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Contexto de Criação da SENAES e do PNQ no Governo Lula

Para aprofundarmos a análise das políticas de formação para Economia Solidária tanto do PNQ (2003-2007) como do CFES Nacional, é fundamental compreendermos as principais orientações políticas, econômicas e sociais que definiram as ações direcionadas à formação para Economia Solidária no governo de Luis Inácio Lula da Silva (doravante Lula).

Abordaremos duas dimensões do governo Lula que ajudam a compreender o caráter não-prioritário que tiveram as políticas voltadas para Economia Solidária, em especial, as de formação dos trabalhadores, sendo elas: a) a prioridade que deu à continuidade da política econômica neoliberal em reforço à posição de periferia do capital; e b) a cooptação de alguns segmentos dos movimentos sociais. A partir disso, indicar o perfil dos empregos gerados no bojo das determinações macroeconômicas que definiu o rumo da política em questão.

Em um primeiro momento, reconstituiremos um pouco da história do partido dos trabalhadores (PT) com o objetivo de indicar a pouca condição que um partido, qualquer que seja ele, tem de situar-se como um movimento gerido pelos trabalhadores, pois tem como pressuposto a necessária liderança da classe. E, por ter como horizonte o acesso ao Estado, muito menos se coloca a questão do autogoverno da classe e dos mecanismos que a reproduz. Assim, ao retratarmos os conflitos internos que perpassam a constituição do PT e a sua evolução, que culmina na vitória de Lula à presidência, temos a intenção de explicitar os mecanismos internos de hierarquização dessa instituição que definem a identidade dessa instituição.

A análise do governo Lula tem dividido opiniões na imprensa oficial e na academia, entre as quais, na academia, encontramos, de um lado, os que dividem o governo em dois períodos distintos (2002 a 2003-2006 e 2007-2010) sob a crença de que houve uma evolução significativa no segundo mandato e uma nova condução da política governamental, como apontam Baltar e Santos et al. (2010) e, ainda, intelectuais reconhecidos na análise crítica do

73 neoliberalismo e seus impactos no mercado de trabalho, como Pochmann (2010) que define o governo Lula como social desenvolvimentista e Sader (2007) que não compreende o governo Lula como neoliberal devido a modificações no campo social e ruptura com aspectos do modelo; de outro, aqueles que, em linhas gerais, ressaltam que o governo não só representou a continuidade com o projeto neoliberal, como também aprofundou as reformas provenientes desse modelo, como indicam Sampaio (2012, 2006), Oliveira F. (2010b), Tautz et al. (2010), Oliveira A. U. (2010). Braga (2010, p. 2) não classifica o governo Lula como mais um “neoliberal”, pois, para construir o consenso popular, responde as demandas represadas dos movimentos sociais, por isso emprega o conceito de social-liberalismo.

Sem nos preocuparmos com uma definição categórica do governo Lula, nossa análise identifica-se com a última perspectiva apontada acima. Salientamos, ainda, que para além das orientações políticas e ideológicas que definem as posições dos analistas, há, no período do governo Lula, o ofuscamento dos determinantes da política empregada devido à aparência progressista do governo. Isto se apresenta quando: se atrela aos movimentos sociais, muitos deles, com lugar na estrutura corporativa do Estado; promove políticas compensatórias de grande abrangência sustentadas no discurso de inserir a camada mais pauperizada da população na esfera do consumo54; e eleva os indicadores de desemprego e formalização das relações de trabalho.

É necessário considerar a trajetória do PT55 para compreender como se deu o diálogo e a incorporação de alguns movimentos sociais na estrutura corporativa do Estado56, bem como entender o pano de fundo da construção das políticas de desenvolvimento voltadas para o consumo57.

