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2 A MEDIDA DE PROTEÇÃO DE ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL E SUAS

2.3 A efetivação do direito fundamental à convivência familiar na

2.3.2 A privação da convivência familiar de crianças e adolescentes institucionalizados

Verificou-se que a Lei n.º 8.069/1990 arrola como um dos direitos fundamentais da população infanto-juvenil a convivência no seio de sua família natural, biológica ou ampliada, ou, excepcionalmente, de uma família substituta. Isso significa que

O Estatuto entende que o direito a uma família é fundamental, pois só a presença de um pai e de uma mãe que vivam com a criança um relacionamento privilegiado e intenso garante a ela a possibilidade de viver aqueles mecanismos psicológicos e emocionais que provocam uma correta estruturação da personalidade. A experiência mostra quanto isso seja absolutamente verdadeiro e quantos danos e dificuldades inúteis e trágicos foram provocados em crianças e adolescentes por instituições que, ainda que bem intencionadas, acabam oferecendo condições artificiais de vida, desestruturantes e despersonalizantes. (PIAZZA apud AMARAL E SILVA; CURY; MENDEZ, 2000, p. 289).

Portanto, a preservação de vínculos familiares e a desinstitucionalização consistem em princípios basilares do Estatuto da Criança e do Adolescente haja vista indicativos de que a manutenção decriançaseadolescentes institucionalizados lhes acarreta prejuízos irreversíveis.

Por oportuno, Pilotti (1995, p.41), citado por Weber ([S. d], p. 2) ilustra, dentre outras, asprincipaismaleficências causadas pelo acolhimento institucional de crianças e adolescentes:

A institucionalização acarreta mais danos que benefícios para a maioria das crianças internas devido ao predomínio das seguintes características negativas no desenvolvimento do ser humano: impossibilidade de interação com o mundo exterior e conseqüente limitação da convivência social; invariabilidade do ambiente físico, do grupo de parceiros e das autoridades; planejamento das atividades externas à criança, com ênfase na rotina e na ordem; vigilância contínua; ênfase na submissão, silêncio e falta de autonomia. As conseqüências negativas deste processo - tanto para o indivíduo como para a sociedade - surgem dos graves e irreversíveis efeitos exercidos pela institucionalização sobre os afetados. Com efeito, a criança a criança interna desenvolve uma auto-estima extremamente baixa, caracterizada por uma imagem negativa de si mesmo o que interfere no desenvolvimento normal das relações interpessoais. A inserção social destas crianças fica extremamente limitada. Como se depreende, o acolhimento institucional, considerado a panaceia para todos os problemas envolvendo crianças e adolescentes, conforme refere Digiácomo ([S.d.], p. 2), tem sido expressamente reconhecido como um mal que, se não puder ser evitado – o que deve ser tentado a todo custo através de soluções alternativas – deve se estender pelo menor tempo possível, sendo também necessário que as entidades que executam o acolhimento institucional abram espaço para o contato da criança ou adolescente com seus parentes (e estimulem-no), visando a preservar os vínculos familiares e fortalecê-los, com o intuito de que o beneficiário retorne brevemente ao convívio familiar.

Portanto, “é fundamental criar programas de desabrigagem para cada criança que entra na instituição. Esse plano passa pelo resgate dos vínculos com a família de origem e ampliada, unificando políticas de assistência social, saúde e educação.” (MARTINHO, [S. d], p. 1). Por conseguinte,

É preciso ter em mente que a verdadeira e definitiva solução para os problemas experimentados por crianças e adolescentes oriundos de famílias carentes e desestruturadas, que muitas vezes se veem na impossibilidade de cria-los e educa-los de acordo com os “padrões” aceitáveis por nossa sociedade, não é, em absoluto, a colocação daqueles em famílias substitutas e muito menos seu execrável abrigamento, mas sim o investimento maciço na reestruturação familiar, mediante o encaminhamento de toda a família a programas oficiais ou comunitários de orientação, apoio e promoção social [...]. (DIGIÁCOMO, [S.d], p. 7).

Com efeito, quando o caso de uma criança ou um adolescente que está em situação de risco chega ao conhecimento da autoridade judiciária, por exemplo, o melhor a se fazer, antes de tomar uma medida drástica como a colocação em família substituta ou institucionalização, é empreender esforços para tentar reestruturar o seu grupo familiar de origem, encaminhando o beneficiário e toda sua família para os programas sociais disponibilizados.

