• Nenhum resultado encontrado

IV – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

TOTAL BH-PCJ 7,89 8,43 8,90 8,90 8,

IV. 3.2 – A Qualidade das Águas

A poluição das águas tem como origem diversas fontes, dentre as quais se destacam as cargas pontuais de origem doméstica e industrial e cargas difusas de origem urbana e agrícola. As diferentes formas de aporte tornam, na prática, impossível a análise sistemática de todos os poluentes que possam estar presentes nas águas superficiais. Por isso a CETESB, o órgão de fiscalização ambiental do Estado de São Paulo, faz uso de

50 variáveis de qualidade de água (físicas, químicas, hidrobiológicas, microbiológicas e ecotoxicológicas), considerando-se aquelas mais representativas, cuja amostragem é feita na rede de monitoramento de qualidade das águas interiores (rios e reservatórios). Essa rede tem possibilitado um conhecimento satisfatório das condições reinantes nos principais cursos d’água do Estado de São Paulo. A rede de monitoramento da CETESB possui 307 pontos de monitoramento manuais e 13 estações automáticas que geram dados em tempo real. Em 2005, a CETESB também acompanhou a qualidade das águas brutas de 70 pontos próximos às captações superficiais utilizadas para o abastecimento público de aproximadamente 23 milhões de habitantes[1,3].

As variáveis monitoradas pela CETESB, juntamente com aquelas exigidas pelas

legislações brasileiras (Resolução CONAMA 357/05[146], que classifica as águas doces,

salinas e salobras de todo o Território Nacional, e a Portaria 518/04[156] do Ministério da

Saúde, que estabelece os índices de qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade), são listadas no Anexo 1.

Os principais objetivos dessa rede de monitoramento são: (1) avaliar a evolução da qualidade das águas interiores dos rios e reservatórios do Estado; (2) propiciar o levantamento das áreas prioritárias para o controle da poluição das águas; (3) subsidiar o diagnóstico e controle da qualidade das águas doces utilizadas para o abastecimento público, verificando se as características da água são compatíveis com o tratamento existente, bem como para outros usos; (4) dar subsídio técnico para a elaboração dos Planos de Bacia e Relatórios de Situação dos Recursos Hídricos, bem como para a implantação da cobrança pelo uso da água, realizados pelos Comitês de Bacias Hidrográficas em níveis estadual e federal, na área compreendida pelo Estado de São Paulo; e (5) identificar trechos de rios onde a qualidade d’água possa estar mais degradada, possibilitando ações preventivas e corretivas da CETESB e de outros órgãos,

como a construção de ETE pelos municípios ou a adequação de lançamentos industriais[3].

Para a definição das condições e padrões de qualidade das águas superficiais foram adotados pela CETESB os seguintes critérios[3]:

• Proteção da Vida Aquática, avaliada por meio de ensaios ecotoxicológicos,

realizados para determinar os efeitos tóxicos causados por um ou por uma mistura de substâncias químicas, sendo tais efeitos detectados por respostas fisiológicas aos

organismos aquáticos como a Ceriodaphnia dubia (pulga d’água). Estes efeitos são classificados como agudo (aquele mais severo e rápido, que é caracterizado pela letalidade dos organismos dentro de um período de 48 horas) ou crônico (ação de baixas concentrações de substâncias químicas nas águas, que se traduz pela inibição da reprodução dos organismos dentro de um período de sete dias). Este critério é representado pelo Índice de Proteção da Vida Aquática – IVA.

• Proteção da Saúde Humana, avaliada por meio de ensaios toxicológicos, realizados

para determinar o efeito deletério de agentes físicos ou químicos à saúde humana. Os padrões para proteção da saúde humana são legislados devido às possíveis vias de exposição: água de consumo humano (no caso de águas doces e eventualmente salobras após tratamento avançado), consumo de organismos aquáticos e recreação (águas doces, salobras e salinas), irrigação de verduras e frutas (águas doces e salobras), etc. Este critério é representado pelo Índice de Qualidade de Águas Brutas para Fins de Abastecimento Público – IAP.

• Princípio geral: entre proteção à saúde humana e preservação da vida aquática,

adota-se o valor mais restritivo de acordo com as classes de uso.

Já o enquadramento dos corpos d’água, em âmbito federal, é dado pela Resolução

CONAMA 357/05[146], que define enquadramento como o estabelecimento da meta ou

objetivo de qualidade da água (classe) a ser alcançado ou mantido em um segmento de corpo d’água, de acordo com os usos pretendidos, ao longo do tempo.

