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A Europa ilustra, em geral, o cenário típico de uma realidade socioeconómica e demográfica caracterizada pelo crescente envelhecimento, associada a progressos significativos em diversos domínios ligados ao comportamento humano como a (nutrição, higiene, medicina), bem como à melhoria do nível de qualidade de vida proporcionado a todos, e aos idosos em particular. Contudo, o envelhecimento demográfico será um enorme desafio para as políticas sociais e orçamentais da maior parte dos países europeus, tanto mais quando se estima que no ano 2025 a população idosa europeia represente 25% da população total.

Tabela nº5.6 - Evolução dos ratios de dependência no mundo, 1950 – 2100

Ratios de dependência - 1950 a 2100

Ano 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020 2030 2040 2050 2060 2070 2080 2090 2100 Total 65 73 75 70 64 59 52 52 53 55 58 61 63 65 66 67 Jovens 57 64 65 60 54 48 41 38 35 33 32 32 31 31 30 30 Idosos 9 9 9 10 10 11 12 14 18 22 26 30 32 34 36 37

Sílvia Lourenço Alves

76 Numa primeira abordagem observamos que a população residente em Portugal

e na União Europeia 27 (UE27)7 mostra um comportamento oscilante. No que respeita

ao grupo etário dos 0-14 anos, a UE27, em 1991 tinha aproximadamente 90 milhões de pessoas (19,2%), em 2011 registava cerca de 78 milhões de indivíduos (15,6%), portanto perdeu população jovem (tabela 5.7).

Relativamente ao grupo etário com mais de 65 anos, verificou-se o oposto, tanto na UE27, como em Portugal, os valores têm vindo a aumentar. Em Portugal no espaço de 20 anos, a população idosa aumentou aproximadamente 2 milhões (em 1991 a percentagem era de 13,8%, em 2011 já era 19,2%), na UE27, no mesmo período de tempo, este grupo etário aumentou cerca de 22 milhões de pessoas, (em 1991 a percentagem era de 14%, em 2011 aumentou para 17,6%). Assim, Portugal apresentava-se numa situação menos favorável comparativamente à UE27, pois tinha percentualmente menos jovens e proporcionalmente mais idosos.

Tabela nº5.7 - Evolução da população residente em Portugal e na UE27, segundo grandes grupos etários, 1991-2011 (%)

Anos

Grandes grupos etários

Total 0 - 14 15 - 64 65 + UE27 Portugal UE27 Portugal UE27 PT UE27 Portugal 1991 100,0 100,0 19,2 19,7 66,8 66,6 14,0 13,8 2001 100,0 100,0 16,9 15,9 67,2 67,6 15,9 16,4 2011 100,0 100,0 15,6 14,9 66,7 65,9 17,7 19,2

Fonte de Dados: Eurostat / NU / Institutos Nacionais de Estatística - Recolha de Dados Rapid, Joint, Nowcast Fonte: PORDATA

Também o índice de envelhecimento (IE; relação entre a população idosa e a população jovem, definido habitualmente como o quociente entre o número de pessoas com 65 ou mais anos e o número de pessoas com idades compreendidas entre os 0 e os 14 anos) tem vindo a aumentar, em Portugal e na UE27. Num intervalo de 20 anos o índice de envelhecimento subiu 40% na UE27, e em Portugal, desde 2001 está acima da média europeia (Tabela 5.8).

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Sílvia Lourenço Alves

77 No plano da longevidade, a relação entre a população mais idosa e a população idosa, confirma o crescimento da população dos indivíduos longevos, definida habitualmente como o quociente entre o número de pessoas com 75 ou mais anos e o número de pessoas com 65 ou mais anos, mostra que a percentagem de pessoas tem vindo a aumentar progressivamente. Na UE27 passou de 23,1% para 27,6%, entre 1991 e 2011, e Portugal também acompanha o ritmo de crescimento ascendente (tabela 5.9).

Tabela nº 5.9 - Evolução do Índice de longevidade em Portugal e na UE27, 1991- 2011

Anos

Índice de longevidade (Proporção - %) UE27 Portugal 1991 23,1 19,3 2001 22,3 21,0 2011 27,6 26,8

Fonte de Dados: Eurostat / NU / Institutos Nacionais de Estatística - Recolha de Dados Rapid, Joint, Nowcast

Fonte: PORDATA

Uma das consequências do envelhecimento reside no aumento da população em estado de inatividade. Este indicador está particularmente relacionado com o crescente peso colocado sobre a população ativa, pois é esta que assegura o sustento dos idosos dependentes. Podemos verificar esse fato através da evolução do índice de dependência de idosos (relação entre a população idosa e a população em idade ativa, definida habitualmente como o quociente entre o número de pessoas com 65 ou mais anos e o número de pessoas com idades compreendidas entre os 15 e os 64 anos) que tem vindo a aumentar. Na UE27, num período de 20 anos, cresceu 5,5%, e Portugal

Tabela nº5.8 - Evolução do Índice de envelhecimento em Portugal e na UE27, 1991- 2011

Anos

Índice de envelhecimento (Rácio - %) UE27 Portugal 1991 73,2 70,0 2001 94,0 103,2 2011 113,2 129,6

Fonte de Dados: Eurostat / NU / Institutos Nacionais de Estatística - Recolha de Dados Rapid, Joint, Nowcast

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78 tem vindo a acompanhar a tendência, mas com uma posição ainda mais crítica (Tabela 5.10).

