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3 A PRÁTICA DO VOLUNTARIADO DE ENFERMEIROS E MÉDICOS

«Un corazón educado permite al voluntario cultivar e irradiar aquellas actitudes que promueven la hospitalid, el respeto, la compasión»278

A presente investigação ocorre «com as pessoas de interesse»279, isto é, com as

pessoas que potencialmente têm informação importante a partilhar relacionada com os acontecimentos experienciados que, neste estudo, correspondem a enfermeiros e a médicos que desenvolvem atividade voluntária no seu âmbito profissional, integrado ou não integrado em instituições/organizações.

Através da sua experiência e vivência em diferentes contextos de voluntariado na área da saúde, estes profissionais, que consideramos como peritos experienciais, podem transmitir dados relevantes sobre a forma como vivenciam a atividade voluntária que desenvolvem. Deste modo, fornecem dados cuja riqueza contribui para uma resposta às questões relacionadas com o voluntariado como uma necessidade humanitária.

A metodologia de um estudo de investigação engloba os principais passos no processo de investigação, proporcionando a organização da própria investigação. É o momento da tomada de decisões sobre o prosseguimento do estudo, isto é, qual o método de investigação adequado para obter respostas às questões de investigação.

Neste capítulo descrevemos as etapas que integraram o desenvolvimento do estudo.

278 PANGRAZZI, A. - Hacer Bien el Bien. Voluntarios junto al que Sufre, 2006, p.76. 279 FORTIN, M-F. - O processo de investigação: da concepção à realização, 1999, p.148.

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3.1-QUESTÕES DE PARTIDA

Ao iniciar o estudo e partindo da contextualização ética e profissional do voluntariado, colocam-se-nos as seguintes questões de partida:

1. Qual o perfil sociodemográfico, profissional e ético dos enfermeiros e dos médicos que realizam voluntariado na sua área profissional?

2. Quais as motivações subjacentes à atividade de voluntariado de enfermeiros e de médicos?

3. Quais são as consequências pessoais, profissionais e sociais da atividade de voluntariado que desenvolvem?

4. Qual o lugar que a ética ocupa neste tipo de atividade voluntária?

3.2-FINALIDADE E OBJETIVOS

Pretendemos que os resultados da investigação a que nos propomos permitam obter contributos para a elaboração de um plano de voluntariado a integrar nos cursos de licenciatura em enfermagem.

Objetivo geral:

Refletir sobre os contextos e o perfil ético dos enfermeiros e médicos que exercem voluntariado no âmbito da sua profissão.

Delineamos como objetivos específicos:

a) Conhecer o perfil sociodemográfico e profissional de enfermeiros e de médicos que desenvolvem atividade de voluntariado no seu âmbito profissional;

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b) identificar as motivações de enfermeiros e médicos para a prática do voluntariado no seu âmbito profissional;

c) conhecer o tipo de atividade de voluntariado que enfermeiros e médicos desenvolvem no âmbito da saúde;

d) conhecer o modo como surge a atividade de voluntariado nos participantes; e) conhecer os contributos pessoais, profissionais e sociais para os enfermeiros e

médicos que realizam voluntariado na sua área profissional;

f) conhecer as dificuldades, inerentes à atividade de voluntariado, com que se confrontam os participantes;

g) identificar valores e princípios éticos e bioéticos que envolvem a prática do voluntariado dos participantes.

3.3-METODOLOGIA

O presente estudo enquadra-se no paradigma qualitativo «cuja realidade é construída pelo sujeito particular»280, dado o interesse em conhecer e compreender a realidade do

fenómeno a que nos propomos estudar. Num modelo de investigação humanista/interpretativo, é partindo do discurso de cada participante e da sua análise, que conhecemos a realidade individual e podemos aceder aos valores éticos e morais de cada participante.

Trata-se de um estudo de natureza exploratória e descritivo, uma vez que, para além de conhecer o contexto em que decorre a atividade de voluntariado, propomos «definir as

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características de uma população ou de um fenómeno»281, assim como as repercussões que

a mesma tem ou poderá ter na vida pessoal, familiar e profissional descrevendo, com a maior profundidade possível, a realidade do fenómeno. Para tal, partimos dos discursos dos participantes, porque são as «pessoas capazes de testemunhar sobre a sua experiência»282 e

por isso expressam, na primeira pessoa, as vivências e significações que advêm da atividade de voluntariado que realizam.

