o desenvolvimento. Regista-se também uma necessidade de apoiar a valorização e a capacidade de intervenção de instituições como a União Africana, a SADC (Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral) e a CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África

172 O Fundo Global de Combate à SIDA, Tuberculose e Malária é uma parceria público privada

internacional que visa alavancar e aumentar recursos financeiros adicionais destinados ao combate da SIDA, Tuberculose e Malária. Portugal é membro desde 2004.

Ocidental), incluindo a contribuição Técnico-Militar que poderá favorecer a paz, segurança e desenvolvimento internacional.

Considerando os valores para o ano de 2010, estes rondam os 191M€, cerca de 39% do total da APD portuguesa. A principal parcela continua a destinar-se às instituições da UE. As contribuições para os Bancos de Desenvolvimento Regionais representaram neste ano apenas 10% da ajuda multilateral, seguidas das contribuições para o Banco Mundial e para a OMC, com 9%.

Figura 43 – Evolução da APD portuguesa transferida por via multilateral, entre 2007 e 2010

FONTE: IPAD

Quando se fala de cooperação multilateral de Portugal, pode falar-se também na política dos “3D” e dos “3C”. Na estratégia de cooperação multilateral de Portugal estão refletidos os princípios que norteiam a atividade do país em termos de ação externa: diplomacia, desenvolvimento e defesa (falando dos “3D”). Mas Portugal tenta também ir de encontro aos princípios de coordenação, coerência e complementaridade (os “3C”) entre os vários atores.