• Nenhum resultado encontrado

5 OS PROCESSOS DE LATROCÍNIO DA COMARCA DE RECIFE-PE

5.2 ANÁLISE DOS CASOS

5.2.1 A produção das características psicossociais ao longo do processo

Utilizando a abordagem faircloughtiana (2001; 2003), amparei minha análise em cotejo com outras pesquisas que aplicam a ADC para outros objetos de estudo (PEDROSA, 2005; FREITAS, 2013 e RESENDE; RAMALHO, 2006), o que resultou na seleção das seguintes categorias analíticas: a intertextualidade manifesta, a localização da representação dos atores no discurso (vozes) e da identificação do juiz com a posição do sujeito condenado. Optei por fazer a exposição dos casos em quadros como forma de sistematizar as informações em sequência para posterior análise (dados do processo no Apêndice I). Destaco que tomando como unidade de análise o discurso judiciário, a perspectiva faircloughtiana permitiu conectar referencial teórico de base interacionista com uma metodologia de construção e análise de dados que percebe o discurso enquanto uma linguagem em uso, estando texto, prática discursiva e prática social articulados (FAIRCLOUGH, 2001; 2003).

Nesse sentido, meu deslocamento analítico foi pendular entre as dimensões textual (da estruturação sintática e morfológica) e institucional de enunciação dos discursos de modo que esses estão em interação com outros textos e outras práticas, não havendo incompatibilidade entre uma análise documental dentro da abordagem da ADC com o referencial interacionista das minhas categorias teóricas. Ao contrário, pela ADC pude contemplar os aspectos sociocognitivos e organizacionais na compreensão dos discursos, já que o entendimento dos modos de subjetivação e sujeição criminal das acusadas apresenta momentos de cristalização, por exemplo, quando a juíza precisa fazer a dosimetria da pena para condenar alguém e, assim, é colocada na posição de falar sobre a personalidade e a conduta social de quem cometeu o latrocínio. São essas escolhas feitas pelos magistrados, as estratégias linguístico-discursivas empregadas, o relacionamento da sentença com as demais peças do processo na construção da subjetividade do desviante meu foco de análise. Por isso, prescindi da realização de observação não participante nas audiências, notadamente nos interrogatórios, pois minha pesquisa quer abordar o discurso judiciário sobre a subjetividade desse outsider, o acusado e não o relato desse sobre si mesmo.

Quadro 1 - Caso 1 de processo de crime de latrocínio em Vara criminal de Recife-PE. Elaboração própria.

“Por volta das 07:00h do dia 28 de dezembro de 2014, policiais militares foram acionados pelo CIODS para atenderem a uma ocorrência de assalto a

Descrição da conduta na

denúncia

ônibus na Av. Cruz Cabugá, bairro de Santo Amaro, nesta cidade. De acordo com o apurado, a denunciada entrou no transporte público como uma passageira normal e, já no interior do veículo, anunciou o assalto, empunhando uma faca serra de cortar pão. Os passageiros, então, correram para fora, mas a vítima caiu ao descer os degraus do ônibus, momento em que a denunciada desferiu-lhe golpes de faca. A vítima, todavia, não veio a óbito, em razão da intervenção dos outros passageiros, que detiveram a denunciada, fazendo com que parasse de golpear a vítima. Com a chegada da guarnição policial, a denunciada foi presa em flagrante e a vítima foi levada para a UPA de Olinda, para que recebesse os socorros necessários.”

Características da autora da infração (marcadores sociais e variáveis sociodemográficas apresentadas no processo)

Mulher, negra61, 30 anos, solteira, residente no Ibura, pai e mãe identificados,

alfabetizada (ensino fundamental), estado econômico até 2 s.m. estudante. Uso de álcool e crack antes da ação delitiva.

Presa ou solta durante o processo

Presa em flagrante com prisão preventiva decretada. Na decisão, a juíza fez a seguinte observação: “Destaco, ainda, que a autuada progrediu para o Regime aberto há pouco mais de 90 (noventa) dias, demonstrando personalidade voltada para a prática de crimes. [...] Assim, qualquer outra medida cautelar que não a prisão seria inadequada para este caso em concreto, em que todas as circunstâncias, sejam fáticas ou pessoais, não lhe são favoráveis.”

Defesa Defensoria pública – sem pedido de relaxamento da prisão

Colheita de provas (fase policial, laudos periciais,

testemunhas)

Perante a autoridade policial, a acusada admite a prática delitiva, mas oferecendo outra versão dos fatos.