54 Referimo-nos ao programa Bolsa Família, que atinge parcela significativa da população miserável e, muitas

vezes, constitui-se na única fonte de renda de expressiva parcela da população. Entretanto, é preciso considerar o caráter emergencial do programa que, no governo Lula, caracterizou-se como uma política social, de fato, ao percorrer os dois mandatos sem uma alternativa de inserção no mundo do trabalho da população atendida que superasse o programa. Além das características pontuais do programa, como o montante reduzido dos recursos recebidos por cada família dentro da estrutura tributária brasileira, que direciona 50% dos recursos recebidos ao pagamento dos impostos a serem pagos pelo consumidor final, como indicou Pochmann (2010). O modelo brasileiro caracteriza-se pela carga tributária regressiva na medida em que incidem sobre os trabalhadores, visto que são remetidos ao consumo, com isso promove-se a concentração de riqueza e não a redistribuição da renda, conforme apontam Behring e Boschetti (2010, p. 165).

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Algumas análises separam as orientações do PT dos caminhos percorridos pelo presidente Lula enquanto Presidente da República. Outros apontam que a gestão efetivada representa à orientações políticas e econômicas de uma ala do PT, que já era majoritária quando da primeira eleição de Lula como presidente.

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Podemos citar o Ministro do Trabalho como ex-sindicalista, além de, nas Secretarias dos Ministérios, como a própria SENAES, haver vários representantes de movimentos sociais como Cáritas, etc.

57 Iasi (2006), baseado na análise dos Encontros Nacionais do PT, demonstra como a identidade do partido sofre

metamorfose e muda gradualmente suas posições políticas, fato por ele identificado nos documentos dos encontros com mais ímpeto a partir da década de 1990. Fiori (2007) compartilha da posição de adesão dos intelectuais e partidos políticos considerados de esquerda latino-americanos ao ideário neoliberal na década de 1990, o que para o autor não é um fenômeno localizado, mas compõe o cenário de metamorfose também das

74 A criação do PT decorre da mobilização dos trabalhadores nas greves do ABC paulista entre os anos de 1978 e 1980 e configura-se, conforme Iasi (2006), com uma identidade classista inegável ao compor-se de trabalhadores dos diversos segmentos da atividade laboral, movimentos sociais58, intelectuais e classe média representada pelo trabalho autônomo com pequenos empreendimentos59. Podemos notar que, desde a formação do partido, no momento em que sucedeu a greve, há insuficiente aprofundamento na crítica fecunda ao capital que decorre da própria estrutura dos partidos que preservam a hierarquia e a ideia de vanguarda. Não há a prioridade das discussões sobre a forma de se organizar a produção em uma lógica socialista, principalmente nos momentos em que o partido se volta para a conquista das eleições. Iasi (2006) também aponta o caráter de pouca densidade teórica60 na perspectiva de superar as concepções que já vigoravam na esquerda brasileira, apesar de considerar que havia uma massa crítica de intelectuais que compunham o partido naquele momento61. Para o autor, este é um dos fatores que conduziu o partido pelas mesmas orientações político- ideológicas do Partido Comunista Brasileiro (PCB), embora quisesse negar, como, por exemplo, a concepção do nacional desenvolvimentismo.

Fiori (2007) menciona que a relação política e intelectual dos comunistas no Brasil e Chile com o “nacional-desenvolvimentismo” foi mais fecunda e duradoura que com os demais países da região62. No Brasil, manifestou-se desde a Aliança Nacional Libertadora esquerdas europeias que exerceu grande influência nestes países. No bojo dessas mutações, é que a pauta política do PT altera-se para a defesa de um mercado de massas que teria o papel de dirigir a economia para a produção de bens de consumo, que se traduziriam em ampliação do salário a partir da aquisição de serviços de moradia, alimentos, vestimentas, moradia, saneamento e transporte e, com isso, incluiria na esfera do

consumo e da cidadania milhares de brasileiros. “Ao mesmo tempo em que essa direção da economia

favoreceria as massas trabalhadoras, o crescimento econômico daí derivado atenderia aos interesses de setores empresariais produtivos, o comércio, os pequenos agricultores e outros selando as condições de um bloco

popular em defesa do programa de reformas contra os monopólios” (IASI, 2006, p. 500).

