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7. A cronologia do Monte da Laje

7.2. A cronologia absoluta

A datação foi obtida a partir de um úmero de auroque (Bos primigenius) procedente da sondagem N. 2 U.E. 203 e foi realizada no Instituto Tecnológico e Nuclear através do método de datação convencional. Apesar de existirem apenas duas estruturas negativas do tipo fossa com matéria orgânica possível de datar, apenas foi possível realizar datações sobre uma das fossas. Contudo a datação realizada para uma única estrutura negativa, não permite generalizar a data para as restantes estruturas negativas, pelo que seria necessário obter datações para todas as estruturas negativas. A título de exemplo, o povoado aberto de Casa Branca 7, que apesar de não possuir estruturas do tipo fossa, possui uma cronologia relativa que se situa em meados do 3º milénio a.n.e., mas que a sua cronologia absoluta está longe de se coadunar com os fósseis-director presentes, como são as taças carenadas e os pratos espessados (Rodrigues, 2006, p. 68).

A datação obtida para o Monte da Lage apresenta coerência com os conjuntos cerâmicos recolhidos em algumas estruturas negativas, neste caso para as estruturas negativas que apresentam no seu enchimento pratos como fóssil-director. A data obtida é de 2486-2194 cal BC 2σ (Sac-2998), cuja datação corresponde aos resultados expectáveis, tendo em conta o estudo do conjunto cerâmico onde foi possível verificar uma presença significativa de pratos de bordo almendrado e bi-espessado, apontado assim para o Calcolítico Pleno.

Concomitantemente, no conjunto de recipientes cerâmicos assistimos à coexistência das taças de carena baixa com pratos de bordo almendrado e de bordo bi-

espessado, noutros casos verificamos só a presença de formas carenadas, sem que coexistam pratos. Como já elencámos, a presença de formas carenadas na base das estruturas negativas e em todo o seu enchimento, indicam-nos que existe uma longa diacronia nas estruturas negativas do tipo fossa, em que estas começaram por ter sido abandonadas no Neolítico Final, sendo colmatadas durante o Calcolítico Pleno, como nos indica a presença de pratos. Através da datação absoluta apurada e da cronologia relativa que foi possível extrapolar a partir dos fósseis-director presentes nas estruturas negativas, podemos assim considerar que a cronologia para o Monte da Laje se situa entre o último quartel do 4º milénio a.n.e. e o terceiro quartel do 3º milénio a.n.e.

Refª Lab. Tipo amostra Contexto

Data Convencional (BP) Data cal. (1σ) Cal BC Data cal. (2σ) Cal BC Bibliografia MONTE DA LAGE

Sac-2998 Bos primigenius - úmero Fossa 2 3870± 60 2461-2286 2486-2194 Inédita

MONTE DA VELHA 1

Beta-194027 Ossos Humanos Ent. secundário 3900±40 2465‑2343 2479-2280 Soares, 2008

CENTIRÃ 2

Sac-2791 Ossos Humanos Oss. 1 – UE 12 3940±50 2471-2291 2497-2204

Henriques et al, 2013 Sac-2790 Ossos Humanos Ent. 2 – UE 13 3900±45 2421-2215 2469-2205

Sac-2792 Ossos Humanos Ossos – UE 14 3790±110 2340-2140 2457-2077 Sac-2782 Ossos Humanos Ent. 4 – UE 14 3760±70 2289-2135 2404-2058 Sac- 2796 Ossos Humanos Ent. 1 – UE 12 3710±45 2195-2095 2201-2047 Beta-331980 Ossos Humanos Ent. 1 – UE 12 3680±30 2195-2095 2201-2047 Sac-2788 Ossos Humanos Red. 1 – UE 7 3810±80 2155-1984 2179-1957 Sac‑1900 Osso ‑ fauna Fase 2 ‑[1039] 3720+80 2280–2250 2440–2420 Oxa‑11982 Ossos Humanos Fase 2 ‑ [327] 3664+29 2140–2080 2140–1950