O fato de um trecho de rio estar enquadrado em determinada classe não significa, necessariamente, que esse seja o nível de qualidade que ele apresenta, mas sim aquele que se busca alcançar ou manter ao longo do tempo. O enquadramento também guarda importante relação com o desenvolvimento regional pois está diretamente ligado aos usos do solo[3,146].

Segundo o Relatório de Qualidade de Águas Interiores no Estado de São Paulo – Ano 2005, publicado neste ano pela CETESB, todos os corpos d’água que compõem as Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí localizam-se em uma região de alta densidade populacional, onde uma de suas finalidades é o abastecimento público, encontrando-se em processo de eutrofização devido às elevadas cargas de fósforo total.

A coleta e o tratamento de esgotos domésticos são fundamentais para a atenuação deste quadro de deterioração, sendo um de seus aspectos principais a eliminação de nutrientes (nitrogênio e fósforo) que causam a eutrofização e o conseqüente crescimento da comunidade fitoplanctônica. Inclusive foi registrada a presença de cianobactérias (Planktothrix agardhii) em novembro/05 na captação de Piracicaba, em densidades que podem trazer problemas na estação de tratamento, por ser uma espécie potencialmente tóxica. Nestas bacias, as ETE em sua maioria contemplam apenas os tratamentos primário e secundário, portanto com baixa eficiência na remoção de nutrientes[3].

A CETESB também aponta em seu relatório a necessidade da continuidade dos trabalhos de identificação das fontes, bem como da extensão da degradação da Bacia do Piracicaba para um efetivo controle, já que desde 2002 tanto o Rio Atibaia (no trecho de Paulínia) quanto o Piracicaba (no trecho à jusante dos Rios Quilombo e Tatu) têm-se apresentado degradados, comprometendo suas biotas. No Rio Atibaia também ficou comprovada a existência de fontes de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA), de acordo com os estudos de da Silva[157] em 2004, e Locatelli[158] em 2006.

Complementarmente a estes fatores e agravando ainda mais a situação existem outras fontes poluidoras como os processos erosivos, uso de agrotóxicos, poluição difusa urbana e parte de resíduos sólidos dispostos de forma inadequada. Portanto, esse quadro revela a importância da implementação do Plano de Bacia proposto pelo CH-PCJ na forma

como foi concebido, ou seja, com a perspectiva de um planejamento integrado[9].

A Figura 4 mostra os índices de qualidade das águas, obtidos pela CETESB, para a sub-Bacia do Atibaia. Quanto ao índice de proteção da vida aquática – IVA, a captação de Campinas (ponto ATIB02065) recebeu classificação oligotrófica em sua média anual, sendo encontrado em todos os meses do ano de 2005, coliformes termotolerantes em concentrações que ultrapassaram os valores limite para classe 2, segundo o CONAMA 357/05, com variações entre 3.300 a 79.000 UFC/100 mL. Já para o ponto no Rio Atibaia localizado à jusante da cidade de Paulínia (ponto ATIB02605) foram observadas altas cargas de fósforo total, caracterizando-o como supereutrófico. A origem deste fósforo é atribuída, segundo a CETESB, ao lançamento de esgoto doméstico e industrial através do seu tributário Ribeirão Anhumas, pertencente à classe 4[3].

Índice de Qualidade de Águas Brutas para Fins de Abastecimento Público – IAP

Índice de Proteção da Vida Aquática – IVA

Figura 4: Resultados mensais e médias anuais dos índices IAP e IVA - 2005.

Com relação ao índice para abastecimento público - IAP, as águas do Rio Atibaia apresentaram qualidade ruim em 2005. Na captação de Atibaia destacaram-se os baixos valores de oxigênio dissolvido, enquanto na captação de Campinas, à jusante do Ribeirão Pinheiros, pertencente à classe 3 e que recebe parte do esgoto das cidades de Valinhos/Vinhedo e da região leste de Campinas, foram encontradas elevadas concentrações de coliformes termotolerantes. Outros estudos desenvolvidos na Companhia, assim como os resultados obtidos durante o monitoramento de 2004, levaram a inclusão do parâmetro teste de Ames na avaliação do Rio Atibaia. Observou-se atividade mutagênica nas duas amostras coletadas na captação da cidade de Sumaré, com

potências de 200 a 600 revertentes/L, consideradas baixas a moderadas[3].