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A primeira Verdurada: o reencontro com os velhos-novos afetos

Corpos em linhas de fuga: êxtase juvenil nas Verduradas em São Paulo

3.2. A primeira Verdurada: o reencontro com os velhos-novos afetos

Estava excitado com a possibilidade de ir pela primeira vez a uma Verdurada, afinal, sempre tinha ouvido falar bastante sobre elas através das cartas que recebia, e isso fez com que eu construísse uma série de mitos em torno do evento. Ele (o evento) estava marcado para as 17:00h, mas eu sai de casa às 15:00h para evitar possíveis contratempos. Fui com dois amigos que já conheciam o percurso até o galpão, e isso ajudou a diminuir um pouco minha ansiedade. Cheguei cedo, e ficamos do lado de fora do galpão localizado na citada Rua Anita Costa, próximo à estação de metrô Jabaquara, em São Paulo. Mesmo familiarizado com esse tipo de situação, não deixava de olhar admirado para os jovens que chegavam em bandos; garotos e garotas exibindo tatuagens coloridas, piercings, e camisetas estampando frases que, de acordo com alguns “iniciados”, traduzem a filosofia straightedge em poucas palavras: “Drug

Free Youth”, “Poison Free Youth”. Naquele momento, j| havia sido completamente

arrancado de minha condição de pesquisador, e o que é mais interessante, sem o meu consentimento. A partir dessa experiência, pude compreender o que Deleuze (1997) quer dizer quando argumenta que o “devir não é certamente imitar; nem identificar-se;

nem regredir-progredir; nem corresponder, instaurar relações correspondentes; nem produzir uma filiação” (pg.19). O que me afetava naquele momento n~o era uma

espécie de familiarismo grupal presente na maneira como os straightedges se organizavam. Não se tratava de querer me tornar um deles, de reproduzir as suas práticas, ou ainda, trazer de volta lembranças de um passado não muito distante, mas de um encontro que produziu algo novo; nem pesquisador, nem nativo:

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O devir é uma antimemória – a lembrança tem sempre função de reterritorialização. Ao contrário, um vetor de desterritorialização não é absolutamente indeterminado, mas diretamente conectado aos níveis moleculares [...] Opõem-se desse ponto de vista um bloco de infância, ou um devir-criança, { lembrança de inf}ncia: “uma criança molecular é produzida...”, uma criança coexiste conosco numa zona de vizinhança ou num bloco de devir, numa linha de desterritorialização que nos arrasta a ambos – contrariamente à criança que fomos, da qual nos lembramos ou que fantasmamos, a “criança molar” da qual o adulto é o futuro. (Ibid, pg.92).

Continuei do lado de fora até ouvir os primeiros acordes de guitarra que ecoavam de dentro do galpão. Apressamo-nos para adentrar no espaço, pois não queríamos perder nenhum detalhe do festival. Antes de chegar ao portão que dava acesso aos shows, havia algumas bancas onde se vendiam CDs, camisetas, bottons (material de divulgação das bandas que iam se apresentar), e também outras com doces e salgados à base de proteína vegetal. Uma pequena lanchonete dentro do espaço expunha um cardápio apenas com alimentos veganos (hambúrgueres, quibes, risoles), para beber: água, e um suco à base de soja conhecido como Muppy. O movimento no local era bastante intenso, muitos se apertavam para adquirir essas guloseimas, inclusive eu. É importante descrever os alimentos que são consumidos nas Verduradas, tendo em vista que algumas pessoas tendem a acreditar que nesses eventos só se consomem “saladas” (vegetais diversos, hortaliças). Essa idéia superficial de que vegetarianos só se alimentam de folhas certamente está relacionada a um discurso bastante difundido entre a população brasileira, que visa desqualificar o vegetarianismo. A carne remete a determinadas significações que extrapolam a sua definição como alimento rico em proteínas e vitaminas. Ela remete à força, à virilidade, à sexualidade ativa, em contraposição, o vegetariano é percebido através de categorias opostas a estas.

