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O envelhecimento é uma temática que se reveste de extrema importância nas sociedades modernas, pois as alterações provocadas pelo aumento da população idosa nas estruturas demográficas dos países, terão consequências nos planos social, económico, político e cultural a nível mundial.

Nos anos 70 do século XX associava-se o envelhecimento demográfico a países industrializados, no entanto, nos dias de hoje, este fenómeno é discutido em todo o

mundo. Citando Jorge Gaspar (2009:54) “O envelhecimento, que até há umas décadas

constituía uma preocupação dos países industrializados ou pós-industriais, está hoje na agenda da maioria dos países do mundo, sendo alvo de estudos e monitorizações por parte das agências competentes das Nações Unidas”.

Questão que está hoje na ordem do dia, só a partir de 1950 é que o fenómeno do envelhecimento populacional emergiu, resultado do aumento da esperança de vida e

da diminuição da natalidade. De acordo com Gaspar (2009:53) “Tudo indica que o futuro

do Mundo e dos países será determinado por duas surpreendentes alterações que se verificaram na Demografia: aumento da esperança de vida e redução generalizada das taxas de fecundidade, o que, combinado, resulta no envelhecimento da população”.

De fato, a população mundial com mais de 65 anos tem vindo sempre a aumentar e não se espera que regrida. De acordo com dados das Nações Unidas, em 1950 compreendia 5,2% da população, em 2010 já representava 7,6%, e estima-se que em 2100, 22,3% da população do mundo tenha mais de 65 anos (tabela 5.1).

Sílvia Lourenço Alves

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Tabela nº 5.1 - Evolução da população mundial com mais de 65 anos, 1950 – 2100 (valor absoluto e percentual)

Ano Milhares % Ano Milhares % 1950 130 489 5.2 2030 976 111 11.7 1960 154 136 5.1 2040 1 267 361 14.3 1970 197 646 5.3 2050 1 510 567 16.2 1980 265 356 6.0 2060 1 761 250 18.3 1990 328 951 6.2 2070 1 913 284 19.5 2000 421 684 6.9 2080 2 051 063 20.6 2010 524 364 7.6 2090 2 166 949 21.5 2020 717 797 9.4 2100 2 259 972 22.3 Fonte: Population Division of the Department of Economic and Social Affairs of the United Nations Secretariat - elaboração própria.

A evolução da população mundial com mais de 65 anos, a par da longevidade cada vez maior, levou à criação do conceito de Quarta Idade, que se aplica a idosos com mais de 80 anos. Esta faixa etária tem ganho uma importância cada vez maior e agrega os chamados “grandes idosos” ou “idosos de idade mais avançada”. Com efeito, esses idosos representavam 0,6% da população mundial em 1950, enquanto em 2010 já tinham um peso de 1,5% do total, projetando-se para 2100 que 7,8% dos habitantes da Terra tenham mais de 80 anos (tabela 5.2).

Tabela nº 5.2 - Evolução da população mundial com mais de 80 anos 1950 – 2100 (valor absoluto e percentual)

Ano Milhares % Ano Milhares % 1950 14 677 0.6 2030 195 407 2.3 1960 18 807 0.6 2040 293 708 3.3 1970 25 543 0.7 2050 402 467 4.3 1980 37 593 0.8 2060 488 696 5.1 1990 56 166 1.1 2070 597 167 6.1 2000 72 282 1.2 2080 665 173 6.7 2010 105 252 1.5 2090 721 402 7.2 2020 143 144 1.9 2100 792 333 7.8 Fonte: Population Division of the Department of Economic and Social Affairs of the United Nations Secretariat - elaboração própria

A par do envelhecimento relacionado com o aumento do número de pessoas com mais de 65 anos no total da população, devemos ainda salientar que o mesmo é reforçado pela baixa natalidade, e também pela diminuta mortalidade. A combinação destes três fatores (baixa natalidade e mortalidade, e longevidade) não permite que exista um rejuvenescimento populacional.