As metodologias qualitativas integram o processo de investigação que utilizam o método indutivo ou seja, partem das situações ou dos contextos particulares para a dimensão geral do fenómeno, visando deste modo a «construção do conhecimento científico»283.

Como este estudo visa o conhecimento e a compreensão do fenómeno, recorremos às pessoas que detêm a experiência, de modo que exprimam as suas motivações, os seus sentimentos, as suas emoções ou outros aspetos relevantes. Transpondo para o nosso caso concreto, são as pessoas que, sendo enfermeiros ou médicos, vivenciam na primeira pessoa a atividade de voluntariado na sua área profissional e podem assim constituir a pedra basilar na transmissão de dados relevantes para o estudo.

A recolha de dados é fundamental enquanto meio para atingir o conhecimento necessário e a compreensão sobre o fenómeno em estudo. Assim, e tendo em vista um conjunto de participantes com práticas de voluntariado diversificado, no âmbito das suas profissões, contactamos diversas instituições/organizações onde se realizam este tipo de atividades no âmbito da saúde. Contactámos ainda outros profissionais que sabíamos ter atividade de voluntariado e que, de outro modo, não tivessem conhecimento ou oportunidade

281 FORTIN, M-F - Fundamentos e etapas do processo de investigação, 2009, p.35. 282 FORTIN, M-F - O processo de investigação: da concepção à realização, 1999, p.156. 283 FORTIN, M-F - Fundamentos e etapas do processo de investigação, 2009, p.34.

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de integrar o estudo. Pensámos que, pela diversidade, seria possível aumentar a riqueza de dados obtidos e, assim, de resultados.

De modo a responder aos objetivos propostos, o estudo desenvolve-se em duas etapas. A primeira etapa envolve a aplicação de um questionário, que permita a caracterização sociodemográfica, profissional e do voluntariado dos participantes; a segunda, na procura do aprofundamento de aspetos mais específicos e aumentar a compreensão do fenómeno em estudo, a realização de entrevista semiestruturada. Nas questões abertas do questionário e na entrevista, o participante pode exprimir «o que quiser do seu ponto de vista»284, focado em cada uma das respostas, contribuindo deste modo com o cunho pessoal

relacionado com as suas próprias vivências.

Para cada etapa será apresentado o método utilizado, incluindo a apresentação dos objetivos, os critérios de inclusão dos participantes, o instrumento de recolha de dados e sua aplicação; o tratamento dos dados obtidos; a apresentação dos resultados, a sua análise e discussão.

3.3.1-Primeira Etapa

A primeira etapa compreendeu a elaboração do instrumento de recolha de dados a aplicar a enfermeiros e a médicos que, integrados ou não em instituições/organizações promotoras de voluntariado, realizam atividades de voluntariado na sua área profissional; seguiu-se o contacto com as instituições/organizações de modo a obter a permissão para a

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aplicação do referido instrumento. Posteriormente aplicamos o questionário, realizamos o tratamento dos dados obtidos, ao que se seguiu a análise dos resultados.

Apresentamos de seguida os passos que correspondem ao percurso desta etapa, desde a identificação dos objetivos, a definição dos critérios de inclusão dos participantes, o primeiro contacto com as instituições/organizações, passando pela construção e aplicação do instrumento de recolha de dados, até ao tratamento, à análise e à discussão dos resultados obtidos.

3.3.1.1 - Procedimentos metodológicos

Para a primeira etapa definimos os seguintes objetivos:

a) Identificar o perfil sociodemográfico e profissional dos enfermeiros e dos médicos com atividade voluntária no âmbito da saúde e o contexto em que a mesma se desenvolve;

b) conhecer o perfil demográfico do voluntariado que os participantes realizam; c) conhecer as motivações que impulsionam a ação voluntária;

d) identificar aspetos positivos que, na perspetiva do participante, advêm da atividade voluntária;

e) identificar dificuldades com que se confrontam os participantes no desenvolvimento dessa atividade.