Entrando no galpão onde os shows acontecem me deparei com um espaço amplo, de onde se via ao fundo um palco de madeira de mais ou menos 1 metro de altura. Nas laterais, também haviam inúmeras banquinhas que ofertavam inúmeros

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souvenirs, semelhantes aquelas descritas no início do texto. Não sabia se olhava para

as bancas ou para a banda que estava no palco. Queria experimentar tudo de uma só vez, como uma criança que entra numa loja de brinquedos e não sabe o que escolher diante de tanta coisa que lhe salta os olhos. Resolvi optar pela banda, pois fui capturado pela sonoridade que emanava dos amplificadores e pela performance dos jovens em volta do palco. Como já salientei, não tenho o interesse de prender o texto às descrições minuciosas das roupas e adereços que vestem o jovem straightedge, ou mesmo de como o espaço está distribuído, a não ser que estes elementos tragam pistas interessantes que me ajude a compreender as práticas desses jovens. Não tentarei convencê-los por intermédio de um estranhamento forçado, de que todos os elementos que estão presentes numa Verdurada trazem consigo uma espécie de significado “misterioso”, tentando dot|-los de um certo exotismo. No que diz respeito à organização do espaço, ela faz parte de uma logística que é comum a todos os shows musicais. Penso que não precisarei descrever de maneira detalhada as características do palco, iluminação, amplificadores, instrumentos musicais, etc.

Conforme já adiantei, o que mais me chamou atenção nesse primeiro encontro foi a festa, o êxtase coletivo que é partilhado entre aqueles que estão sobre o palco e o público presente, a maneira como ela mobiliza afetos, tornando cada música um momento de celebração vivenciado entre os jovens. Para quem ouve falar dos

straightedges pela primeira vez, pode ter a impressão de que se trata de uma nova

seita religiosa, cercada de dogmas e princípios bastante rígidos, principalmente se levarmos em consideração a formulação de estereótipos pelo senso comum. Cria-se, dessa maneira, uma idéia preconcebida desses jovens, que logo passam a ser vistos como “caretas”, “politicamente corretos”, “reacion|rios”, etc. S~o muitas as designações utilizadas como tentativa de etiquetar esses jovens e poucas são as tentativas de compreensão de suas condutas, de seus posicionamentos.

Nas Verduradas, o autocontrole é deixado de lado, e os jovens se entregam ao

circle pit, uma dança descompassada, onde os corpos se chocam uns com os outros

celebrando um estar-junto orgiástico (Maffesoli, 2006). As canções que embalam esse “rito sacro” n~o são executadas por harpas, cravos e flautas, mas sim por guitarras

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barulhentas ultra velozes, acompanhadas por baixo, bateria e vozes que alternam entre o gutural (grave) e o “gritado” (agudo). Na pista, jovens se “esmagam” disputando um local mais próximo do palco, enquanto outros executam movimentos frenéticos embalados pela música que emana dos amplificadores em volume ensurdecedor. Braços e pernas giram de maneira veloz, alguns sobem no palco e saltam contra os demais, como se mergulhassem numa “piscina de cabeças”. É importante salientar que essa performance caracteriza os shows de hardcore/punk de uma maneira geral, e não pode ser definida como prática exclusiva dos straightedges.

Nesta noite, a primeira banda a subir no palco tinha um nome bastante sui

generis: Sweet Subúrbia. Qualquer pessoa que conhece um pouco da história do punk/hardcore saberia explicar o motivo da banda ter escolhido esse nome. A

sonoridade basicamente composta de três acordes, com uma cadência dançante, as vestimentas, a performance no palco, tudo remetia ao estilo que ficou reconhecido no Brasil como “Punk 77”, bandas que tem por influência (musical e estética) grupos ingleses como Sex Pistols, The Clash, Buzzcocks, entre outros. A vida no subúrbio e o cotidiano do jovem trabalhador, são temas recorrentes entre bandas que se dizem adeptas desse estilo. Por se tratar de uma sonoridade mais cadenciada, e, por isso, menos “agressiva”, ela n~o consegue provocar tanta empolgaç~o entre os presentes, que preferem observar a técnica dos músicos.

Um dado que deve ser mencionado a respeito das bandas que se apresentam nas Verduradas, é que elas não precisam necessariamente levantar a bandeira da filosofia straightedge ou do vegetarianismo durante os shows, porém, existe uma espécie de pacto silencioso que define como ofensa qualquer comentário apologético sobre o consumo de drogas, sejam elas lícitas ou ilícitas. Contudo, é inegável que as bandas adeptas do straightedge, que trazem em suas letras um enaltecimento dos ideais partilhados entre os jovens, obtém um maior reconhecimento por parte do público.