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72 Quanto à população com idades compreendidas entre os 0-4 anos na população mundial, regista-se um decréscimo do seu peso percentual. Se em 1990 correspondia a 12,1%, em 2010 verifica-se uma descida para 9,38%, e em 2050 calcula-se que possa atingir 6,7%.

No que se refere aos idosos, verificamos aumentos substanciais em todas as faixas etárias. No grupo etário dos 65-69 anos, tínhamos, em 1990, 2,3% da população mundial, em 2010 esse número passou para 2,6%, e em 2050 existirão 4,7% de pessoas entre os 65-69 anos. Desta observação é possível afirmar que a população idosa cresce a um ritmo muito acelerado em termos mundiais, o que certamente trará novos desafios aos países mais afetados por este fenómeno demográfico. No grupo etário dos 70-74 anos (1,6% em 1990 e em 2050 estima-se que existam 3,8%), à semelhança dos restantes grupos apresentados na tabela, a percentagem de idosos de 1990 para 2050 demonstra um aumento significativo. Os escalões etários que menos aumento demonstram são o 95-99 e mais de 100 anos (tabela 5.3).

Tabela nº 5.3 - Evolução da população mundial por faixa etária decenal, 1990-2050 (%)

População por faixa etária decenal, ambos os sexos (%)

Ano Idade 1990 2000 2010 2020 2030 2040 2050 HM 0-4 12,12 9,86 9,28 8,66 7,88 7,49 6,72 5-64 81,67 83,24 83,04 82,06 80,57 78,65 77,61 65-69 2,34 2,49 2,56 3,45 3,99 4,34 4,70 70-74 1,61 1,93 2,08 2,40 3,04 3,64 3,77 75-79 1,19 1,29 1,47 1,58 2,24 2,71 3,08 80-84 0,68 0,69 0,93 1,04 1,30 1,72 2,17 85-89 0,29 0,36 0,45 0,54 0,63 0,95 1,23 90-94 0,08 0,12 0,14 0,21 0,26 0,37 0,52 95-99 0,02 0,02 0,04 0,05 0,07 0,10 0,16 100+ 0,00 0,00 0,01 0,01 0,01 0,02 0,04 Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 Fonte: Population Division of the Department of Economic and Social Affairs of the United Nations Secretariat - elaboração própria.

Para além do declínio da natalidade no mundo, já referido, devemos reafirmar também o aumento da esperança de vida, o que conduz a um duplo envelhecimento (na

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73 base e no topo da pirâmide etária), situação que irá seguramente causar um desequilíbrio entre o peso das diferentes gerações e conduzir a vários desafios sociais.

É certo que a população mundial está a envelhecer, no entanto, o envelhecimento dá-se de forma diferente nos diferentes continentes.

Tabela nº 5.4 - População por continente e grupos etários, ambos os sexos (%)

Continente Continente

1990 2050

Grupos etários África América* Ásia Europa Oceânia África América Ásia Europa Oceânia 0-14 44.5 30,4 34.0 20.5 26.7 32.2 17,7 17.9 15.4 20.4 15-64 52.4 61,7 61.0 66.7 64.2 61.9 62,1 64.6 57.7 61.7 65 + 3.2 7,9 5.0 12.7 9.1 5.9 20,2 17.4 26.9 17.9 Fonte: Population Division of the Department of Economic and Social Affairs of the United Nations Secretariat-tratamento próprio - * (somatório da América do Norte, América Central e América do Sul)

É notório que os continentes onde mais diminui o grupo etário 0-14 anos é na Ásia e em África. Em 1990 o continente em que habitava o maior número de pessoas com mais de 65 anos (12,7%) era no continente Europeu, em 2050, esta tendência será a mesma, África será, em 2050 0 continente com o menor número de pessoas com idade superior a 65 anos (tabela 5.4).

