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4 O JUDICIÁRIO NO CONJUNTO DOS ARTIGOS DOS CBAS

4.3 A PRÁTICA PROFISSIONAL NAS VARAS DE EXECUÇÃO

A prisão, aparelho de punição por privação da liberdade nas sociedades capitalistas, se baseia no princípio de menor elegibilidade: as condições de vida na prisão devem ser piores do que as da classe trabalhadora mais inferior.

(Juarez Cirino dos Santos)

Uma primeira questão debatida pelos trabalhos separados nesta seção é o acesso à justiça. Este sem dúvida é um tema caro para pensar os mecanismos de democratização do próprio judiciário. Sendo assim, um dos artigos estudados parte da ideia de imaginário social presente nas “mediações operacionais que permeiam os discursos jurídicos e os imaginários dos agentes envolvidos nas práticas cotidianas do Direito, múltiplas representações sociais” (CBAS 2001, 151, p. 1) e seus rebatimentos para o Serviço Social. Desta forma,

[...] analisar as relações entre as práticas cotidianas do direito, o papel que jogam os

123 imaginários no discurso dos operadores do direito e dos sujeitos sociais que vivenciam a prática jurídica nas suas interconexões com a prática do assistente social constitui tarefa desafiadora. Torna-se necessário compreender como funcionam tais discursos e como se transformam ao longo dos embates processuais e até que ponto expressam o real (CBAS 2001, 151, p. 1).

Tal questão é importante para pensarmos como o assistente social assume tais discursos no momento em que realiza a sua intervenção, sobretudo nos espaços no qual ele terá que emitir um parecer sobre determinado comportamento familiar ou ainda sobre determinado sujeito que transgrediu uma norma jurídica. Isso porque, segundo a reflexão trazida no exerto acima, tais discursos podem, de certa maneira, gerar tendências que virão rebater nas decisões judiciais. Ainda no mesmo trabalho o autor reproduz alguns exemplos para ilustrar:

‘Ela própria já confessou que já cumpriu pena no reformatório penal... Pela ré viver no meio em que vive, entre marginais... Diga-me com quem tu andas que eu te direi quem és...’ (CINCO ANOS DE RECLUSÃO POR TRÁFICO DE DROGAS) ‘Mãe solteira que pega carona à noite não é dama respeitável...’ (UM DOS ARGUMENTOS PARA

NEGAR DECISÃO DE LIBERDADE

CONDICIONAL) (CBAS 2001, 151, p. 1).

Esses fatores também rebatem na prática profissional do assistente social. Em primeiro lugar porque ele não está imune aos julgamentos morais e da ideia de dever-ser sobre o modo como os sujeitos atendidos organizam a sua vida. Segundo, porque ele também é, muitas vezes, o responsável por reconstruir a história do sujeito, seja por meio do estudo social ou mesmo pelo seu parecer técnico.

Nesta direção novamente a questão da mediação está presente em nossa reflexão para pensarmos as formas de conexão entre a totalidade no âmbito macrossocial e os processos microssociais que compõem tanto o cotidiano profissional, quanto o cotidiano do usuário e as formas com as quais este se apresenta diante desta instituição jurídica.

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A intervenção profissional também está pautada na execução penal e tipificada na Lei n° 7.210 de 1984, sobretudo nos artigos 22 e 23, com o seguinte texto:

Art. 22. A assistência social tem por finalidade amparar o preso e o internado e prepará-los para o retorno à liberdade.

Art. 23. Incumbe ao serviço de assistência social:

I - conhecer os resultados dos diagnósticos ou exames;

II - relatar, por escrito, ao Diretor do estabelecimento, os problemas e as dificuldades enfrentadas pelo assistido;

III - acompanhar o resultado das permissões de saídas e das saídas temporárias;

IV - promover, no estabelecimento, pelos meios disponíveis, a recreação;

V - promover a orientação do assistido, na fase final do cumprimento da pena, e do liberando, de modo a facilitar o seu retorno à liberdade; VI - providenciar a obtenção de documentos, dos benefícios da Previdência Social e do seguro por acidente no trabalho;

VII - orientar e amparar, quando necessário, a família do preso, do internado e da vítima.

