• Nenhum resultado encontrado

GOVERNO LULA

IV- Construir um conjunto de indicadores de Efetividade Social e Qualidade

2.2 A Economia Solidária: do PLANFOR ao PNQ

2.3.1 A Rede Abelha

A Rede Abelha do Rio Grande do Norte, entidade sede da rede e onde colhemos a maior parte dos dados, surgiu em 2003 conforme Silva (CADERNO..., s/d, p. 5),144 posteriormente a Rede Abelha145. O surgimento da Rede Abelha- Natal decorre das experiências acumuladas pelo Grupo Colméias, existente desde 1986, ONG de apicultores do Rio Grande Norte que desenvolvia ações educativas nas temáticas de apicultura, meio ambiente e cidadania. Compunham o grupo Colméias: educadores, profissionais liberais, apicultores, sociólogo, filósofos, médicos, pequenos proprietários e sem terra, alguns destes membros passaram a integrar a Rede Abelha (MEMBRO 1 REDE ABELHA, 2011). Esse grupo contava com certa tradição em realizar encontros de apicultores por regiões e encontros estaduais.

E essa disponibilidade do grupo Colméias em ser o expoente da Rede Abelha e ter como foco muito o segmento da apicultura foi naturalmente, as coisas foram caminhando com uma naturalidade, digamos assim, do Grupo Colméias se tornar a secretaria da Rede Abelha. E também por aqui a gente também sempre gostou de sistematizar as práticas que a gente realizava e dar visibilidade a essa sistematização, então isso empoderou o Grupo Colméias na Rede Abelha como sendo a rede produtora de conhecimento. Então, essa condição eu tenho a impressão que foi bem vista pela Rede Abelha de outros estados e nós fomos conduzidos naturalmente a exercer essa atividade de secretaria no interior da Rede Abelha e também de fazer um diálogo com o governo federal. (MEMBRO 1 REDE ABELHA, 2011).

Desse modo, o grupo Colméias já apresentava certo acúmulo nas atividades de formação dos apicultores e também tinha alguma experiência na elaboração de materiais didáticos para se fazer a formação:

Porque esse processo de formação de educadores e material didáticos o grupo Colméias já vinha fazendo, outras ONGs do Nordeste já vinham também com

144

Não encontramos precisão quanto a data de surgimento da Rede Abelha Nacional, Silva menciona que foi em 1990 (Caderno de formação PLANSEQ, s/d, p.5), já no documento do MTE (Edital da chamada pública, anexo II-B, p. 14) consta 1989.

145 Em cada Estado a Rede Abelha conta com uma coordenação e forma de organização diferenciada. No caso

da Rede Abelha-Natal, o grupo Colméias foi o impulsionador da articulação dos membros com a Rede Abelha, em outras localidades há outras entidades que assumem a coordenação. No caso da Rede Abelha da Paraíba a coordenação é feita pela PATAC, Capina Grande, Cáritas e outras.

130 práticas de elaboração de material didático. Mas a Rede Abelha foi pioneira como o grupo Colméias e esse pool de formadores, porque propôs uma sistematização coletiva, então, na verdade, a sistematização do material da Rede Abelha reúne um conjunto de outras experiências que vinham sendo produzidas em diversos espaços. Então ela é como se fosse uma sistematizadora de diversos processos de sistematização e a partir daí a gente pode, depois que o material foi impresso, a gente ficou sabendo que o material estava sendo muito utilizado. (MEMBRO 1 REDE ABELHA, 2011).

As atividades de formação desde o grupo Colméias-RN tornam-se centrais nas atividades da Rede Abelha-RN e ela acontece em função do aprimoramento das atividades produtivas. A formação é fundamental para se constituir enquanto rede, pois permite ampliar o número de unidades apícolas ao estimular a criação de novos apiários e apicultores porque entende que este é um meio eficaz de minimizar a miséria da população. Outro propósito é aprimorar a prática apícola já existente na região.

Notamos que as unidades apícolas de Natal não se inseriram desde o início da fundação da Rede Abelha-Nordeste e os membros do Grupo Colméia perseguiram certo caminho para se integrarem a ela. Após constituírem-se como membros da Rede Abelha tornaram-se Estado sede.

