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CAPÍTULO 2: LINGUAGENS NA LINGUAGEM MATEMÁTICA

2.1 A realidade do ensino de Matemática

Atualmente nós professores de Matemática convivemos com os dilemas do complexo processo de ensino e aprendizagem da matéria que lecionamos. É uma dupla realidade no mesmo âmbito, de um lado, o reconhecimento que buscamos ao ensinar uma matéria importante, do outro a aversão quase generalizada da Matemática por parte dos alunos, e um índice de reprovação maior em relação às outras componentes curriculares. De acordo com os PCN (Brasil, 1997), falar sobre o ensino de Matemática provoca-nos duas sensações: a primeira relaciona-se ao fato de saber que é algo importante, a segunda é a preocupação com os altos índices de reprovação.

Existe, assim, uma situação contraditória na Matemática, ou seja, uma necessidade ―imperativa‖ e ao mesmo tempo excludente, segundo Gómez-Granell (1997, p. 257), uma situação paradoxal: de um lado uma ciência Matemática valorizada e necessária, e do outro um filtro social.

Os problemas relativos ao ensino e à aprendizagem da Matemática não são comuns só a uma região ou ao nosso país, é uma dificuldade mundial, assim como a aversão à componente. Atualmente, surgem termos para classificar as dificuldades matemáticas da população, dentre eles, a ansiedade diante da componente matofobia, que são respectivamente a ansiedade diante da disciplina e o medo da Matemática, o que comprova a necessidade de transformações nas salas de aula de Matemática, nas formações e nas posturas docentes.

Precisamos entender e nos fazer entender, sobretudo, que a Matemática é muito importante para o homem. Sua presença no currículo das escolas do Brasil e de outros países justifica-se pela necessidade que a sociedade tem dela. Ao levantar e perguntarmos às horas, a idade, o salário médio de uma dada categoria profissional, consultarmos o saldo bancário, estamos nas mais diversas situações lidando com o conhecimento matemático. Nesse sentido, Machado (1989) afirma que a Matemática é tão importante quanto a língua que estamos habituados a falar e, assim como a língua, a Matemática encontra-se impregnada nas mais diversas situações das nossas vidas.

Devemos entender e refletir o porquê de ensinar ir adiante, modificando estruturas montadas ao longo dos anos, estimular as pessoas para enxergarem e vivenciarem a Matemática como realmente é, construída historicamente e significativa para a sociedade.

Concordando com D’Amore (2012) hoje, assim como no passado, se faz coisas interessantes em Matemática, produz-se Matemática. Graças à Matemática que temos tantos progressos na ciência e porque não dizer na arte, na música, na pintura, na arquitetura até a poesia contém Matemática.

Um filme da Disney que tem como título Donald no País da Matemágica, criado em 1959, no qual o pato Donald é a estrela principal é um bom exemplo de como as pessoas têm concepções erradas sobre a Matemática e como deveriam conhecer a importância da Matemática para o dia-a-dia, vivenciarem situações nas quais elas compreendam a Matemática como ela é construída socialmente. No início do filme, por exemplo, o Donald entra em um país estranho chamado de País da Matemágica e, inicialmente, não fica interessado por ele, afirmando que a Matemática é para os intelectuais.

Ao ser guiado por uma voz (o espírito da aventura) pelo país da Matemágica, o Donald entra em uma sociedade secreta, a sociedade pitagórica, que serviu de base para a música moderna. Posteriormente, ele é guiado por construções arquitetônicas, pelas formas da natureza (inclusive o corpo humano), pelos jogos (amarelinha, beisebol, basquetebol, futebol, bilhar, xadrez), entre outros, demostrando que a Matemática se encontra presente na vida.

Durante todo filme é ressaltado o quanto a mente humana está presa a concepções erradas, ideias inadequadas e o quanto as pessoas percebem a Matemática como um simples jogo de adivinhações. Ao final do filme, o Pato Donald reconhece que a chave para abrir as

portas do futuro é a Matemática. Um final feliz que nem sempre acontece nas nossas aulas,

muitas vezes os alunos até conseguem a aprovação, porém, gostar da disciplina e enxergá-la como algo significativo geralmente não acontece.

Devemos ensinar Matemática, pois ela se faz presente na vida, mais que isso, a Matemática desenvolve o raciocínio lógico. De acordo com os PCN (Brasil, 1997), a Matemática deve ser ensinada porque têm aplicações no mundo cotidiano, por ser um instrumento para outras áreas do conhecimento, auxilia no raciocínio dedutivo e na formação das capacidades intelectuais e, principalmente, porque contribui para a formação da cidadania. Isto é, tem o papel de formar seres conscientes que saibam o que é melhor para si e para a sociedade, pessoas autônomas e não simplesmente autômatos educacionais.

Infelizmente, a maioria das pessoas desconhece a importância da Matemática para a sociedade em que vivem. Talvez por desconhecimento ou não acompanhamento dos avanços nas mais diversas áreas através da Matemática ou por ter tido uma relação pouco amistosa com a disciplina.

E como ensinar para a cidadania em uma sociedade em que as pessoas não valorizam a Matemática pela sua função social, em uma sociedade repleta de atrativos tecnológicos; em uma sociedade na qual dividimos o espaço da sala de aula com dezenas de aparelhos celulares, aplicativos e redes sociais? Como formar para a cidadania em meio a tantas situações contraditórias que contribuem para realidade de fracasso escolar?

Há a necessidade de um ensino de Matemática que rompa as barreiras do mecanicismo e torne-se significativo para o aluno, reduza a concepção da Matemática como ciência para gênios e, sobretudo, a realidade de filtro social da mesma.

Independentemente da perspectiva utilizada é importante que o professor reflita também, sobre outras dimensões que influam na aprendizagem do aluno, sobre aspectos que sinalizam em que o professor deve atuar, sobre as dificuldades do aluno e etc.

Gómez-Granell (1997) direciona sua discussão para a linguagem específica da Matemática e pela natureza do conhecimento matemático e é por esse caminho que seguiremos nossas discussões. Gómez-Granell (1997, p. 259) confirma a reflexão seguida por nós que a ―Matemática tem um caráter de abstração maior que qualquer outro conteúdo‖ aliado aos conceitos e teoremas matemáticos que são dedutivos, o que dificulta a relação estabelecida com a mesma.