Não houve menção a características psicossociais na fase policial.

Em juízo, sem testemunha de defesa. As testemunhas de acusação foram os policiais que prenderam a acusada e uma amiga da vítima que estava no local do crime. A vítima também depôs.

Atributos na acusação

Não faz menção à conduta social ou personalidade da acusada na denúncia, nem nas alegações finais.

Atributos na defesa

Alegações finais: “Quanto à conduta social e personalidade, a prática de delitos já denota, por si, que o agente se desajustou das normas sociais de conduta, nada havendo nos autos de especial quanto a sua conduta social e personalidade.

A sanção para a conduta típica é prevista em escala no dispositivo penal já de acordo com a sua gravidade para a sociedade, não podendo o acusado ser

61 As variáveis sociodemográficas e os marcadores sociais da diferença trazidos para o meu texto são absolutamente fieis ao que consta dos processos, razão pela qual não alterei nomenclaturas quanto à raça/etnia, por exemplo.

duplamente apenado: uma porque cometeu o fato típico, com isso desajustando-se da norma social de conduta, a norma de proibição, e a outra porque com isso revelaria uma personalidade desajustada.

Seria preciso algo de especial na sua personalidade que o diferenciasse dos demais que ordinariamente cometem o aludido delito, e tal não foi demonstrado.”

Pede a redução da pena com a aplicação da atenuante pela confissão.

Tipificação

Latrocínio tentado (Art. 157, §3º, in fine, c/c art. 14, inciso II, ambos do Código Penal)

A vítima sofreu três golpes de faca e não teve seu patrimônio subtraído, sendo a acusada impedida de consumar o crime.

Arma Faca serra de cortar pão

Atributos na sentença

“3) Conduta Social

Nenhum elemento probatório foi coletado a respeito da sua conduta social, razão pela qual, deixo de valorá-la. Ademais, a valoração da conduta social não se confunde com o exame dos antecedentes criminais nem com a reincidência. NEUTRO.

4) Personalidade do agente

Não existe nos autos qualquer elemento plausível para aferição da personalidade do acusado, razão pela qual deixo de valorá-la. NEUTRO.”

Circunstâncias judiciais

“1) Culpabilidade A culpabilidade é normal à espécie, já estando devidamente valorada quando da tipificação da conduta como ilícito penal, não havendo nada a valorar. NEUTRO. 2) Antecedentes Criminais A acusada é possuidora de antecedentes criminais, tendo em vista a existência de duas condenações transitadas em julgado pela prática de fatos criminosos anteriores, sendo que, uma delas configura reincidência, enquanto a outra, não. Desta forma, uma delas será valorada nesta fase da dosimetria, permitindo a exasperação da pena-base, enquanto que a outra será valorada tão somente na fase posterior, garantindo-se com isso a preservação da inocorrência do bis in idem, uma vez que os respectivos acréscimos de penas serão oriundos de condenações irrecorríveis diversas, o que afasta a aplicabilidade da Súmula 241 do STJ. DESFAVORÁVEL. 3) Conduta Social Nenhum elemento probatório foi coletado a respeito da sua conduta social, razão pela qual, deixo de valorá-la. Ademais, a valoração da conduta social não se confunde com o exame dos antecedentes criminais nem com a reincidência. NEUTRO. 4) Personalidade do agente Não existe nos autos qualquer elemento plausível para aferição da personalidade do acusado, razão pela qual deixo de valorá-la. NEUTRO. 5) Motivos do crime Os motivos do crime se mostraram reprováveis, uma vez que a acusada confessou que usaria o dinheiro oriundo da venda dos bens roubados para comprar drogas. DESFAVORÁVEL. 6) Circunstâncias do delito As circunstâncias estão

demonstradas nos autos, nada tendo a se valorar. NEUTRO. 7) Consequências do crime As consequências do crime são normais à espécie, nada tendo a se valorar que extrapole os limites previstos pelo próprio tipo. NEUTRO. 8) Comportamento da vítima O comportamento da vítima não contribuiu para a conduta criminosa do agente, razão pela qual deixo de valorá-lo. NEUTRO.”

2 desfavoráveis: Antecedentes, motivo.

6 neutras: Culpabilidade, conduta social, personalidade, circunstâncias e consequências do crime e comportamento da vítima.

Pena-base: 22 anos e 6 meses de reclusão e 12 dias-multa.

Fonte: TJPE.