Contudo, como se sabe, nem sempre as crianças e os adolescentes que são privadas do convívio com a família natural, formada por seus genitores, ou apenas um deles, e demais irmãos, têm acesso a uma família substituta em um tempo razoável. Pelo contrário, na maioria dos casos, o beneficiário permanece longo período desprovido do convívio com a sua família originária, ao passo que também não possui, ainda, contato com uma família substituta.

Todavia,

Não é admissível que uma criança, ou adolescente, permaneça abrigada por longo período de tempo enquanto se aguarda definição para sua situação. O abrigamento é medida excepcional e temporária, que, uma vez aplicada, deve estender-se pelo menor período de tempo possível, enquanto a família de origem da criança ou adolescente é trabalhada com vista à reintegração familiar ou, inviabilizada esta, à sua colocação em família substituta. O procedimento judicial instaurado para resolver esta situação, portanto, deve tramitar de forma célere, embora por óbvio deva respeitar os prazos necessários para a realização do trabalho de “resgate” familiar a ser tentado junto à família de origem da criança ou adolescente, ou para a busca e adaptação a uma família substituta onde venha a ser inserido. (DIGIÁCOMO, [S.d], p. 11-12).

Isso porque o Estatuto da Criança e do Adolescente estabeleceu que toda criança ou adolescente possui o direito de ser criado e educado no seio de um grupo familiar, ao mesmo tempo em que define que o abrigo é medida provisória e excepcional, sendo utilizada como forma de transição para a colocação em família substituta caso não seja possível o seu retorno à família originária.

É imprescindível, pois, que o acolhimento institucional seja a última medida protetiva a ser adotada e, nesse caso, seja pelo menor tempo possível. Caso contrário, as consequências para a criança ou o adolescente que se encontra institucionalizado podem ser irreversíveis, uma vez que pode ocorrer até mesmo total privação do direito à convivência familiar. Ocorre que

Divorciado do conceito legal de provisoriedade, excepcionalidade e transitoriedade, o abrigamento reveste-se de um caráter induvidosamente institucionalizante, condenando crianças e adolescentes a uma infância privada de vínculos familiares saudáveis, que lhes propiciem pleno desenvolvimento enquanto seres humanos em formação. (PEREIRA, A., [S.d], p. 1).

Por isso, quando se depara no Juizado da Infância e Juventude, com a situação de crianças e adolescentes acolhidos institucionalmente, é inevitável não se angustiar, tendo em vista que, muitas vezes, os beneficiários são encaminhados para as entidades de acolhimento

desde tenra idade e somente saem dessas instituições ao completarem a maioridade. Durante todo este período, permanecem privados da convivência familiar, direito constitucionalmente assegurado.

Cumpre frisar que

Ao sistema de justiça, composto por advogados, técnicos, peritos, Ministério Público e Poder Judiciário, cabe uma atuação cada vez mais especializada, ágil, integrada e despida de prepotência, a fim de que possamos mudar, para melhor, a realidade da população infanto-juvenil privado do direito à convivência familiar, alterando o desastroso perfil com o qual nos deparamos.

Como cidadãos, estudantes, advogados, técnicos, membros do Ministério Público e do Poder Judiciário, família, sociedade ou poder público, somos todos responsáveis pela garantia da proteção integral às crianças e aos adolescentes, como expressam os artigos 227 da Constituição Federal e 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente. (AZAMBUJA, [S.d], p. 4).

Nesse contexto,

O que esperar de um jovem que completa 18 anos e passou sua vida dentro de um abrigo sem nunca ter sido chamado de filho? O que dizer a gerações inteiras que não pertencem a ninguém, viveram sempre sob a tutela de um estado que deixou o tempo passar enquanto eles cresciam dentro dos abrigos? Como explicar a um adolescente que viu crianças menores, mais brancas, mais saudáveis ganharem um pai e uma mãe através da adoção o motivo dele nunca ter sido escolhido? Qual o compromisso de cada um de nós , profissionais, cidadãos, com esta infância esquecida atrás dos muros das instituições ou entre uma montanha de processos? As respostas a essas perguntas começam a ganhar forma através de ações que envolvem a sociedade civil a partir do momento em que nos colocamos também como responsáveis pela garantia de direitos de cada cidadão. (MARTINHO, [S.d], p. 1). Ocorre que, quando a situação de risco em que se encontra a criança ou o adolescente passa a ser investigada pelo Juizado da Infância e Juventude, o beneficiário está marcado pela violência. Por isso, quando a criança ou adolescente “chega ao sistema de justiça precisamos recebê-la com a máxima prontidão, atenção, rapidez e competência a fim de evitar que novas violências contra ela venham a ser praticadas, desta vez, em nome do poder público.” (AZAMBUJA, [S.d], p. 2).