Foram previamente estabelecidos os critérios para inclusão dos participantes, para esta etapa:

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- realizar atividade voluntária no âmbito da saúde; - realizar voluntariado em Portugal;

- realizar a atividade de voluntariado, integrado ou não integrado, em instituições/organizações;

- aceitar a participação no estudo.

A partir daqui elaboramos o questionário (Anexo II) e, a sua aplicação, corresponde ao «método de colheita de dados destinado a obter respostas escritas por parte dos sujeitos»285, que assim se constituíam como participantes, integrando a amostra para o

estudo.

Partimos com a consciência da impossibilidade de identificar todos os enfermeiros e médicos que desenvolvem atividade voluntária no seu âmbito profissional, quer pela escassez de registos em Portugal, quer pela multiplicidade de instituições/organizações que, para o desenvolvimento das suas atividades, têm enfermeiros e/ou médicos voluntários.

Conscientes desta dificuldade, identificámos instituições/organizações286 públicas,

privadas e religiosas, ONG’s e IPSS, que se dedicam ao apoio a pessoas com diferentes tipos de necessidades em saúde.

Contactámos as que, de entre estas, recorrem à atividade de voluntariado de enfermeiros e/ou médicos, entendendo-se esta como a que é «realizada por vontade própria das pessoas interessadas, por sua livre escolha e motivação e sem fins lucrativos»287:

285 FORTIN, M-F. - O processo de investigação: da concepção à realização, 1999, p.263.

286 Quando a atividade decorre a partir de instituições/organizações, o voluntariado é formal e integrado. 287 PORTUGAL. Resolução nº 62/2010 de 19 de julho. DR I Série, Nº 165, 25 de agosto de 2010, p.3696.

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- Associação Cristã Evangélica de Profissionais de Saúde (ACEPS-Portugal) – Organismo privado sem fins lucrativos, de cariz religioso - Evangélica e constituído por profissionais de saúde;

- Associação dos Médicos Católicos Portugueses (AMCP) – Organismo privado sem fins lucrativos, constituído por médicos e de cariz religioso - Católica; - Associação Médica Internacional (AMI) – ONG com estatuto jurídico de

Fundação, privada, apolítica e sem fins lucrativos;

- Associação dos Servitas de Nossa Senhora de Fátima (S.F.) – Associação pública de fiéis e de cariz religioso - Católica;

- Corpo de Voluntários da Ordem de Malta (CVOM) – Grupo de pessoas com diferentes tipos de formação que, de modo organizado, prestam assistência a peregrinos para lugares santos, respeitando os valores e os princípios da Ordem Soberana e Militar de Malta;

- Cruz Vermelha Portuguesa (CVP) – Instituição humanitária, não-governamental e de utilidade pública;

- Leigos para o Desenvolvimento (LD) – ONGD de cariz religioso - Católica; - Médicos do Mundo (MdM) – ONG de ajuda humanitária e cooperação para o

desenvolvimento.

O contacto com o corpo diretivo das referidas instituições/organizações foi estabelecido inicialmente através de carta de apresentação do estudo (Anexo III), no sentido de informar e solicitar a sua colaboração, quer na divulgação do estudo e na identificação de potenciais participantes, bem como no modo de colaboração.

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Às instituições/organizações que corresponderam ao apelo, foi enviada a indicação da hiperligação de acesso ao instrumento de colheita de dados, solicitando a sua divulgação aos voluntários, potenciais participantes, de modo a tornar possível o preenchimento do questionário online. Deu-se, assim, início à implementação do questionário.

Para além destes contactos institucionais foram também estabelecidos contactos, pessoalmente ou através de correio eletrónico, com enfermeiros e com médicos que sabíamos terem atividade de voluntariado na sua área profissional. Foi-lhes igualmente disponibilizada a hiperligação de acesso direto ao questionário e solicitado que, por sua vez, contactassem outros profissionais para o preenchimento do referido questionário.

Deste modo obtivemos uma amostra do tipo bola-de-neve através da qual, após a identificação de uma pessoa e a sua participação no estudo, solicitamos que, entre os seus pares, identificassem outra pessoa com as mesmas características e, essa por sua vez, contactasse outra(s) e assim sucessivamente, desde que cumprissem os critérios de inclusão.

Foi realizado o pré-teste, através da aplicação do questionário em suporte de papel e online, não tendo os mesmos sido incluídos na amostra.