No caso 1, apresenta-se a julgamento uma mulher negra, de 30 anos, solteira, residente no Ibura, pai e mãe identificados, escolarização até o ensino fundamental sem indicar série, estado econômico até 2 salários mínimos, estudante. A sua conduta foi praticada em um transporte coletivo no horário da manhã contra uma vítima mulher, sem maior caracterização nos autos. O crime foi praticado com o uso de uma faca de serra de cortar pão, sendo apontado no interrogatório policial da acusada o uso de álcool e crack antes da ação delitiva. Impedida de consumar sua ação por policiais que chegam ao local, a ré não consegue subtrair o patrimônio da vítima que sofreu três golpes de faca, sendo atendida em unidade pública de saúde. Durante o processo, ela permanece presa, tendo sua prisão preventiva decretada com as seguintes observações da juíza:

Destaco, ainda, que a autuada progrediu para o Regime aberto há pouco mais de 90 (noventa) dias, demonstrando personalidade voltada para a prática de crimes. [...] Assim, qualquer outra medida cautelar que não a prisão seria inadequada para este caso em concreto, em que todas as circunstâncias, sejam fáticas ou pessoais, não lhe são favoráveis. (sem destaques no original) (juíza)

Essa atribuição é tomada por inferência, tendo por base teorias implícitas da personalidade, chegando a magistrada a essa conclusão pelo fato de que

Realizando as pesquisas no Sistema Judwin e Portal da SDS, verifico ser a autuada REINCIDENTE, pois possui DUAS condenações transitadas em julgado, uma por furto qualificado pelo concurso de pessoas, perante a 6ª Vara Criminal da Capital (Proc nº 0004834-20.2008.8.17.0001) e outra perante a 10ª Vara Criminal da Capital, por roubo duplamente majorado pelo concurso e pelo uso de arma de fogo (proc. Nº 0033618-65.2012.8.17.0001). (com destaques no original) (juíza)

Como possibilidade linguística de realização da intertextualidade, a autora do texto (magistrada) usa a pressuposição para fazer derivar das ações já julgadas um atributo da personalidade da autuada, sem ter havido ainda o início do processo, tendo apenas os indícios coletados com o auto de prisão em flagrante, reiterando sua argumentação no sentido de que a ré não possui quaisquer circunstâncias, sejam fáticas ou pessoais, favoráveis, sendo omissa quanto a quais são essa circunstâncias valoradas negativamente, a não ser o fato de a autora do delito investigado ser reincidente.

Há uma operação de legitimação discursiva, mediante a qual a validação de certo fundamento e suas principais formas estratégicas de atuação são a racionalização e a universalização (THOMPSON, 1995 apud FREITAS, 2013). Assim, o discurso é produzido no sentido de convencer ao seu consumidor de que estando diante de uma pessoa cuja “personalidade voltada para a prática de crimes” está demonstrada e, no contexto, “em que todas as circunstâncias, sejam fáticas ou pessoais, não lhe são favoráveis”, a única conclusão lógica seria mantê-la presa. Afinal, a autuada é um perigo à sociedade e a juíza, no caso, atua como quase como uma cientista que observa, realiza pesquisa e evidencia os fatos em desfavor da ré, seu posicionamento identificacional no texto é esse.

Pela análise textual, noto o tom assertivo com que a magistrada afirma categoricamente que a autuada demonstra “personalidade voltada para a prática de crimes”, tendo por base somente as provas colhidas na fase policial (quais sejam o depoimento de 3 testemunhas de acusação e da vítima). Quanto à representação dos atores, tenho que o sujeito ativo é ela mesma juíza que pratica as ações (“destaco” e “verifico”), enquanto a acusada é nomeada enquanto “a autuada”, em um processo de personalização, mas que não traz a representação dessa voz.

Após essa decisão, foi concluído o inquérito e oferecida a denúncia. A defesa da acusada é feita pela Defensoria pública, que não apresenta testemunhas, nem faz pedido de relaxamento da prisão, observando que, nesse sentido, coopera com a “linha de montagem”. Em juízo, foram colhidos os depoimentos de um dos policiais como testemunha de acusação, da vítima e da acusada. As peças do Ministério público não fazem menção a quaisquer características psicossociais da ré. Por sua vez, as alegações finais da defesa trazem esses elementos, mas em uma sustentação genérica para argumentar que não há nada nos autos quanto à conduta social e personalidade da ré.

