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Embora a preocupação com a degradação ambiental remonte à antiguidade, foi a partir da década de 60 que esta questão ganhou ênfase e um grande número de pessoas passou a ter contato com o tema, acentuando-se a preocupação com os níveis de degradação de determinadas áreas, recursos renováveis e não renováveis. Jamais, na história da humanidade, houve tanto progresso material quanto no século XX, também nunca o progresso do homem pôs em tão alto risco a sobrevivência da sua própria espécie e de toda a vida no planeta. Nas últimas décadas deste século, após a ocorrência de uma série de catástrofes ambientais em várias partes do mundo, resultantes da poluição industrial e urbanização excessiva, efeitos de um modelo de desenvolvimento econômico insustentável, a comunidade internacional passa a ficar alerta para estas questões.

Os efeitos danosos e preocupantes da ação humana sobre os ecossistemas da biosfera, mobilizaram a sociedade em diversas partes do mundo, passando a fazer parte da pauta das reuniões de governos políticos, cientistas, jornalistas, estudantes, trabalhadores e donas de casa.

Os primeiros questionamentos foram sistematizados em 1968, em Roma, ocasião em que se reuniram trinta especialistas de várias áreas para discutir a crise atual e futura da humanidade, criando o Clube de Roma. Em 1972, publicou o relatório, “The Limits of Growth”, denunciando que o crescente consumo mundial levaria a humanidade a um limite de crescimento e, possivelmente, a um colapso.

Até o início da década de 70, a problemática ambiental era analisada apenas na ótica das ciências naturais, centrando-se quase que exclusivamente sobre os problemas de contaminação e conservação do meio natural. Na década seguinte, essa questão foi se

ampliando, passando a denunciar a relação existente entre a pobreza e a degradação ambiental. Neste contexto, as ciências sociais foram chamadas a ocupar lugar de destaque nas reflexões sobre a mencionada problemática. Sendo assim, admitia-se que a discussão desta temática não poderia ser sustentada somente pelas ciências naturais. (MANUAL CONSERVAÇÃO E REVITALIZAÇÃO DA BACIA DO RIO SÃO FRANCISCO-BA, 2002).

No caso brasileiro, a inserção da questão ambiental na lista de preocupação dos cientistas sociais, demandou tempo e esforços, pois até o início dos anos 80, ainda era necessário defender que esta questão encerrava, também, contradições sociais e políticas. Segundo Hogan (1988, p. 63) “havia um posicionamento que encarava a problemática ambiental como uma questão estética da classe média ou como epifenômeno da exploração capitalista, servindo para desviar a atenção das contradições centrais da sociedade”. Entretanto, nos últimos anos desta década, os cientistas sociais brasileiros acabaram por assumir, dentro dos seus paradigmas teóricos, que a questão ambiental em si é também social, enriquecendo as análises até então efetuadas.

As reflexões sobre a globalidade dos problemas ambientais enfatizavam que os problemas concernentes ao meio ambiente superavam limites geográficos, barreiras econômicas, posições políticas e ideológicas. Na última década, mesmo considerando a similaridade dos problemas da degradação ambiental enfrentados por países desenvolvidos e pelos países subdesenvolvidos, passa-se a enfatizar que os problemas de degradação social são profundamente diferentes.

Viola (1987) adverte que nos países desenvolvidos, a grande maioria da população já resolveu a questão da satisfação de suas necessidades materiais básicas. Todavia, nos países subdesenvolvidos uma grande parte da população vive em condições miseráveis. Devido a isto, os problemas da degradação sócio-ambiental são muito mais graves nos últimos,

evidenciando assim, o fato de que, dentro da mencionada globalidade, a posição que os países e os indivíduos têm na sociedade, frente aos níveis de desenvolvimento econômico e social alcançados, determina uma percepção divergente, e uma forma distinta de hierarquizar os problemas ambientais.

Nesse contexto, parece possível que, sendo as manifestações da crise ambiental diferenciadas, pois dependem do contexto geográfico, cultural, econômico e político, também as estratégias teóricas e, conseqüentemente, as ações práticas, devem ser distintas.

Leff (1986), por exemplo, ressalta que os países industrializados privilegiam uma perspectiva conservacionista da natureza e uma política remedial dos efeitos contaminantes dos processos produtivos dentro das condições econômicas, da racionalidade produtiva, das práticas de consumo e dos padrões tecnológicos prevalecentes. Por sua vez, os países do terceiro mundo, sobretudo os latino-americanos, têm enfatizado as mudanças sociais, políticas e institucionais com vistas a um aproveitamento racional dos recursos existentes e do potencial produtivo das regiões subdesenvolvidas, pois ainda se faz necessário atender as necessidades básicas da população.

Bifani (1993) reforça este posicionamento, mostrando que existem grandes diferenças entre as condições de vida das populações dos países desenvolvidos e dos subdesenvolvidos. A população destes últimos está muito longe do bem estar que goza a população dos primeiros. Mais ainda, sua capacidade econômica, seu acesso à terra, ao conhecimento, à tecnologia e a todos os instrumentos de que dispõe hoje a humanidade, são extremamente precários. Por este motivo não se pode separar os problemas ambientais das questões sociais, até porque muitos dos problemas sociais evidenciados nestes países são potencializadores e reforçadores da predação natural.

Segundo Penteado (1994), nos países subdesenvolvidos, além de uma população de trabalhadores mal remunerados, consumindo sua energia numa jornada diária estafante,

existe, ainda, uma outra totalmente alijada do mundo produtivo e que, desprovida de todas as formas de garantias sociais, acaba reforçando os problemas ambientais. Dentre essas garantias sociais, destacamos, por ser objeto desta análise, o direito à educação.

Assim sendo, o processo educacional, indispensável à formação da mentalidade dos cidadãos de uma sociedade, preparando-os para a participação na tomada de decisão, em relação a possíveis soluções da problemática sócio-ambiental, acaba não se concretizando. O ensino desenvolvido nas instituições educacionais, alheio, muitas vezes, à realidade em que se situa e de onde provém a população, acaba por colaborar para a marginalização da mesma, aumentando, nas escolas, as fileiras da repetência e evasão escolar.

Nesta assertiva é que concordamos com Penteado (1994) quando afirma que, aos efeitos negativos do nosso modelo de desenvolvimento, à pobreza, à miséria e à ignorância, somam- se os efeitos naturais nocivos, potencializando-se reciprocamente.

No bojo destas discussões, o Desenvolvimento Sustentável surge como uma estratégia de sobrevivência, e a Educação Ambiental se fortalece como instrumento para a sua promoção.