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De acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano de 200550, o rendimento médio nos PED tem vindo a aumentar desde a década de 90. Em pouco mais de uma década, a esperança média de vida dos PED aumentou dois anos. A maior esperança de vida é em parte resultado da queda das taxas de mortalidade infantil. No início do novo milénio, havia menos 2 milhões de óbitos de crianças do que em 1990 e a probabilidade de uma criança atingir os cinco anos de idade aumentou cerca de 15%.

As melhorias no acesso a água e saneamento têm contribuído, reduzindo a ameaça de doenças infecciosas. Houve também um rápido crescimento da vacinação global desde 2001. Em termos de educação, os níveis de alfabetização aumentaram de 70 para 76% nos PED ao longo da última década e o fosso entre os sexos está a estreitar-se. A pobreza extrema diminuiu de 28% em 1990 para 21% em 2005. Depois de duas décadas de declínio do rendimento médio, a África Subsahariana registou um aumento de 1.2% ao ano, a partir de 2000.

De acordo com o RDH de 2005, entre a segunda metade da década de 90 e o início do novo milénio, o IDH aumentou nos PED, embora a taxas variáveis e com a excepção da África Subsahariana (Figura 2).

Figura 2 – Índice de Desenvolvimento Humano

FONTE: Relatório de Desenvolvimento Humano, 2005

50 PNUD – Human Development Report 2005 – International Cooperation at a crossroads – Aid, trade

and security in an unequal world. New York, 2005.

Embora muito ainda haja para fazer, muitos destes progressos se deveram à Cooperação para o Desenvolvimento.

Pode entender-se a Cooperação para o Desenvolvimento como «A transferência de recursos, sobretudo financeiros, com o objetivo de ajuda ao desenvolvimento de países caracterizados por atrasos e carências a vários níveis em relação aos países mais avançados (…)»51

Esta definição, porém, poderá parecer demasiado restrita. Entendido o fenómeno da Cooperação pelo enunciado anteriormente, importa por isso perceber melhor o que se entende por Desenvolvimento.

Segundo a definição da Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura52, o conceito de desenvolvimento é de origem recente, tendo sido sobretudo depois da Segunda Guerra Mundial que se começou a tomar consciência do nível de prosperidade dos diversos povos, em resultado de fatores de natureza teórica e histórica. Pode salientar-se, para além do impulso nacionalista dos países colonizados, as preocupações da OCDE e, particularmente, da ONU, que designou a década de 60 como a Década das Nações Unidas para o Desenvolvimento.

Inicialmente, o conceito de desenvolvimento foi entendido numa perspetiva económica53. Considerava-se os problemas do crescimento do PIB e da sua distribuição, e a inserção das economias nacionais em espaços económicos mais ou menos alargados. Neste contexto, porém, começam as surgir preocupações com os problemas sociais, criando-se a distinção entre crescimento ou desenvolvimento, ou «economia do crescimento» e «economia do desenvolvimento»54. Esta distinção faz cada vez mais sentido, uma vez que de um forte crescimento económico com consequente aumento dos índices globais de produção não decorre necessariamente o desenvolvimento das populações. Para C. Furtado55, o crescimento é sectorial enquanto o desenvolvimento é estrutural e global.

Assim, segundo a mesma fonte, o desenvolvimento define-se como um processo de crescimento económico e mudança social, com complexidade de conteúdos socioeconómicos e psicoculturais, impulsionado pela industrialização e urbanização. O

51 DIAS, João - «A União Europeia e a Cooperação para o Desenvolvimento, Uma breve síntese», in

ROMÃO, António (org.) – Economia Europeia, Celta Editora, Oeiras, 2004.

52

Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura – Edição do Século XXI, Verbo, Vol.8.

53 ibidem 54 ibidem

55 C. Furtado – O Mito do Desenvolvimento Económico, Rio de Janeiro, 1974 in Enciclopédia Luso-

desenvolvimento implica, por isso, uma conceção global da sociedade e deve atender às leis que regulam a sua evolução.

Importa, então, saber se existem uma ou mais vias de desenvolvimento, se se trata de implementar modelos ou se se deve avaliar cada contexto em particular.

Importa ainda compreender como ocorreu o desenvolvimento dos países que se industrializaram no Ocidente nos séculos XVIII e XIX, o qual se operou num contexto socioeconómico e de políticas bastante diferentes das que intervêm no desenvolvimento dos PED. As primeiras revoluções industriais foram processos autónomos que combinaram forças sociais, recursos económico-financeiros e técnicos, num determinado contexto político. Em alguns países em desenvolvimento, falta ainda uma classe dinâmica, a tecnologia continua a ser importada dos países desenvolvidos, para além das carências na educação e na saúde, na investigação, e demais. Acresce o fator demográfico, que faz com que em alguns contextos as taxas de crescimento populacional superem as taxas de crescimento económico.