No estabelecimento prisional o órgão comumente

responsável em promover a assistência social ao preso é denominado de Setor Social, composto por profissionais de diversas áreas como: psicologia, serviço social, medicina, pedagogia e demais profissionais dependendo da instituição, bem como agentes prisionais. E neste âmbito uma das atribuições do assistente social é também “orientar e amparar, quando necessário, a família do preso, do internado e da vítima”, ou em outras palavras contribuir para a manutenção e/ou resgate do vínculo familiar e social dos presos, sendo essa uma importante condição, segundo a legislação, a fim de “proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado”31

. Nesta direção, outro artigo propõe a discussão em torno justamente da intervenção profissional objetivando o resgate dos

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vínculos comunitários e familiares para presos do Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico Henrique Roxo no Estado do Rio de Janeiro32.

A pergunta que norteia a reflexão é justamente “o que o Serviço Social pode fazer em um estabelecimento penal psiquiátrico?” (CBAS 2001, 444, p. 1). Iniciando com um importante resgate histórico em relação à função social da prisão na sociedade capitalista, o autor passa a tecer suas argumentações com auxílio de autores como Löic Wacquant – sociólogo e pesquisador no campo da criminologia crítica – indicando como as prisões se enquadram numa lógica perversa de privatização e de gerir a pobreza nos países centrais em nossa sociedade. Para o Serviço Social, neste estabelecimento em especial, a intervenção está situada no resgate do vínculo familiar e social, uma vez que para muitos dos sujeitos ali aprisionados este vínculo se perdeu no processo de cumprimento da pena ou sempre foi fragilizado.

Destacamos desta análise o papel investigativo que o profissional assume, como uma demanda importante oriunda dos presos, uma vez que:

[...] alguns pacientes por diversas situações, como o tipo de crime cometido, a migração por diversas instituições, etc. são sujeitos ao abandono de familiares, bem como a perda de todas as informações que o ligam à sua história de vida antes do delito. Perdem seus documentos, seu passado, sua memória e suas referências. [...] O objetivo é resgatar vínculos familiares e memória dos presos que perderam seu passado, pois este é um componente fundamental, tanto para o sucesso do processo terapêutico e também, imprescindível para sua saída do manicômio (CBAS 2001, 444, p. 3).

32Segundo o artigo: “O projeto faz parte de uma frente de trabalho implantada pelo Serviço Social no HR. Visa resgatar vínculos familiares de internos, sem qualquer tipo de apoio, desde que ingressaram na unidade. Objetiva instrumentalizar a investigação sobre o histórico social do sujeito internado, a fim de articular/reconstruir um sentido sobre essa história de vida, essa memória, relacionando informações, organizando dados, tecendo uma estrutura lógica para intervir sobre o contexto social de origem e sua trajetória” (CBAS 2001, 444, p. 1).

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Mesmo sendo uma importante demanda, tal discussão é apenas pontuada no artigo em questão, o que talvez ocorra devido à fase inicial na qual o projeto parecia se encontrar. De modo geral, as considerações trazidas nele não permitem um maior aprofundamento em relação à atribuição desta demanda ao assistente social ou em sua natureza em si, no entanto já nos permite vislumbrar essa função investigativa como um componente da prática profissional, também no âmbito da execução penal.

Seguindo ainda pelo caminho da execução penal e as atribuições do assistente social neste contexto, outro artigo afirma que há:

Nas determinações legais e interpretações jurídicas para o Serviço Social no sistema penitenciário brasileiro (a partir da Lei de Execuções Penais em vigor, em seus artigos sobre a “Assistência Social”) conflitos teórico- metodológicos acerca da intervenção da profissão bem como, uma concepção conservadora das próprias atribuições profissionais (CBAS 2001, 445, p. 1).

