• Nenhum resultado encontrado

A Prática da Pedagogia Adventista

No documento Francisco Luiz Gomes de Carvalho (páginas 125-129)

Desde o início das sistematizações filosóficas que fundamentam a educação adventista a preocupação primordial foi orientar as práticas educacionais, de modo que estas estivessem dirigidas pelas concepções teórico-metodológicas defendidas pela denominação eclesiástica. Para que se efetivem de fato, as práticas educacionais adventistas pressupõem a existência de agências educativas, como também ambientes formais de aprendizagem.

Mesmo considerando a existência de outras agências educativas no contexto social, a educação adventista privilegia a família, igreja e o sistema educacional como sendo

[...] ambientes privilegiados para o ensino e promoção dos valores bíblicos, podendo funcionar como espaço para se questionar os valores secularizados fortemente promovidos pela sociedade (DSAIASD, 2009, p. 47).

Recai sobre o sistema educacional a estruturação de todos os níveis de ensino, como também a orientação de todos os envolvidos na condução da educação formal oportunizada nas instituições educacionais adventistas.

Como este trabalho pesquisa o Ensino Superior da educação adventista, interessa-nos neste tópico considerar aqueles elementos constantes do espaço escolar como ambiente formal de aprendizagem, relacionando-os ao nível educacional em questão, a fim de que seja possível apreendermos a lógica inerente, as intencionalidades e as estratégias envolvidas no processo ensino-aprendizagem empreendidas nas instituições educacionais adventistas.

Se a pretensão é orientar o ambiente e as atividades com a finalidade de influenciar os estudantes com a cosmovisão bíblico-cristã, isto certamente é percebido desde a ―[...] elaboração de rotinas da sala de aula e outras atividades relacionadas ao lazer, à cultura e ao estudo da Bíblia‖ (DSAIASD, 2009, p. 49). Desta maneira, e além dos objetivos educacionais gerais espera-se que o estudante ao completar o Ensino Superior em uma instituição adventista seja capaz de entre outras coisas:

[...] entregar-se a Deus e, como consequência, viver uma vida de acordo com Sua vontade, apoiando a mensagem e a missão da igreja [...] responder ao chamado de Deus na seleção e exercício de uma carreira ou profissão, contribuindo para o desenvolvimento de uma sociedade livre, justa e produtiva (RASI, 2001, p. 06).

Como a prática educacional passa estreitamente pelos docentes em suas relações pedagógicas com os discentes, desde cedo há uma preocupação com a formação dos docentes que não alinhados com as orientações da pedagogia adventista podem veicular teorias e concepções avessas às premissas e objetivos da educação adventista. No imaginário47 administrativo esta preocupação se faz notar, desde os tempos de vida de Ellen G. White, pois alertava ela que:

47

O termo é tomado neste texto com a finalidade de indicar a existência de um acervo cultural de imagens que o ser humano produz, e que além delinear seu trajeto antropológico evidencia a influência simbólica de imagens e representações que antecede e transcende as atividades da consciência do pensamento humano. Para aprofundar questões referentes ao imaginário, consulte: DURAND, Gilbert. As estruturas antropológicas do imaginário. São Paulo: Martins Fontes, 2001; LE GOFF, Jacques. O imaginário medieval. Portugal: Editorial Estampa, 1994. Para uma indicação de alguns textos sobre imaginário e educação acesse:

[...] alguns, tendo adquirido essa educação secular, pensam que podem introduzi-la em nossas escolas. Permiti-me dizer-vos, porém, que não deveis tomar o que o mundo chama de educação superior e trazê-lo para dentro de nossas escolas, hospitais e igrejas. Precisamos compreender estas coisas. Falo categoricamente para vós. Isso não deve ser feito (WHITE, 2007, 536).

Dentre outras coisas, no sistema educacional adventista o docente é tido como um ―representante de Deus, como embaixador das verdades eternas, fazendo-se necessário refletir sobre sua influência no ministério de reconciliação do estudante com Deus‖ (DSAIASD, 2009, p. 62). Neste sentido, White (2007, p. 519) indica que: ―Quando os professores procurarem de todo o coração introduzir corretos princípios na obra educacional, anjos de Deus estarão presentes para causar impressões no coração e mente‖.

No que se refere à organização e seleção do programa de estudos e como se visa uma determinada formação, propugna-se que além de dominar sua área de conhecimento o docente entenda que o planejamento desse programa se dá numa parceria institucional para que, no programa de estudos sejam os

[...] conteúdos programáticos [...] selecionados sem perder de vista os objetivos educacionais amplos e os objetivos específicos de cada área de conhecimento [...] permeados de valores e ideologias, dizem respeito aos conceitos, procedimentos e atitudes que se deseja ver no desenvolvimento integral do educando (DSAIASD, 2009, p. 68).

