EMERGEM DA ATIVIDADE DE VOLUNTARIADO Benefícios para o outro Ganhos em saúde
Melhor qualidade de vida Satisfação do outro Benefícios para o próprio Dimensão pessoal Gratificação Enriquecimento humano Desenvolvimento Realização Enriquecimento profissional Satisfação profissional Reconhecimento de si Dimensão relacional
Interação com o outro Desenvolvimento de competências de relação Interajuda Dimensão afetiva Conforto pessoal Felicidade Reconhecimento pelo outro
Dimensão espiritual Recompensa espiritual Crescimento interior
Dimensão ética Solidariedade Solicitude Bem comum Gratuidade Cumprimento de dever Altruísmo Humildade Dimensão religiosa
O domínio TIPO DE ATIVIDADE DE VOLUNTARIADO DESENVOLVIDA, salienta o tipo
de atividades desenvolvidas pelos participantes no âmbito do voluntariado, tendo emergido as categorias: Cuidados de Saúde, Gestão, Apoio psico-emocional e espiritual,
Formação, Angariação e distribuição de bens e Indiferenciada.
O domínio MOTIVAÇÕES PARA A ATIVIDADE DE VOLUNTARIADO é outro dos
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participantes emergiram três categorias: Eu, Outro e Transcendente e, destas categorias, diversas subcategorias.
No terceiro domínio, ASPETOS POSITIVOS QUE EMERGEM DA ATIVIDADE DE VOLUNTARIADO, igualmente estabelecido a priori, emergiram as categorias Benefícios para o outro e Benefícios para o próprio, que integram as diferentes dimensões da Pessoa
Humana.
Para melhor compreensão da análise efetuada passamos a descrever cada domínio separadamente.
Em cada uma das categorias e subcategorias é referido apenas o número de unidades de registo, identificadas como unidades de enumeração, com origem nos discursos escritos produzidos na resposta à questão aberta a que se reportam. Apresentamos apenas, a título de exemplo, algumas unidades de registo que serão identificadas ao longo do texto com a letra Q, seguindo-se o número de codificação do respetivo questionário a que esse conteúdo corresponde. Em anexo (IV), apresentamos a descrição de todas as unidades de registo que, por sua vez, se integram em cada categoria, subcategoria e/ou subsubcategoria.
O quadro 14 apresenta o domínio TIPO DE ATIVIDADE DE VOLUNTARIADO DESENVOLVIDA e respetiva categorização com indicação das unidades de enumeração.
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Quadro 14 - Categorias do Domínio: Tipo de atividade de voluntariado desenvolvida
Categoria Subcategoria Unidades de enumeração
Cuidados de saúde
Cuidados de enfermagem 89
Assistência médica 54
Educação para a saúde 13
Intervenção na comunidade 12
Intervenção pré-hospitalar 10
Gestão 27
Apoio psico-emocional e espiritual 17
Formação 14
Angariação e distribuição de bens 7
Indiferenciada 16
Neste domínio emergem seis categorias, que descrevem o tipo de intervenção dos participantes no decorrer das atividades de voluntariado que realizam, tal como apresentado no quadro 14: Cuidados de saúde, Gestão, Apoio psico-emocional e espiritual,
Formação, Angariação e distribuição de bens e Indiferenciada.
Na categoria Cuidados de saúde emergem as subcategorias Cuidados de enfermagem, Assistência médica, Educação para a saúde, Intervenção na comunidade e Intervenção pré-hospitalar.
Na subcategoria Cuidados de enfermagem incluem-se as atividades intrínsecas à profissão de enfermagem, expressas em oitenta e nove unidades de registo, tais como a
“Realização de tratamentos, administração de medicação, massagem” (Q61); “(…) ligadas ao
exercício profissional de enfermagem” (Q39); “Prestação de cuidados de enfermagem aos
peregrinos de Fátima” (Q137).
A subcategoria Assistência médica emerge de cinquenta e quatro unidades de registo que referem atividades diretamente ligadas ao exercício da medicina, sendo delas exemplo
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a “Prestação de serviços médicos aos fins-de-semana” (Q101);“Nas peregrinações como médica” (Q114);“Como médico, atender e tratar os doentes que nos procuram” (Q159).