Nesse passo, questiona-se de que maneira o Conselho Tutelar, o Ministério Público, o Judiciário e os demais órgãos que, de algum modo, atuam na Justiça da Infância e Juventude, podem atuar para transformarem a triste realidade que retrata a situação de inúmeras crianças e adolescentes.

Possivelmente, em um primeiro momento, adotando a fiscalização das entidades dessa natureza através da busca de um retrato preciso da situação jurídica de cada criança abrigada. Ainda, e de igual se não maior importância, exigindo do poder público a atuação de equipe interprofissional eficiente, que realmente elabore e implemente planos de reinserção familiar. Por derradeiro, e em não sendo possível a manutenção nas famílias de origem, ajuizando e acompanhando, com a prioridade e celeridade necessárias, as ações judiciais cabíveis, visando colocação em família substituta, eis que, somente desse modo, estar-se-á a zelar pelo efetivo cumprimento da lei e garantia a essas crianças e adolescentes de digna e saudável convivência familiar. (PEREIRA, A., [S.d], p. 1)

Dessa forma, “há que se evitar ao máximo o internamento, pois o objetivo da Lei é a mantença do menor com seus vínculos familiares e comunitários. Para atingir esse desiderato é fundamental o acompanhamento social de cada caso.” (PEREIRA, C., 2002, p. 56). Por seu turno, Cintra (apud AMARAL E SILVA; CURY, MENDEZ, 2000, p. 86) salienta que o acolhimento institucional de crianças e adolescentes contraria o direito à convivência familiar e comunitária. E isso porque “o dia-a-dia massificado da grande instituição despersonaliza as relações, torna artificial a convivência e impede a experiência capilar das rotinas familiares.”

Nesse contexto, a criança ou adolescente se acha sem qualquer referência familiar, de tal sorte que, pode-se dizer, o seu direito à convivência familiar foi violado. É assim que se encontram muitas crianças e adolescentes acolhidos institucionalmente, sem perspectiva de quando terão assegurado o direito de conviverem com uma família substituta. Resta, então, questionar se, de fato, está sendo respeitado o direito à convivência familiar das crianças e dos adolescentes institucionalizados aguardando o seu retorno à família natural ou a sua colocação em uma família substituta.

Por conseguinte,

Se, de um lado, deve a Justiça da Infância e Juventude – por questão de princípio - ter a preocupação primeira de salvaguardar os direitos de criançaseadolescentes no âmbito de suas famílias de origem, procurando preservar o quanto possível a integridade familiar, por outro não pode permitir que a omissão sistemática e injustificável dos pais em exercer seus deveres em relação a seus filhos traga a estes prejuízos, quer a seu próprio direito fundamental à convivência familiar, quer a outros direitos legal e constitucionalmente assegurados. (DIGIÁCOMO, [S.d], p. 12).

Com efeito, verifica-se que foi tamanha a inovação trazida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente com relação ao direito fundamental à convivência familiar, rompendo com a prática frequentemente utilizada de institucionalizar crianças e adolescentes. Assim, os filhos devem permanecer, sempre que possível, com seus genitores, que têm a obrigação de criá-los

e mantê-los. Ou seja, deve ser oportunizado à criança e ao adolescente o seu desenvolvimento pleno no seio da família natural constituída pelos pais, ou qualquer deles, e seus descendentes.

Nesse sentido, aponta Pereira, T. (1993, p. 48-49):

Em princípio, podemos afirmar que o nosso Sistema Jurídico autoriza os pais a criarem seus filhos da maneira que lhes pareça a mais apropriada. São livres de faze- lo como quiserem. São responsáveis por sua alimentação, vestuário, educação, saúde, lazer. Cabe-lhes definir os parâmetros da educação que pretendem dar, conforme seus próprios modelos e dentro de sua opção cultural.

[...]