Na sentença, diante do que restou apurado no processo, o juiz diferentemente da juíza que determinou a prisão preventiva considerou que “nenhum elemento probatório foi coletado

a respeito da sua conduta social” e que “não existe nos autos qualquer elemento plausível para aferição da personalidade do acusado.” Ambas foram consideradas circunstâncias neutras, não servindo para influir na fixação da pena-base em patamar mais elevado. Como variável interveniente na compreensão desse fato, é necessário destacar que a vítima não teve o patrimônio subtraído, mas sofreu lesões corporais, que não geraram incapacidade, nem se mostraram capazes, por si só, de causar a sua morte. A discordância dos entendimentos entre a juíza que decretou a prisão preventiva e o juiz que condenou a ré não é problematizada, pois é um juízo discricionário inquestionável. Essas vozes se refutam, mas não se identificam como produtoras de subjetividade, seja fortalecendo a acusação social quanto à personalidade, seja neutralizando-a.

Como categorias nativas foram encontradas as seguintes expressões: “personalidade voltada para a prática de crimes”; “todas as circunstâncias, sejam fáticas ou pessoais, não lhe são favoráveis” na decisão que converteu a prisão em flagrante em prisão preventiva, bem como, na sentença, “nenhum elemento probatório foi coletado a respeito da sua conduta social, razão pela qual, deixo de valorá-la. Ademais, a valoração da conduta social não se confunde com o exame dos antecedentes criminais nem com a reincidência. NEUTRO. Não existe nos autos qualquer elemento plausível para aferição da personalidade do acusado, razão pela qual deixo de valorá-la. NEUTRO.” Observo que, apesar de a pessoa ré ser mulher, a flexão de gênero para o feminino ao tratar da personalidade não foi feita, o que pode sugerir um lapso na reescritura desse texto, possivelmente já constante de um modelo anterior de sentença62. Notei que, nas demais partes, a sentença faz a referida flexão.

Codificando essas categorias em um gradiente que vai das desfavoráveis às favoráveis ao acusado, estabeleço a seguinte convenção: (-1) característica psicossocial desfavorável, (0) neutra/omissa e (1) característica psicossocial favorável. Assim, para o caso 1, tenho:

(-1) “personalidade voltada para a prática de crimes”;

(-1) “todas as circunstâncias, sejam fáticas ou pessoais, não lhe são favoráveis”; (0) “nenhum elemento probatório foi coletado a respeito da sua conduta social”; e

(0) “não existe nos autos qualquer elemento plausível para aferição da personalidade do acusado”.

62 Cabe esclarecer que á prática comum no Judiciário, a juíza ter seus modelos de sentenças, despachos e decisões produzidas por assessoras. Na atual estrutura do TJPE, o magistrado de 1º grau conta com 02(dois) servidores públicos ocupantes de uma função gratificada com a finalidade específica de redigir as minutas, espécies de esboços das decisões a serem tomadas pelo juiz. Caberia um outro estudo direcionado à estrutura organizacional para compreender qual o grau de influência desses atores na produção textual pelo Judiciário.

Quadro 2 – Caso 2 de processo de crime de latrocínio em Vara criminal de Recife-PE. Elaboração própria.

Descrição da conduta na

denúncia

“Consta do procedimento investigatório que em 24 de março de 2005, por volta das 23 horas, na Av. Manoel Gonçalves, Mustardinha, os denunciados, utilizando-se de arma de fogo, produziram em Alberto*63 as lesões descritas

no laudo de fls. 33, cuja gravidade causara-lhe a morte, subtraindo da vítima, em ato contínuo, um aparelho celular, um relógio de pulso, cordões e pulseira de prata, bem assim a importância de R$ 700,00 (setecentos reais), evadindo- se em seguida. Informa o Inquérito Policial, mais precisamente a testemunha Lucas*, que os denunciados encontravam-se bebendo num bar conhecido como Bar do George, no bairro do crime, momento em que a vítima passou de moto pelo citado bar e foi seguida, também de moto pelos denunciados. Ao chegar na Av. Manoel Gonçalves, os denunciados abordaram a vítima consumando o crime já relatado.”

Características dos autores da infração (marcadores sociais e variáveis sociodemográficas apresentadas no processo) Dois acusados

A1) Pedro*, vulgo “Zai”, moreno claro, 27 anos, solteiro, arrumador aposentado, pais identificados, residente em San Martin, 3 filhos, católico, 3ª série primária.

A2) Adriano*, moreno, 21 anos, solteiro, pais identificados, peixeiro, possui um Box de peixe no mercado de Afogados, residente na Mangueira, sem religião, 5ª série do 1º grau, sem filhos.

