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A questão dos não-nacionais de países terceiros e a Cidadania

3.2 DILEMAS DA UNIÃO EUROPEIA

3.2.3 A questão dos não-nacionais de países terceiros e a Cidadania

Uma questão de extrema relevância para o futuro da UE é a nova e alargada onda de imigração com origens variadas que vem transformando as configurações do espaço europeu. Pessoas de todos os cantos do globo passam a conviver com os locais, tendo que aprender a coexistir uns com os outros, nada obstante suas inevitáveis e destacadas diferenças estruturais e culturais.

Mais uma vez, a Diversidade Cultural que, em um primeiro momento aparenta ser apenas uma questão de proximidade física e social, é muito mais um projeto de Sociedade política, um

melting-pot

com toda a sua fragilidade, que pode dar origem a formas da vivência por meio da

diferença e da pluralidade, especialmente, por meio da garantia de direitos.356

354 MATIAS, Joana Maria Santos Matias. Identidade cultural europeiaIdentidade cultural europeiaIdentidade cultural europeiaIdentidade cultural europeia: idealismo, projecto ou realidade? Dissertação de Mestrado em Estudos sobre a

Europa. Coimbra: Universidade de Coimbra, 2009, p. 22.

355 SÁ, Susana e ANDRADE, Ana Isabel. PraPraPraPraticas de sensibilizacticas de sensibilizacticas de sensibilizacticas de sensibilizac ão aão a diversidade linguião aão adiversidade linguidiversidade linguistica e cultural nos primeiros anos de escolaridadediversidade linguistica e cultural nos primeiros anos de escolaridadestica e cultural nos primeiros anos de escolaridadestica e cultural nos primeiros anos de escolaridade: : : : reflexões a reflexões a reflexões a reflexões a

partir d partir d partir d

partir da sala de aula.a sala de aula.a sala de aula.a sala de aula. Aveiro: Revista Saber & Educar/14, 2006.

356 MATIAS, Joana Maria Santos Matias. Identidade cultural europeiaIdentidade cultural europeiaIdentidade cultural europeiaIdentidade cultural europeia: idealismo, projecto ou realidade? Dissertação de Mestrado em Estudos sobre a

No tocante aos nacionais de países terceiros, a UE, desde 2003, dispõe do Estatuto de Residente de Longa Duração, instituído pela Diretiva 2003/109/CE, que faz parte de um conjunto de iniciativas para promover a integração dos nacionais de países terceiros que residem, legalmente, no território da UE. Em 2011, o estatuto foi alterado pela Diretiva 2011/51/CE, para ampliar o seu âmbito de aplicação também aos beneficiários de proteção internacional.

Nos termos do artigo 4.º, nº 1, da Diretiva 2003/109/CE, os Estados-Membros devem conceder o Estatuto de Residente de Longa Duração aos nacionais de países terceiros que residam, de forma legal e ininterrupta, no seu território, por cinco anos imediatamente antecedentes à apresentação do pedido.

Para Jerônimo357, isso não significa que os nacionais de países terceiros possuem direito

subjetivo de concessão cumprindo os requisitos exigidos, ante a ampla margem de discricionariedade que os Estados-Membros possuem ao apreciar o pedido. Dentre os requisitos exigidos, além daqueles já indicados no parágrafo anterior, estão a prova de que o requerente dispõe de recursos financeiros suficientes para a sua subsistência, e de sua família, sem necessidade de assistência social, assim como ter um seguro doença que cubra todos os riscos normalmente cobertos aos nacionais, conforme artigo 5.º, nº 1, da mesma Diretiva.

O item nº 2 do mesmo artigo 5.º da Diretiva 2003/109/CE prevê, ainda, que os Estados- Membros podem exigir prova de integração, de acordo com o direito nacional do Estado-Membro

anfitrião. Segundo Jerónimo358, essa exigência pode ser extremamente problemática, uma vez que a

Diretiva não especifica quais seriam os critérios e não há consenso europeu do que seja admissível exigir dos estrangeiros prova de sua integração.

Destaca-se que durante o processo, a Diretiva assegura direitos previstos entre os seus artigos 7.º a 10.º, tais como: 1) a uma decisão célere, em no máximo, seis meses; 2) à informação sobre direitos e deveres decorrentes da Diretiva; 3) à notificação, por escrito, de qualquer decisão

357 JERÓNIMO, Patrícia. Imigração e cidadania na União Europeia. O Estatuto de Residente de Longa Duração in SILVEIRA, Alessandra (coord.). Direito da Direito da Direito da Direito da

União Europeia e Transnacionalidade União Europeia e Transnacionalidade União Europeia e Transnacionalidade

União Europeia e Transnacionalidade. Lisboa: Quid Iuris, 2010, pp. 229-334.

358 JERÓNIMO, Patrícia. Imigração e cidadania na União Europeia. O Estatuto de Residente de Longa Duração in SILVEIRA, Alessandra (coord.). Direito da Direito da Direito da Direito da

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tomada a seu respeito; 4) à fundamentação das decisões negatórias, com indicação dos recursos e prazos cabíveis e 5) à interporem recursos contra decisões negatórias.

Apesar de ser definido como estatuto de caráter permanente, a sua perda se dá sob diversas condições, previstas no artigo 9.º da Diretiva, a saber: ausência superior a doze meses consecutivos do território da UE; ausência superior a seis anos do território do Estado-Membro que concedeu o estatuto, mesmo permanecendo no território da UE; aquisição do mesmo estatuto de outro Estado-Membro; constatação de emprego de meios fraudulentos para a aquisição do estatuto; por expulsão em razão de graves razões de ordem e segurança pública e quando o Estado-Membro entender que o estrangeiro detentor do estatuto constitua ameaça para a ordem pública, mesmo não sendo tão grave a ponto de justificar uma expulsão.

Já os direitos decorrentes do estatuto estão previstos nos artigos 11.º, 12.º e 14.º da Diretiva, e são, basicamente, ensino e formação profissional; reconhecimento de diplomas profissionais, certificados e outros títulos; segurança social, assistência social e proteção social; benefícios fiscais; acesso a bens e serviços; liberdade de associação e sindical; livre acesso a todo o território do Estado-Membro.

A Diretiva prevê a possibilidade de os Estados-Membros alargarem os benefícios a outras áreas, como as que ainda não estão cobertas, como o acesso ao direito e aos tribunais; a participação ativa na vida política e o exercício de atividades culturais e religiosas. Em contrapartida, as restrições já

em curso, estão previstas no artigo 11.º, n.º 3, alínea “a”, da Diretiva.359

O nacional de país estrangeiro mesmo titular do estatuto pode ser expulso do território pelo Estado-Membro desde que represente uma ameaça real e grave para a ordem pública e segurança nacional, conforme previsão inserta no artigo 12.º da Diretiva. O decreto de expulsão não pode se fundamentar em questões econômicas e deve levar em consideração a duração da residência no território; a idade do residente a ser expulso; as consequências tanto para o residente quanto para sua família e os laços com o país de residência e o de origem. O direito à recurso contra decisão de

359 JERÓNIMO, Patrícia. Imigração e cidadania na União Europeia. O Estatuto de Residente de Longa Duração in SILVEIRA, Alessandra (coord.). Direito da Direito da Direito da Direito da

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expulsão é garantido, mesmo em caso de carência financeira, hipótese em que há garantia de assistências judiciária.

Ante tantos desafios de alta complexidade como a diversidade cultural existente na UE,

cresce a ideia de uma Cidadania ainda mais

sui generis

para a UE.

3.3 O FUTURO PARA A CIDADANIA EUROPEIA – NOVAS PERSPECTIVAS