Na subcategoria Educação para a saúde são mencionadas diferentes atividades de informação e de formação aos utentes, relacionadas com a promoção da saúde e com a prevenção de comportamentos de risco, tal como expresso nas treze unidades de registo, entre elas: “Promoção de comportamentos saudáveis e postura que evite exposição a riscos” (Q16);
“(…) ações de formação para a saúde” (Q51); “Apoio em conteúdos de saúde em panfletos e
divulgação na página da internet” (Q29).
Na subcategoria Intervenção na comunidade as doze unidades de registo referem- se essencialmente a ações de apoio à comunidade, tais como: “Rastreios de Hipertensão e
Diabetes” (Q79)e, entre outras atividades, as “(…) visitas domiciliárias” (Q174).
Na subcategoria Intervenção pré-hospitalar foram mencionadas atividades relacionadas com o socorro e a emergência fora do contexto hospitalar de que são exemplos:
“Socorro em ambulâncias de emergência” (Q69)ou “Socorrista/enfermeira” (Q45).
Na categoria Gestão, os participantes referiram a realização de diferentes atividades relacionadas com a gestão e a liderança de equipas, com a gestão de recursos materiais, ou até mesmo enquanto membros de órgãos de direção de instituições/organizações, tal como é objetivado em algumas das vinte e sete unidades de registo: “(…) responsável pela
consulta/serviço de enfermagem disponibilizado a dadores e familiares” (Q86); “Coordenação geral
e de projetos” (Q174); “Participação na organização de eventos de desporto adaptado” (Q32) ou
mesmo a “Direção dos bombeiros” (Q171). Direta ou indiretamente, estas funções correspondem a atividades enquadradas no âmbito das suas profissões, independentemente de corresponderem a funções habitualmente desempenhadas nesse contexto.
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No entanto, foram ainda referidas outras atividades, que integramos nas categorias que passamos a descrever.
Na categoria Apoio psico-emocional e espiritual emergem dezassete unidades de registo, em que os participantes referem intervenções no âmbito do acompanhamento, do acolhimento e do apoio de cariz psico-emocional, espiritual ou até mesmo religioso, a pessoas em situação de internamento hospitalar ou em instituições para terceira idade, entre outras. São exemplo as unidades de registo: “Visita e diálogo com o doente”(Q33); “(…) apoio
psico-emocional às pessoas de mais idade institucionalizadas em «lares de idosos»” (Q170) ou até
mesmo “Estabelecimento de relações de amizade e confiança com adolescentes e jovens, durante a
sua permanência na sede da associação, onde desenvolvem diversas atividades” (Q16).
Quanto à categoria Formação, que emerge dos discursos dos participantes, revela as atividades com enfoque na ação formativa, quer a voluntários quer a outros elementos ou grupos externos à instituição/organização em que estão integrados. Mencionamos, como exemplo, a “Coordenação de ações e cursos de formação” (Q150); “(…) formador (…) responsável
pela formação dos voluntários” (Q60)e como “Formação humana e cristã” (Q64).
A categoria Angariação e distribuição de bens, emerge dos relatos dos participantes em sete unidades de registo, em que são referidas atividades focadas essencialmente no contacto com instituições, na distribuição de alimentos ou até mesmo em campanhas de angariação de bens materiais ou alimentares e a sua posterior distribuição a pessoas carenciadas. São delas exemplo a “Angariação de fundos” (Q176);“Distribuição de alimentos aos
utentes em tratamentos/consultas/análises clínicas” (Q162) ou a “(…) distribuição de géneros
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Emergiu ainda uma outra categoria, que denominamos por Indiferenciada, que integra dezasseis unidades de registo de diversas ordens e pouca especificidade. Apesar de nem sempre estarem diretamente relacionadas com a profissão, foram aqui integradas pois são complemento de outras atividades realizadas no âmbito profissional. Entre essas, “(…)
quando necessário também desempenho outros serviços indiferenciados” (Q131);“(…)preparação
de campanhas, montagem e desmontagem de campo” (Q5).