Tabela nº5.10 - Evolução Índice de dependência de idosos em Portugal e na UE27

Tempo

Índice de dependência de idosos (Rácio - %) UE27 Portugal

1991 21,0 20,7

2001 23,7 24,3

2011 26,5 29,2

Fonte de Dados: Eurostat / NU / Institutos Nacionais de Estatística - Recolha de Dados Rapid, Joint, Nowcast Fonte: PORDATA

Outro rácio que ilustra bem as consequências do envelhecimento demográfico nos sistemas de proteção social é o índice de sustentabilidade potencial [quociente entre o número de pessoas em idade ativa (15-64 anos) por cada indivíduo idoso (65 e mais anos]. Na UE27 este indicador tem vindo a diminuir, pois em 1991 havia 4,8 pessoas ativas por cada idoso e em 2011 esse número passou para 3,8. Portugal acompanha a mesma orientação, mas com um desempenho pior, pois em 2011 existiam apenas 3,4 pessoas ativas por idoso. Estes valores serão um problema, a médio prazo, para os serviços de proteção social, na medida em que há cada vez menos pessoas em idade ativa, ou seja contribuintes líquidos para o sistema, por idoso (tabela 5.11).

Tabela nº5.11 - Evolução Índice de Sustentabilidade Potencial em Portugal e na UE27

Tempo

Índice de Sustentabilidade Potencial (Rácio) - Número de indivíduos em idade ativa por idoso

UE27 Portugal

1991 4,8 4,8

2001 4,2 4,1

2011 3,8 3,4

Fonte de Dados: Eurostat / NU / Institutos Nacionais de Estatística - Recolha de Dados Rapid, Joint, Nowcast Fonte: PORDATA

Sílvia Lourenço Alves

79 Em resultado destes valores os diversos governos europeus têm manifestado as suas preocupações em relação à passagem de rendimentos entre as gerações, podendo mesmo ocorrer um colapso do sistema cujo modelo de contrato social se alicerça no Estado-Providência (Machado, 2007).

Comungando desta ideia, Henrique Medina Carreira (1996:466) aponta as razões que esclarecem a “crise” do Estado-Providência:

“A crise é financeira porque existe um incessante aumento da diferença entre o ritmo do crescimento económico e o das despesas sociais;

A crise é de legitimidade porque o Estado-Providência já não assegura a sua função de proteção dos mais desfavorecidos; pelo contrário, reforça os privilégios dos mais informados e melhor instalados na sociedade;

A crise é de eficácia do funcionamento porque se verifica um rendimento decrescimento das despesas sociais, devido à complexidade e proliferação regulamentar que o tornam cada vez mais dispendioso.”

Este autor defende que “o maior bloqueamento atual das políticas sociais tem como causa principal a crise económica e financeira e os seus efeitos de incerteza sobre a sustentabilidade dos mecanismos de funcionamento do Estado-Providência”.

O envelhecimento da população mundial, e sobretudo da população da Europa está a fomentar modificações no tecido social. Todos os indicadores que analisámos mostram um aumento bastante significativo do número de idosos no período de 1991 a 2011, e não se espera uma mudança que venha contrariar esta tendência. Além disso, as estimativas apontam para uma intensificação do ritmo de envelhecimento da população até 2100.

Os incentivos que têm sido dirigidos ao aumento da natalidade e a combater a maternidade tardia na Europa, parecem não estar a ser totalmente eficazes e a conseguir os objetivos pretendidos para travar o envelhecimento. De acordo com Lutz, citado por Jorge Gaspar (2009:54) “ Alguns autores não têm dúvidas em afirmar que se

o século XX foi o século do crescimento demográfico, o século XXI será o século do envelhecimento”.

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80 Não será pela base da pirâmide que iremos contornar o problema, cada país deve alterar as políticas de proteção social, de modo a torna-las mais eficientes, concomitantemente, deve interferir-se no mercado de trabalho, criando emprego para os mais idosos (em que se tire partido da experiência adquirida), bem como adaptar os serviços de saúde e os serviços sociais.

De acordo com Machado (2003), sabe-se que o envelhecimento populacional irá ter implicações nas relações que se estabelecem no seio da família, nos estilos de vida, e na equidade intergeracional.

É certo, que o problema do envelhecimento populacional não diz respeito apenas aos idosos, é um fenómeno que se reflete em toda a sociedade, e será necessário o esforço e o empenho de todos para que se promova uma relação sustentável entre as gerações, que passará certamente por uma mudança na política social e uma postura mais consciente por parte da sociedade.

Sílvia Lourenço Alves

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CAPÍTULO VI

O envelhecimento em