As análises no artigo citado vão justamente no sentido de apontar a defasagem existente em relação à problematização teórica sobre a prática profissional nos espaços jurídicos, em especial no âmbito da execução penal. Para o autor, as fontes disponíveis ainda apresentam uma prática profissional vinculada ao Serviço Social conservador e abandonadas pela profissão, ao menos teoricamente. Como exemplo, o autor cita as palavras do jurista brasileiro Julio Mirabete (1997)33, que ao interpretar a atuação profissional na Lei de Execuções Penais a descreve da seguinte forma:

‘consiste na aplicação dos conhecimentos, teorias e doutrinas que, subordinados a princípios, constituem a Ciência do Serviço Social, para alcançar, como resultado, a solução dos problemas humanos que acarretam infelicidade e, assim, obter bem-estar. Esse serviço não é, apesar da denominação, mera assistência, que consiste em

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127 diminuir ou, quando muito, eliminar os efeitos dos problemas ou das situações do assistido, mas constitui-se de tarefas e atribuições que convergem para ajudar aquele que está em dificuldades a fim de que as resolvam, proporcionando-lhes meios para a eliminação das causas desse desajuste. O Serviço Social é a arte de adaptar o homem à sociedade e a sociedade ao homem’ (MIRABETE apud CBAS 2001, 445, p. 2 – grifos nossos).

Esta interpretação fortemente vinculada à teoria etiológica atribui à prática profissional a demanda de ajustar o indivíduo para o seu retorno à sociedade. Além disso, constituem-se concepções totalmente contrárias à teoria crítica adotada pelo Serviço Social depois do movimento de reconceituação e construção do atual projeto ético- político.

Na construção do artigo o autor desenvolve sua crítica incidindo sob a concepção teórica apresentada por Mirabete (1997), apontando para sua superação no âmbito do Serviço Social, ao mesmo tempo em que sugere a influência que ainda hoje tal concepção exerce no cotidiano profissional e consequentemente a sua perpetuação no imaginário do judiciário em relação à prática do assistente social, colocando aos profissionais a necessidade de uma postura de alerta e, em grande medida, desafios teórico-metodológicos para a profissão.

O artigo acaba por concluir que

Estas concepções teórico-metodológicas de intervenção do Serviço Social, apresentadas pelas interpretações jurídicas, estão visivelmente ultrapassadas para os profissionais brasileiros e o projeto ético-político da profissão (CBAS 2001, 445, p. 2).

Na direção desta argumentação é que apontamos para a necessidade de consolidação das bases críticas profissionais neste espaço institucional, respaldada pela pesquisa e produção teórica dos assistentes sociais, bem como pela construção de parcerias profissionais e mediações por meio de outros aportes críticos que são consoantes com o projeto ético-político do Serviço Social.

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Dentre esses aportes teóricos nos referimos claramente aos trazidos pela criminologia crítica34, que teoricamente já superou a visão etiológica apresentada na leitura de Mirabete (1997) e cujos pressupostos são consonantes com o projeto crítico dos assistentes sociais.

Como comprovado por essa leitura equivocada de Mirabete (1997) em relação às práticas do assistente social pautadas numa relação de ajustamento do indivíduo, a superação teórica do paradigma etiológico pelo crítico, como modelo de análise social, ainda não se processou no âmbito do cotidiano. O paradigma etiológico continua hegemônico na prática dos operadores do sistema jurídico, inclusive do próprio assistente social, resultando no controle dos sujeitos e dos seus comportamentos, os ditos criminosos e seus atos, por meio da aplicação da pena e da política criminal vigente (ANDRADE, 2003). Elementos esses que são utilizados nos discursos que insistem em apoiar o recrudescimento do controle social por meio da aplicação da legalidade do direito penal.

Com isso queremos destacar a importância que o paradigma crítico tem na leitura do cotidiano judiciário, inclusive para a intervenção do assistente social, que como vimos, muitas vezes será chamada a intervir nos processos judiciais dos sujeitos selecionados pelos filtros desiguais do aparato legal.

Compreendemos que buscar uma verdadeira aproximação com essas teorias críticas criminológicas é parte fundamental das mediações que a profissão precisa realizar, a fim de se contrapor ao discurso instituído do ajustamento das famílias e dos sujeitos, sejam eles ditos criminalizados ou não. Mediações essas que nos possibilitem uma leitura da realidade nestes espaços cerceadores de liberdade e direitos para pensarmos justamente em novos modelos de justiça e conectá-los com a busca por outra ordem societária.