Com o fim da Guerra Fria, surgiram também questões como o nacionalismo, guerras civis, conflitos étnicos, o novo fenómeno de estados falhados56 e uma série de crises humanitárias.

Finalmente, na medida em que o desenvolvimento é condicionado pela dimensão internacional, estes países tornam-se dependentes dos grandes poderes.

Face a este diagnóstico, e ao entendimento de desenvolvimento num contexto mais sociológico, percebe-se melhor o que está envolvido quando se fala de cooperação para o desenvolvimento e de ajuda aos PED no contexto internacional.

56 Não existe uma definição consensual de estados falhados. De acordo com Alexandre Reis Rodrigues,

são aqueles cujos respetivos governos não têm controlo sobre a totalidade do território ou não têm o monopólio do uso da força. Outras possíveis circunstâncias a originarem a mesma classificação incluem, por exemplo: falta de autoridade do governo para tomar decisões aceites pela população; incapacidade de assegurar serviços básicos; incapacidade de evitar um clima generalizado de desobediência; falta de autoridade para impor o pagamento de impostos, etc. Devem cair nesta classificação todos os países que estiverem sujeitos a restrições à sua soberania, por exemplo, em consequência de um embargo, bloqueio ou ocupação militar. In Estados Falhados, Alexandre Reis Rodrigues – Jornal de Defesa e Relações Internacionais, http://www.jornaldefesa.com.pt/conteudos/view_txt.asp?id=229. Consultado em 12.04.2011

II.1. A Cimeira do Milénio e os ODM

A Cimeira do Milénio, realizada pela ONU em 2000, constituiu o maior marco em torno da questão do desenvolvimento. Não apenas porque reuniu líderes dos países ricos e dos PED mas também porque, conforme referem Karns e Mingst57, estas reuniões pode ser vistas como uma nova forma de governo: dela saíram regulamentações que os estados devem cumprir e parece ter mobilizado de forma especial a comunidade internacional.

A Declaração do Milénio, adotada por consenso, foi o produto final da Cimeira, que incorporou os oito Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM)58 e refletiu o elevado grau de consenso na paz e no desenvolvimento.

As principais metas dos ODM são a redução da pobreza mundial e da fome para metade até 2015, redução da mortalidade infantil em 2/3 os e alcançar a educação primária universal. O oitavo objetivo refere-se às parcerias entre as agências da ONU, governos, organizações da sociedade civil, e setor privado como formas de alcançar os outros sete objetivos. Mas a Cimeira não se restringiu a esta temática. Abordou também temas como a globalização, doenças, sistemas económicos.

O desenvolvimento humano não se esgota nos ODM mas estes dão uma importante referência no caminho para o progresso. Em muitos países, o acesso inadequado a infraestruturas básicas como água, estradas, eletricidade e comunicações limita as oportunidades das famílias, restringe o investimento do sector privado e constrange as receitas do Governo.

O prazo para os atingir termina em 2015.

Tendo em conta os números que serviram de base ao relatório de 200559, o PNUD arriscava as seguintes projeções para 2015: a meta dos ODM de reduzir a mortalidade de crianças não será atingida, assim como a meta do ensino primário universal. Anular o fosso na mortalidade e crianças, entre os 20% mais ricos e os mais pobres, reduziria os óbitos de crianças em quase dois terços, poupando mais de 6 milhões de vidas por ano. Se o aumento em despesas militares que foi feito depois de

57

KARNS, Margaret and MINGST, Karen – International Organizations: The politics and Processes of

Global Governance. Boulder, 2004

58 Os objetivos estão desagregados em 18 metas específicas (ver Anexo 1), quadros de tempo específicos,

e 48 indicadores de comportamento, com um plano de implementação elaborado que envolve 10 task

forces globais, relatórios para cada país em desenvolvimento, monitorização regular, e uma campanha

pública de informação para manter a pressão nos governos e nas agências internacionais.

59 PNUD – Human Development Report 2005 – International Cooperation at a crossroads – Aid, trade

and security in an unequal world. New York, 2005.

2000 fosse gasto na ajuda, teria sido suficiente para atingir a meta dos 0.7% do RNB em ajuda. Os dados são tanto mais chocantes, quanto é indicado que a despesa actual com o HIV/SIDA, uma doença que vitima cerca de 3 milhões de vidas por ano, representa o valor de três dias de despesas militares.

Perante este cenário negativo, vejamos que factores concorrem para o fraco desenvolvimento dos PED e para a sua dificuldade de inserção no sistema internacional. O ODM oitavo, comporta quatro das dimensões fundamentais.