Entretanto, foi também construída uma base de dados a partir das questões formuladas, para o registo de todas as respostas ao questionário e respetivo armazenamento dos dados em suporte informático. Nela incluímos cada uma das questões e todas as opções de resposta, única ou múltipla permitidas, de cariz numérico ou nominal. Para as respostas às questões abertas, possibilitou-se a utilização de texto livre para posterior tratamento através de análise de conteúdo.

O questionário online esteve disponível entre 23 de setembro de 2010 e 31 de maio de 2012. Neste período obtivemos o registo de 254 acessos, tendo sido excluídos 172, por

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terem efetuado apenas a abertura na hiperligação, verificando-se ausência total de respostas, ou por só responderem às questões de caracterização sociodemográfica e/ou profissional.

Foram ainda distribuídos questionários em suporte de papel às instituições/organizações que o solicitaram. Neste caso, foram prestados alguns esclarecimentos para que os profissionais apenas procedessem a uma das formas de preenchimento, de modo a evitar a duplicação de dados. Posteriormente, foram recolhidos os questionários preenchidos.

Os dados obtidos através da aplicação do questionário em suporte de papel foram, também, integralmente inseridos pela investigadora principal na mesma base de dados - SPSS -, como a seguir se explicará.

Após o encerramento de acesso à hiperligação e a recolha dos questionários preenchidos, a nossa amostra é constituída por 178 participantes, dos quais 82 por resposta online e 96 por resposta ao questionário em suporte de papel.

Cada questionário foi codificado, recorrendo a numerais cardinais como números de contagem, sendo ao primeiro atribuído o número 1 e ao último o número 178, precedidos da letra Q.

Como procedimentos éticos associados à aplicação deste instrumento de colheita de dados - questionário - tivemos em atenção o anonimato dos participantes. O anonimato dos dados recolhidos foi assegurado, ao não existir nenhum elemento identificativo dos participantes. A voluntariedade estava implícita, dado que apenas responderam ao questionário os participantes que concordaram com os objetivos e finalidade da investigação e pela impossibilidade de identificar quem não respondeu, tanto a nível informático como em papel. Os procedimentos éticos tidos em consideração serão adiante explorados.

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O questionário foi constituído por quatro partes essenciais, de modo a dar resposta aos objetivos propostos para esta etapa. Compreende:

- O primeiro grupo de questões, destinado à identificação de dados biográficos dos participantes: idade, sexo, estado civil e número de filhos;

- o segundo grupo, onde pretendíamos conhecer dados relativos às crenças religiosas dos participantes, foram considerados como “dados complementares de resposta facultativa”. Apesar de a maioria dos participantes ter respondido, decidimos não proceder ao seu tratamento estatístico, por serem considerados dados sensíveis pela Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD)288;

- o terceiro grupo incluiu questões para caracterizar o perfil profissional;

- o quarto e último grupo englobou questões relativas à atividade voluntária que o participante realiza e suas características: enquadramento legal, área geográfica onde o participante realiza a atividade voluntária, tempo de atividade no voluntariado e frequência do respetivo exercício, o modo como decorreu o contacto inicial para a atividade; as motivações para o exercício da atividade voluntária, as funções desempenhadas, as dificuldades com que se confronta no decurso da atividade e os aspetos positivos que advêm dessa mesma atividade voluntária.

288 PORTUGAL. Assembleia da República. Lei da proteção de dados pessoais. Lei nº 67/98 de 26 de outubro, Artigo 7º,

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3.3.1.2 - Tratamento da informação

A informação obtida através da aplicação do questionário, tanto pelo acesso direto online através da hiperligação, quanto em suporte de papel, utilizados nesta primeira etapa do estudo, foram guardados numa base de dados, com o recurso ao programa estatístico IBM SPSS Statistics version 21.

Para a análise dos dados quantitativos recorreu-se à estatística descritiva, que inclui as frequências absoluta e relativa, a determinação do desvio padrão, da média, da moda e da mediana para algumas das variáveis; também em algumas das variáveis recorremos a tabelas de referência cruzada. Os resultados são apresentados sob a forma de quadros e de modo descritivo.