[...] começou fora daqui e nós passamos pelo menos uns três anos solicitando o ingresso. Eu lembro que eu conversei com o coordenador da Rede Abelha que era do Piauí e na seqüência a gente enviou cartas para ele solicitando o ingresso, mas eu não sei porque motivo, mas a gente não foi chamado para o ingresso. [...] No encontro de Remanso e eu soube que o coordenador da rede estava lá, que era o Eliel Freitas [....], então eu escrevi pra ele perguntando quais as condições de a gente participar e disse de todas as necessidades queria, solicitei uma carta de um técnico daqui chamando Mario Lemos, que já tinha feito parte da Rede Abelha quando trabalhava como técnico em Pernambuco e remeti a minha e essa outra carta [...] e eu sei que antes do evento nós fomos dialogando e fomos com diversos apicultores para Remanso. E no encontro da Rede Abelha nós fizemos a apresentação, apresentou o material didático que a gente já tinha, levamos amostras de mel que a gente já tinha, levamos fotografias que a gente tinha das nossas práticas e dialogamos muito com os apicultores que estavam no evento. Assim a gente criou uma grande amizade e pode entender mais qual eram as matrizes que a Rede Abelha estava ancorada, quais eram os fundamentos metodológicos da Rede Abelha e quais eram os horizontes que a Rede Abelha propunha [...] e a gente passou a ter essa relação com a Rede Abelha geral. (MEMBRO 1 REDE ABELHA, 2011).

Atualmente é considerada uma das redes de maior duração no Brasil (SILVA, s/d, p. 5) e aglutina experiências de diferentes origens e lugares relacionadas à atividade apícola. A característica comum entre os membros é serem todos apicultores, a partir daí diferem-se pela forma de organizar a unidade produtiva146 e pela inserção no trabalho, pois alguns têm na

146 Na nossa pesquisa identificamos pelos menos dois tipos de utilização da propriedade produtiva: alguns

131 atividade apícola sua principal fonte de renda, enquanto outros desenvolvem atividade profissional paralela a essa prática. No segundo grupo, encontramos “[...] professores, técnicos, padres, engenheiros, profissionais liberais de diferentes áreas” (MEMBRO 3 REDE ABELHA, 2011). Enquanto no primeiro grupo há ONG’s, cooperativas, associações e grupos de apicultores, sendo que muitos deles pertencem ao assentamento de reforma agrária, no segundo grupo predominam os produtores individuais.

Silva147 (s/d, p. 5) menciona um conjunto de fatores que impulsionam a entrada dos apicultores na Rede Abelha: 1. Capacidade de reunir grande coletivo de atores produtivos, sociais, comerciais, solidários, políticos e entidades da sociedade civil; 2. A diversidade de atores do território nordestino que atuam de modo formal, informal, em grupos de produção, associações, cooperativas, ONG’s, OCIPS com prática nos biomas da Mata Atlântica e Caatinga, etc; 3. Agregar experiências com matrizes teóricas e práticas diversas com proposições unificadas ao definir estratégia e almejar mudança social; 4. Eixo focalizado na dimensão ecológica e humana; 5. Privilegiar a apicultura de base familiar que aglutina maior contingente populacional do país; 6. Primar pelo desenvolvimento sustentável e tecnologias não agressoras ao meio ambiente; 7. Construção de laços de amizade, respeito, confiança e cumplicidade entre os produtores; 8. Capacidade de exercer o diálogo coletivo; 9. Produção de material escrito que permite a difusão da cultura entre os filiados; 10. As práticas educativas revolucionárias fundamentadas em princípios metodológicos, políticos e filosóficos.

Embora um dos membros saliente que a vivência no princípio da democracia seja um dos princípios da rede não consta dentre os fatores que impulsionam a entrada dos membros (MEMBRO 1 REDE ABELHA, 2011). Assim como a impossibilidade do trabalho assalariado entrar na rede está como pressuposta na ideia de comércio justo e solidário reafirmada pelos membros, mas não é explicitada entre os princípios, apenas a ideia genérica de transformação social. A falta de destaque para esse fator suscita questionarmos acerca da importância que a distribuição do poder e auto-organização dos trabalhadores têm para a entrada das diferentes instituições que compõem a Rede e como essa forma de organização estaria contemplada no caso do trabalhador individual.

portanto a produção é coletivizada na unidade produtiva. Em alguns assentamentos há um movimento dos produtores para dividirem os lotes, se isso vier a acontecer, a produção e comercialização do produto torna-se individualizada por família.