Desta maneira, afirma-se que os objetivos educacionais a serem alcançados pela educação adventista estão intimamente relacionados à elaboração e seleção do programa de estudos, de modo que ―[...] o estudo das ciências, dos problemas contemporâneos e dos contextos culturais globais e locais tem espaço [...] (DSAIASD, 2009, p. 69), e os mesmos sejam tratados majoritariamente à luz da cosmovisão bíblica. A respeito desta relação, encontra-se nos escritos de Ellen G. White uma afirmação que é evocada para fundamentar a formulação exposta acima. Diz ela que:

A ciência está sempre a descobrir novas maravilhas; mas nada traz de suas pesquisas que, corretamente compreendido, esteja em conflito com a revelação divina. O livro da natureza e a palavra escrita lançam luz um sobre o outro. Familiarizam-nos com Deus, ensinando-nos algo das leis cujo meio Ele opera (WHITE, 1996, p. 128).

O controle institucional e sua constante operacionalização na organização e seleção dos conteúdos programáticos mostra-se necessário porque pela exposição de tais conteúdos, como também pela utilização de livro-textos será possível possibilitar ―[...] abrir espaço para

discussões relevantes que levem a turma a perceber o entorno social com visão crítico-cristã [...]‖ (DSAIASD, 2009, p. 85).

No que se refere à adoção de livros que possam conter ideologias que diferem da pedagogia adventista, White (2007, p. 517) aconselha: ―O Senhor espera que nossos professores excluam de nossas escolas os livros que ensinam conceitos que não estão de acordo com Sua Palavra, e dêem lugar aos livros do mais alto valor [...]‖. Isto contribui para uma realidade que Bourdieu (2009, p. 218) indica quando afirma que ―[...] cada formação escolar tende naturalmente a trancar-se em um universo autônomo e autárquico‖.

No desencadear de suas relações pedagógicas o docente na educação adventista deve permear a sua metodologia a fim de privilegiar a centralidade da Bíblia, favorecendo uma pretendida integração fé e ensino, sem, contudo, desprezar a excelência acadêmica, primando pelo estímulo ao espírito de investigação, reflexão e criatividade com vistas à progressão na abordagem e aprofundamento do conteúdo.

Os princípios metodológicos que devem nortear as práticas educacionais precisam se

pautar pela clareza e objetividade no processo de ensino, considerando ao longo do processo os conhecimentos adquiridos e as experiências vividas pelos estudantes, para que os mesmos possam relacionar teoria-prática a fim de que haja a consolidação dos conhecimentos, tornando-os permanentes.

Sendo que os estudantes recebem uma formação fortemente marcada pelas premissas da confessionalidade adventista, podemos indicar que quanto mais tempo passarem sob estas regulações, maior será a probabilidade de receberem um conjunto de esquemas fundamentais que atuarão como critérios seletivos para aprendizagens futuras. Nesta esteira de análise, Bourdieu (2009, p. 209) esclarece-nos que:

De fato, pode-se supor que cada sujeito deve ao tipo de aprendizagem escolar que recebeu um conjunto de esquemas fundamentais, profundamente interiorizados, que servem de princípio de seleção no tocante às aquisições ulteriores de esquemas [...].

Atentos aos diversos aspectos abordados neste tópico, é notório enfatizar que este sistema educacional objetiva como fim último lançar os elementos que auxiliem na constituição de um consenso cultural, segundo o qual os estudantes apresentem ―espíritos modelados‖, de modo que encontrem-se ―[...] predispostos a manter com seus pares uma relação de cumplicidade e comunicação imediatas‖(BOURDIEU, 2009, p. 206).

Entende-se que as práticas educacionais empreendidas no modelo educacional em questão, se apresentam configuradas numa moldura sinalizada por amplas orientações para que o ideal proposto seja constantemente perseguido por meio das mais diversas estratégias. Estratégias estas que, no contexto escolar significam essencialmente

[...] toda a organização de sala de aula que vise a facilitar a aprendizagem do aluno, abrangem a arrumação dos móveis na classe, o material a ser utilizado [...]. Numa palavra, incluem todas as atividades que serão pedidas aos alunos, e as do professor que serão necessárias para iniciar, organizar, complementar ou sintetizar as atividades dos alunos, tendo em vista sua aprendizagem (ABREU; MASETO, 1990, p. 50).

Sem dúvida, as práticas educacionais compõem a cultura escolar e, no caso do modelo educacional confessional elas marcam acentuadamente a vida escolar, também o campus universitário adventista, a fim de estabelecer as bases na qual certamente seja possível perceber que ―a cultura do campus será permeada por uma espiritualidade prazenteira (RASI, 2001, p. 4).

Neste momento é oportuno relatarmos que a prática da pedagogia adventista ganha contornos mais definidos no processo de integração fé e ensino que parte da idealidade para a concretude escolar, e é verificado mais plenamente no magistério das disciplinas que compõem o eixo de Ensino Religioso ofertado na formação de nível superior, afinal de contas assevera-se que o Ensino Superior adventista é sustentado por raízes missiológicas.

No documento Francisco Luiz Gomes de Carvalho (páginas 125-129)