58 Iasi (2006) aponta que uma das características fortes do PT na sua fundação foi a capacidade que demonstrou

de aglutinar diferentes identidades na militância, advindas da condição de exploração e da vivência da injustiça social, seja como trabalhadores assalariados, seja em movimentos sociais de diferentes orientações ideológicas e lugares do Brasil, entre os movimentos estão aqueles vinculados à teologia da libertação, como as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs).

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Iasi (2006) menciona que o caráter inicial classista do PT será, no processo de metamorfose do partido, transmutado. O PT passa a abranger, já em 2002, o segmento empresarial, inclusive agrobusiness e empresas que representam o grande capital produtivo, a única exceção era ao capital financeiro.

60 Fiori (2007, p. 96), ao se referir à esquerda europeia, aponta alguns fatores que indicam a importância da

fundamentação teórica no materialismo histórico, isso porque menciona: a) que a identidade da esquerda europeia foi desmontada no século XX, pelas sucessivas revisões doutrinárias e estratégicas de sua matriz, de inspiração marxista; b) com a progressiva erosão da unidade teórica e lógica do materialismo histórico, vem aumentando a divisão interna da esquerda; b) as sucessivas revisões doutrinárias foram criando, no século XX, um verdadeiro remendo teórico, suscitando decisões e convicções pragmáticas cada vez mais contraditórias que se transformaram numa camisa de força para esquerda do século XXI; c) e levanta a hipótese de que, talvez por isso, a esquerda europeia não tenha sido original e inovadora em relação às políticas dos conservadores.

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Entre eles Iasi (2006, p. 442) cita Florestan Fernandes, Francisco Weffort, José Álvaro Moisés, Francisco de Oliveira, José de Souza Martins, Otávio Ianni, Jacob Gorender.

75 (ANL) diluída em 1935 e no golpe do Estado Novo (1937), quando se transferiu para os conservadores a liderança do projeto de industrialização desenvolvimentista e as primeiras políticas industriais e trabalhistas. Apenas na década de 1980, posterior à estratégia nacional desenvolvimentista adotada pela ditadura militar, a esquerda brasileira, que já havia sofrido profundas críticas de intelectuais marxistas da USP, volta à cena com forte viés antiestatal, antinacionalista e antidesenvolvimentista. Neste momento, muitos dos novos militantes, movimentos e partidos direcionaram-se aos movimentos sociais e Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) em uma retomada da crítica feita pelo socialismo utópico, outros se situaram na esquerda tradicional com a opção estadista. Deste último período, início da década de 1980, várias experiências emergirão das CEBs, muitas delas coordenadas pela Cáritas brasileira que, de acordo com Gaiger, constituir-se-á nas primeiras experiências de Economia Popular Solidária (FIORI, 2007, p. 202-203).

Entretanto, para além das questões que apontam para a insuficiência das formulações teóricas da política vigente no PT e das determinações do cenário político e macroeconômico do capitalismo mundial que suscitaram o alinhamento do partido às posições próximas aos fundamentos ao liberalismo político63, há um elemento fundamental que denota a falta de condição do partido avançar na luta de enfretamento à lógica do capital, a saber: a tendência a hierarquização interna e o objetivo de atrelar-se à estrutura do Estado64. Del Roio (2004, p. 70) salienta que, desde as suas origens, o PT esteve estruturalmente disposto a esse

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À medida que o PT adéqua-se gradualmente às orientações neoliberais, os princípios que fundamentam o liberalismo político (e também o neoliberalismo) vão tornando-se mais explícitos na linha política defendida pelo partido, entre elas, podemos citar a defesa da liberdade individual na posse da propriedade e da função do

“Estado de Direito” como responsável por proteger os direitos fundamentais. Bobbio (2005, p. 17), ao referir- se ao “Estado de Direito” para caracterizar os limites do poder do Estado no liberalismo, acentua a oposição dessa forma de Estado ao Estado Absoluto. O “Estado de direito” deve ser regulado por normas gerais (leis

fundamentais) e ser exercido de acordo com as leis que o regulam, caso haja abuso de poder que infrinja, o

cidadão deve recorrer ao juiz. “Assim entendido, o Estado de direito reflete a velha doutrina [...] da superioridade do governo das leis sobre o governo dos homens [...]”. No 12º Encontro do partido (2001), de

acordo com Iasi (2006, p. 510-511), esse conceito é evidenciado a fim de ser a garantia ao “capital produtivo” para que as mudanças possam ser previsíveis, transparentes e aconteçam no âmbito do contrato social. Essa afirmação é exemplo da transmutação do PT, porque um partido que se dizia recusar fazer aliança com a burguesia, agora, apresenta o contrato social para resguardar os direitos individuais, em especial, o de propriedade dessa classe social.