Esta interferência (estatal) somente deve ocorrer quando existir violação dos Direitos Fundamentais de crianças e/ou adolescentes e consequentes danos sociais, morais e materiais. Esgotadas todas as possibilidades de entendimentos e de apoio extrajudicial, o Sistema de Justiça deve atuar como árbitro desta disputa privada. Nesta hipótese, os questionamentos devem estar centrados na criança.

Não sendo possível, assegurado o convívio com a sua família ampliada ou extensiva, formada pelos parentes com os quais o beneficiário mantenha vínculos de afetividade e afinidade. Finalmente, inexistindo família biológica e nem extensa com efetivo interesse em assumir os cuidados e oferecer o convívio familiar para a criança ou o adolescente, devem ser envidados todos os esforços para garantir-lhe o exercício do direito à convivência familiar em uma família substituta.

Por oportuno, Digiácomo ([S. d], p. 4-5, grifo do autor) destaca o escalonamento para aplicação de medidas específicas de proteção a crianças e adolescentes, nos seguintes moldes:

- primeiramente se deve investir na família de origem, através da aplicação de medidas específicas previstas no art. 129 da Lei nº 8.069/90 e inserção em programas como os previstos no art. 90, incisos I e II, deste Diploma Legal e na Lei nº 8.742/93, de maneira prévia (numa salutar e desejável perspectiva preventiva) ou concomitante às medidas do art. 101 do mesmo Diploma legal que serão aplicadas a crianças e adolescentes, de modo a manter, o quanto possível, a integridade familiar e preparar (através da orientação, amparo e especialmente promoção social) os pais para o exercício responsável dos deveres inerentes ao poder familiar;

- em segundo lugar, após esgotadas as possibilidades de manutenção da criança e/ou adolescente em sua família de origem, deve-se tentar a colocação em família substituta, dando-se preferência a familiares que desejem assumir o encargo (ex vi do disposto nos arts. 28, §3º e 100, caput e par. único, inciso X, da Lei nº 8.069/90), o que deverá ocorrer invariavelmente por determinação judicial, dentro de um procedimento específico a ser deflagrado, nos moldes do previsto nos arts. 165 a 170, da Lei nº 8.069/90, em regra precedido ou acompanhado da suspensão ou destituição do poder familiar, também mediante determinação judicial, em procedimento próprio previsto nos arts. 155 a 163, da Lei nº 8.069/90;

- apenas em última instância, e ante a inexistência de programas como o previsto nos citados art. 260, §2º da Lei nº 8.069/90 e art. 227, §3º, inciso VI da Constituição Federal, é que se deverá falar em acolhimento institucional, tendo é claro, sempre

em mente, a transitoriedade, excepcionalidade e demais princípios que norteiam a execução da medida.

Pelo exposto neste capítulo, é possível perceber que é na família, e somente nela, que as crianças e os adolescentes terão condições de se tornarem adultos bem estruturados. Para tanto, é necessário esforço conjunto dos próprios grupos familiares, da sociedade e do Estado, assim como de todas as pessoas que, de alguma maneira, possam contribuir para a efetivação do direito fundamental à convivência familiar da população infanto-juvenil que está acolhida institucionalmente.

Para finalizar, vale transcrever excerto que deixa a seguinte mensagem de advertência: Que a resistência e a esperança demonstradas pela população de crianças e adolescentes que vivem nos abrigos, ainda que, por vezes, com o olhar já sem brilho, por lá se encontrarem esquecidas por um, quatro, seis, enfim doze ou mais anos, sirvam de estímulo, a cada um de nós, e às instituições que nos apoiam, para levar adiante um movimento permanente em defesa do cumprimento dos direitos fundamentais da criança e do adolescente, em especial do direito à convivência familiar, condição essencial à efetivação do princípio constitucional da dignidade da pessoa humana. (AZAMBUJA, [S.d], p. 5).

Com essas palavras é possível encerrar o presente trabalho evidenciando que se faz necessária a afluência de forças de toda a sociedade para alcançar a efetividade da medida protetiva de acolhimento institucional sem que a sua aplicação seja sinônimo de privação do direito à convivência familiar de crianças e adolescentes. Empreendendo esforços no sentido de que crianças e adolescentes tenham assegurado o convívio com a sua família, biológica ou substituta, todos os operadores jurídicos e sociais que trabalham junto ao Juizado da Infância e Juventude devem se empenhar para que a medida de acolhimento institucional seja aplicada criteriosamente.

