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Estrutura histérica e lógica fálica

No documento Joel Dor Estruturas e Clinica Psicanalitica (páginas 60-63)

A estrutura histérica

X. Estrutura histérica e lógica fálica

Como fizemos para com a estrutura perversa, proponho que tentem cernir os traços estruturais fundamentais da histeria, isto é, pondo em evidência, na dialética do desejo e à vista do jogo fálico, o que se pode considerar como de ancoramento" das organizações histéricas.

Convém então apontar os pontos de cristalização em que esta lógica fálica inflete segundo um modo específico e preponderante que se fixa, no presente caso, em torno da problemática do ter e do seu correlato não ter.

Por menos que se trate, na histeria, de um fato estrutural, nem por isso a passagem do ser ao ter deixa de constituir um aconte- cimento geral da dialética edipiana. Trata-se, portanto, de uma dimensão que intervém no horizonte de todos os processos de organização psíquica. modo estereotipado de se encarregar do jogo constituído por esta problemática do ter é que será represen- tativo da estrutura histérica.

Como sabemos, a passagem do ser ao ter é determinada prin- cipalmente pela intrusão paterna. pai imaginário aí se manifesta intervindo especificamente como pai privador e frustrador. Do

mesmo modo, aparece à criança como um pai É,

efetivamente, porque o pai é reconhecido pela mãe como aquele que lhe "faz a lei" (Lacan), que o desejo da mãe se revela à criança como um desejo inscrito na dimensão do ter. Enquanto o pai privador arranca a questão do desejo da criança da dimensão do ser (ser o falo da mãe), este pai conduz inevitavelmente a criança para o registro da castração.

Esse pressentimento da castração é aquilo através do que a criança descobre não ser, não só o falo, mas também não o ter, à exemplo da mãe, que descobre, ao mesmo tempo, desejar a criança ali mesmo, onde é suposta estar. pai tem, assim, acesso

a sua plena função de pai simbólico, ainda mais que a mãe reconhece a palavra do pai como a única suscetível de mobilizar o seu desejo. Com efeito, nesta nova mobilização do desejo da mãe, tal como aparece à criança, esta última não pode deixar de instituir o pai imaginário num lugar onde ele é depositário do falo.

Insisto particularmente neste reviramento da dialética do ser ao ter na da estrutura histérica. Sobre este ponto e sua incidência no complexo de castração, Lacan nos traz um esclarecimento precioso:

"Para tê-lo, é preciso ter sido colocado que não se pode tê-lo, que esta possibilidade de ser castrado é essencial na assunção do fato de ter o falo. Aí está o passo que se deve dar, é onde deve intervir, a qualquer momento, eficazmente, realmente, efetivamente o

jogo por excelência, a questão desse "passo a conquista do falo. É através dessa conquista que a criança se subtrai à rivalidade fálica na qual ela se instalara

tão bem que havia, até alojado o pai. A assun-

ção desta conquista do falo é, na verdade, o que Freud designava pela expressão declínio do complexo de édipo. Fácil é então compreender que um declínio assim permaneça, pois, diretamente suspenso à questão da atribuição fálica paterna, ou seja, o mo- mento preciso em que a lógica do desejo histérico vai se iniciar.

Como bem observa Lacan, é preciso que o pai, a um dado momento, dê a "prova" dessa atribuição. Ora, precisamente, toda a economia desejante do histérico se esgota sintomaticamente na

colocação à prova desse a prova

Mais uma vez, o ensino de Lacan esclarece consideravelmente esta fronteira psíquica a propósito da qual o histérico tropeça

"É no que ele (o pai) intervém como aquele que tem o falo e não como quem ele é que se pode produzir isto que reinstaura a instância falo como objeto desejado pela mãe e não só apenas como objeto de o pai pode privá-la"?

De fato, o histérico interroga e contesta infatigavelmente a atribuição fálica numa oscilação em torno desta "alguma coisa" que vai se desenvolver sob o fundo de uma indeterminação entre duas opções psíquicas: de um lado, o pai tem, de direito, o falo, e é por esta razão que a mãe o junto a ele; por outro lado. o pai só o tem por dele a mãe. É sobretudo esta última opção

fiAtna

que a prova constante, mantida pelo his-

térico com relação à atribuição fálica.

Aceitar que o pai o único do falo é engajar

seu desejo para ele à maneira de não tê-lo. Por outro lado. contestar esse falo enquanto não o tendo o pai senão por ter dele desapropriado a mãe é abrir a possibilidade de reivindicação permanente concernente ao fato de a mãe poder também tê-lo, ou

mesmo ter ela o direito a ele.

Neste nível da dialética facilmente

como pela mãe

e pelo pai quanto a inscrição exata da atribuição fálica, podem aparecer como fatores favoráveis à organização do processo his- térico. Se pude dizer que os obsessivos são uns nostálgicos do ser, pode-se igualmente dizer que os histéricos são uns militantes

do ter.

Nesta reivindicação do ter, identificamos, evidentemente, al- guns dos traços mais notáveis da histeria. Uma observação, toda- via, deve ser feita: a diferença dos sexos não se dá sem algumas incidências. Segundo o sexo do histérico, a reivindicação ganhará contornos fenomenologicamente diferentes. Isto não impede que,

fundamentalmente, esta busca ou mesmo conquista

inscreva-se numa mesma apropriar-se do atri-

buto fálico de que o sujeito se estima injustamente

Que se trate, para a mulher histérica, "de bancar o homem", como dizia Lacan, ou, pelo contrário, para o histérico masculino, ator- mentando-se na busca de dar provas de sua "virilidade", a coisa em nada muda. De um lado como de outro, está em questão a adesão a um fantasma mobilizado pela posse suposta do falo; donde, em ambos os casos, a confissão implícita de que o sujeito não o poderia ter.

No documento Joel Dor Estruturas e Clinica Psicanalitica (páginas 60-63)