147 Silva é coordenador da Rede Abelha Nordeste e membro da presidência do Grupo Colméias. O autor possui

132 A integração à Rede Abelha, a princípio, depende da identificação do sujeito com os valores e objetivos da rede, como podemos perceber a seguir, embora não temos elementos para afirmar que esse fator seja o predominante:

No início as entidades escreviam uma carta solicitando a participação na rede. Inclusive, essa entidade pretendente teria de ser apresentada por outra que já participava. Com o passar do tempo, a composição da Rede Abelha mudou: passaram a integrar a rede pelo conhecimento que passaram a ter por conhecimento apícola, por ter conhecimento sobre a rede abelha. Isto porque foram realizados muitos cursos de formação, produção e material didático, que ajudou a disseminar os conceitos defendidos pela Rede Abelha. (MEMBRO 1 REDE ABELHA, 2011).

A partir dos aspectos apresentados podemos perceber que a incorporação de experiências de diferentes formas de organização do trabalho no âmbito da Economia solidária, tal como se autodenominam, pode significar que a “autogestão” no sentido de ser administrada democraticamente, tal como definida por Singer (2002, p.18), pode não ser necessariamente a realidade de muitos empreendimentos que compõem a Rede Abelha. Inclusive porque partilhar dos princípios da Economia Solidária não é condição para se integrar à rede (MEMBRO 1 REDE ABELHA, 2011).

Os fatores acima mencionados sintetizam as características que devem compor a identidade da Rede Abelha. Entre elas, observamos a centralidade que a atividade formativa deve ocupar nas ações da rede, pois é compreendida como meio de viabilizar práticas produtivas pautadas no respeito ao meio ambiente e desenvolvimento sustentável e, nesse sentido, é compreendida como revolucionária. Notamos que a dimensão revolucionária das práticas educativas encontra-se circunscrita à possibilidade de gerar trabalho e renda de modo ecológico e dialógico, bem como proceder em reivindicações por políticas públicas adequadas à realidade da produção em rede.

Assim, não observamos uma crítica mais radical que se oponha à organização da sociedade capitalista tendo como horizonte o rompimento com esse tipo de sociedade, embora a rede participe e apoie as lutas sociais148 de diversas entidades e atue no movimento para reforma agrária por meio do assentamento de famílias produtoras rurais. Além disso, toda prática educativa que proponha revolucionária, como demonstraram algumas experiências pedagógicas na perspectiva socialista149, tem de estar atrelada à organização do trabalho e da

148 A Rede Abelha tem participado de diversas lutas nacionais, como: a marcha das margaridas, o grito dos

excluídos, apoio ao Movimento dos Sem Terra (MST), entre outras marchas e movimentos mobilizados pelo FBES.

149 Para citarmos alguns exemplos, temos as experiências pedagógicas dos educadores russos, entre eles, Pistrak

133 produção também sob forma revolucionária. No caso da Rede Abelha-RN não necessariamente temos a forma associada de produção, o que sinaliza para práticas inovadoras apenas na organização do trabalho pedagógico.

Embora a rede participe de lutas com propósitos e alcance distintos à critica do capital, isso não significa que sua identidade e trajetória de atuação seja a mesma desses movimentos e que seu potencial de oposição ao sistema capitalista siga na mesma direção. Entendemos que o fato das intenções da rede e de suas práticas educativas não terem como horizonte a intenção de romper com o modelo societal do capital faz com que o objetivo maior da rede em termos políticos seja a conquista de políticas públicas específicas para o setor e em conformidade com sua identidade.

A ação da Rede vem se mostrando relevante na construção de identidade coletiva de grupo e ao mesmo tempo vem possibilitando o desenvolvimento nos grupos da noção de ser capaz, o que tem permitido que estes passem a dialogar com os gestores públicos cobrando ações e políticas públicas adequadas a suas realidades. O diálogo e a pressão da Rede serviu para que diversas demandas da Rede fossem assumidas- apoiadas- por essas instituições.

