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A PROPOSTA DE RIZZI (1993) E BELLETTI (1995)

No documento Clíticos no português brasileiro (páginas 71-78)

3. OS CLÍTICOS PRONOMINAIS À LUZ DA TEORIA DA GRAMÁTICA GERATIVA: II PARTE

3.2. AS QUESTÕES EM DESTAQUE: O MOVIMENTO E O POSICIONAMENTO FINAL DO CLÍTICO E DO VERBO

3.2.2. A PROPOSTA DE RIZZI (1993) E BELLETTI (1995)

Rizzi e Belletti defendem, com base no programa minimalista de Chomsky (1993), a seguinte hipótese: o movimento do clítico e as diferentes posições que ele ocupa na sentença estão relacionados com a necessidade de checagem de traços, tanto do clítico como do verbo, que é o constituinte que serve de base final para a incorporação do clítico.

Quanto ao movimento do clítico, ele é visto como último recurso, necessário para salvar uma estrutura que seria não convergente se o clítico não se movesse, como podemos ver em (9a), em contraste com (9b):

(9) a. *Conosco la. Conheço a. b. La conosco. A conheço.

Embora haja mais custo derivacional, (9b) evidencia que o clítico se movimenta antes do Spell-out para poder garantir a convergência. Esta não é garantida em (9a) porque onde o clítico se encontra não há como realizar a sua checagem de traços. Resta então saber como ele se movimenta e em que posição ele verifica os seus traços.

A propósito do movimento, os autores assumem que o clítico realiza um movimento misto, já que, segundo Chomsky (1993), um item pode ser ao mesmo tempo um X e um XP, sendo os clíticos elementos que ilustram tal possibilidade. Assim, o movimento do clítico pode ser em parte como projeção máxima e em parte como núcleo. Isto fornece uma explicação para os casos abaixo:

(10) a. Le ho salutate. As tenho saudadas.

b. *Le ho salutato. As tenho saudado.

O exemplo em (10a), contrastado com (10b), indica que o particípio passado obrigatoriamente concorda com o clítico acusativo. Tal fato constitui uma evidência de que o clítico se move como projeção máxima, no mínimo, na primeira parte do movimento. Já numa segunda parte, o clítico se submete a movimento de núcleo, visto que na estrutura final ele aparece incorporado ao verbo. Esse tipo de movimento pode ser visualizado em (11):

Como projeção máxima o clítico se move para o Spec da projeção AgrOP, onde ele checa o traço acusativo. Ao se mover como núcleo, o clítico não deixa de passar pelas outras posições nucleares intermediárias, obedecendo assim a noção conhecida como “Condição do Movimento do Núcleo” (Head Movement

Condition, cf. Rizzi (1993)).

Se o clítico pousa numa posição nuclear, por que ele não pode se mover como núcleo desde o início da derivação? Para esse questionamento Belletti fornece duas explicações: a primeira é que o clítico não deve se mover diretamente para AgrO porque violaria a restrição do movimento do núcleo, já que entre a posição de origem do clítico (interna a VP) e AgrO há outros núcleos intermediários. A segunda é que o clítico não deve se mover “passo a passo” para AgrO porque há duas objeções: se o clítico se mover primeiro para AgrPstPrt (Agr do particípio passado) e em seguida for o verbo para a mesma projeção, a intervenção do clítico entre o verbo e AgrPstPrt bloquearia a checagem de traços da morfologia verbal. Se o verbo se mover primeiro para

AgrPstPrt e depois o clítico se mover para a mesma projeção, o clítico teria que excorporar na derivação, uma vez que o mesmo não permanece ao lado do particípio. Entretanto, no programa minimalista não é possível o processo de excorporação. Assim, a saída é postular que o clítico se move como projeção máxima até o Spec de AgrOP e, desta posição em diante, ele se move como núcleo, finalizando ora antes, ora depois do verbo.

Para os casos em que o clítico ocorre antes do verbo finito como em (10a) e (12), Rizzi e Belletti postulam que o verbo finito somente se completa morfologicamente no núcleo de AgrSP. E é para esta posição que o clítico também se movimenta. Para não interferir na checagem do verbo, o clítico se posiciona à esquerda dele, como podemos ver na representação em (13):

(12) Le vedo.

De acordo com os autores, se o clítico se posicionasse à direita do verbo a checagem de traços deste último seria bloqueada. Como explicar então (14), onde aparentemente o clítico se encontra à direita do verbo?