A partir do olhar sobre os artigos no judiciário, deparamo-nos com um que ilustra claramente a aplicação do paradigma etiológico pelos assistentes sociais, mesmo que isso ocorra de forma bem sutil. O artigo apresenta a discussão em relação à prática profissional no acompanhamento de egressos. O trabalho parte do projeto de Extensão Universitária “Atendimento Social junto ao Programa Pró-Egresso” da Universidade Estadual de Ponta Grossa/PR para discutir a atuação de docentes e discentes das áreas de Serviço Social e Direito, atuando de forma multidisciplinar no desenvolvimento de atividades junto a

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egressos do programa da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Paraná, chamado Pró-Egresso. Dentre os objetivos do programa estão:

Proporcionar ao sentenciado, via acompanhamento técnico, condições que contribuam no processo de retorno deste ao convívio social, diminuindo as motivações de reincidência criminal;

Proporcionar campo de estágio aos alunos das várias áreas de ensino superior, possibilitando aos estagiários oportunidade de vivenciar na prática os conhecimentos teóricos, bem como analisa-los e aprofunda- los;

Acompanhar e orientar os condenados para o cumprimento do período de prova e benefícios legais, centrados na comunidade; Propiciar a clientela atendida um processo reflexivo sobre sua realidade, buscando seu desenvolvimento pessoal, fazendo-o perceber-se enquanto cidadão pertencente a uma sociedade com seu valor, seus direitos e deveres (CBAS 2001, 448, p. 1).

A prática profissional centra-se no acompanhamento do egresso por meio do conhecimento do perfil deste, do cumprimento das prerrogativas legais para manutenção do regime de liberdade condicional e visitas domiciliares para aqueles que descumpriram tais prerrogativas.

Nas palavras do autor:

procura-se refletir sobre questões que fazem parte de sua realidade e sobre seu delito. De início o beneficiado se coloca relutante em aceitar a penalidade, porém, com a realização do trabalho comunitário, com as novas amizades, este percebe sua validade e muitas vezes continua com um trabalho voluntário na instituição que o recebeu. Ao término na prestação do serviço, avalia-se junto ao beneficiado, de que forma a pena imposta contribuiu na reflexão do delito cometido e em sua vida (CBAS 2001, 448, p. 1).

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É notório percebermos o direcionamento ideológico posto pelo projeto, em que a pena é colocada como parte de um processo individual e retributivo, no qual a responsabilidade sobre as ações que a originaram recai inteiramente sobre o egresso. Neste âmbito a intervenção do assistente social consiste também em contribuir na reflexão sobre como o cumprimento da pena vai permitir que o sujeito entenda melhor sua condição delituosa e repense a sua vida, em outras palavras, ajuste-se às novas condições, além de proporcionar outros vínculos sociais, que agora certamente serão mais proveitosos com pessoas trabalhadoras e de bem.

A reflexão construída aqui, talvez de forma até jocosa, é justamente para chamar a atenção para a sedução e sutileza existente no discurso da ressocialização por meio do trabalho, que exclui das análises os outros condicionantes histórico-sociais em relação aos processos de penalização e criminalização presentes em nossa sociedade. Não levando esses componentes em consideração podemos incorrer no erro de reproduzirmos justamente o discurso etiológico que buscamos superar. Ademais, o discurso de ressocialização, muitas vezes, vem com uma aparência de cunho educativo, no entanto, pautado em práticas conservadoras de normatização e moralização dos sujeitos. E tal questão é, sobretudo, mais cara aos assistentes sociais que atuam cotidianamente nos espaços institucionais que desempenham a função social declarada de ressocializar, recuperar e preparar o sujeito para o retorno à vida em liberdade.

É neste sentido que, em especial para esses profissionais, é importante estar alerta tanto para as suas práticas, quanto para as demandas trazidas pela instituição, mesmo que num primeiro momento a proposta possa parecer convidativa e bem intencionada.