Essa intervenção ainda não possibilitou mudanças ou criação de políticas públicas específicas, mas vem possibilitando aos grupos de bases e a própria Rede o acesso a algumas destas políticas, o que anteriormente era praticamente impossível. (FREITAS JR, 2005, p. 358, ANEXO A).

O alcance da ação da Rede Abelha encontra-se em melhorar as condições de vida e de produção, bem como oferecer condições para que os produtores insiram-se diretamente no processo de circulação pela venda de produtos ecologicamente corretos e relações de trabalho coletivas sem a exploração direta do capitalista e do atravessador de produtos. Para isso se realizar as práticas educativas cumpre, objetivamente, o papel de aprimorar o modo de produção em respeito às especificidades da localidade e permite que o coletivo aproprie-se das atividades laborais, com isso há a ampliação e troca de saberes entre os membros e, na maioria das vezes, traduzem-se em melhora das condições de vida dessa população. Entretanto, é fundamental apontarmos o limite da ação da rede.

Por se tratar de rede, a Rede Abelha aglutina entidades dos diferentes estados e municípios brasileiros, como o estado da Bahia, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, ideológica da revolução. Também os educadores de orientação anarquista, como no caso de Ferrer, fica claro que a educação cumpre papel fundamental na luta pela transformação dos padrões sociais e política facista de sua época. Contemporaneamente, o MST tem investido na educação paralelamente a sua prática de luta e de organização coletiva da produção em cooperativa como sinal de que compreendem que a construção de uma nova ordem social passa pela educação em uma perspectiva contrária a das escolas capitalistas onde impera o controle hierárquico e a disciplina. Em todos esses autores a educação e o trabalho encontram-se intimamente imbricados.

134 Piauí, Rio de Janeiro, Paraíba, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Amazonas (MA). Desse modo, há uma grande dispersão física dos membros pelo território nacional e mesmo dentro de cada estado há diferentes Municípios150 longínquos um do outro que integram a rede, bem como grande heterogeneidade na organização das unidades apícolas, como indicado.

Apesar dos fatores geográficos que, muitas vezes, dificultam a reunião dos apicultores para realizarem os cursos do PNQ dentro de determinado estado, a constituição em rede permite maior acesso à política pública, principalmente pela expressão que passa a ter ao aglutinar grande quantidade de experiências:

A rede, apesar do curto espaço de tempo, conseguiu se consolidar como referência em seu campo de ação no Estado. Nesse sentido, ela tem se relacionado com diversos gestores públicos na construção de agendas específicas e de cobrança de políticas públicas adequadas para o setor. (FREITAS JR, 2005, ANEXO A).

Assim, a Rede Abelha tem estreitado o diálogo com várias frentes de políticas públicas, inclusive, no sentido de buscar alternativas produtivas às famílias que vivem no campo, muitas originárias de assentamento de reforma agrária, bem como aos demais homens, mulheres e jovens que carecem de uma atividade produtiva. Nesse sentido, o objetivo maior expresso pela rede é visar “[...] o desenvolvimento da apicultura e meliponicultura como alternativa de produção para o fortalecimento da agricultura familiar” (BRASIL 2008a, p. 14). Nessa perspectiva, a Rede Abelha-RN compreende que as políticas públicas são canais profícuos para viabilizar a entrada de novos membros pelo cultivo da apicultura e meliponicultura:

Por reconhecer que o diálogo entre Rede e Governo se constitui como algo fundamental para o exercício da democracia brasileira [...] Por perceber que as políticas públicas poderiam ser uma alternativa para viabilizar a minimização dos impactos da miserabilidade vivida pelo povo. A apresentação de projetos de caráter social e produtivo propiciaria organização social e produção. (FREITAS JR, 2005, ANEXO A).

Desse modo, fica claro que uma das estratégias utilizadas pela rede para desencadear suas ações junto aos membros e possíveis membros tem no Estado um importante articulador. Podemos dizer que a reivindicação por políticas públicas para o setor apícola, bem como

150

Os Municípios contam com experiências da Rede Abelha que desenvolveram o PLANSEQ 2008 são: na Bahia: Irece, Remanso; no Ceará: Tiangua, Croata, Maranguape; Amazonas: Rosário, Presidente Juscelino, Morros; Minas Gerais: Tombos; Mato Grosso do Sul: Bodoquema, Bonito, Bela Vista; Paraíba: Aparecida, Conde; Pernambuco: Mirandiba, Serra Talhada; Piauí: São Raimundo Nonato, Simplício Mendes; Rio de Janeiro: Teresópolis, Guarapimirim; e Rio Grande do Norte: Macau, São Paulo do Potengui, Lagoa Salgada, Pendências, Ceará Mirin. (MTE, EDITAL DE CHAMADA PÚBLICA, 2008, ANEXO II-B, PLANSEQ ECOSOL, p. 14).

