• Nenhum resultado encontrado

4 A ORDEM CONSTITUCIONAL EM VIGOR

4.3. A POSITIVAÇÃO CONSTITUCIONAL DO DIREITO À SAÚDE

A Constituição da República Federativa do Brasil, publicada no Diário Oficial da União n. 191-A, de 5 de outubro de 198877, atribui ao direito à saúde a importância que lhe é própria.

Já no Preâmbulo o direito à saúde está subentendido.

Ali se afirma que a Assembléia Nacional Constituinte instituiu um Estado Democrático destinado a cumprir a seguinte missão:

(...) assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias (...).

O conceito de bem-estar vincula-se estreitamente ao de saúde: a pessoa humana não pode fruir de bem-estar se seu direito à saúde estiver comprometido, se não puder preservar ou, mediante tratamento, recuperar sua saúde.

No Título I, que versa sobre os princípios fundamentais, está assentado o artigo 1° que a República Federativa do Brasil constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem, entre os demais fundamentos ali especificados, o da cidadania. O conceito de cidadania abrange o exercício do direito à saúde.

75

Obra citada, páginas 247 a 249. 76

Paulo Bonavides, ob. cit., pp. 249 e 250.

77 “Códigos – Tributário – Processo Civil e Constituição Federal”, Editora Saraiva, 2ª edição, 2006, página 9.

No artigo 3° está declarado que os objetivos fundamentais do Estado brasileiro consistem, entre outros aspectos, em fomentar a solidariedade social, a igualdade material e o bem-estar de todos os cidadãos78.

No artigo 4° consagra-se a prevalência dos direitos humanos, entre outros princípios, como um dos critérios a nortear as relações internacionais do Brasil.

No Título II, que trata dos direitos e garantias fundamentais, depara-se no Capítulo I, que discorre sobre os direitos e deveres individuais e coletivos, no caput do artigo 5° a garantia, em primeira plana, da inviolabilidade do direito à vida79.

Não há negar esteja o direito à vida intimamente ligado ao direito à saúde, como várias vezes neste trabalho já se acentuou.

No acometimento de moléstia grave, em não se podendo exercer por falta de recursos materiais o direito à saúde, a vida ou a integridade física periclitará, não raro irreversivelmente.

O Capítulo II do Título acima mencionado cuida dos direitos sociais, inserindo- se entre eles a saúde, e se inicia com o artigo 6°, na redação dada pela Emenda Constitucional n° 26, de 14-02-2000, como segue:

Art. 6° São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o

lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desempregados, na forma desta Constituição.

O direito à saúde reaparece no Título VIII, que cuida “Da Ordem Social”, sendo este o teor do seu Capítulo I, que encerra, à guisa de “Disposição Geral”, um único artigo:

Art. 193. A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como

objetivo o bem-estar e a justiça sociais.

78 Segue-se a íntegra do dispositivo: “Art. 3° Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I – construir uma sociedade livre, justa e solidária; II garantir o desenvolvimento nacional; III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”.

79

O texto completo do caput é este: “Art. 5° Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...)”.

Segue-se o Capítulo II (“Da Seguridade Social”), dividido em três Seções, a primeira trazendo as disposições gerais, a segunda trata especificamente da saúde, enquanto que a terceira, da previdência social.

As disposições gerais constam de dois artigos, 194 e 195, tendo o caput do primeiro esta redação:

Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações

de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social80 (sublinhou-se).

A segunda seção desdobra-se em cinco artigos, importando aqui transcrever o primeiro – 196 -, devido aos princípios que contém e à caracterização que faz do direito à saúde como direito humano:

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante

políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

Quanto aos demais artigos da seção – 197 a 200 – apresenta-se apenas uma sinopse, evitando-se o excesso de transcrições.

O artigo 197 prescreve que as ações e os serviços de saúde são de relevância pública. O Poder Público deve dispor, “nos termos da lei”, sobre a regulamentação, fiscalização e controle dessas ações e serviços, bem como executar tais ações e serviços, diretamente ou por meio de terceiros, ressalvando o dispositivo

80

O parágrafo único desse dispositivo está assim redigido: Parágrafo único. Compete ao Poder

Público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos: I – universalidade da cobertura e do atendimento;

II – uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais; III – seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços;

IV – irredutibilidade do valor dos benefícios; V – eqüidade na forma de participação no custeio: VI – diversidade da base de financiamento;

VII – caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com participação

dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados.

constitucional que a execução também pode ser efetuada por pessoa física ou jurídica de direito privado.

As ações e serviços públicos de saúde – estatui o artigo 198 – integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com três diretrizes: (1ª) descentralização, com direção única em cada esfera de governo; (2ª) atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; (3ª) participação da comunidade. Seguem- se três parágrafos, que dispõem sobre o financiamento do sistema único de saúde.

O artigo 199 determina ser a assistência à saúde livre à iniciativa privada, seguindo-se quatro parágrafos. Nos três primeiros parágrafos definem-se os limites da atuação da iniciativa privada e se proíbe lhe sejam destinados recursos públicos quando atuarem com fins lucrativos. O último prevê a elaboração de lei para dispor “sobre as condições e os requisitos que facilitem a remoção de órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de transplante, pesquisa e tratamento, bem como a coleta, processamento e transfusão de sangue e seus derivados”, a par do que proíbe a comercialização de tais substâncias.

Por último, o artigo 200 define as competências do sistema único de saúde, sem exclusão de outras atribuições nos termos da lei. Dentre as competências estabelecidas no texto constitucional, sobrelevam a seguintes: a) controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde e participar da produção de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos, hemoderivados e outros insumos (inciso I); b) executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador (inciso II); c) participar da formulação da política e da execução das ações de saneamento básico (inciso IV); e, d) colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.

Assim, voltando ao artigo 6°, acima transcrito, importa salientar que os direitos sociais são direitos fundamentais da pessoa humana e se caracterizam como liberdades positivas.

Eles devem, por isso, ser rigorosamente respeitados no Estado Social de Direito, pois têm a finalidade de ensejar a melhoria das condições de vida das

pessoas desprovidas de recursos materiais, concretizando dessa forma o anseio de igualdade social almejado pela Constituição brasileira, como se vê em seu Preâmbulo e em seu artigo 1° incisos II e III81.

4.4. COMENTÁRIOS À CONSTITUIÇÃO FEDERAL, NO QUE TANGE AO DIREITO