(14) a. Vederle, ... b. Averle viste, ... Vê-las, ... Tê-la vista, ... c. Vedendole, ... d. Vistele, ...

Vendo-as, ... Vista-a, ...

Rizzi e Belletti explicam que nestes exemplos há movimento suplementar do verbo, como propôs Kayne (1991). Depois que o verbo não-finito checa alguns dos seus traços abaixo de AgrOP, ele se move para uma posição mais alta a fim de se completar morfologicamente. Assim, para não violar o movimento cíclico, o verbo passa por AgrO e leva junto com ele o clítico. Isso pode ser visto em (15), representação parcial para uma sentença como (14a), onde o verbo em questão é o infinitivo:

Esse tipo de explicação também se aplica a “small clause” com particípio passado absoluto (cf. Belletti (1990), Kayne (1989)), em que o clítico se realiza em posição pós-verbal. Observemos isso em (16):

(16) Vistala, Gianni si tranquillizzò. Vista-a, Gianni se tranqüilizou.

Segundo Belletti (1995), nesse tipo de construção há um AgrPstPrt, abaixo de AgrO, onde o particípio passado verifica parte de sua checagem morfológica. Realizada essa checagem, o particípio se move para além da projeção em que o clítico se encontra, resultando na ordem V-CL.

Todavia, dois problemas são colocados: o primeiro envolve as sentenças infinitivas do francês que admitem a próclise, como vemos em (17a); o segundo diz respeito às imperativas positivas, contexto este em que a ênclise é licenciada (18):

(17) a. Les voir. (18) a. Prendiamolo. Os ver. Peguemo-lo. b. *Voir les. b. Prendetelo.

Vê-los. Peguem-no.

Para explicar o primeiro caso (17) Belletti se apóia em Pollock (1989): no francês o verbo infinitivo pode, opcionalmente, se mover para uma posição mais alta na oração. Se na infinitiva temos a próclise, então o verbo não se movimentou para T. Para o segundo (18), Rizzi (1993) assume que nesse tipo

de construção há o movimento do V+I para C em função do Critério Imperativo (uma versão do Critério WH (conforme Rizzi (1991))). Em conseqüência, temos a ênclise. Para as imperativas negativas, em que o clítico pode ser licenciado tanto antes quanto depois do verbo, o autor assume que o paradigma imperativo negativo tem dois possíveis lugares em que pode ser feita a checagem morfológica: InfnP e AgrSP. Se a checagem for feita na primeira projeção temos a ênclise (19a); se for feita na segunda, temos a próclise (19b):

(19) a. Non prendetelo. Não peguem-no. b. Non lo prendete. Não o peguem.

Rizzi lembra ainda que o clítico também ocorre na posição pós-verbal em contextos finitos em línguas românicas, como no PE, por exemplo:

(20) a. Ele encontrou-me na festa. b. A Maria deu-lhe esse livro ontem.

Segundo Uriagereka (1992), citado por Rizzi (1993), o lugar de pouso do clítico nesse tipo de língua é um núcleo funcional acima de AgrSP, para onde o verbo se movimenta dependendo de diferentes fatores. Mas, para Rizzi (1993), esse núcleo é identificado como uma recursão de AgrC. Se o verbo permanecer no núcleo de AgrSP, o clítico não pode ocorrer depois dele, pois interferiria na

checagem morfológica do verbo. Assim, este elemento se movimenta para o AgrC e o clítico poderá se incorporar à sua direita.

Em resumo, vimos que Rizzi (1993) e Belletti (1995) assumem a concepção de que o clítico se submete a dois tipos de movimentos: um como projeção máxima e outro como núcleo. Para os casos em que o clítico aparece antes do verbo finito, presume-se que o verbo esteja no núcleo de AgrSP onde faz a sua checagem de traços. O clítico à esquerda do verbo nesta projeção não interfere em tal processo. Se, por outro lado, ele ocorresse à direita do verbo finito, o processo de checagem deste elemento seria interrompido. Para o posicionamento pós-verbal do clítico, por exemplo, em contextos não-finitos do italiano, supõe-se que o verbo realiza a sua checagem morfológica abaixo de AgrOP e, em seguida, realiza um movimento suplementar no qual leva junto o clítico à sua direita. Nesta situação o clítico não interfere mais no processo de checagem do verbo, já que os traços principais deste constituinte já foram verificados.

No documento Clíticos no português brasileiro (páginas 71-78)