Segundo as projeções elaboradas pela ONU: “O envelhecimento demográfico

gradual da população mundial nas próximas décadas é uma certeza. As razões desta tendência refletem os substanciais progressos humanos alcançados neste século – uma mortalidade infantil e de crianças mais baixa; melhor nutrição, educação, cuidados de saúde e acesso ao planeamento familiar; e uma esperança de vida mais elevada. Esta transição já está há muito em curso nas regiões mais desenvolvidas, onde a média etária subiu de cerca de 29 anos, em 1950, para os atuais 38 anos; as projeções apontam para que estabilize em 46 anos, até 2050" (ONU, 1999:22).

De facto, a esperança de vida tem vindo a aumentar, tanto para os homens como para as mulheres, ainda que em geral, esta seja maior entre os elementos do género feminino. Assim, no período de 2010-2015 a média mundial para Homem+Mulher é de 69,3 anos, com um comportamento ascendente, e estima-se que

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74 no período 2095-2100 a expectativa de vida à nascença seja de 81,1 anos. Quanto às mulheres, elas devem viver até aos 71,6 anos de idade no período 2010-2015, calculando-se que vivam 83,3 anos em 2095-2100, ou seja, num período de 90 anos, a esperança de vida terá aumentado aproximadamente 12 anos (tabela 5.5).

Tabela nº5.5 - Evolução da expectativa de vida mundial, 2010-15 a 2095-2100, por sexo

Expectativa de vida ao nascer por sexo (anos) Anos 2010- 2015 2015- 2020 2020- 2025 2025- 2030 2030- 2035 2035- 2040 2040- 2045 2045- 2050 2050- 2055 2055- 2060 2060- 2065 2065- 2070 2070- 2075 2075- 2080 2080- 2085 2085- 2090 2090- 2095 2095- 2100 HM 69.3 70.4 71.4 72.4 73.3 74.1 74.9 75.6 76.3 76.9 77.5 78.0 78.6 79.1 79.6 80.1 80.6 81.1 H 67.1 68.2 69.2 70.1 71.0 71.8 72.5 73.2 73.9 74.6 75.2 75.8 76.3 76.9 77.4 78.0 78.5 79.0 M 71.6 72.8 73.8 74.8 75.7 76.5 77.3 78.0 78.7 79.3 79.9 80.4 80.9 81.4 81.9 82.4 82.9 83.3

Fonte: Population Division of the Department of Economic and Social Affairs of the United Nations Secretariat - elaboração própria.

Outros indicadores relevantes são os índices de dependência dos jovens e dos idosos que registam uma evolução em sentido contrário entre si. O índice de dependência de jovens diminui ao passo que o índice de dependência de idosos aumenta. O índice de dependência total, ou seja, o número de jovens e de idosos em cada 100 indivíduos em idade ativa, aumenta entre 1950 e 1980, momento em que diminui até 2010 devido à redução do peso das pessoas jovens e irá aumentar a partir de 2020 (tabela 5.6). O índice de dependência dos idosos, que demonstra a relação entre a população idosa e a população em idade ativa, tem vindo a aumentar, tendência que continuará até 2100. Já o índice de dependência dos jovens tem vindo a registar decréscimos, desde 1990,o que representará num futuro muito próximo o declínio da população ativa. De realçar que em 1950 o índice de dependência de idosos era de 9, em 2010, de 12, e em 2100 será de 37, ou seja, no espaço de 90 anos o valor triplicou (tabela 5.6).

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75 O envelhecimento populacional no mundo de hoje não tem paralelo na história. O acréscimo percentual no número idosos, com 65 anos ou mais, é seguido pela queda no número de jovens com menos de 14 anos. Até 2050, o número de idosos no planeta excederá o de jovens, um fato inédito que se regista desde que há estatísticas. Em 2050 perto de 50% das pessoas com 65 ou mais anos viverão na Europa e na Ásia. Colocamos uma questão: Envelhecer é um problema?! Não nos parece um problema, mas sim um avanço! É uma das maiores conquistas da humanidade no século XX. Mas como todas as revoluções, implicará mudanças importantes em muitos setores da ação política referentes a trabalho, saúde, proteção social, urbanismo e muitas outras esferas da vida social e cultural de cada país.