135 participar daquelas que já existem é um objetivo perseguido pela rede desde a sua constituição. Além disso, a rede procura ampliar cada vez mais o diálogo com o Estado:

Uma tática conseguinte era a cobrança por representantes da Rede a estes gestores públicos, seja na forma de projetos apresentados para concorrerem com editais públicos, seja na forma de cobrança por políticas públicas [...]

Essa intervenção ainda não possibilitou mudanças ou criação de políticas públicas específicas, mas vem possibilitando aos grupos de base e à própria Rede os acessos a algumas destas políticas, o que anteriormente era praticamente impossível [...] Mas, na medida em que a rede Abelha continuar viva e atuante em sua trajetória, sendo propositiva, sendo crítica, falando a partir da expressão de um coletivo, a compreensão do que é Rede vai sendo transformada também no espaço governamental, especialmente, naqueles que ocupam as instâncias públicas que vão percebendo que a ação é de um ator coletivo que vem em nome da sociedade civil articulada em Rede coletiva. (FREITAS JR, 2005, ANEXO A).

O acesso às políticas públicas é um objetivo central para a rede e, por isso, este constitui em um dos fatores que a impulsiona a participar dos projetos no âmbito do PNQ, tanto do PROESQ como do PLANSEQ. A atuação da rede junto aos órgãos governamentais foi bastante ampliada, inclusive, fez parte da Comissão de Concertação do PLANSEQ Ecosol (SEMINÁRIO NACIONAL DE SISTEMATIZAÇÃO, 2008, p. 14). Ainda, a rede tem estreitado o diálogo com a SENAES, como podemos perceber na fala de um entrevistado sobre a interlocução entre rede Abelha e SENAES: “[...] Eu acredito que deve ter uma parceria nesse sentido, porque a Rede Abelha estava muito ligada a SENAES [...] aí a gente foi pra Brasília e tinha muito essa parceria, troca e daí chegava a um objetivo comum [...]” (MEMBRO 4 REDE ABELHA, 2011).

É importante apontarmos que a atuação da rede no campo político e econômico tem no Estado um importante articulador e mediador das ações que realiza, na medida em que conta com o financiamento de políticas públicas como fundamental para o desenvolvimento da rede. Neste caso, um dos desafios financeiros enfrentados pela rede que a levam angariar recursos públicos diz respeito às ações voltadas para o aperfeiçoamento dos apicultores e disseminação de novas tecnologias. Devido a essa necessidade a rede inscreve-se no PNQ para desenvolver os PLANSEQs e também o PROESQs. Sobre a ampliação das ações de formação podemos notar a importância do financiamento público para essas iniciativas:

Como é que a gente ia produzir o material didático se a gente não tinha condições de levar para a gráfica? Como é que a gente iria fazer um material que tivesse sistematização coletiva, que tivesse uma validação ampla. Uma cartilha sendo validada no território nacional só foi possível porque o PNQ propiciou as condições pra gente reuni os educadores do Brasil e produzir o material didático. [sobre a parceria no âmbito do PNQ] foi as principais, foi a que impulsionou. A gente teve

136 outras parcerias, posso até citar, mas foi muito importante porque essa política pública atendeu a uma lacuna existente na Rede Abelha, um material didático produzido com financiamento público, e um material que voltou para a população, material que foi levado para a formação; e aí muitos grupos foram formados por esse material didático, muitos grupos começaram a ter contato com esse material técnico sistematizado. Você tinha muitos grupos, mas grupos que não tinham formação; tinham formação cultura: como cultivar abelha eu aprendi com meu avô, com meus tios- diziam eles- por alguém que me ensinou, esse saber popular é muito importante. (MEMBRO 1 DA REDE ABELHA, 2011).