Terminada a primeira apresentação, fiquei circulando pelo espaço para ver se encontrava algum conhecido que pudesse me apresentar alguns straightedges. Não me sentia à vontade com o fato de ter que simular uma aproximação, queria que os

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encontros acontecessem de forma espontânea. Como não encontrei ninguém com esse perfil, resolvi ficar olhando CDs nas banquinhas apenas ouvindo o burburinho das conversas. Quando menos esperava, fui surpreendido por um riff cortante de guitarra, que logo se transformou numa avalanche sonora. Entrei correndo dentro do galpão e pude constatar que a banda Subcut, veterana do cenário hardcore paulistano, acabara de subir ao palco. A música era tão rápida que os jovens mal conseguiam acompanhar o ritmo dela, só restavam a eles correr em círculos ou “bater cabeça”. Corri para a frente do palco, mas sabia que não poderia ficar lá por muito tempo, pois logo as “rodas de pogo” se abririam e eu teria que acompanhar o movimento frenético da dança. Não dá para ficar parado em frente ao palco, observando, pois é lá que se encontra o “olho do furac~o”. Quem deseja se posicionar neste local privilegiado, precisa aceitar as regras do jogo: você pode até não participar da dança, porém não deve reclamar caso seja atingido por uma cotovelada, trombada, ou mesmo um golpe violento. Isso não significa dizer que os jovens agridem as pessoas propositalmente, pelo contrário, eles reprovam completamente esse tipo de prática nos shows, mas como a performance hardcore consiste em movimentos bruscos com pés e as mãos, é esperado que alguém machuque ou seja machucado. Sabendo desses detalhes, escolhi um lado do palco que estava mais vago e pude acompanhar o show sem ter que correr o risco de levar uma trombada violenta. O público não parava para descansar porque as músicas eram muito rápidas e tocadas praticamente sem pausa. Eu ficava a todo instante tendo que me controlar, não pelo fato de achar que pesquisador não pode participar da festa, mas por uma questão muito clara, não me considerava apto fisicamente para realizar tais proezas, afinal de contas, fazia muito tempo que não participava de uma performance tão intensa. Devido à velocidade das canções que eram executadas, a banda precisou apenas de 30 minutos para efetuar o set list.

Terminada a apresentação do Subcut, resolvi comer algo, pois haveria uma pausa de 20 minutos para a banda que viria a seguir poder se organizar no palco. Fui experimentar os tão comentados lanches da Verdurada. Para aqueles que não participam da festa em todos os aspectos, ou seja, que vão apenas para ver as bandas, talvez o fato de comer esses alimentos seja visto como uma questão de necessidade.

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Mas para os straightedges e vegetarianos que vivenciam a Verdurada como um momento de comunhão, o consumo desses produtos possui um significado diferenciado, está relacionado com a experiência de se reconhecer enquanto parte de um grupo. Mesmo não me considerando parte do grupo, me senti participante da experiência do grupo, o que, ao meu ver, é completamente diferente, e isso só foi possível porque estava contagiado pelos afetos da matilha.

Estava bastante curioso para assistir o show da terceira banda da noite, principalmente pelo seu carisma com o público straightedge paulistano. Trata-se da banda Good Intentions, jovens que levantam a bandeira do straightedge como “forma correta de viver”, bradando em suas letras o orgulho por poderem se manter “sóbrios e conscientes” (é esse o lema da banda) em um mundo dominado pelo efeito perverso das drogas. Já conhecia algumas músicas e também já tinha assistido alguns vídeos dessa banda, desse modo, já deduzia o que estava por vir. Na primeira música a platéia foi ao delírio, bradando palavras de ordem pronunciadas pelo vocalista. Saltos, cambalhotas, invasão no palco, tudo era permitido; confesso que tive vontade de participar da festa, para mim, era quase impossível ficar indiferente a energia que era trocada entre banda e público, posso afirmar que até este momento jamais tinha experimentado de forma tão intensa a experiência straightedge. Era como se ela fosse revelada por inteiro ali, diante dos meus olhos. Quando menos percebi já estava de punho cerrado como os demais straightedges, acompanhando o coro que se formava nos refrões. Ainda no início da apresentação o vocalista fez questão de esclarecer que todos os membros da banda eram straightedges adeptos do vegetarianismo, posturas que segundo o mesmo era assumida de “olhos fechados”. Em outro momento dedicou uma canção aqueles que sabiam o que “queriam realmente”, em alus~o aos

