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A questão da lealdade

No documento A Teoria dos jogos e as ciências sociais (páginas 115-122)

Capítulo 5 O “jogador” e a Teoria da Escolha Racional

5.5 A questão da lealdade

Um dos grandes problemas dos fazendeiros era de como ganhar a lealdade dos capatazes. Para este problema a Teoria dos Jogos pode sugerir incentivos em longo prazo. Na esperança de futuras recompensas um capataz se sentiria pouco motivado a quebrar a continuidade das relações com o fazendeiro. E além do mais poderia se avaliar melhor o desempenho dos capatazes em longo prazo. Na esperança de recompensas futuras um capataz se sentiria pouco motivado a quebrar a continuidade da relação com o fazendeiro. E além do mais poderia se avaliar melhor o desempenho dos capatazes em longo prazo.

Lembrando que incentivos em médios e longos prazos só funcionam se os jogadores subordinados acreditarem que os jogadores principais vão ser leais em cumprir suas promessas.

Tanto na Argentina como no Brasil os capatazes não tinham como recorrer a justiça devido a fraqueza do Estado no campo. Por isto os fazendeiros tinham de convencê-los de que a lealdade realmente lhes traria vantagens em longo prazo.

Uma forma dos fazendeiros estimularem a lealdade dos capatazes, era por meio da patronagem, dando-lhes uma variedade de serviços, favores e mercadorias, que não eram combinados no ajuste inicial. Ambos os fazendeiros empregavam parentes dos capatazes. Juan José de Anchorena protegia seus capatazes e peões do serviço militar.

João Francisco Vieira Braga ajudou o capataz da Estância da Música a comprar gado. João Francisco também emprestava dinheiro para seu empregado. Além de pagar assistência médica aos empregados.

A patronagem consistia em construir uma importante relação pessoal. Anchorena nunca visitou suas fazendas. Ele se comunicava com os capatazes por meio de cartas levados por mensageiros, viajantes e carreteiros. Apesar dos capatazes o visitarem na cidade.

Por outro lado, Vieira Braga visitava sua fazenda cada ano. Após ter passado uma temporada na Fazenda da Música, suas cartas ao capataz tomaram um tom mais caloroso e íntimo.

A relação entre padrinho e protegido é um tanto difuso e pessoal, envolvendo vários aspectos da vida e uma orientação geral para a troca de favores e serviços entre as pessoas com posições diferentes no jogo social que estão inseridas. A patronagem se

caracteriza pela lealdade pessoal e obrigações morais, contrariando a escolha racional que se fundamenta em preferências fixas, pois a identificação com os interesses do outro e o desenvolvimento de projetos em longo prazo levam a mudanças nas vontades.

Monsma ao comentar as idéias de George Homans e James Coleman, comenta uma versão da teoria da escolha racional, chamada da teoria das trocas que ajuda a entender como a patronagem evoca a lealdade. Esta abordagem destaca as condições para a confiança dos parceiros nas trocas e as relações entre trocas, dependência e poder. Segundo os teóricos desta teoria a confiança cresce com a reciprocidade ao longo do tempo. Outra idéia fundamental desta teoria é que fatores e outros benefícios que as pessoas não têm condições de retribuir dão poder a pessoa que os faz e aumentam a dependência das pessoas que as recebem.

Os favores e presentes dos fazendeiros faziam com que os capatazes sentissem a obrigação de cumprir as ordens dos fazendeiros.

Ao levarmos em conta que os fazendeiros estavam assumindo e sentindo obrigações morais para com eles em troca da sua lealdade. Com isto os capatazes tinham mais confiança que a sua lealdade realmente seria retribuída, que os fazendeiros iriam protegê-los e patrociná-los em longo prazo.

A patronagem estava enraizada nas culturas do Rio Grande do Sul e de Buenos Aires e os fazendeiros simplesmente reconheciam que tinham que patrocinar seus capatazes se quisessem ganhar sua lealdade. Não houve escolha deliberada. Os capatazes, por sua parte, reconheciam, e percebiam a natureza do relacionamento e tinham disposição para responder adequadamente. A honestidade e generosidade no trato mostravam que os fazendeiros eram homens de honra, que iam cumprir os deveres da

patronagem em longo prazo.

Os capatazes de Anchorena pediam favores para os fazendeiros e para outros habitantes rurais. Anchorena os ajudou a estabelecer fazendas próprias, além de atendê- los ao pedido de estabelecer uma paróquia.

A relação de patronagem se estabeleceu por bem mais tempo, mesmo após o capataz deixar de ser empregado, ainda tinha ajuda do seu antigo patrão.

Uma análise mais aprofundada das relações entre os trabalhadores e fazendeiros, feita pela Teoria dos Jogos, ajuda a entender como eram importantes as metas de trabalhadores e empregadores, tais como lucros e sobrevivência, estas são relativamente claras e fixas. A Teoria dos Jogos também serve para identificar problemas centrais que o jogador principal têm de resolver se querem achar jogadores subordinados e estimulá-los a trabalhar para ele. Serve para compreender porque certas soluções são viáveis, e elucidar quais os aspectos das soluções que envolvem incentivos materiais.

Outra questão importante sobre o assunto aqui tratado é recitar os jogadores principais e os subordinados na história. Ambos os tipos de jogadores se encontram e se interage com as disposições, percepções, entendimentos e esquemas de ação formados na experiência de vida em um determinado contexto histórico e cultural.