Partimos para outro domínio, MOTIVAÇÕES PARA A ATIVIDADE DE VOLUNTARIADO
(Quadro 15), onde são apresentadas as diversas motivações que subjazem às ações de voluntariado dos participantes.
Quadro 15 - Categorias do Domínio: Motivações para a atividade de voluntariado
Categoria Subcategoria Unidades de enumeração
Eu
Enriquecimento humano 20
Gosto pela atividade 18
Bem-estar pessoal 8 Ser útil 8 Realização profissional 8 Desenvolvimento profissional 4 Exercer a profissão 3 Partilhar 15 Relação interpessoal 11 Dar 11 Sentido de missão 3 Pertença a instituição/organização 7 Desemprego 1 Outros 11 Outro Ajuda 59 Serviço 12 Amor 4 Solidariedade 15 Responsabilidade social 16
Resposta à necessidade de cuidados 10
Disponibilidade 9
Altruísmo 5
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Neste domínio, e partindo da análise de conteúdo dos discursos escritos, emergem as categorias Eu, Outro e Transcendente, que agregam os motivos-chave para que os participantes realizem atividades de voluntariado.
Na categoria Eu convergem as motivações de cariz pessoal que orientam a ação do participante para a atividade de voluntariado. Aqui emergem catorze subcategorias, denominadas por Enriquecimento pessoal, Gosto pela atividade, Bem-estar pessoal, Ser útil, Realização profissional, Desenvolvimento profissional, Exercer a profissão, Partilhar, Relação interpessoal, Dar, Sentido de missão, Pertença a instituição/organização, Desemprego e Outros.
A subcategoria Enriquecimento humano emerge de unidades de registo que revelam a necessidade dos participantes em adquirir novas experiências como contributo para o crescimento e o enriquecimento de si próprios como seres humanos. São delas exemplo,
“Aprender a estar e a ouvir junto dos que se encontram mais frágeis e assim ter a noção da minha
fragilidade” (Q31); “(…) crescimento pessoal; potenciar capacidades/competências” (Q80) e
“Experiência muito enriquecedora do ponto de vista humano” (Q168).
A subcategoria Gosto pela atividade é constituída por relatos que mencionam a escolha dos participantes por atividades com as quais se identificam ou lhes dão prazer, tal como expresso nas unidades de registo, entre elas: “Sinto afinidade específica com este
voluntariado e motivação para o fazer” (Q112); “Gosto imenso de dar apoio a idosos e doentes”
(Q119).
Quanto à subcategoria Bem-estar pessoal, este é demonstrado nas unidades de registo tais como “É bom para a saúde mental e física” (Q156) e “(…) é para me sentir bem” (Q169).
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A subcategoria Ser útil emerge da manifestação de sentimento de utilidade dos participantes para com os outros. É expresso em unidades de registo como a “(…) necessidade
de fazer alguma coisa útil pelo nosso próximo” (Q40) ou “Ser útil pessoal e profissionalmente” (Q165).
Na subcategoria Realização profissional a prática profissional, a necessidade de realização profissional e até mesmo o ambiente profissional que envolve a atividade de voluntariado, emergem como motivações, como ilustram as unidades de registo: “Gosto pela
profissão que tenho” (Q70); “Dar (…) a capacidade profissional na ajuda a crianças com problemas
mentais e dificuldades de aprendizagem” (Q85); “Trabalho profissional num ambiente onde todas as
pessoas vêm por gosto o que torna a atividade descontraída” (Q98).
A subcategoria Desenvolvimento profissional emerge de unidades de registo, tais como “Enriquecimento (…) profissional” (Q146) ou “(…) gosto de trabalho imaginativo com
recursos difíceis recursos humanos, materiais, ambientais, culturais” (Q165), que nos sugerem a
necessidade pessoal de desenvolver competências profissionais.
Na subcategoria Exercer a profissão as unidades de registo expressam a motivação do participante em intervir no âmbito da sua profissão, concretamente através da prestação de cuidados de enfermagem dado que “Na minha atividade de companhia de seguros, não estou
a prestar cuidados (…) tive necessidade de voltar a praticar enfermagem e assistir os peregrinos em
Fátima” (Q121).