straightedges convictos, que não se deixam enganar pelas artimanhas do inimigo

(drogas). O mais interessante (e intrigante) é que no momento em que eu ouvia essas frases não ficava refletindo sobre o conteúdo das mesmas, só conseguia captar a intensidade com a qual elas eram pronunciadas. Da mesma maneira que me senti atravessado pelos afetos liberadores do bando, também pude experimentar aquilo que Deleuze (1997) chama de fascismo da matilha:

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É verdade que os bandos são minados também por forças muito diferentes que instauram neles centro interiores de tipo conjugal e familiar, ou de tipo estatal, e que os fazem passar a uma forma de sociabilidade totalmente diferente, substituindo os afetos da matilha por sentimentos de família ou inteligibilidades de Estado. (pg.28)

Ao terminar o show da banda Good Intentions tive que deixar o Galpão Jabaquara, mesmo faltando à apresentação de duas bandas para o término do evento, e lamentei não ter participado do jantar vegetariano que é oferecido após a maratona de shows. Mas sabia que esta seria a primeira experiência de muitas outras que estariam por vir.

Para uma melhor compreensão do referido evento, resolvi desmembrá-lo em alguns tópicos que expõem de forma detalhada as suas principais características, uma apresentação semelhante à realizada por Mantese (2005), que descreve uma espécie de “modelo” que torna a Verdurada um evento hardcore/punk diferente dos demais realizados na cidade de São Paulo.

3.2.1 O espaço-lugar

Inicialmente as Verduradas eram realizadas numa pequena casa localizada na Rua Campo Bom, 155, nas proximidades do metrô Jabaquara, “espaço” este que ficou conhecido pelo nome de “Casinha”, uma maneira afetuosa dos straightedges se referirem ao local que foi palco de importantes eventos. Mas não somente por isso, de acordo com os jovens que freqüentavam o espaço, o local onde acontecia os shows era uma residência, ou melhor, uma parte dela concedida pelo proprietário. Nessa época, como já foi exposto anteriormente, a Verdurada não era um evento organizado pelo Coletivo. Podemos dizer, que o Galpão Jabaquara é por excelência o espaço das Verduradas, assim como o antigo local que abrigava o evento ficava nas imediações da estação de metrô Jabaquara, mais precisamente na Rua Anita Costa, 155. É desse

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espaço-lugar100 que falarei especificamente, pois foi nele que pude acompanhar de

forma mais intensa o desenrolar de uma experiência straightedge. “Um galp~o como qualquer outro”, talvez dissesse alguém que n~o soubesse dos sentidos que grande parte dos straightedges de São Paulo atribui a essa estrutura de concreto e metal que não abrigou somente shows memoráveis, mas também alguns acontecimentos de ordem “política”, aqui entendido como embate com determinadas alteridades percebidas por muitos jovens da cena como “problem|ticas101”, marcando de forma

profunda a história do straightedge em São Paulo. O Galpão Jabaquara era considerado por muitos como ideal para a realização do evento porque dispunha de uma localização privilegiada e uma infra-estrutura que comumente não se ver em casas de show voltadas para o público hardcore. É importante salientar que se tratava de um prédio público onde também funcionava a sede da AGRC102 (Associação do

Grupamento de Resgate Civil) Quando os jovens se referiam ao “galp~o Jabaquara”

100 Resolvi utilizar a expressão espaço-lugar para me referir a um espaço que não era apenas físico, mas

antes de tudo, praticado, codificado, ou como diz Guattari (1992) “dotado de dimensões maquinicas e universos incorporais que lhe conferem sua autoconsistência subjetiva” (pg. 160-61).