Preso ou solto durante o processo

Prisão preventiva decretada contra ambos os acusados, ficando custodiado apenas A1, diante da fuga de Fábio.

A2 somente foi preso em 2013.

Defesa A1 constitui advogado particular e faz pedido de relaxamento de prisão, acompanhado de abaixo assinado.

A2 tem defensor nomeado (Defensoria pública).

Colheita de provas (fase policial,

Em sede policial, A1 confirmou ter atirado na vítima e não incrimina A2. No interrogatório ao juiz, nega ter praticado o crime.

Em sede policial, o acusado A2 diz que estava com o outro acusado, que não subtraiu bens, nem sabia que o outro réu estava armado e que iria atirar. A vítima faleceu e teve seu patrimônio subtraído.

Na fase policial, depoimentos como testemunhas de acusação no inquérito: mãe, irmão e companheira da vítima afirmam temer pela própria vida, alegando sofrerem ameaças por terem “denunciado” o crime. Uma testemunha (Lucas*) diz que A1 é matador e que, ao ouvir a conversa dos

laudos periciais, testemunhas)

acusados no bar, ficou claro, para ele, que a vítima e A1 eram inimigos. Ainda na etapa do inquérito, na condição de testemunha, o pai de um dos acusados (A2) afirma à polícia: “que o depoente afirma que desde a infância de seu filho, acompanha o seu comportamento em sociedade, vindo por várias vezes dar conselhos a seu filho, para que deixasse de andar e se envolver com maus elementos, sendo sempre ignorado pelo mesmo; [...] que o depoente afirma que sempre convidou seu filho para participar dos cultos religiosos de sua religião (Evangélica), uma vez que ouvia falar que seu filho andava com pessoas de má índole, no entanto, em função de está separado há muitos anos de sua ex-esposa não tinha controle na educação de seu filho.” (sic)

Disputa discursiva quanto ao motivo (se era inveja da vítima, se a vítima ameaçava o A1, se havia desavenças pessoais entre eles). As famílias de vítima e réu A1 se conheciam.

Na fase policial, aponta-se que A1 já foi indiciado por tráfico de drogas e homicídio, além de relatos Disque denúncia (não se sabendo qual o teor desses relatos).

Não houve menção expressa às personalidades e condutas dos réus.

Em juízo, a testemunhas de acusação foram mãe, irmão, companheira da vítima e uma pessoa que estava no bar em que estiveram os acusados. Como testemunha de defesa, vieram outra pessoa que também estava no bar em que estiveram os acusados e alguém que foi entregar alguns pertences da vítima à família desta.

Atributos na acusação

Não faz menção à conduta social ou personalidade dos acusados na denúncia, nem nas alegações finais.

Atributos na defesa

Não houve menção expressa às personalidades e condutas dos réus.

Defesa de A1 faz longa argumentação e pede a desclassificação para homicídio com remessa para a Vara do Tribunal do Júri.

Defesa de A2 é mais sucinta e pede sua absolvição.

Tipificação: Latrocínio consumado (Art. 157, §3º, in fine, do Código Penal) Arma: Arma de fogo pertencente a A2 e utilizada por A1 na ação.

Atributos nas sentenças

Foram prolatadas 2 sentenças distintas uma para cada réu por julgadores distintos:

Quanto a A1, “O acusado possui antecedente criminal por tráfico de drogas, e é temido pela comunidade onde reside. O irmão da vítima se sente aterrorizado pela sua pessoa, inclusive narrou ao MP sobre um atentado que sofreu. Já havia inimizade anterior entre os denunciados e vítima, entretanto, matá-la não foi o bastante, aproveitando-se para subtraírem pertences e dinheiro. (...). Personalidade: Denota personalidade perigosa ao cometimento

de delitos. Sendo temido no meio onde reside.”

Quanto a A2, “Não há elementos suficientes nos autos para se definir a conduta social ou a personalidade do agente.”

Circunstâncias judiciais

Para o acusado A1:

“Antecedentes: É tecnicamente primário, entretanto, possui antecedente criminal por Tráfico de Drogas, consoante sua FAC de fl. 65. Personalidade: Denota personalidade perigosa ao cometimento de delitos. Sendo temido no meio onde reside. Circunstâncias do Delito: Estão embutidas no tipo penal. Motivo: Nenhum motivo foi exposto pelo fato da negativa de autoria. Conseqüências do Crime: São conseqüências extrapenais, indo além do tipo