No tratamento dos dados relativos à idade, ao tempo de atividade profissional e ao tempo de atividade no voluntariado estabelecemos classes de intervalos, ou seja, uma categorização em que os «intervalos entre os números são considerados como iguais»289 e

cujo valor real é parte integrante de um intervalo. Assim, para a idade, as classes têm intervalos de 10 anos, a partir de igual ou inferior a 25 anos até à idade igual ou superior a 66 anos; para o tempo de atividade profissional e o tempo de atividade no voluntariado, os dados foram agrupados em classes com intervalos de 5 anos, com início em 0 (zero) anos para os que ainda não completaram 1 ano na atividade, sendo que a última inclui os que exercem a atividade há 35 ou mais anos.

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No que se refere ao número de filhos, definimos seis categorias a partir do número 0 (zero), agrupando na última os participantes com 5 ou mais filhos.

A técnica utilizada para o tratamento dos dados qualitativos, obtidos através das respostas às questões abertas do questionário, foi a análise de conteúdo preconizada por Laurence Bardin. A autora define análise de conteúdo como «um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por procedimentos sistemáticos e objectivos de descrição do conteúdo das mensagens indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos»290. Consiste assim numa das técnicas de tratamento da

informação previamente obtida, que permite não só a identificação/descodificação do discurso dos participantes, escrito e verbal, mas também a «produção de um novo discurso através de um processo de localização-atribuição de traços de significação, resultando de uma relação dinâmica entre as condições de produção do discurso e as condições de produção da análise»291. Este implica trabalho prévio do investigador que consiste em

leituras dos discursos e na alocação dos resultados numa base de dados de acordo com a sua significação.

A primeira fase a que Bardin se refere, corresponde à pré-análise, ou seja, à leitura flutuante e a releituras para que se comece a organizar os dados obtidos e a identificar os domínios que emergem dos discursos. Na segunda fase, e após leitura em maior profundidade, a exploração dos dados é já alvo de alguma organização, o que torna possível a definição de categorias, a partir das unidades de análise. Estas integram as unidades de contexto que correspondem «ao segmento mais largo de conteúdo»292, as unidades de registo

290 BARDIN, L. - Análise de conteúdo, 2009, p.44. 291 VALA, J. - A Análise de conteúdo, 1990, p.104. 292 Idem, p.114.

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que são definidas como o «segmento determinado de conteúdo que se caracteriza»293 e se

aloca a uma categoria e as unidades de enumeração «em função da qual se procede à quantificação»294.

As unidades de registo agrupam-se assim em categorias e em subcategorias, constituídas em função do seu sentido, de acordo com a maior ou menor especificidade, isto é, as categorias têm um sentido mais abrangente e as subcategorias mais específico; as subsubcategorias têm um sentido ainda mais restrito. A constituição das subcategorias resulta da particularidade e do sentido das unidades de registo que integram a mesma categoria. A designação da subcategoria pode advir de dois critérios: códigos in vivo295 e códigos

deduzidos pelo investigador, definida em função do seu conhecimento sobre o fenómeno em estudo.

A análise de conteúdo pressupõe uma categorização que não introduza desvios no material recolhido, pelo que esta «tem como primeiro objectivo (…) fornecer, por condensação, uma representação simplificada dos dados em bruto»296, ou seja, deste modo

os dados obtidos e considerados como brutos, transformam-se em dados organizados, passíveis de ser interpretados e de se atribuir significado, permitindo assim a sua objetivação, como consequência da análise e da sua interpretação. Segundo Bardin, o método das categorias corresponde à «classificação dos elementos de significação constitutivos da mensagem»297. Assim, a categorização é «uma operação de classificação de elementos

constitutivos de um conjunto por diferenciação»298, de características comuns, e que se

293 VALA, J. - A Análise de conteúdo, 1990, p.114. 294 Idem, p.115.

295 Palavras utilizadas pelos participantes.

296 BARDIN, L. - Análise de conteúdo, 2009, p.146-147. 297 Idem, p.39.

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agrupam como tal. A cada um dos grupos, denominado por categoria, é atribuído um nome de acordo com o sentido das unidades de registo que a compõem.

Iniciamos então a análise dos dados pela leitura flutuante do conteúdo, de cada uma das três respostas abertas do questionário, individualmente, seguindo-se a sua leitura em

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