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6. O conjunto e o contexto

6.5. Aproximação espacial: Monte da Laje e o território de Serpa

6.5.3. A rede de povoamento e os espaços funerários do entorno

Tendo em conta os espaços habitacionais, os povoados e os contextos funerários da transição do 4º para o 3º milénio a.n.e. no concelho de Serpa que aqui foram analisados,

verificámos que existe uma grande variedade de habitats e de sepulcros. No entanto, grande parte não possui estudo de espólio ou até mesmo um estudo das estruturas, pelo que se torna difícil aferir os dados sobre muitos destes contextos. Como já foi mencionado, a justificação para a ausência de dados sobre espaços deve-se ao facto, de terem sido intervencionados durante as obras de construção da rede de canais do Alqueva, obra a cargo da EDIA. Razão pela qual, existem sítios que não apresentam dados em concreto e ainda não foram publicados.

Consta-se assim, que grande parte dos sítios identificados se concentram todos a Norte do concelho de Serpa e fachada Oeste do mesmo, isto porque esta região foi muito afectada pela construção da rede de canais de rega. Grande parte dos contextos funerários de identificados implantam-se em área aplanada, cuja geologia é composta por rochas carbonatadas (margas, calcários, mármores e arenitos carbonatados), uma vez que estes solos são menos pesados e ausência de matéria-prima, como pedra levou a que grande parte dos sepulcros situados no norte do concelho sejam em estruturas negativas do tipo fossa.

Numa análise quantitativa realizada ao valor total de sepulcros, 22 no total, verifica-se: que sete são hipogeus, seis são antas, cinco são fossas, dois são tholos e uma mamoa. No caso dos hipogeus a grande maioria indicia que poderão ter várias reutilizações compreendidas entre o Calcolítico e Idade do Bronze, ainda que muitos destes sepulcros não apresentem dados sustentáveis para provar que este tipo de reutilizações existiu. Porém, outros contextos funerários em negativo como são o caso das fossas, também apresentam enterramentos primários e enterramentos secundários, em que muitos deles como é caso de Outeiro Alto 2, apresenta inumações secundárias datadas da Primeira Idade do Bronze. No caso das antas verifica-se que grande parte destas se localiza na faixa ocidental do concelho de Serpa, salvo a excepção da anta de Monte da Velha 2 que se localiza no extremo Este do concelho. A justificação para a concentração deste tipo de sepulcros nesta faixa relaciona-se com um fenómeno geológico, que é o caso da falha geológica da Vidigueira – Serpa, cuja geologia desta área é caracterizada por rochas quartzo-feldspáticas (arenitos quartzosos, granitos e gneisse). A estrutura ortostática dos monumentos megalíticos do tipo anta é construída com matéria-prima em granito, daí a implantação deste tipo de contexto funerários nesta faixa geológica.

No que concerne à relação entre os contextos funerários e os povoados, verificamos que em alguns casos os espaços funerários estão muito próximos dos espaços habitacionais, como é o caso de Outeiro Alto 2. Neste caso em concreto, trata-se de um povoado de fossos que tem nas suas proximidades um conjunto de estruturas negativas do tipo fossa e um hipogeu, que estão intimamente associadas a este povoado. Verifica- se assim, que há uma grande ligação entre o espaço dos vivos e o espaço dos mortos. Porém, nem sempre os contextos funerários têm na sua proximidade um povoado ou um espaço habitacional, uma vez que existem muitos casos de povoados que não possuem necrópoles nas suas proximidades. As necrópoles encontram-se isoladas em áreas que são apenas destinadas a este propósito, pelo que se especula que os mortos fossem transladados para estes espaços longe dos povoados para aí serem depositados em espaços votivos e sepulcrais. Um bom exemplo deste tipo de necrópoles são os monumentos megalíticos do tipo anta, que se localizam na sua grande maioria em topos, onde é permitido ter um controlo visual da paisagem.

79 Estabelecendo uma correlação entre o Monte da Laje, os povoados/espaços habitacionais e os sepulcros identificados contemporâneos deste, verifica-se que até agora não foram identificados muitos contextos funerários em torno do Monte da Laje. O contexto funerário associado a um habitacional que se encontra mais próximo é do Horta da Morgadinha, que se trata de um conjunto de fossas como já foi descrito e que dista do Monte da Laje a cerca de 4 km. Todavia, a ausência de contextos funerários e habitacionais identificados próximos do Monte da Laje, prende-se com o facto da área em torno deste estar pouco estudada e também por não ter sido muito afectada pela construção da rede de canais do Alqueva. Aquando a identificação do conjunto de fossas do Monte da Laje, neste caso não sendo estruturas negativas de cariz funerário, foi identificado na mesma área uma inumação. No entanto, esta data da Idade do Ferro, fugindo ao período que aqui é objecto de estudo que é compreendido entre o 4º e o 3º milénio a.n.e.

Quando partimos para a análise do mapa de dispersão de sepulcros funerários e dos povoados identificados, consta-se que na área central do concelho de Serpa, há uma ausência quase total de contextos funerários do período estudado, prevalecendo apenas dois sítio com fossos identificados através de georadar (Folha de Ouro e Borralhos). Facto que é justificado, sobretudo, pela ausência de investigação e prospecção que permita identificar contextos habitacionais e funerários nesta área geográfica. Tornando-se apenas possível identificar alguns contextos graças à construção da rede de canais do Alqueva, que por outro lado o registo arqueológico feito sobre muitos destes contextos deixa muitas dúvidas e lacunas de informação.

Não obstante, a inserção do Monte da Laje na rede de povoamento não é bem perceptível uma vez que apenas se encontram dois povoados abertos estudados, um fortificado e dois sítios com fossos, o que nos dificulta a definição de uma rede de povoamento. A ausência de dados sobre muitos dos povoados identificados na região dificulta a criação de uma rede de povoamento na qual se pudesse inserir o Monte da Laje. Todavia, a rede de povoamento que se verifica mais a norte, onde prevalecem povoados delimitados por fossos e povoados abertos bem estudados, permite correlacionar os restantes povoados com os que já se encontram documentados e por sua vez inseri-los nessa mesma rede. No caso do Monte da Laje poder-se-á relacionar com os povoados que já se encontram estudados tanto na margem direita do Guadiana, como nos que se encontram identificados no actual território espanhol. O que nos permite inseri-lo numa rede de povoamento de largo espectro, são os dados sobre a cultura material e a sua cronologia absoluta, que demonstra que este é contemporâneo de muitos que já se encontram inseridos nesta rede de povoamento de grande dispersão.

Em suma, o espaço dos vivos e dos mortos são contextos que estão intimamente ligados, pois desde o Mesolítico, em que os grupos de caçadores-recolectores que tendiam a sedentarizar-se tinham nas imediações da área habitacional, espaços funerários, o que também poderia indiciar um certo marcador de território. Porém, quando as sociedades camponesas e agro-metalúrgicas se desenvolvem, estas tendem a criar espaços fortemente estruturados onde se fixam e aí permanecem por longos períodos, até ao seu abandono justificado ou não. Estes espaços estruturados implicavam sempre uma área de habitat, designada de povoado e uma área de necrópole onde inumavam ou colocavam os seus mortos. Demonstrando-se assim, que as sociedades camponesas criavam espaços

específicos para os seus mortos, onde criavam todo um ritual e uma arquitectura funerária para que os seus mortos aí permanecessem para sempre.