As alternativas para resolver a problemática ambiental exigem mudanças radicais nos modelos de desenvolvimento e a mencionada problemática vem criando situações limites para a humanidade em seu conjunto, exigindo a produção de respostas novas em todos os âmbitos da sociedade.
A procura de caminhos para a superação desta situação fez com que se retomassem as reflexões sobre “desenvolvimento sustentável”. Esta expressão, apesar de disseminada desde 1972, por ocasião da primeira “Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente”, em Estocolmo, foi resgatada na última década, passando, efetivamente, a fazer parte das discussões sobre a possibilidade de superação da crise sócio-ambiental dos países subdesenvolvidos.
Apresentado como um recurso para se enfrentar a difícil situação experimentada pelo mundo atual, o “desenvolvimento sustentável” foi amplamente discutido na Rio/92, como estratégia para se enfrentar, na atualidade, o paradoxo “desenvolvimento/destruição”, decorrente do processo de industrialização, existindo praticamente um consenso na literatura de que não se trata de negar o mencionado processo.
Penteado (1994) argumenta que negar o processo industrial significa desconsiderar a capacidade produtiva por ele gerada, bem como todo o avanço que a moderna tecnologia permitiu ao mundo conhecer, traduzida em confortos e recursos da vida cotidiana, nos mais diferentes setores da sociedade. Mas, aceitá-lo simplesmente, tal como se apresenta hoje, significa omitir-se diante da destruição ambiental que o mesmo vem provocando
Segundo Medina (1994), as várias contradições na forma de conceber o “desenvolvimento sustentável”, acabaram por propiciar que cada país, cada região, cada grupo social fizesse a
sua própria leitura, adequando-a a seus interesses específicos, surgindo diversas correntes de pensamento. Algumas dessas correntes percebem-no como uma rearticulação do crescimento econômico, incluindo os custos ambientais, ou seja, um planejamento ambiental no marco do cálculo econômico das teorias convencionais.
Uma outra linha de pensamento tem a ver com o paradigma da globalidade, na qual a procura de um desenvolvimento sustentável se faz a partir de uma concepção mundial da economia e da correção dos modelos de desenvolvimento. Passa-se, então, a diminuir o consumo das sociedades altamente industrializadas e amenizar a pobreza das sociedades subdesenvolvidas, atribuindo-se às instâncias internacionais o controle das situações ambientais.
Por fim, há uma linha de pensamento que, refletindo as possibilidades de um desenvolvimento sustentável, define alternativas que superam o conceito predominantemente quantitativo de crescimento econômico, incorporando as potencialidades ecológicas, sociais e culturais. Adotando esta ótica, nos países latino-americanos tem-se buscado, também, superar a visão conservacionista dos problemas ambientais. Meio Ambiente é apresentado de uma forma mais ampla, partindo de sua gênese histórica, caracterizando-o como um potencial produtivo, a partir de sua estruturação como sistema de recursos.
Nesta perspectiva, “ambiente e desenvolvimento”, não aparecem como opostos, mas se conjugam em uma visão alternativa de desenvolvimento, na qual a produtividade ecológica dos ecossistemas é capaz de integrar os processos naturais, culturais e tecnológicos.
Leff (1986) ressalta que se faz necessário criar uma nova racionalidade produtiva, uma racionalidade ecotecnológica para o desenvolvimento das forças produtivas e também do processo de trabalho, requerendo a integração de três níveis de produtividade, sejam eles:
Produtividade ecológica – fundada na estrutura funcional dos ecossistemas; Produtividade
tecnológica – fundada na transformação ecologicamente racional dos ecossistemas, orientada
potencial para sua transformação em valores de uso, e a geração de uma rede de técnicas apropriadas para transformar os recursos em bens de consumo com a máxima produtividade;
Produtividade cultural – proveniente da inovação de formas de organização produtiva e de
processos de trabalho concreto de cada comunidade .
Neste contexto, evidencia-se a necessidade da investigação científica voltada para o conhecimento do potencial produtivo dos recursos naturais de uma determinada região. Na verdade, este é entendido como a base fundamental para desenvolver investigações tecnológicas que resultem em técnicas comprometidas com as especificidades dos ecossistemas e com as características culturais das comunidades, a fim de atender as suas necessidades básicas e elevar a qualidade de vida das mesmas.
No pensamento latino-americano, a prática de um desenvolvimento sustentável traz subjacente a implementação de novas tecnologias ecológicas e novas práticas produtivas, inseridas em um processo sócio-político de transformações históricas e de lutas sociais pela apropriação dos conhecimentos técnicos dos meios de produção por parte dos povos (LEFF, 1986).
A solução da problemática ambiental passa, necessariamente, por mudanças sociais estruturais, exigindo, portanto, mudanças econômicas, tecnológicas e políticas de fundo. Neste processo, a educação ambiental pode contribuir para as mudanças das relações ser humano/ser humano e ser humano/natureza. Porém, quando nos referimos à possibilidade do processo educacional contribuir na transformação dessas relações vigentes, nos reportamos a Saviani (1986, p. 163) quanto à necessidade de superação das teorias não críticas e ingênuas nas formas de conceber a educação, afirmando que:
“A teoria exprime interesse, exprime objetivos, exprime finalidades; ela se posiciona a respeito de como deve ser - no caso a educação - que rumo a educação deve tomar e, neste sentido, a teoria é, não apenas retratadora da realidade, não apenas
explicadora, não apenas constatadora do existente, mas é também orientadora de uma ação que permita mudar o existente.”
Na perspectiva acima, uma teoria crítica produz um conhecimento que não se reduz à pura contemplação do existente. Há necessidade de um envolvimento concreto com a sociedade a que se vincula. Assim, para propor a Educação Ambiental, enquanto uma possibilidade de contribuir no processo de transformação das relações sócio-ambientais da sociedade atual, necessário se faz, além da superação das tendências de interpretação unilateral do conceito de meio ambiente, que se supere, também, as formas não críticas de conceber a educação ambiental.
Referindo-se especificamente ao papel que a educação ambiental pode assumir na sociedade brasileira, Medina (1993) acredita que esta pode adquirir um papel importante na busca de respostas aos desafios que nos colocam as circunstâncias atuais – econômicas, políticas, culturais, sociais e ecológicas – colaborando com os imprescindíveis processos de conhecimento, estabelecendo novos pressupostos teóricos, novas atitudes e idéias que permitam modificar as relações entre a sociedade e a natureza, crescimento econômico, conservação e elevação da qualidade de vida da população.
Inferimos, então, que a questão da Educação Ambiental é, antes de tudo, uma questão de educação de qualidade, do acesso e permanência na escola e da compreensão, por parte da população, dos avanços científico-tecnológicos de nossa época, visando uma participação efetiva nas propostas de solução.