Além dos conceitos sociais da época, vale ressaltar o que diz Monsma, ao comentar as idéias de Giddens, as instituições que possibilitam e limitam a ação humana vêm carregadas de categorias que as pessoas precisam usar para poder agir, o que pode reconfigurar as categorias de percepção e os entendimentos dos jogadores no processo social de utilizar-se das instituições, e assim modificar seus projetos.

Outros pontos em comum eram que os valores eram parecidos, como o preço da honra e o sentimento de que a patronagem seria a melhor maneira de ganhar a lealdade de seus subordinados.

As duas formas de estâncias aqui nesta reflexão apresentadas e os dois tipos de relacionamentos entre fazendeiros e capatazes que emergiram, não eram necessariamente as estratégias mais eficazes possíveis, mas eram satisfatórias, tanto para os fazendeiros como para os capatazes.

5.6 Jogadores, conceitos de racionalidade e teoria política

Nos Estados Unidos, a teoria da escolha racional teve um impacto enorme no desenvolvimento da Ciência política. A teoria da escolha racional tem se focalizado mais em estudos de política americana, relações internacionais e política comparada.(FEREJOHN e PASQUINO, 2001).

As teorias da escolha racional são definidas como positivas. Estas têm como principal objetivo desenvolver teorias preceptivas bem sucedidas em Ciência Política.

A entrada da teoria da escolha racional na Ciência Política se deve basicamente, a partir de trabalhos pioneiros de Anthony Downs, James Buchanan, Gordon Tullock, George Stigler e Mancur Olson. Todos estes adotaram um aspecto particularmente materialista da teoria da escolha racional. Para todos eles, os jogadores sociais estariam interessados na maximização da riqueza. Todas as outras teorias resultantes se estruturaram da mesma forma: as escolhas feitas pelos jogadores devem ser explicadas em termos de variabilidade de constrangimentos materiais enfrentados por eles. Por outro

lado, ninguém realmente acha que os seres humanos reais se comportam exatamente como as teorias da escolha racional prescrevem. A abundância de experimentos sugere que as pessoas em jogos da vida real se desviam sistematicamente das predisposições da teoria da escolha racional. Porém as pessoas tendem a reconhecer a força normativa da racionalidade e isso influencia suas ações.

Teorias políticas normativas se apóiam em suposições de racionalidade. Os teóricos políticos adotaram pressupostos de racionalidade por razões básicas: as teorias normativas (como a Teoria dos Jogos) são endereçadas a jogadores racionais e o objetivo do teórico é nos convencer de como a vida política deveria ser vivida, e com isto expõe como as instituições alternativas ou os sistemas normativos iriam funcionar.

Uma teoria normativa como a Teoria dos Jogos trata de jogadores racionais ou inteligíveis, cujas ações podem ser entendidas ou talvez alteradas pela mudança do seu contexto institucional. A racionalidade torna-se crucial para uma teoria normativa.

O fato de se criar uma vida pública por meio do desenho de instituições e normas pressupõe a capacidade das pessoas de responder de forma minimamente as suas diretrizes, o que não implica, que as pessoas reais sejam perfeitamente racionais.

Uma pessoa como jogador social que prescreve uma ação estratégica deve ser capaz de antecipar suas conseqüências em termos normativos.

Para alguns pensadores, a razão é uma capacidade humana distintiva, e ser inteiramente humano é ser inteiramente racional. Para certos autores a racionalidade é um potencial comunicado por cada jogador humano e também em menor grau, por alguns animais.

mais profundamente as teorias normativas desenvolvidas por pensadores do passado, como Hobbes, por exemplo. E além do mais podemos encontrar em conceitos antigos da racionalidade, algumas idéias que tenham sido esquecidas no curso do desenvolvimento moderno. A teoria da escolha racional tem feito parte do pensamento político desde os gregos.

Pensadores como Aristóteles, Hobbes e Rousseau empregaram conceitos de racionalidade em termos bastante modernos e de forma centralizada em suas teorias.

5.7 O jogador e a racionalidade

Dadas as crenças e os desejos de um jogador, os atos racionais seriam aqueles que maximizam preferências e desejos. A racionalidade, também seria uma condição de consistência, a qual sustenta que essa relação seja válida para todas as crenças, desejos e ações.

Os desejos podem ser, dependendo da teoria, ancorados em necessidades humanas mais profundas (comida, segurança, sexo etc), ou podem ser ligados às posições sociais, as atitudes morais, ou podem simplesmente ser arbitrárias. A questão é que os desejos são de alguma forma fixos antes da escolha da ação. Não só os desejos mas também as crenças são anteriores à escolha da estratégia e da ação propriamente dita.A teoria da escolha racional consiste na escolha das estratégias à luz das crenças e dos desejos.

Poderíamos supor que as crenças estão apoiadas na verdade e as ações determinadas por um conjunto externo de requisitos morais e éticos. Como exemplo poderíamos dizer: isto é o que um bom cristão poderia fazer.

Na teoria das expectativas racionais, supõe-se que as crenças se mostrem verdadeiras, ou ao menos consistentes com as informações observáveis pelos jogadores.

Um exemplo trivial é o caso das pessoas dirigirem de uma única mão da rua. Neste caso ou todos dirigem pela direita, ou todos dirigem pela esquerda. Em tal caso as crenças não se baseiam na natureza e sim no tipo de comportamento que as pessoas terão.

O jogador se sente comprometido em alcançar um objetivo, e isso é parte do seu projeto de vida, no caso as preferências e as crenças se encaixam com cada escolha de uma forma consistente.

No documento A Teoria dos jogos e as ciências sociais (páginas 115-122)