CONCLUSÃO

Ao longo deste estudo, constatou-se que muitas crianças e adolescentes passam grande parte de sua infância e juventude, quando não sua totalidade, institucionalizados em entidades de acolhimento institucional, sem a possibilidade de exercerem o direito ao convívio familiar. Partindo dessa perspectiva, buscou-se responder até que ponto é válida e efetiva a aplicação da medida protetiva de acolhimento institucional de crianças e adolescentes que se encontram em situação de risco social.

Como se observou, é necessário avaliar a inevitabilidade da aplicação desta medida protetiva em cotejo com a manutenção da criança ou do adolescente no grupo familiar em que os seus direitos estavam sendo violados ou sob a ameaça de violação. Nesse contexto, tendo em vista a natureza excepcional e provisória do acolhimento institucional, que retira o beneficiário do convívio familiar, verifica-se que a medida protetiva em questão deverá ser aplicada quando a manutenção da criança ou do adolescente com o grupo familiar lhe seja ainda mais prejudicial devido à vulnerabilidade vivenciada.

Dito de outro modo, o acolhimento institucional deve ser a derradeira alternativa para a proteção da criança ou do adolescente, uma vez que a aplicação dessa medida pode ensejar a privação do direito de convivência familiar. Não obstante, a medida protetiva de acolhimento institucional é amplamente utilizada em favor de crianças e adolescentes que se encontram em situação de risco. Esse risco, conforme foi verificado, pode proceder da ação ou omissão da sociedade ou do Estado, da falta ou abuso dos pais ou responsáveis ou da própria conduta da criança ou do adolescente.

Quando o grupo familiar não consegue se estruturar adequadamente para proporcionar à criança e ao adolescente um ambiente hígido para o seu pleno e saudável desenvolvimento,

é comum a colocação do infante ou jovem em uma instituição, onde irá aguardar a restruturação de sua família natural e, não sendo isso possível, a sua inserção em uma família substituta. Ocorre que, muitas vezes, como se viu, nem uma nem outra expectativa vem a se efetivar, o que leva o beneficiário a permanecer um longo período institucionalizado, sendo privado do exercício do seu direito fundamental à convivência familiar.

Por conseguinte, pode-se concluir que a falta de efetividade da medida protetiva de acolhimento institucional é consequência da inobservância dos critérios de excepcionalidade e provisoriedade que devem contornar a sua aplicação. Isso porque, não sendo esta excepcional e provisória, o acolhimento institucional priva crianças e adolescentes de conviverem com os seus pais, irmãos, tios, avós, etc., podendo acarretar-lhes sérias consequências, o que crônica e tristemente tem ocorrido em nossa sociedade.

Destaca-se, por oportuno, que há muitos beneficiários, institucionalizadas desde tenra idade, na qual possuíam, inclusive, a possibilidade de serem adotados, mas, como não foram empreendidos esforços para sua reinserção na família biológica ou em uma substituta, acabam deixando a instituição de acolhimento somente no momento em que completam a maioridade. Como se tentou demonstrar, o problema é recorrente em nossa sociedade na medida em que muitos jovens, os quais foram, durante toda a infância e adolescência, privados do seu direito àconvivência familiar, precisam deixar as entidades de acolhimento institucional desprovidos de qualquer referência familiar.

Nesse momento, sobretudo, é que o acolhimento institucional revela a efetiva violação do direito fundamental à convivência familiar de crianças e adolescentes, que, ao alcançarem a maioridade, precisam deixar o abrigo e não têm para onde ir e nem a quem socorrer. Assim, deparam-se com a falta de pertençaa um grupo familiar com que possam manter vínculos de afinidade e afetividade. Por isso, foi enfatizado o fato de que, em sendo desrespeitadas as características de excepcionalidadeeprovisoriedade do acolhimento institucional,uma medida protetiva que, a priori, se propõe a proteger criançaseadolescentes, cujos direitos tenham sido violados ou estejam sob a ameaça deviolação,pode causar transgressão irreversível ao direito fundamental à convivência familiar.

Portanto, nos termos que se pretendeu demonstrar neste estudo, uma vez constatada a necessidade de aplicar a medida protetiva em tela em razão de outra não se mostrar suficiente

e eficiente para a situação de risco em que está inserido o beneficiário, é imprescindível que os técnicos responsáveis pela entidade de acolhimento institucional, os conselheiros tutelares,

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