A subcategoria Partilhar emerge de expressões dos participantes, focadas no intercâmbio de conhecimentos, de competências profissionais, na interação com o próximo, seja ele colega no voluntariado ou utente, tal como são exemplo as unidades de registo:
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de partilhar com outros "o dar"” (Q85)ou ainda “Trata-se de uma necessidade de retribuir alguma
da experiência e conhecimentos adquiridos ao longo da vida” (Q155).
A Relação interpessoal é também uma das subcategorias que emerge de relatos sobre as motivações para a atividade de voluntariado, baseadas na relação que se estabelece com os pares e com os beneficiários da ação de voluntariado. Emerge de unidades de registo, tais como: “(…) a possibilidade de passar algum tempo com os outros e comigo própria sem pressões
de tempo e institucionais” (Q105);“(…) gosto muito do contacto com pessoas, particularmente com
pessoas doentes” (Q164).
Na subcategoria Dar, é notória a intenção do participante em atribuir um caráter gratuito à atividade, quer seja pela ausência de remuneração, quer seja através da dádiva de tempo ou de competências profissionais em função do bem do outro. São dele exemplo as unidades de registo: “(…) dar um pouco do que sei e posso fazer a quem necessita” (Q28); “Vontade
de ajudar gratuitamente” (Q87) ou“Dar aos outros algum tempo em cuidados de saúde” (Q153).
Emerge ainda a subcategoria Sentido de missão que impele o participante para a atividade, mencionado nas unidades de registo: “Sentido de missão”(Q148) e “(…) a minha
Missão” (Q178).
A Pertença a instituição/organização emerge como subcategoria em virtude da afinidade dos participantes pelo tipo de atividades que as instituições levam a efeito, nas quais estão inseridos ou que de alguma forma colaboram. Esta motivação é mencionada em sete unidades de registo tais como “(…) a associação a uma organização internacional e aos seus
valores e princípios” (Q11) ou “A necessidade decorrente do meu envolvimento nas
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O Desemprego é outra das motivações identificada por um participante, tendo sido esta a condição que originou a sua integração na atividade de voluntariado, tal como é referida na unidade de registo “Desemprego” (Q52).
Na subcategoria denominada por Outros emerge de unidades de registo que espelham a motivação pessoal de alguns participantes para o voluntariado, tais como a
“Paixão” (Q72); a “Motivação profissional, religiosa e social” (Q79) ou a que é referida como sendo “De carácter pessoal” (Q116).
A categoria Outro emerge das expressões dos participantes que relatam que, na origem da atividade de voluntariado, estão motivações orientadas para um ‘outro’, o beneficiário do seu agir. A partir da análise de conteúdo dos discursos, identificamos oito subcategorias: Ajuda, Serviço, Amor, Solidariedade, Responsabilidade social, Resposta à necessidade de cuidados, Aproximação e Altruísmo.
As três primeiras subcategorias, ajuda, serviço e amor poderão, à primeira impressão, parecer semelhantes. No entanto, pelo sentido de cada unidade de registo ou de unidade de contexto identificadas no discurso dos participantes, atribuímos significados diferentes aos termos que dão origem às respetivas subcategorias, sugerindo-nos o que está perto de si, se dedica e a quem, pela sua presença, dirige o seu olhar, a sua atenção, cuidando-o.
Na subcategoria Ajuda, o foco para a ação do participante está centrado na ajuda a um outro, com o objetivo de promover o seu bem ou de o proteger na fragilidade que experiencia. Constituem como exemplos, entre as cinquenta e nove unidades de registo:
“Ajudar pessoas com necessidades de cuidados de saúde” (Q15); “A necessidade de poder com a
minha formação ajudar os outros” (Q132); “O gostar de ajudar os mais necessitados, os mais
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A subcategoria Serviço emerge de unidades de registo, nas quais os participantes expressam que se envolvem nas fragilidades manifestadas por um outro, colocando-se ao seu serviço e dirigindo-lhe atenção. Aplicam o seu saber, as suas habilidades e competências, pessoais e profissionais, na direção desse mesmo outro, tal como são exemplo as unidades de registo: “Colocar os conhecimentos e formação profissional ao serviço do outro” (Q150); “Serviço ao próximo” (Q3)e “Servir o Próximo, ajudando em vários aspetos” (Q160).
