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A problemática obsessiva

No documento Joel Dor Estruturas e Clinica Psicanalitica (páginas 90-93)

A estrutura obsessiva

XV. A problemática obsessiva

Como fiz para com as perversões e a histeria, abordarei a estrutura a partir do processo de atualização do desejo do sujeito diante da função fálica.

Tradicionalmente, no campo psicanalítico, apresenta-se muitas vezes a estrutura obsessiva como uma organização psíquica que a particularidade de ser, de muitas maneiras, oposta à da Por mais cômodo que seja esse tipo de perspectiva, nem por isso deixa de ser Essa oposição não só é relativa, mas também bastante inadequada. Apóia-se apenas na base de certas observações fenomenológicas e, de forma alguma, em

traços estruturais.

A principal dessas observações consiste em pôr em evidência uma ocorrência específica que poderia dar crédito a esta oposição.

Ao contrário do histérico, o obsessivo amado demais

pela mãe. Se bem que este fato pareça incontestável em todas as problemáticas obsessivas, em nada constitui elemento pertinente, que permitisse opor tão facilmente o obsessivo ao histérico. Prova disso seria tratar-se também de elemento conjuntural muito fre- qüentemente identificável cm organizações perversas. Do ponto de vista do diagnóstico, não apoiar-nos neste

de observação.

Trata-se, todavia, de componente certamente valioso para a abordagem da lógica obsessiva. Pôr em evidência que o obsessivo

um sujeito que se sentiu amado cm demasia por sua mãe é apontar algo específico do ponto de vista da função fálica. De fato, o obsessivo se manifesta freqüentemente um sujeito que foi particularmente investido como objeto privilegiado do desejo ou seja, privilegiado em seu investimento fálico.

Donde esta fórmula já os obsessivos são

ser. Esta nostalgia tem seu principal apoio na lembrança de 9 7

um modo particular relação que o obsessivo manteve com sua mãe. Seria, sem dúvida, mais exato dizer: que sua mãe manteve com ele. Descobre-se sempre na história dos obsessivos a menção a uma criança que teria sido a pela mãe, ou que, pelo

menos, pôde, num dado momento, sentir-se junto a

ela.

Nos jogos do desejo mobilizados pela lógica fálica, esse vilégio" desperta necessariamente, na criança, um investimento psíquico precoce c preponderante que consiste, para ela, em constituir como objeto junto ao qual a mãe supostamente irá encontrar o que não consegue encontrar junto ao pai. Em outras palavras, a criança é presa nesta crença psíquica: a mãe poderia encontrar nela o que supostamente espera do pai.

Estamos aí confrontados com um dos pontos decisivos da aposta fálica na dialética a passagem do ser ao ter, onde a mãe aparece à criança como dependente do pai no sentido de que este último "faz a lei" do ponto vista do seu desejo. Nós bem sabemos, trata-se aí de uma vivência psíquica pressentida c interpretada pela criança. Se o pai é suposto fazer lei à mãe, é sob a condição de que a mãe, ela própria, é suposta desejar o que não tem o que o pai possui. É, pela própria definição, do

simbólico do pai que se trata, investimento este que se fecha com a atribuição fálica. É sempre neste deslocamento do atributo fálico que se efetua a passagem do "ser" ao "ter". Ora, deslocamento desses não pode realizar senão na medida em que alguma coisa conseqüente foi significada à criança no discurso materno, declaradamente que o objeto do seu desejo, do desejo da mãe, é estritamente dependente da pessoa do pai. Somente a significação dessa dependência pode mobilizar a criança na di- mensão do ter.

Por menos que certas ambigüidades sejam significadas, no discurso da mãe, a propósito da "localização" do objeto do desejo, a criança, então, poderá se instalar imaginariamente num dispo-

sitivo de à satisfação do desejo materno. Aí está um

ponto crucial na determinação da estruturação obsessiva.

Não se trata, por assim dizer, de ao objeto do

desejo da mãe. Se este fosse o caso, estaríamos em presença linhas determinações favoráveis à organização de perversões, ou mesmo de psicoses. Trata-se, antes, aqui, de suplencia à satisfação do desejo da mãe. que faz supor que essa satisfação

foi designada à criança como falha. Toda a ambigüidade evocada precedentemente reside justo em torno desta dependência do desejo da mãe, e malgrado ela, pode se reduzir a duas significa- ções que não se recobrem completamente.

mãe dependente do pai do ponto de vista do seu desejo; mas, por não parece receber por inteiro do pai o que é suposta esperar. Esta lacuna na satisfação materna induz, à criança que se faz testemunha disto, a abertura favorável para

A criança é confrontada com a lei do pai, mas mantém-se também subjugada pela mensagem de insatisfação materna. Neste ponto, uma precisão merece ser dada: a mãe não aparece, aos olhos da criança, como radicalmente insatisfeita. No máximo, trata-se de uma vacância parcial desta satisfação, a partir da qual

a mãe vai tentar buscando um complemento pos-

sível junto à criança. neste sentido, c apenas neste sentido, que o obsessivo é objeto de um investimento particular que lhe dá a

convicção de ter sido a criança preferida, privilegiada. Mas,

repito, o privilégio nunca passa de à satisfação falha do desejo materno. Se a criança é logicamente levada à lei do pai pela referência do discurso materno que aí inscreve o seu desejo, essa não deixa de constituir um apelo de oferecimento para uma persistência da identificação fálica. Da mesma forma, existe sempre no obsessivo uma incerteza constante entre o retor- no regressivo a uma identificação assim, e a obediência à Lei e às implicações que esta supõe.

Por mais que este retorno ao ser seja fortemente cobiçado em vista da satisfação falha do discurso materno, ele nunca é plena- mente conseguido. Já essa "nostalgia" sintomática revela certos traços estruturais característicos da economia obsessiva do dese- jo. Da mesma maneira, que o reconhecimento do pai simbó- lico se suporta com certas ambigüidades, ele será também objeto de notáveis manifestações.

Essa dúvida permanente se ilustra sobretudo pela atitude de fuga adiante que o obsessivo não pára de atualizar em vista do

seu desejo.

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No documento Joel Dor Estruturas e Clinica Psicanalitica (páginas 90-93)