Numa linha contrária, o artigo finaliza suas exposições reforçando as práticas ajustadoras quando reafirma o compromisso dos assistentes sociais neste âmbito como sendo:

um processo educativo, de não só dar condições do beneficiado cumprir sua pena através do trabalho na comunidade, mas desenvolver atividades que levem a uma reflexão de sua realidade e de seu delito (CBAS 2001, 448, p. 1).

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Ao mesmo tempo também afirma uma prática profissional comprometida com a efetivação dos direitos e com construção da cidadania:

o acesso à justiça gratuita e à assistência social, através da informação sobre os direitos sociais e individuais, o encaminhamento a serviços sociais que a comunidade dispõem, estimulam o exercício da cidadania. O respeito à cidadania envolve o reconhecimento como cidadão dos indivíduos atendidos, escutando-os, partilhando o saber, esclarecendo o máximo possível as funções e as normas judiciais e dando a exata noção de que o Programa não faz benefícios, mas presta-lhe um serviço que é de direito (CBAS 2001, 448, p. 1).

Tal confusão apresenta justamente a dificuldade de reconhecer um e outro paradigma e seus direcionamentos contraditórios, mostrando que muitas vezes o assistente social não tem a percepção desse movimento. O que lança um alerta sobre a necessidade de pensarmos como ocorre o processo formativo destes profissionais.

Em outro artigo encontramos a seguinte constatação em relação aos desafios do Serviço Social no judiciário:

Por se tratar de uma instituição fundada em conceitos positivistas e conservadores, o Serviço Social enfrenta grandes desafios por estar consolidando um novo fazer profissional, na sua própria auto-superação. [...] Por esta perspectiva, percebemos que o Serviço Social além de contribuir efetivamente para a inclusão social nos mais diversos casos [...] pode, através do olhar interdisciplinar, visar ações que contribuam para o avanço da instituição Judiciário e do princípio da Justiça (CBAS 2001, 439, p. 5 – grifos nossos).

Neste artigo vemos claramente a presença de uma teoria pautada em medidas conservadoras e positivistas no âmbito do judiciário, apresentando fortes desafios para os assistentes sociais e demais profissionais que buscam imprimir uma prática crítica em seu cotidiano. No entanto, o próprio artigo indica uma das formas de

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superação desta realidade, por meio da construção de parcerias e um olhar interdisciplinar sobre a questão estudada.

Nesta direção foi possível um contraponto ao discurso conservador e ao paradigma etiológico. Em alguns artigos, por exemplo, a presença do paradigma da teoria crítica foi colocada como um importante componente para a prática profissional. Este paradigma assumiria o papel de mediação teórica para o cotidiano profissional, somando ideias ao projeto ético-político profissional. No exemplo que trazemos a seguir, a discussão girava em torno das relações existentes no âmbito penitenciário e como os códigos morais se estabeleceriam no interior desta instituição. Para os autores, a questão carcerária tem sido debatida e apresentada à sociedade de muitas maneiras, no entanto, a compreensão deste espaço e do convívio carcerário não pode ser explicada sem levar em conta o contexto em que se estabelece “com as determinações de linguagem, axiologia e barbárie próprias de um ‘universo’ construído historicamente para punir e controlar uma parcela da população que são expressões da questão social” (CBAS 2010, 173, p. 1). O artigo salienta que em nossa sociedade a população carcerária está:

[...] submersa pelo retributivismo penal e por uma espécie de pedagogia da dor, compreendendo que as estruturas institucionais e políticas, que se fundamentam em aspirações de natureza liberal, não promovem direitos humanos e/ou sociais para a população carcerária, no sentido de melhorar suas relações no cárcere e fora dele (CBAS 2010, 173, p. 1).

É a partir destes aportes críticos que o artigo trabalha as relações postas dentro do cárcere, indicando que este é um sistema que se conecta com outras instituições sociais, no entanto possui, como vimos, particularidades muito significativas.

Assim, ao nos reportarmos ao cotidiano institucional, ainda segundo o artigo,

[...] vamos nos deparar com uma estrutura burocrática que não se ampara no conhecimento científico, tão pouco reflete sobre sua realidade,

objetivos e metas, impossibilitando o

133 deliberação de ocupação de cargos estratégicos