HORTA DO ALBARDÃO 3

Beta-261319 Cortiça (Quercus suber) Fosso-C.2 3990±40 2570–2510 2630–2430

Santos et al, 2009 Beta-261320 Carvão (Quercus sp.) Fosso-C.5 3770±40 2290–2130 2340–2320

Sac-2287 Cortiça (Quercus suber) Fosso-C.5 3730±190 2460–1910 2840–2810

CORTES 2

Sac-2575 Ossos Humanos Hipogeu 3970±70 2425-2401 2674-2277 Mataloto e

Boaventura, 2013

Sac-2574 Ossos Humanos Hipogeu 3920±50 2475-2338 2499-2280

CASA BRANCA 7

Beta ‑220277 Osso * 3640 ±40 2039-1945 2075-1907 Rodrigues, 2006

OUTEIRO ALTO 2

Sac-2666 Ossos Humanos Hipogeu, UE

6208 3320±50 1590-1530 1698-1498

Mataloto e Boaventura, 2013

85

ICEN ‑43 carvões ‑ n.d. * 4480±60 3337-3207 3360-3010 Soares & Cabral, 1993 ICEN ‑44 carvões ‑ n.d. * 4410±140 3130-2908 3383-2836 Soares & Cabral, 1993

Gráfico 2 - Datações calibradas para os vários sítios apresentados na Tabela 2 - Programa CALIB rev. 7.0.4 (Stuiver e Reimer, 1983) e da curva de calibração InterCal 13 (Reimer et al., 2013).

Por um lado, se estabelecermos comparações entre a datação absoluta do Monte da Laje com os sítios que se situam no seu entorno, que apresentam balizas cronológicas absolutas próximas verificámos que apresentam alguma contemporaneidade (Tabela 4 e Gráfico 2). Verificámos essa contemporaneidade não só com os que se encontram a uma distância próxima ao Monte da Laje, mas também os que se inserem na mesma unidade de paisagem, como por exemplo com Bela Vista 5. Este recinto de fossos apresenta datações absolutas balizadas no terceiro e quarto quartéis do 3º milénio a.n.e., em que a fossa 84, onde foi possível datar fauna apresenta a data de 2560-2350 cal BC 2σ (Beta- 324675) (Valera, 2014, p. 33). No caso de Bela Vista 5 constatou-se que o espaço onde se concentram as fossas é mais antigo que os fossos que estão no seu entorno, estes foram já escavados numa fase mais tardia (Valera, 2014, p. 34-35). Ao realizarmos comparações com outros povoados de referência, situados nesta região verificámos que o Monte da

Tabela 4 – Comparação entre a cronologia absoluta do Monte da Laje e outros povoados do Sudoeste da Península Ibérica que lhe são contemporâneos. Adaptação da tabela de referência (Mataloto e Boaventura, 2009, p. 69; 2013p. 311-314).

Laje apresenta contemporaneidade com o povoado de Horta do Albardão 3 que apresenta uma data de 2340 – 2320 cal BC 2σ (Beta-261320) (Santos et al, 2009). No caso dos espaços funerários, como é o caso do tholos de Monte da Velha 1 apresenta uma data de 2479-2280 cal BC 2σ (Beta-194027) (Soares, 2008), o que revela contemporaneidade em relação ao Monte da Lage que dista deste a uma curta distância. O mesmo acontece com o tholos de Centirã que possui enterramentos com datas de 2469-2205 cal BC 2σ (Sac- 2790) (Henriques et al, 2013).

Em suma o faseamento do Monte da Lage é completado com a cronologia absoluta obtida, permitiu-nos vislumbrar que as estruturas negativas do tipo fossa do Monte da Lage, terão perdido a sua funcionalidade gradualmente, desde o último quartel do 4º milénio a.n.e. até ao terceiro quartel do 3º milénio a.n.e. Momento esse que foi possível constatar, isto na fase de utilização secundária destas estruturas, uma vez que numa fase primária, tendo em conta o perfil que as fossas apresentam, hipoteticamente, estas terão sido utilizadas para armazenamento de cereais. Após a perda da sua utilidade primária estas poderiam ter passado a ter funcionalidade de deposição de desperdícios domésticos.