64 O Estado, historicamente, tem se caracterizado por um instrumento de controle da vida social por meio da

centralização das ações e imposição das regras que determinam o modelo de acumulação capitalista, por essa razão, utiliza-se da força de polícia sempre que percebe que a ordem social do capital com seu respectivo modelo de acumulação encontra-se ameaçada, como exemplo, podemos citar a relação que os Estados Unidos estabelecem com o Oriente Médio, destinados a proteger sua apropriação do petróleo na região e, para isso, utilizam-se das agências privatizadas de segurança que capta soldados nos países periféricos. Mészaros (2002, p. 19) ao se referir à impossibilidade de o Estado constituir-se como instituição organizadora das instituições reprodutivas particulares da sociedade, salienta que qualquer tipo de Estado é uma estrutura essencialmente

hierárquica de comando e extrai sua “legitimidade” da sua capacidade de impor as demandas apresentadas a

ele. Nessa mesma perspectiva, Gramsci (apud IASI, 2006, p. 487) é categórico ao definir o papel do Estado para os socialistas “[...] O Estado é a organização econômico-política da classe burguesa. O Estado é a classe

76 movimento de inversão espetacular por ter sempre estado no campo ideológico do liberalismo, passando do economicismo sindical-corporativo ao defender os interesses materiais dos trabalhadores dentro da ordem capitalista ao social-liberalismo quando pleiteia o governo do Estado em nome da sociedade.

A esse respeito, Mésázaros (2002) considera que os órgãos de luta socialista, pelo modo como foram constituídos, com uma estrutura institucional complexa, poderiam ganhar batalhas individuais e pontuais, mas não uma guerra contra o capital. Para que isso acontecesse, seria necessária uma reestruturação radical de forma que se completassem em vez de debilitar a organização pela reprodução da divisão do trabalho imposta pela “institucionalidade circular no interior da qual se originam”, isso porque:

Os dois pilares de ação da classe trabalhadora no Ocidente – partidos e sindicatos- estão, na realidade, inseparavelmente unidos a um terceiro membro do conjunto institucional global: o Parlamento, que forma o círculo da sociedade civil – Estado político e se torna aquele círculo mágico paralisante do qual não parece haver saída. Tratar os sindicatos, junto com outras (muito menos importantes) organizações setoriais, como se pertencessem, de alguma maneira apenas à sociedade civil, e que portanto poderiam ser usados contra o Estado político, para uma profunda transformação socialista, é um sonho romântico e irreal. Isto porque o círculo institucional do capital, na realidade, é feito das totalizações recíprocas da sociedade civil e do Estado político, que se interpenetram profundamente e se apóiam poderosamente um no outro. Por isso, seria necessário a derrubada de um dos três pilares – o Parlamento, por exemplo – para produzir a mudança necessária O Parlamento, em particular, tem sido objeto de crítica muito justificada, e até hoje não há teoria socialista satisfatória sobre o que fazer com ele após a conquista do poder: um fato que eloqüentemente fala por si mesmo [...]. (MÉSZÁROS, 2002, p. 793).

Ao abordar o caráter circular da tríade Sociedade civil / Estado político / Parlamento como característica estrutural das organizações setoriais de luta, o autor indica que essa forma de organização social não tem para onde avançar, pois deve confluir para o mesmo lugar, a adequação à estrutura de poder vigente, caso permaneça com o propósito único de atingir o Parlamento.