101 As relações que os straightedges definem como “problem|ticas” n~o s~o {quelas que se produzem

por intermédio do embate com o “outro-próximo”, como por exemplo, o jovem n~o-adepto que freqüenta as verduradas (skatistas, punks, metaleiros, emos, harekrishnas, etc,.), mas com o “outro- invasor”, como j| foi apontado por Mantese (2005). Aqui podemos pensar nos dois movimentos distintos em relação à alteridade sugeridos por Levi-Strauss em “Tristes Trópicos (2000), um de car|ter

antropofágico (canibalismo ameríndio), onde o outro é devorado porque há neles propriedades que

beneficiam o devorador, e outro de caráter antropoêmico (modelo ocidental), onde o diferente precisa ser expugado, vomitado, posto pra fora do ‘corpo social’. Podemos trazer como exemplos dessa alteridade perturbadora as relações com os “skinheads” e com a “policia”, personagens de acontecimentos que muitos straightedges preferem esquecer. Em 2002, durante os preparativos do 4º Festival Hardcore de São Paulo, uma grande Verdurada que acontece geralmente no mês de janeiro, os membros do coletivo foram informados que policiais disfarçados iriam se infiltrar no evento visando obter informações sobre movimentos anti-globalização, pois nesse período, o coletivo Verdurada organizou atividades (palestras, vídeos, oficinas) em parceria com células pertencentes à esse movimento (Ver cartaz em anexo). Já em 2004, um grupo de skinheads White power, uma vertente da “cultura skin” que promove discursos e pr|ticas intolerantes de cunho racista, xenófobas e homofóbicas, quiseram invadir o galpão Jabaquara sob a ameaça de impedir a realização da Verdurada que acontecia naquela tarde. O resultado foi um conflito direto entre jovens que estavam no galpão (straightedges e não-straightedges) e skinheads, transformando as imediações do espaço num campo de batalha. (ver:www.midiaindependente.org/pt/blue/2004/01/271818.shtml).Esses dois casos expressam exemplos de relações percebidas como “problem|ticas”, alteridades que se encontram na condição de oposições inassimiláveis.

102 Trata-se de uma associação que funciona em parceria com instituições públicas e privadas,

destinada a treinar voluntários para salvar vidas em situações emergenciais (calamidades públicas, acidentes de trânsito, incêndios, missões de resgate e salvamento, etc,.

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certamente não estavam se referindo exclusivamente ao espaço destinado à realização dos shows e palestras, mas a todo os equipamentos que compunham o “complexo Jabaquara”, que possui em seu entorno um cercado feito por muros e grades de ferro. Passando o portão que dá acesso ao complexo, podemos ver na lateral um pequeno compartimento com porta e janela que em dias de shows torna-se bilheteria103, mas

que durante a semana provavelmente possuía outra finalidade, pois acima da porta se ver a palavra “administraç~o”. A organizaç~o do evento também improvisa uma divisória com tapumes de madeira, para separar bilheteria do restante dos espaços, deixando somente uma pequena entrada onde fica o responsável pelo recebimento dos bilhetes e os seguranças responsáveis pela revista.

figura 19: Jovens fazem fila na bilheteria do Galpão Jabaquara

Ao cruzar a divisória avistamos no lado esquerdo a cozinha, no lado direito o galpão e na frente a quadra de futebol. O pátio localizado entre a cozinha e o galpão

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era aproveitado pela organização do evento para a distribuição de algumas banquinhas menores que vendiam principalmente lanches veganos, pois o espaço onde acontecia os shows não comportava todas elas. O grande atrativo certamente estava relacionado ao fato do espaço possuir uma cozinha relativamente grande, o que possibilitava a feitura do jantar vegano no mesmo local do evento. Além disso, contava com dois banheiros amplos e uma quadra esportiva que proporcionava aos jovens que iam para o evento uma outra opção de lazer. Era bastante comum ver grupos de amigos chegando mais cedo no galpão para jogar futebol, organizando muitas vezes pequenos campeonatos paralelos aos shows, ou então ver jovens saindo correndo no intervalo entre as apresentações das bandas para disputar uma partida rápida. A quadra também dispunha de uma arquibancada que permitia uma maior interação entre os freqüentadores, lá os jovens sentavam para descansar dos shows, para lanchar, ou mesmo para fazer novos contatos, eu mesmo cheguei a conhecer vários straightedges por intermédio das interações nas arquibancadas. Mas não somente, casais de namorados que queriam um pouco mais de privacidade sempre procuravam uma parte da construç~o que estivesse “menos povoada”, assim como os poucos jovens fumantes, que buscavam se manter distante de possíveis olhares inquisidores.

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