A subcategoria Amor emerge de discursos de participantes que referem, como motivo pelo qual desenvolvem a atividade, o amor que têm pelo outro. Este amor impele-os a pensar na intensa e franca dedicação a um outro, que é considerado pelo participante como um próximo de si, com quem se identificaram ou expressaram necessidades, dedicando-se com a sua atenção e cuidados. São exemplo as unidades de registo: “Amar o próximo
independentemente da sua situação social” (Q9); “Amor e atenção ao outro” (Q33)e “Amor pelos
jovens” (Q175).
A subcategoria Solidariedade apresenta-se como valor que subjaz à motivação dos participantes para a atividade, como meio para minimizar o sofrimento do outro e para corresponder às suas necessidades. Emerge de unidades de registo, que mencionam o termo que deu origem a esta subcategoria, tais como: “(…) ser solidário deve ser um dever de todos” (Q28);“Espírito de solidariedade” (Q129) ou até mesmo “Por na altura a instituição não ter os
meios disponíveis para continuidade de cuidados” (Q138).
Na subcategoria Responsabilidade social, que emerge de dezasseis unidades de registo, os participantes relatam a necessidade do seu envolvimento na sociedade, enquanto cidadãos, no sentido da responsabilidade social e da promoção da pessoa. São exemplo as
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unidades de registo: “(…) exercício de cidadania” (Q50);“A responsabilidade para com os outros” (Q82) e “Poder auxiliar no bem-estar da comunidade” (Q167).
A subcategoria Resposta à necessidade de cuidados espelha a importância que os participantes atribuem à realização da atividade pela necessidade de cuidados ou de apoio ao outro, identificada por si ou pela instituição/organização, e é mencionada em dez unidades de registo, tais como: “A real necessidade dos mais desfavorecidos” (Q2); “É absolutamente
necessário” (Q55) e a “Necessidade de apoio (não há outra forma de apoiar estas pessoas que
necessitam)” (Q98).
Quanto à subcategoria Aproximação, esta emerge do discurso de alguns dos participantes, quando referem a necessidade de se aproximarem a um outro, com disponibilidade, empenho pessoal e profissional, face à fragilidade em que esse outro se encontra. São exemplo as unidades de registo: “Dar um pouco de mim ao outro”(Q30);“A graça
da alegria/disponibilidade/empatia das famílias em que me envolvo e que com elas traço objetivos
em comum” (Q108) ou “A medicina é uma maneira de nos disponibilizarmos a cuidar dos doentes
que nos procuram” (Q159).
A subcategoria Altruísmo, advém de relatos que expressam o esquecimento de si próprio e a dedicação incondicional ao outro, como norma para o agir; está expresso em unidades de registo como o “Altruísmo” (Q76); “Para sair do nosso egoísmo” (Q122) e “Porque
ao fazê-lo estou a dar-me aos outros” (Q164).
Como motivação para a atividade de voluntariado surge ainda a categoria
Transcendente. Esta decorre de relatos que evidenciam a relação dos participantes com uma
entidade divina, mas também como seres espirituais na relação consigo próprio e com os outros, tendo emergido as subcategorias Motivações religiosas e Enriquecimento espiritual.
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A subcategoria Motivações religiosas emerge de unidades de registo onde os participantes apresentam referências quer a Deus, quer à Igreja, quer ainda a Nossa Senhora como entidades impulsionadoras para a ação. Alguns dos participantes parecem pretender, com o contributo da sua ação de voluntariado, atingir a sua aproximação ao transcendente, como que correspondendo a um chamamento divino para a intervenção solidária num outro. Constituem como exemplo as unidades de registo: “Colocar ao serviço de Deus os dons que me
foram confiados” (Q111); a“Convicção do que Deus quer da minha vida” (Q78); “Seguir o exemplo
de Jesus” (Q9); ou o “Serviço ao Santuário de Fátima. Oferta de 4 dias de trabalho/ano à Igreja”
(Q90).