Em seu livro O que é autonomia operária, Bruno (1990, p. 57) faz uma crítica radical aos partidos políticos argumentando que a idéia de que só através do partido político a classe trabalhadora teria condições de participar politicamente levaria ao imobilismo, pois significa que apenas os seus representantes – os competentes – são capazes de colocá-la na cena política. Ao proceder dessa forma, a classe é considerada como de menor de idade, incapaz de se apresentar e, por isso, é obrigada a se fazer representar. Bruno (1990) salienta que não se trata de reformar os partidos, tampouco de construir um partido tal como deveria ser, pois,

77 mesmo este é um órgão que se pretende substituto do poder da classe operária, uma vez que tende a substituí-la tanto na direção da luta, quanto na gestão da nova sociedade.

Por essa razão, partidos como o PT, além dos fatores mais conjunturais e macroeconômicos, tendem a manter-se no limite do Estado liberal, apesar das diferenciações nas ações mais específicas que desenvolvem no interior da estrutura. Isso se deve porque, contraditoriamente, reproduzem no seu interior os pilares fundamentais do sistema do capital que deveriam romper: a divisão do trabalho e a estrutura hierarquizada.

Ao considerarmos a trajetória do PT, observamos que tanto a divisão do trabalho como a hierarquização foram mantidas, além de focalizar as estratégias de luta do partido na conquista do parlamento.

A divisão do trabalho no interior do partido pode ser observada em dois aspectos de um mesmo momento. De acordo com Iasi (2006), no bojo do 8º Encontro Nacional, o partido vislumbra a eleição para um novo núcleo dirigente, em que o pleito foi disputado pelos dois campos opositores dentro do partido65, sendo um deles o grupo identificado como mais à esquerda, o vitorioso66. No entanto, apesar de vitorioso, na prática, não foi a posição desse grupo que prevaleceu decorrente do fato de a base partidária estar afastada da direção do partido e do momento real da base social ser de aprofundamento da postura defensiva, refluxo do movimento, crise na relação com as administrações e perplexidade diante o governo federal vigente, o que significou que:

Já se implantara de fato uma divisão de trabalho na qual cabia esta base social votar em Lula e fazer a campanha, enquanto a definição das linhas, a condução e direção

efetivas eram tarefas cada vez mais de “profissionais”, seja no sentido partidário do

termo, seja literalmente como contratados para funções consideradas técnicas. (IASI, 2006, p. 503-504).

65 No momento do 8º Encontro Nacional do PT, em 1993, já era clara a cisão de grupos com posições e

interesses diferentes dentro do partido, ao menos duas frações estavam bem demarcadas, a da ala majoritária, que tinha como objetivo primeiro as eleições presidenciais e defendiam posições mais moderadas dentro do partido com viés nacional desenvolvimentista com defesa do aumento do consumo de massa e elevação paulatina dos salários por meio de políticas negociadas como estratégia de viabilizar a cidadania; o grupo identificado como mais à esquerda insistia no papel combativo e radical que o partido deveria manter ao defender as ideias socialistas e fazer a crítica à forma de propriedade privada e atrelar-se à base pelo compromisso com os segmentos sociais pauperizados e explorados (IASI, 2006, p. 502).

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Embora o grupo mais à esquerda tenha saído vitorioso e não o grupo majoritário onde estava Lula, na prática, não houve alterações da linha político-ideológica moderada que o partido vinha seguindo, uma vez que a direção de campanha eleitoral já indicava um núcleo paralelo de poder porque estava apenas formalmente controlada pela direção partidária. Além disso, a hegemonia do grupo mais à esquerda na direção não correspondeu a uma real hegemonia na base social, já que a base encontrava-se bastante afastada das decisões tomadas pela direção (IASI, 2006, p. 504).

78 Além disso, a crítica à divisão do trabalho remete à crítica do modo de constituição das instituições no capital, uma vez que a capacidade de pensar, planejar e tomar decisões estratégicas sobre o rumo dos diferentes tipos de organização no capitalismo é localizada em uma minoria que detém o poder e a posse da propriedade, em detrimento daqueles despossuídos das condições objetivas de se situar no centro dessas decisões. Bruno (1996) aponta que, atualmente, o desenvolvimento dos processos de trabalho, muito mais complexos,