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PARTE II – TÉCNICA FINANCEIRA DA EQUIPA DO FOCO – REGIÃO NORTE

CAPÍTULO 3 A MODERNIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR

3.2 A modernização da administração escolar

3.2.1 A questão da autonomia

Podemos, com Álvarez, citado por Bris (1996) considerar: QUADRO 22. Modelos de autonomia das escolas

Modelo Descrição

Centralizado As decisões são tomadas fora da escola pelo poder central. É o modelo prevalecente

na maioria dos países europeus.

Descentralizado

As decisões mais relevantes para a escola são tomadas em instituições regionais ou locais (Reino Unido, Dinamarca, Noruega, Finlândia, Suécia…). Têm competência para se organizar autonomamente, definir currículos, contratar pessoal.

Pedagógico de desenvolvimento

organizativo

Insere-se na corrente da TQM75. É um modelo que se fundamenta no envolvimento do indivíduo (alunos, pais, professores) num processo pedagógico comum e no desejo de desenvolver uma certa autonomia da escola nos aspetos organizativo e curricular, mas curando pouco os aspetos financeiros e gestionários.

Com base nesta concetualização, e transpondo para o nosso país, podemos dizer que se está ensaiando a passagem de um modelo centralizado para um modelo com alguns laivos de descentralização, ou melhor, de um paradigma centralizado hierárquico para um paradigma descentralizado participativo.

A modernização da organização e gestão dos estabelecimentos de ensino pode tomar como referência dois modelos. Um, numa perspetiva de administração centralizada, em que a inovação e a mudança são do tipo decretado do centro para a periferia, considerando as escolas como meras extensões administrativas do poder central - estamos perante a criação de estruturas desconcentradas, mantendo o poder central o controlo. Outro modelo preconiza a dimensão política da administração escolar - numa tentativa de alterar o

75 TQM (Total Quality Management): Teoria que defende que a qualidade do produto ou serviço é objeto de todos na organização, desde a gestão estratégica aos setores operacionais. Está centrada no processo produtivo e as suas metas estão associadas com a produtividade, minimização de perdas e desperdícios, melhor alocação de recursos tangíveis e intangíveis.

79 próprio conceito organizacional e administrativo numa perspectiva descentralizadora e de autonomia.

Contudo, como afirmam Formosinho e Ferreira (2000: 82):

«A autonomia das escolas e dos professores começou a ser defendida ao mesmo tempo que se operaram medidas impondo a obrigatoriedade – obrigatoriedade da área- escola, obrigatoriedade da formação contínua. A par do discurso da autonomia curricular e pedagógica da escola foi imposta à escola a obrigação de realizar mais uma área curricular- a área escola…»

Na verdade, algumas disposições legais sustentam uma aproximação ao segundo modelo. Aparentemente, parece tratar-se de textos imbuídos de caraterísticas (ou motivações) “manageriais”. Contudo, a pretensa descentralização e autonomia limitam-se a aspetos restritos, como, por exemplo:

a. Elaboração de projeto educativo próprio.

b. Organização de ações de extensão educativa, difusão cultural e animação comunitária.

c. Gestão de currículos, programas, orientações curriculares e programáticas (definidos a nível nacional) e atividades educativas, da avaliação, da orientação e acompanhamento dos alunos, da gestão dos espaços e tempos escolares e da formação e gestão do pessoal docente.

d. Competências próprias nos serviços de admissão de alunos, de exames e de equivalências e nos domínios da gestão e de formação de pessoal não docente, da gestão dos apoios socioeducativos e das instalações e equipamentos.

Entretanto, outros poderes relativos a diversas matérias continuam reduzidos: os concursos de pessoal docente e não docente continuam a realizar-se a nível nacional ou por intermédio das Direções Regionais. A gestão financeira limita-se às receitas próprias.

Parece importante refletir um pouco sobre algumas questões relacionadas com a Autonomia.

Em primeiro lugar será necessário separar o que é discurso ideológico das possibilidades reais de autonomia das escolas do discurso técnico. A possibilidade de autonomia das escolas está interrelacionada com as caraterísticas próprias de cada escola. A autonomia ganha valor quando facilita a funcionalidade do ensino, da “construção” escola, do desenvolvimento dos grupos, e conduz à eficiência e eficácia. Frequentemente, enumeram-se as vantagens da autonomia para as escolas sem se refletir sobre os contextos

80 tão dispares em que estas se inserem (urbano, rural, de pequena dimensão, de grande dimensão, em zonas favorecidas socioeconomicamente e nas mais desfavorecidas) (Bris, 1996).

Em segundo lugar, é preciso não esquecer que a autonomia pode revestir graus diferentes, assim: (i) autonomia científica; (ii) autonomia pedagógica; (iii) autonomia de gestão; (iv) autonomia financeira; (v) autonomia patrimonial.

Finalmente, pode dizer-se que a alteração do modelo de administração escolar tem de ser acompanhado de alterações do modelo jurídico e da prática administrativa em toda a administração e não só numa parcela76. Não se modifica a escola sem se modificar o sistema.

Pensamos que a concretização de uma vera autonomia da escola assenta nas seguintes ideias-força:

a. No abandono de normativos que, pela excessiva e pormenorizada regulamentação, estejam em contradição com a configuração de uma verdadeira cultura autonómica e participativa.

b. Os normativos nacionais apenas devem estabelecer linhas gerais de acordo com os princípios constitucionais e com a Lei de Bases.

c. Devem ser as escolas a definir as normas relativas à composição dos órgãos e formas de constituição.

d. A autonomia da escola deve ser definida de forma objetiva, definindo fronteiras claras entre a Administração e as atividades docentes.

e. A introdução de um novo modelo de gestão deve ser o resultado de um contrato entre a escola e a Administração e não uma imposição unilateral desta.

f. Uma descentralização real das decisões diretivas, correntemente tomadas ao nível da burocracia do Ministério, transferindo-as para as novas estruturas. Como afirma Reis (1998:140)

«… capaz de devolver e atribuir aos “actores” locais as funções de responsáveis impulsionadores activos e não apenas as de executores passivos de um Projecto educativo concebido exteriormente.»

81 Então, falar em autonomia na escola é aceitar:

a. Um modelo de Administração mais capaz de propiciar e coordenar atuações de forma descentralizada.

b. Uma organização das escolas baseada na gestão participativa, com direções colegiais, incidindo na coordenação e dinamização mais do que no controlo, utilizando instrumentos de planificação próprios e contextualizados.

c. Um professorado consciencializado e disposto a trabalhar em equipa, constituindo grupos de colaboração numa perspectiva de abertura e flexibilidade.

d. Os instrumentos de gestão empresarial, sem que isso deixe os docentes amedrontados (planeamento, orçamento, balanços, benchmarking, etc.).

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