Na subcategoria Enriquecimento espiritual percebemos que a motivação para a atividade de voluntariado tem raiz na dimensão espiritual do voluntário, no sentido do seu desenvolvimento e da sua complementaridade nesta dimensão do ser humano. São dela exemplo, entre as unidades de registo: o “Complemento interior pessoal” (Q14); o“Crescimento
e experiência interior” (Q93); ou porque “(…) só ajudando o outro, só ajudando as pessoas que se
encontram vulneráveis com necessidades é que espiritualmente me sinto realizada” (Q169).
Na análise deste domínio no seu todo, as motivações que estão na base das ações e atitudes enquanto profissionais no âmbito de voluntariado e que acabamos de apresentar, parecem transparecer a necessidade de realização pessoal, profissional e espiritual para o agir. A ação surge também do confronto com as necessidades identificadas na comunidade e/ou instituições, fatores impulsionadores para colocarem ao serviço dos outros as suas competências pessoais e profissionais.
O terceiro domínio também definido a priori, ASPETOS POSITIVOS QUE EMERGEM DA ATIVIDADE DE VOLUNTARIADO, decorre da resposta a uma questão colocada aos
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participantes, solicitando a referência ao que considerem como positivo com a atividade realizada. Os resultados são apresentados no Quadro 16.
Quadro 16 - Categorias do Domínio: Aspetos positivos que emergem da atividade de voluntariado
Categoria Subcategoria Subsubcategoria Unidades de enumeração Benefícios
para o outro
Ganhos em saúde 14
Melhor qualidade de vida 7
Satisfação do outro 6 Benefícios para o próprio Dimensão pessoal Gratificação 50 Enriquecimento humano 32 Desenvolvimento 22 Realização 18 Enriquecimento profissional 26 Satisfação profissional 5 Reconhecimento de si 4 Dimensão relacional
Interação com o outro 28
Desenvolvimento de competências de relação 26 Interajuda 5 Dimensão afetiva Conforto pessoal 20 Felicidade 13
Reconhecimento pelo outro 10
Dimensão espiritual Recompensa espiritual 11
Crescimento interior 9 Dimensão ética Solidariedade 22 Gratuidade 10 Solicitude 10 Bem comum 10 Cumprimento de dever 8 Altruísmo 6 Humildade 1 Dimensão religiosa 16
Emergem neste domínio duas categorias, uma relacionada com os benefícios da ação no outro e a outra como repercussão positiva centrada no próprio participante.
A categoria Benefícios para o outro surge de relatos dos participantes que transmitem que o seu agir, como voluntário, tem consequências positivas para os outros.
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Emergem três subcategorias Ganhos em saúde, Melhor qualidade de vida e Satisfação do outro.
Na subcategoria Ganhos em saúde as unidades de registo emergem de relatos que, segundo a perspetiva dos participantes, a sua intervenção contribui para melhoria das condições de saúde dos beneficiários, sendo delas exemplo: “Saber que houve alguém que
beneficiou dos meus cuidados” (Q9); “Satisfação por ver que com a ajuda prestada existem ganhos
para os utentes” (Q77) ou ainda “(…) para além de às vezes salvarmos vidas” (Q71).
A subcategoria Melhor qualidade de vida emerge de unidades de registo que relatam de situações em que, da intervenção dos participantes, resulta a efetiva melhoria da qualidade de vida, individual ou familiar do outro, beneficiário da sua ação. São delas exemplo: “Alguns
jovens (…) estão integrados nas atividades da associação, tendo saído da rua, e abandonado
práticas maléficas e de risco” (Q16) ou “(…) ajuda e contributo para uma melhor qualidade de vida
e um futuro diferente e melhor” (Q163).
Quanto à subcategoria Satisfação do outro, os relatos transmitem manifestações de satisfação e de felicidade nos beneficiários da ação, tais como são exemplo as unidades de